A microbiota urinária em mulheres não incontinentes: o efeito da idade

A composição da microbiota urinária varia com a idade em mulheres adultas que não sofrem de incontinência, possivelmente devido à influência das hormonas. Embora certos tipos de composição microbiota urinária parecem estar a emergir, as potenciais consequências ainda são desconhecidas.

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 31 Março 2022
Photo : Urinary microbiota in continent women: the effect of age

Sobre este artigo

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 31 Março 2022

A bexiga não é um ambiente estéril e a recente descoberta da microbiota urinária gerou novas linhas de investigação. Sob esta perspetiva, foi realizado um estudo transversal num grande centro médico dos Estados Unidos, que incluiu 224 mulheres adultas que não sofrem de incontinência, com uma idade média de 48 anos e, na sua maioria, caucasianas (66%) e com excesso de peso (IMC* médio de 29,96 kg/m2). As participantes realizaram um exame físico para um potencial prolapso e completaram um questionário (bexiga hiperativa, qualidade de vida, peso, idade, etc.). Uma amostra de urina foi obtida, com recurso a um cateter, de forma a caracterizar a sua microbiota urinária.

Os dois métodos escolhidos

Compararam-se três métodos diferentes de análise: o método padrão, a cultura expandida quantitativa de urina ou protocolo EQUC (grande volume de urina, incubação sobre diversas condições, incubação prolongada) e a sequenciação de RNA. Com o método padrão, foram detetadas bactérias em 13 amostras (6%), com o protocolo EQUC em 115 amostras (51%) e com a sequenciação de RNA em 141 amostras (63%), das quais 89 eram comuns com o protocolo EQUC. O protocolo EQUC e/ou a sequenciação de RNA parecem ser os melhores métodos, enquanto que o método padrão não é recomendado devido à quantidade de falsos negativos que produz.

Os diferentes tipos de microbiota urinária

Os resultados obtidos mostram que a microbiota na bexiga é variável, permitindo a definição de tipos de microbiota baseados na predominância (> 50%) de um grupo taxonómico. O tipo de microbiota mais comum é o dominado por Lactobacillus (19%), sem diferenças relacionadas com a idade, menopausa, ter ou não filhos, relações sexuais ou até mesmo a etnia (embora se saiba que a microbiota de mulheres com etnia africana é normalmente dominada por lactobacilli). De seguida observou-se Streptococcus, misto (sem nenhum grupo taxonómico predominante), Gardnerella e Escherichia tipos de microbiota. O tipo Gardnerella foi o mais comum entre mulheres mais jovens (média de 36 anos) e a Escherichia nas mulheres com mais idade (média de 60 anos). O tipo de microbiota misto foi frequentemente observado em mulheres afro-americanas (46%).

Causas e consequências?

Uma possível explicação para os vários tipos de microbiota são as hormonas, especialmente por ser conhecido o seu efeito benéfico no crescimento de Lactobacillus na vagina e no trato urinário inferior. De qualquer forma, as suas consequências biológicas ainda são desconhecidas. Os diferentes tipos de microbiota podem conferir proteção ou dar origem a uma predisposição a distúrbios urinários, incluindo incontinência, hiperatividade ou infeções. De qualquer forma, os peritos insistem que o tratamento médico deve preservar ou restaurar a microbiota urinária nativa, especialmente lactobacilli, pois uma alteração nesta comunidade microbiológica poderá aumentar a suscetibilidade à infeção.

* Índice de massa corporal