Cálculos renais: o papel da microbiota intestinal

Um estudo demonstrou recentemente que a microbiota intestinal pode participar na formação de cálculos renais. Os doentes com histórico de nefrolitíase recorrente parecem ter uma menor quantidade de bactérias digestivas que fazem a degradação de oxalato.

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 06 Outubro 2021

Sobre este artigo

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 06 Outubro 2021

Uma equipa italiana estudou a microbiota intestinal de 52 doentes que tiveram pelo menos dois episódios sintomáticos de cálculos renais compostos por mais de 80% de cristais de oxalato de cálcio (grupo C+), e comparou-a com 48 indivíduos do grupo de controlo saudável. Este tipo de cálculos está presente em 70% dos casos de cólica renal, geralmente sem uma causa primária identificada. A dieta (ingestão muito alta de cálcio e oxalato) é o único fator atualmente identificado na génese desta litíase idiopática, que geralmente é recorrente. O envolvimento da microbiota intestinal já tinha sido sugerido num estudo que demonstrou a capacidade de uma bactéria intestinal (Oxalobacter formigenes) de degradar o oxalato, reduzindo assim a sua absorção e excreção urinária.

Géneros bacterianos envolvidos na hiperoxalúria

Novos estudos sustentam a hipótese: as amostras do grupo C+ continham menor diversidade e, taxonomicamente, uma representação significativamente menor de três géneros: Faecalibacterium, Enterobacter, Dorea. No entanto, o conteúdo de Oxalobacter formigenes detetado em cada amostra foi muito baixo e não demonstrou diferença entre os grupos. Os cientistas investigaram, de seguida, uma potencial diferença na atividade de degradação do oxalato. Cinco amostras de cada grupo foram analisadas através de um método de sequenciação específico, focado nos genes envolvidos na degradação do oxalato. As amostras do grupo C+ continham uma proporção reduzida destes genes, que estava inversamente correlacionada com hiperoxalúria após 24 horas e com a defecação. Esta abordagem genética também identificou, pela primeira vez, bactérias e Archaea com genes envolvidos na degradação do oxalato (Escherichia coli, entre outros), cujo conteúdo foi maior no grupo saudável de controlo.

Modulação da microbiota: um caminho promissor?

Os estudos anteriores não foram capazes de demonstrar a eficácia dos pré e probióticos direcionados para o Oxalobacter formigenes em prevenir a recorrência de cálculos renais. Segundo os investigadores, esta falha pode advir do envolvimento de outras espécies no equilíbrio do oxalato de cálcio. É por essa razão que estes trabalhos fornecem novas linhas de investigação no eixo intestino-fígado e na fisiopatologia da nefrolitíase. Deverão tornar possível a avaliação de novas estratégias terapêuticas relacionadas com a modulação da microbiota intestinal.