Microbiota, amamentação e puberdade precoce

Uma dieta materna rica em gordura durante a lactação prejudica a microbiota intestinal dos ratinhos jovens, aumenta a probabilidade de puberdade precoce em fêmeas jovens e origina resistência à insulina. A partilha da microbiota através da coabitação entre as crias e mães alimentadas com uma dieta normal, reverte esta tendência.

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 30 Março 2022
Photo : Microbiota, breastfeeding and early puberty

Sobre este artigo

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 30 Março 2022

Todos os anos, a puberdade precoce afeta 20 em cada 10000 raparigas em todo o mundo e a obesidade infantil aumenta o risco de que ocorra. Desde 2010, tem-se dado mais atenção aos efeitos da microbiota intestinal na homeostase energética e na obesidade. Embora muitos fatores possam influenciar a microbiota intestinal (a utilização de antibióticos, etc.), a amamentação parece desempenhar um papel essencial no seu desenvolvimento. Investigadores têm manipulado a dieta de ratinhos fêmeas a amamentar para determinar a influência da dieta no risco de obesidade e de puberdade precoce nos seus descendentes. Durante três semanas após o nascimento das suas ninhadas, ratinhos fêmea foram alimentados com uma dieta normocalórica (DNC) contendo 12% de gordura ou com uma dieta rica em gordura (DRG) contendo 60% de gordura. 21 dias após o nascimento, as crias foram desmamadas, alimentadas com uma dieta calórica normal e distribuídas aleatoriamente por jaulas que continham quatro ratinhos de mães com DNC, quatro ratinhos de mães com DRG ou dois ratinhos de mães com DNC e dois ratinhos de mães com DRG. O objetivo era medir o impacto desta coabitação e aferir se reverteu alguns dos efeitos da dieta materna rica em gordura nas crias.

Impacto da dieta materna durante a amamentação

Uma dieta materna rica em gordura durante a lactação influenciou o desenvolvimento da microbiota das crias. Por exemplo, houve um aumento na proporção de Streptococcaceae e de Peptostreptococcaceae na microbiota intestinal de ratinhos jovens. Adicionalmente, as crias descendentes de mães com DRG tinham uma uma microbiota significativamente mais pobre. A dieta materna rica em gordura também provocou obesidade infantil, puberdade precoce, irregularidades nos ciclos menstruais e distúrbios no metabolismo da glucose nos ratinhos fêmea da descendência. No entanto, a puberdade precoce não foi observada em machos.

Os efeitos da partilha da microbiota

Os ratinhos são animais coprófagos, partilham microbiota por via orofecal. Após a coabitação com as crias descendentes de mães com DCN, as crias de mães com DRG viram diminuir a abundância da sua microbiota, revertendo os efeitos da dieta materna rica em gordura. Isto também protegeu as fêmeas contra a puberdade precoce e a resistência à insulina. Contudo, não foi observado nenhum efeito protetor ao nível do peso nem da gordura corporal nos descendentes de mães com DRG.

Uma nova abordagem terapêutica para distúrbios metabólicos?

De acordo com os autores, a amamentação desempenha um papel crítico no desenvolvimento das funções metabólicas e reprodutivas normais da descendência. A resistência à insulina associada à disbiose da microbiota aumenta a probabilidade de puberdade precoce, resultante de uma dieta materna rica em gordura. Consequentemente, a microbiota representa um novo alvo terapêutico no tratamento de doenças metabólicas e reprodutivas.