Autismo: um novo protocolo de transplante de microbiota fecal apresenta resultados promissores

Um protocolo intensivo combinado baseado num transplante de microbiota fecal demonstrou uma redução significativa a longo prazo nos distúrbios gastrointestinais e comportamentais de crianças autistas. Estes resultados encorajadores ainda não foram confirmados.

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 06 Outubro 2021

Sobre este artigo

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 06 Outubro 2021

A disbiose do intestino e os distúrbios gastrointestinais são frequentemente observados em crianças com perturbações do espetro do autismo (PEA). É por isso que investigadores Americanos já tinham levado a cabo um protocolo de tratamento baseado no transplante de microbiota fecal (TMF) em 18 crianças autistas entre os 7 e os 17 anos. Num novo estudo, relatam alterações nos sintomas dos participantes dois anos depois do primeiro estudo.

Protocolo intensivo, resultados duradouros

O protocolo, denominado “Tratamento de Transferência Microbiana” (TTM), incluiu um tratamento de duas semanas com vancomicina, um enema, dois dias de TMF, seguido de 7 a 8 semanas de TMF combinado com supressão do ácido gástrico com omeprazole. Depois deste estudo de inicial de 18 semanas, os sintomas gastrointestinais melhoraram 80 % e os sintomas do autismo diminuíram ligeiramente (dificuldades de comunicação, comportamentos repetitivos...). Estes resultados positivos mantiveram-se por dois anos: os sintomas gastrointestinais foram 58 % inferiores comparados com o início do estudo. A gravidade da doença foi medida por um profissional e diminuiu acentuadamente: das 83 % das crianças consideradas “gravemente autistas” no início do estudo, dois anos depois 17 % foram consideradas como grave, 39 % no intervalo ligeiro a moderado, e 44 % dos participantes ficaram abaixo dos níveis de cut-off para PEA.

Implantação de uma microbiota mais saudável

A analise das fezes de 16 dos 18 participantes mostrou também que, na maioria das crianças, a diversidade bacteriana era mais elevada passados dois anos do que no fim das 18 semanas do estudo inicial, demonstrando assim que o protocolo levou ao desenvolvimento de um meio microbiano mais saudável, favorável à melhoria dos sintomas gastrointestinais e comportamentais. Mais precisamente, a quantidade relativa das Bifidobacteria e Prevotella foi multiplicada por 5 e por 84, respetivamente. Esta foi uma descoberta significativa, dado que a Prevotella (frequentemente ausente em pessoas com autismo) é um género de bactérias que produz butirato, um ácido gordo de cadeia curta favorável à mucosa intestinal. Contudo, deve adotar-se uma abordagem cautelosa: os investigadores indicaram que durante o período de acompanhamento de dois anos, 12 das 18 crianças tiveram alterações na sua medicação, na dieta ou nos suplementos alimentares e que o efeito do omeprazole pode explicar por si a melhoria dos sintomas relacionados com a acidez gástrica. É necessário um ensaio aleatorizado duplo-cego com uma coorte superior para validar a esperança que este novo protocolo.