Não vamos adoçar a pílula: os adoçantes reduzem a eficácia da imunoterapia
A sucralose, um adoçante frequentemente consumido, altera a microbiota intestinal, afetando indiretamente o sistema imunitário através do metabolismo dos linfócitos T e, consequentemente, a resposta às imunoterapias.
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Sobre este artigo
A microbiota intestinal é um potente regulador da resposta às imunoterapias por inibidores de (sidenote: Os pontos de controlo imunitário são utilizados pelos tumores para se protegerem dos ataques do sistema imunitário e podem ser bloqueados pela terapêutica com ICI, de modo a restaurar a função do sistema imunitário. ) em diversos tipos de cancro, designadamente o melanoma e o cancro do pulmão de células não pequenas (NSCLC). No entanto, o impacto de fatores alimentares, como os edulcorantes, ainda é pouco conhecido. E quanto à sucralose, que é largamente consumida e que se sabe que altera a microbiota? Para tentarem responder a essa pergunta, uma equipa de investigadores avaliou a relação entre o consumo desse adoçante e a eficácia dos tratamentos anti-PD-1.
Perda de probabilidades observada entre os adeptos dos adoçantes artificiais
A análise concentrou-se em 3 coortes de pacientes: 91 com melanoma avançado, 41 com NSCLC avançado e 25 com melanoma ressecável de alto risco, todos tratados com imunoterapia anti-PD-1.
O consumo elevado de sucralose (> 0,16 mg/kg/dia) surgiu associado a resultados clínicos menos positivos:
- no melanoma avançado, a sobrevida média sem progressão (SSP) caiu de 13 para 8 meses;
- no NSCLC, caiu de 18 para 7 meses, com uma taxa de resposta ao tratamento mais reduzida (12% contra 49%);
- no melanoma ressecável, a resposta ao tratamento foi inferior, tal como a sobrevivência sem recidiva (19 versus 25 meses).
Foram observadas tendências semelhantes com outro edulcorante, o acessulfame, mas não com o aspartame nem com a sacarina.
Os linfócitos T estão envolvidos nos mecanismos subjacentes
Modelos de ratinhos confirmaram estas observações e permitiram estudar os mecanismos subjacentes. O consumo de sucralose provoca resistência à imunoterapia anti-PD-1 e um aumento considerável do crescimento tumoral, enquanto a ingestão de sacarose (açúcar comum) não tem qualquer efeito. Os mecanismos parecem ter a ver com os linfócitos T: o consumo de sucralose tem efeitos nefastos em vários processos dos linfócitos T (proliferação, função citotóxica, metabolismo). Esses efeitos não parecem limitar-se apenas ao cancro: eles poderão afetar várias doenças, desde o cancro até às infeções virais sazonais.
24 a 37% O consumo de edulcorantes artificiais é muito significativo entre a população em geral, tanto entre pessoas magras como obesas, com 24% a 37% dos adultos americanos a afirmarem consumi-los, de acordo com os inquéritos sobre hábitos alimentares.
A microbiota intestinal, necessária e suficiente
O impacto da sucralose depende inteiramente da microbiota intestinal: um transplante de microbiota fecal (TMF) de ratos que consumam sucralose é suficiente para reduzir a eficácia da imunoterapia em ratos sem tratamento prévio. Por outro lado, o TMF proveniente de ratos que reagem ao tratamento restaura a eficácia da imunoterapia nos ratos que consomem sucralose.
Mais concretamente, a sucralose altera a composição da microbiota, fomentando as bactérias que degradam a arginina e, consequentemente, uma redução dos níveis de arginina nas fezes, no soro e no tumor. A arginina é um metabolito essencial para o metabolismo dos linfócitos T. Daí o seu esgotamento. De forma notável, a suplementação com arginina ou citrulina (precursora da arginina) permite restaurar a função dos linfócitos T e vencer a resistência à imunoterapia induzida pela sucralose nos ratinhos.
Ao que tudo indica, determinados fatores alimentares, entre eles os adoçantes artificiais, parecem constituir um mecanismo de resistência aos inibidores de pontos de controlo. Serão necessários estudos prospetivos para se confirmar a existência de um nexo de causalidade.