Microbiota intestinal e quimioterapia: efeitos secundários indesejáveis ou melhor eficácia do tratamento?

Um artigo de análise da literatura avalia as ligações entre a microbiota intestinal e a eficácia e os efeitos secundários indesejáveis da quimioterapia. Explicação.

Publicado em 28 Dezembro 2021
Atualizado em 21 Janeiro 2022

Sobre este artigo

Publicado em 28 Dezembro 2021
Atualizado em 21 Janeiro 2022

A quimioterapia melhorou dramaticamente a sobrevivência global dos pacientes com cancro. Em contrapartida, os seus (sidenote: Mais de 87% dos pacientes sob quimioterapia tiveram pelo menos um efeito secundário indesejável. ) continuam a afetar fortemente o respetivo bem-estar físico (vómitos, diarreia, obstipação, fadiga, afrontamentos, etc.) e psicológico (depressão, insónias, problemas cognitivos, etc.). Sem esquecer a incidência de infeções e a morbidade e mortalidade decorrentes, ligadas à imunossupressão. Paralelamente, suspeita-se que a microbiota intestinal esteja associada à eficácia da quimioterapia e aos seus efeitos secundários, embora existam poucos dados disponíveis. Daí esta revisão da literatura abrangendo 17 estudos (ou seja, (sidenote: 5 estudos sobre o cancro colorretal, 3 sobre a leucemia mieloide aguda, 2 sobre o linfoma não-Hodgkin, 1 sobre o cancro da mama, 1 sobre o cancro do pulmão, 1 sobre o cancro dos ovários, 1 sobre o cancro do fígado e os últimos 3 sobre vários outros tipos de cancro. ) ) dedicada à relação entre a microbiota intestinal, a quimioterapia e os efeitos colaterais desta.

Microbiota, eficácia e toxicidade da quimioterapia

Dos 17 estudos examinados, 7 eram de natureza observacional. Três desses estudos avaliaram a ligação entre a microbiota intestinal, a eficácia da quimioterapia e a ocorrência de efeitos secundários recorrendo a amostras fecais colhidas antes da quimioterapia. Os quatro outros averiguaram a associações entre a microbiota intestinal, a quimioterapia e a ocorrência de efeitos secundários pós-quimioterapia usando amostras fecais colhidas após o tratamento. Resultado? A microbiota intestinal está associada à eficácia da quimioterapia e à ocorrência de efeitos colaterais.
 

Os outros 10 estudos, já de natureza prospetiva (permitindo perspetivar relações de causa e efeito), monitorizaram o impacto da quimioterapia na microbiota intestinal (riscos de infeção, diarreia, etc.) durante o tratamento através de múltiplas colheitas de amostras de fezes (antes, durante e/ou após a quimioterapia). E as respetivas conclusões? A quimioterapia modifica a microbiota intestinal das pessoas com cancro. Esse efeito modulador estará associado a um risco acrescido de infeção e exercerá impacto na eficácia do tratamento. Além disso, a disbiose assim induzida parece estar relacionada com os efeitos secundários indesejáveis.

Biomarcação e modulação


Estes resultados abrem amplas perspetivas: a microbiota intestinal não só poderá ser usada como biomarcador para a previsão dos resultados da quimioterapia e dos seus efeitos indesejáveis, como a respetiva modulação durante o tratamento permite a esperança de se poder vir a reduzir os efeitos secundários indesejáveis e melhorar a eficácia do tratamento. Tal esperança é confirmada pelos resultados de alguns estudos de intervenção (prebióticos, atividade física, etc.).


Esta análise das relações complexas entre a microbiota intestinal e a quimioterapia destaca o potencial de pesquisas futuras para se vir a melhorar a prestação de cuidados aos pacientes. E isto mesmo que se saiba da necessidade de realização futura de ensaios multicêntricos internacionais destinados ao fornecimento de dados que tenham em conta os diversos fatores de equívocos (idade, origem étnica, sexo, comorbilidades, drogas, espaço de vivência, dieta, atividade, etc.).