Associação entre metabolitos séricos e microbiota intestinal: para um melhor diagnóstico do cancro colorretal?

De acordo com um novo estudo publicado em Gut, poderá ser usada uma assinatura que associe o perfil dos metabolitos séricos à microbiota intestinal como novo instrumento para o diagnóstico precoce, fiável e não invasivo dos adenomas e cancros colorretais.

Publicado em 07 Janeiro 2022
Atualizado em 19 Janeiro 2022

Sobre este artigo

Publicado em 07 Janeiro 2022
Atualizado em 19 Janeiro 2022

Os desequilíbrios da microbiota, ou disbioses poderão estar associados a várias patologias, como a diabetes, a obesidade, as doenças neuropsiquiátricas ou neurodegenerativas, ou mesmo alguns cancros. Os metabolitos produzidos pelas bactérias intestinais penetram precocemente na corrente sanguínea. Neste contexto, um novo estudo propôs-se determinar o perfil dos metabolitos séricos ligados à microbiota intestinal (MI). Objetivo? Descobrir se existe uma assinatura metabolómica sérica associada à MI nas pessoas com cancro ou adenoma colorretal. Este método de deteção não invasivo, rápido e preciso permitiria o diagnóstico precoce dos adenomas e do cancro colorretal (CCR).

Variações metabolómicas em todos os estágios

A análise de amostras de soro de uma coorte de investigação (31 indivíduos saudáveis, 12 pacientes com adenoma e 49 com CCR) permitiu a identificação de 885 metabolitos séricos cuja quantidade diferia nos pacientes com adenoma ou CCR em comparação com os controlos saudáveis.
As alterações na MI podem reprogramar o metaboloma fecal nos pacientes com anomalias colorretais, mas poderão fazê-lo ao nível sérico? Para se determinar a potencial contribuição desses marcadores para a previsão de anomalias colorretais, foi realizada uma análise metagenómica fecal da MI e dos metabolitos séricos em 11 indivíduos saudáveis e em 33 pacientes com patologia colorretal. Desta forma, foram identificados 322 metabolitos como estando associados à MI, incluindo espécies que se sabe estarem relacionadas ao início e à evolução do CRC (Fusobacterium nucleatum, Parvimonas micra, etc.). Recorreu-se depois a algoritmo que permitiu identificar com precisão 8 metabolitos séricos capazes de distinguir nesta coorte os indivíduos saudáveis dos portadores de adenoma e CCR (área sob a curva de 0,96). Estes foram selecionados como painel preditivo de patologia colorretal: GMSM (Gut Microbiome-associated Serum Metabolites, ou metabolitos séricos associados à microbiota intestinal).

Em direção a um modelo preditivo?

Este modelo foi testado numa coorte de modelização (72 indivíduos saudáveis e 120 pacientes com patologia colorretal) e numa coorte de validação independente (53 indivíduos saudáveis e 103 pacientes colorretais anormais) e permite distinguir de forma fiável os pacientes com adenoma e CRC dos saudáveis (área sob a curva de 0,98 e 0,92, respetivamente). Por fim, o modelo foi comparado com outros meios de deteção vulgarmente usados: o antígeno carcinoembrionário (CEA) e o teste imunoquímico fecal (FIT). Enquanto o teste ACE distingue os pacientes dos indivíduos saudáveis na coorte de validação com uma área sob a curva de apenas 0,72, o teste imunoquímico fecal parece também ser inferior ao painel GMSM (sensibilidade de 65,2% contra 83,5%) na separação entre os 2 grupos.

A disbiose intestinal que se observa nos pacientes com CCR estará, portanto, associada a alterações nos metabolitos séricos. A identificação destes marcadores no soro é muito promissora e permite a deteção precoce e não invasiva de pacientes com adenomas ou CCR.

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