Quando a taurina revigora a microbiota intestinal face aos agentes patogénicos

Perante uma infeção, o hospedeiro produzirá taurina, um nutriente que irá alimentar a microbiota e possibilitar a eliminação dos agentes patogénicos. A taurina promoverá assim a resistência a longo prazo a uma nova infeção.

Publicado em 28 Abril 2021
Atualizado em 30 Março 2022

Sobre este artigo

Publicado em 28 Abril 2021
Atualizado em 30 Março 2022

O que não mata engorda. O sistema imunitário segue à letra este provérbio. Ele dispõe de respostas adaptativas contra os agentes patogénicos, propiciando uma defesa mais rápida e mais intensa em caso de infeções posteriores. E se o mesmo se passar com a microbiota intestinal? Poderão as primeiras infeções permitir-lhe que desenvolva uma função antimicrobiana otimizada, aumentando assim a resistência do hospedeiro à colonização? Esta é a hipótese formulada por alguns investigadores.

Memória metaorganismo

As experiências foram realizados com Klebsiella pneumoniae (Kpn). Em ratos infetados oralmente, esta bactéria é transitoriamente detetada no lúmen do cólon e depois desaparece das fezes. A única exceção é quando os ratos recebem previamente um antibiótico de largo espectro (estreptomicina), situação em que a sua carga fecal de Kpn permanece elevada. A possibilidade de colonização do hospedeiro por este agente patogénico, por conseguinte, parece ser decidida pela microbiota. Após validado este ponto, uma longa série de experiências permitiu aos investigadores decifrarem gradualmente os mecanismos através dos quais uma infeção transitória conduz àquilo a que chamaram "memória metaorganismo" a longo prazo. Esta baseia-se em funções interdependentes e combinadas do hospedeiro e da sua microbiota.

Envolvimento dos ácidos biliares

Assim, após a infeção, o hospedeiro aumentará a sua produção hepática de ácidos biliares. Os grupos microbianos da microbiota intestinal capazes de usar esses ácidos através de respiração anaeróbica, em especial um deles, a taurina, multiplicar-se-ão. Ao fazê-lo, convertê-la-ão em sulfureto, um inibidor da respiração celular aeróbica. Ora, existem múltiplos agentes patogénicos que dependem da respiração aeróbica para sobreviverem. Portanto, essas bactérias indesejáveis morrerão, limitando assim a invasão do hospedeiro. De facto, se os sulfuretos forem sequestrados, promove-se a invasão por agentes patogénicos. De notar, ainda, que a ingestão de taurina exógena é suficiente para induzir os mesmos efeitos de uma infeção: multiplicação de bactérias capazes de metabolizá-la, reforço da resistência à colonização, etc.

Resistência à colonização: dúvidas, esperanças

No entanto, há muitas perguntas que ainda permanecem sem resposta: quais serão os sinais que desencadeiam o aumento da síntese de ácidos biliares após a infeção? O sistema imunitário do hospedeiro trabalhará em concertação com a microbiota para promover a resistência à colonização após a infeção? De qualquer forma, num contexto preocupante de aumento da resistência aos antibióticos, encontrar respostas para as infeções através dos metabolitos bacterianos (e não das próprias bactérias) é uma alternativa promissora. E com uma vantagem inegável: enquanto as terapias com base em bactérias (como o transplante fecal) esbarram no obstáculo da heterogeneidade interindividual, os metabolitos microbianos, mais "universais", deverão poder atingir alvos muito mais abrangentes e diversificados.