Cancro da mama: eficácia da imunoterapia determinada pela microbiota intestinal?

Um estudo recente, publicado em Cancer Research, sugere que a microbiota intestinal (MI) influenciará a resposta à imunoterapia no cancro da mama HER2 positivo. Como? Através da regulação local e sistémica do sistema imunitário.

Publicado em 27 Maio 2021
Atualizado em 06 Outubro 2021
Actu PRO : Cancer du sein : l’efficacité de l’immunothérapie déterminée par le microbiote intestinal ?

Sobre este artigo

Publicado em 27 Maio 2021
Atualizado em 06 Outubro 2021

Primeira opção terapêutica para as mulheres com cancro da mama HER2 positivo, o trastuzumab é usado para bloquear o recetor HER2. Estudos recentes revelaram também que possui propriedades imunomoduladoras. Apesar de ser eficaz contra o tipo de cancro em questão, há um elevado número de pacientes que apresentam ou desenvolvem resistência a este tratamento. Para tentarem perceber este fenómeno, os autores centraram-se na microbiota intestinal, que se sabe ter implicações na eficácia da quimioterapia e na imunoterapia através da modulação da imunidade do hospedeiro em outros tipos de cancro. O estudo foi realizado em modelos experimentais e em 24 mulheres com cancro da mama HER2 positivo.

Eficácia mediada pela microbiota...

Numa primeira fase, através de modelos de ratos, os investigadores demonstraram que a eficácia do tratamento depende da microbiota intestinal. De facto, quer os ratos fossem tratados com antibióticos ou se recorresse a transferência da microbiota intestinal (transplante microbiano fecal) oriunda de ratos que tinham recebido tratamento ATB, a toma de ATB resultou na eliminação completa da inibição de crescimento do tumor pelo trastuzumab. Por outro lado, a terapia por antibióticos não só induziu alterações no microambiente imunitário dos tumores, como também causou uma modificação da microbiota intestinal. Especificamente, o estudo demonstra que a alteração da microbiota intestinal teve impacto sobre a imunidade da mucosa intestinal e as citoquinas sistémicas (alteração da mobilização de células T CD4+ e GZMB+ nos tumores). Para os autores, tudo estará relacionado: as modificações do microambiente imunitário dos tumores, induzidas pela alteração da microbiota intestinal, serão assim responsáveis pela perda de eficácia do tratamento.

...confirmada em pacientes com cancro da mama HER-2 positivo

O estudo prosseguiu depois com 24 pacientes com cancro da mama HER2 positivo e sob terapêutica com trastuzumab. A análise da respetiva microbiota intestinal revelou menor α-diversidade e menor abundância de certas bactérias em quem não respondeu ao tratamento (NR), em comparação com quem respondeu (R), tal como nos ratos tratados com antibióticos. Paralelamente, o transplante de microbiota fecal proveniente de pacientes R e NR para ratos recetores refletiu a resposta ao trastuzumab observada nas doadoras. Para concluir, a β-diversidade da microbiota fecal permitiu distinguir as pacientes de acordo com a sua resposta ao tratamento, e isto independentemente do subtipo intrínseco do tumor. Para os autores, o contributo direto da microbiota intestinal suscita abordagens terapêuticas promissoras, mediante a sua modulação, para se melhorar a eficácia da terapia anti-HER2, e também para a exploração da respetiva utilização como biomarcador da resposta ao tratamento.