
Women’s Microbiome 1 - September 2025
4 mil milhões! Quatro mil milhões de mulheres no mundo — e uma diversidade de escala equivalente! É paradoxal pensar que, ao contrário da microbiota intestinal, a microbiota vaginal é “ideal” quando não é muito diversa (cerca de 200 espécies de bactérias) e quando predomina um reduzido número de espécies de Lactobacillus. Uma vez que poucas pacientes conhecem esta particularidade (e não as podemos culpar por isso), quantas delas sabem sequer que existe microbiota vaginal? De acordo com o último inquérito do Observatório Internacional da Microbiota, realizado com o auxílio da Ipsos, apenas 1 em cada 5 mulheres afirma saber exatamente o que é.
Esta lacuna de conhecimento não é anedótica. Reflete uma zona cinzenta tripla: histórica, cultural e médica. Não é fácil sair de séculos de obscurantismo, preconceitos e tabus, especialmente tendo em conta que as mulheres há muito que estão sub-representadas na investigação clínica. Em 2009, representavam apenas 38% de todos os participantes incluídos em coortes de estudos, apesar de constituírem quase 50% da população em gera1.
Mesmo nos dias que correm, a discussão sobre a microbiota da mulher continua largamente ausente das consultas médicas, apesar do seu papel comprovado em diversas patologias, como a endometriose, as infeções recorrentes do trato urinário ou as afeções relativas à fertilidade.
O primeiro número da Women’s Microbiome Mag representa um modesto contributo para o reposicionamento da microbiota feminina (vulvar, intestinal, urinária, perianal, etc.) no centro da prática médica e para facultar novos enquadramentos, apoiados por especialistas dedicados, para melhor compreender, diagnosticar e apoiar as pacientes. Ao mesmo tempo, procuramos responder a algumas questões fundamentais.
Porque é que a microbiota vaginal é “ideal” quando tem pouca diversidade? Como se comporta ao longo do ciclo menstrual? O que é que liga a microbiota intestinal, a endometriose e as afeções digestivas? E se quisermos tratar melhor as mulheres, será que também temos de prestar atenção à microbiota dos seus parceiros?
Esta revista não pretende abranger tudo (mais se seguirá), porém, pretende reforçar a atenção que se dedica à importância do microbioma da mulher.
Informar sem simplificar, educar sem dogmas, essa é a ambição.
Acima de tudo, a Women’s Microbiome Mag procura convencer os profissionais da saúde e as pacientes do papel crucial da microbiota feminina na saúde da mulher.
Boa leitura.