O sangue pode ser usado como indicador da diversidade da microbiota intestinal?

E se um simples teste sanguíneo e a análise a alguns metabolitos escolhidos criteriosamente pudessem prever uma parte significativa da diversidade da microbiota intestinal… e consequentemente o nosso estado de saúde?

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 30 Março 2022
Photo : Could blood be used as an indicator of gut microbiota diversity?

Sobre este artigo

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 30 Março 2022

Sabemos hoje que uma menor diversidade de microrganismos na microbiota intestinal está associada a doenças como a diabetes mellitus, cancro colorretal e a patologias gastrointestinais complexas como doenças crónicas inflamatórias do intestino (DCII). No entanto, de forma a podermos usar a diversidade como biomarcador, é necessário ver devidamente este quadro: os metabolitos fecais indicam a composição da microbiota, mas e os sanguíneos?

Foram identificados 40 metabolitos preditivos

Para o descobrir, uma equipa tentou prever a diversidade da microbiota intestinal baseando-se em 1000 análises sanguíneas de uma cohort composta por 399 adultos americanos saudáveis inscritos em programas de bem-estar. Os resultados mostraram que 40 metabolitos encontrados no sangue dos hospedeiros, dos quais 13 eram de origem microbiana, explicavam 45% da diversidade da microbiota intestinal, e poderiam assim prevê-la. A capacidade preditiva dos metabolitos foi confirmada numa outra cohort de validação que incluiu 540 pessoas mais ou menos saudáveis.

Nem em demasiada, nem pouca diversidade

Além disso, os resultados sugerem que, em vez de diversidade máxima, uma diversidade ótima deve ser priorizada para que nos mantenhamos saudáveis. Por outro lado, foram observadas uma associação entre metabolitos microbianos com polifenóis e a diversidade da microbiota intestinal, o que pode ser o reflexo de uma dieta com alto teor de frutas, vegetais e cereais (muito concentrados em polifenóis); alguns metabolitos que podem prever a diversidade estão relacionados com doenças cardiovasculares ou renais. Como tal, não só a falta de diversidade, mas também o seu excesso, podem ser prejudiciais, ao ponto de os autores mencionarem a ideia de um valor ideal, caracterizado por “nem muita nem demasiado pouca” diversidade, dependendo do índice de massa corporal (IMC). Por fim, este estudo destacou que a associação entre os metabolitos sanguíneos e a diversidade da microbiota intestinal não era igual ao longo do continuum de IMC, o que sugere que limitar a análise às categorias “normal” e “obeso” é demasiado restritivo.

Rumo a testes clínicos?

Como um todo, estes resultados comprovam a relação de proximidade existente entre a fisiologia do hospedeiro e a microbiota intestinal e sugerem que o metabolismo sanguíneo do hospedeiro é uma importante interface entre o ecossistema intestinal e a saúde humana. Eventualmente, a capacidade preditiva dos marcadores plasmáticos em relação à diversidade da microbiota intestinal pode abrir o caminho ao desenvolvimento de testes clínicos de monitorização da saúde da microbiota intestinal, através de uma simples amostra sanguínea, fácil de manusear.