Microbiota pulmonar: um marcador do prognóstico da DPOC?

A composição da microbiota pulmonar poderá tornar-se um marcador da gravidade das doenças pulmonares obstrutivas crónicas. Uma equipa demonstrou a correlação entre a presença de algumas bactérias e o prognóstico no primeiro ano.

Publicado em 07 Julho 2020
Atualizado em 06 Outubro 2021

Sobre este artigo

Publicado em 07 Julho 2020
Atualizado em 06 Outubro 2021

A doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) afetou 3,5 milhões de pessoas em França em 2010. É responsável por mais de 100000 hospitalizações por ano por exacerbações agudas (EA)*. Estes episódios estão associados ao aumento das taxas de mortalidade a curto e médio prazo. Estudos demonstraram que os doentes com DPOC apresentam uma redução da diversidade da microbiota pulmonar, e esta disbiose tem sido citada como uma causa potencial de inflamação das vias aéreas e de uma diminuição da imunidade local.

A diversidade garante um melhor prognóstico

Um novo estudo internacional descobriu recentemente um possível marcador da gravidade da DPOC, capaz de identificar doentes em risco elevado de morte. 102 doentes hospitalizados por EA foram incluídos no estudo e a sua expetoração foi recolhida no Dia 1. O microbioma foi analisado através da sequenciação de 16S rARN, mas, infelizmente, não pôde ser comparado às culturas standard de expetoração (exame citobacteriológico). Os doentes foram então monitorizados para determinar a sua taxa de sobrevivência um ano após esta hospitalização. De acordo com diferentes índices, existe uma correlação linear inversa entre a diversidade da microbiota e a mortalidade ao fim de um ano: quanto mais diversa for a microbiota, menor a mortalidade ao fim de um ano.

Uma combinação bacteriana perigosa

Neste estudo, foram descobertos dois géneros** como tendo um forte potencial de prognóstico. A primeira – Veillonella – é uma bactéria da flora oral comensal encontrada nos pulmões dos adultos. A sua ausência na expetoração dos doentes está associada a um risco de morte ao fim de um ano 13 vezes maior, e os doentes positivos para Veillonella (V+) têm, em média, um tempo de internamento menor que os doentes negativos para Veillonella (V-). Além disso, a presença de espécies do género Staphylococcus (S+) na expetoração está associada a um risco de morte ao fim de um ano 7 vezes maior e a hospitalizações mais longas. Não foi detetada uma maior comorbidade nos doentes com V/S+: a combinação destes dois critérios é extremamente desfavorável, pois os doentes com V-/S+ têm 85 vezes mais hipóteses de morrer no primeiro ano do que os doentes com V+/S-. Se estes resultados forem confirmados por outros estudos, a triagem para estes dois géneros bacterianos pode tornar-se um teste "standard" para identificar doentes com maior risco.

*Dados da Haute Autorité de Santé (HAS) Francesa
**A técnica utilizada não permitiu identificar espécies relevantes destes dois géneros.