A microbiota intestinal pode ser usada para prever a sobrevivência pós-tceh?

Em doentes com cancro hematológico e que estão a fazer transplantes de células estaminais hematopoiéticas (TCEH), uma microbiota intestinal mais diversa está associada a uma mortalidade mais reduzida.

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 31 Março 2022
Photo : Can the intestinal microbiota be used to predict post-hsct survival?

Sobre este artigo

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 31 Março 2022

Os (sidenote: Resposta imunitária dirigida contra as células hospedeiras iniciada por células transplantadas do dador ) , são uma opção de tratamento para o cancro hematológico. No entanto, os riscos envolvidos são significativos, em especial a doença potencialmente letal do (sidenote: Enxerto contra o hospedeiro  Immune response directed against host cells initiated by cells transplanted from the donor ) . Torna-se difícil prever quando é que estas complicações podem surgir num dado doente. A microbiota intestinal, que desempenha um papel na imunidade e cujo equilíbrio é perturbado em doentes que estejam a fazer TCEH, pode provar-se útil neste sentido.

Um estudo multicêntrico em três continentes

Uma equipa procurou caracterizar as potenciais ligações entre a composição microbiana e o prognóstico pós-transplante, testando ao mesmo tempo se os seus achados eram dependentes do local de atendimento do doente. Apesar das alterações na microbiota intestinal já terem sido ligadas a TCEH e ao seu prognóstico, continuava a não ser claro se essas ligações eram consistentes. Foi feito então um estudo com 1362 doentes com aloenxertos (média de 53 anos de idade) de quatro centros médicos (Nova Iorque e Durham, EUA; Regensburg, Alemanha; Sapporo, Japão), permitindo comparações entre centros.

Sobrevivência ligada à diversidade pós-operatória da microbiota

O estudo mostrou que uma maior diversidade da microbiota intestinal (diversidade α), medida 7 21 dias depois do transplante (período de desenvolvimento dos neutrófilos), estava associada a um risco de morte inferior (aproximadamente 30%-50% mais baixo, dependendo do centro e modelo) nos 24 meses depois do transplante. Em alguns subgrupos de doentes, a maior diversidade também estava associada a uma redução da mortalidade associada ao transplante e da mortalidade associada à doença do enxerto contra o hospedeiro.

Alguns taxa estão sobre-representados no contexto pós-operatório

A perda de diversidade na microbiota também foi associada à sobre-representação de certos taxa dos géneros Enterococcus, Klebsiella, Escherichia, Staphylococcus e Streptococcus. Esta predominância de um táxon específico na microbiota de doentes transplantados já foi reportada num estudo anterior. Embora não tenha sido observada em todos os doentes, foi-o nos quatro centros. Resumindo, os aloenxertos estão frequentemente associados a uma alteração da microbiota e a perfis microbianos característicos.

Microbiota pré-operatória: uma ferramenta preditiva?

Os investigadores também observaram o perfil microbiano de doentes antes do transplante. Ao comparar os doentes com indivíduos saudáveis do grupo controlo, os investigadores mostraram que a sua microbiota já apresentava uma disbiose pré-transplante. Além disso, no centro de Nova Iorque, uma maior diversidade pré-operatória previu resultados bem-sucedidos. Por fim, estes resultados podem levar ao desenvolvimento de estratégias clínicas para melhorar o prognóstico pós-transplante, regulando a microbiota em dois momentos chave, antes do transplante ou durante o período de desenvolvimento dos neutrófilos.