Microbiota intestinal: uma característica comum das perturbações psiquiátricas?

Depressão, psicose, anorexia… Há cada vez mais provas da existência de perturbações da microbiota intestinal em pessoas com diferentes perturbações psiquiátricas. Então, será que existe uma característica comum ou será que cada uma destas perturbações tem especificidades? Uma meta-análise esclarece a questão.

Publicado em 13 Janeiro 2022
Atualizado em 25 Janeiro 2022

Sobre este artigo

Publicado em 13 Janeiro 2022
Atualizado em 25 Janeiro 2022

Será que se pode avaliar a saúde mental através das alterações da microbiota intestinal? Em caso afirmativo, será que há biomarcadores que permitem distinguir diferentes perturbações? Sim e não. É esta a conclusão de uma meta-análise de 59 estudos caso-controlo assente em oito perturbações psiquiátricas, sendo as mais representadas a depressão, a esquizofrenia, a psicose, as perturbações bipolares e a anorexia. Se existem biomarcadores ao nível da microbiota intestinal indicadores de perturbações mentais, não surgiu nenhuma especificidade em relação aos dados analisados.

Pouco efeito na riqueza da microbiota...

Para chegarem a este resultado, os autores compararam a abundância relativa das bactérias intestinais entre grupos em termos:

A diversidade alfa estava significativamente reduzida nos pacientes que sofriam de perturbações bipolares. Além disso, não se verificou nenhuma diferença significativa ao nível dos índices de diversidade ao medir, alternadamente, a diversidade e a uniformidade de distribuição entre as espécies presentes, nomeadamente dos índices de Shannon (comunicados em 29 estudos) e de Simpson (comunicados em 11 estudos). 

Em relação à diversidade beta, os resultados apresentam diferenças semelhantes na estrutura filogenética dos pacientes que sofrem de depressão e de psicose/esquizofrenia em comparação com as pessoas do grupo de controlo. Contudo, os autores verificam que o método de classificação dos pacientes, baseado nos sintomas ou no diagnóstico, poderá afetar este resultado.

… Mas mudanças de composição efetivas

Este estudo indica também a existência de disbioses relativamente constantes nas pessoas que sofrem destas doenças, tais como:

  • a diminuição de Faecalibacterium (15 em 17 estudos referentes a este género);
  • a diminuição de Coprococcus (10 estudos em 10);
  • e o enriquecimento em termos de Eggerthella (10 estudos em 11).

Biomarcadores microbianos e perturbações psiquiátricas: não se podem tirar conclusões precipitadas

Assim, os autores concluem que há perturbações microbianas comuns na depressão, nas perturbações bipolares, na ansiedade, na psicose e na esquizofrenia: 

  • um empobrecimento em termos de bactérias anti-inflamatórias produtoras de ácido butanoico e 
  • um enriquecimento em termos de bactérias pró-inflamatórias.

Esta característica partilhada poderá ser o ponto de partida para a criação de uma terapia transdiagnóstica focada nestas disbioses semelhantes.

Como tal, estes resultados ainda devem ser interpretados com cuidado, pois podem ser enviesados por fatores de confusão (medicamentos psiquiátricos tomados, regime alimentar, etc.).