Índice de disbiose intestinal para avaliar o prognóstico de um acidente vascular cerebral

O Stroke Dysbiosis Index, desenvolvido por uma equipa chinesa, correlaciona alterações da microbiota intestinal com o prognóstico de derrames isquémicos agudos. Esta ferramenta inovadora pode conduzir a opções terapêuticas mais adaptadas.

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 29 Março 2022
Photo : Gut dysbiosis index to assess the prognosis of stroke

Sobre este artigo

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 29 Março 2022

Com quase 25 milhões de episódios por ano, o AVC isquémico agudo é um grande desafio de saúde a nível mundial. O prognóstico é atualmente muito difícil de estabelecer e poderá beneficiar com a identificação de um fator de risco para a progressão grave. Esta observação levou uma equipa chinesa a desenvolver o Stroke Dysbiosis Index (SDI), um índice que correlaciona acidentes vasculares cerebrais e disbiose intestinal. O seu objetivo é confirmar o acidente vascular cerebral e avaliar a gravidade das lesões cerebrais, bem como o risco de complicações precoces.

A disbiose como fator discriminatório para o resultado de um acidente vascular cerebral

A SDI foi concebida com base na análise de populações de bactérias intestinais de 104 indivíduos que sofreram um AVC isquémico agudo, em comparação com 90 indivíduos controlo. A fórmula tem em conta as alterações nos níveis de 18 géneros bacterianos. Entre outros, um aumento nas Enterobacteriaceae e nas Parabacteroides associado a uma diminuição nas Faecalibacterium, nas Clostridiaceae e nas Lachnospira foi observado em doentes com AVC cuja pontuação de SDI foi significativamente mais elevada do que a de indivíduos saudáveis. O poder discriminatório deste modelo foi validado com uma segunda coorte de 83 doentes com AVC e 70 indivíduos de controlo. Um método estatístico também demonstrou que o SDI é um indicador preditivo tanto da gravidade das lesões cerebrais, como o risco de complicações precoces.

Microbiota equilibrada = recuperação otimizada?

A segunda parte do estudo foi realizada em ratos, a fim de esclarecer in vivo a relação entre a microbiota intestinal e as sequelas de AVC isquémicos agudos. As oclusões da artéria cerebral média foram induzidas em animais que receberam transplantes de microbiota fecal de doentes humanos com um SDI baixo ou alto. Resultado: o dano cerebral piorou e os níveis de IL-17 (citoquinas pró-inflamatórias) - que produzem células T g-δ - aumentaram nos animais colonizados pelas bactérias típicas do padrão de SDI elevado, em comparação com os ratos que receberam transplantes de doentes com SDI baixo. Isto prova que a disbiose intestinal tem um efeito negativo no prognóstico pós-AVC. Segundo a equipa, a microbiota e a sua modulação através de prebióticos ou probióticos, são uma abordagem terapêutica que deverá ser mais explorada de forma a maximizar as hipóteses de recuperação dos doentes pós-acidente vascular cerebral.