Asma: a ligação entre a microbiota nasal e o agravamento dos ataques

A microbiota das vias respiratórias parece ter um papel importante na asma. Algumas bactérias na microbiota nasal parecem estar associadas a uma melhoria da doença, enquanto outras estão associadas a ataques mais graves.

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 04 Março 2022
Photo : Asthma: severity of attacks linked to nasal microbiota

Sobre este artigo

Publicado em 09 Setembro 2020
Atualizado em 04 Março 2022

A relação entre a microbiota das vias respiratórias e a asma em crianças ainda é pouco conhecida. Um estudo prospetivo analisou as ligações entre a abundância relativa de bactérias em 319 amostras nasais recolhidas em dois pontos temporais – com a asma controlada e no início de um ataque – e os ataques de asma de 254 crianças em idade escolar com asma de estádio II, 75,7% dos quais tiveram um ataque durante os 320 dias de seguimento (e dois ataques em 43,4% das crianças incluídas no período de seguimento).

Grupos bacterianos associados com risco de asma

Os resultados mostram que o risco de ataque ou agravamento varia consoante os tipos de bactérias que colonizam as vias respiratórias superiores. Especificamente, microbiotas em que os géneros Corynebacterium e Dolosigranulum são predominantes, estão associados a um menor risco de ataque de asma quando comparados com microbiotas com maior prevalência de bactérias patogénicas, especialmente dos géneros Staphylococcus, Streptococcus e Moraxella. Para além disso, uma mudança para Moraxella no início de um ataque (com um pico de valor na zona amarela) está associada a um maior risco de agravamento. Estas observações são consistentes com outros estudos prévios que mostram que a colonização das vias respiratórias superiores por agentes patogénicos oportunistas, em especial Streptococcus, Moraxella e Haemophilus, é mais comum em asmáticos do que em indivíduos saudáveis.

Bactérias de proteção

Adicionalmente, no início de um ataque de asma, a abundância relativa de Corynebacterium foi inversamente associada à probabilidade de um maior agravamento. É importante mencionar que o Corynebacterium (o género mais abundante identificado na microbiota nasal) é encontrado menos frequentemente na microbiota nasal de adultos asmáticos, sugerindo um efeito protetor, possivelmente através da colonização por competição. É possível que Corynebacterium e Dolosigranulum possam inibir o crescimento de Streptococcus através da libertação de substâncias antibacterianas.

Causa ou consequência?

Assim, a microbiota das vias respiratórias superiores está associada aos eventos que ocorrem nas vias respiratórias inferiores. De qualquer forma, o desenho do estudo impede que sejam retiradas conclusões sobre a relação de causalidade. Ainda não são conhecidas se as mudanças na microbiota I) aumentam a atividade asmática, II) se são uma consequência ou a causa de infeções víricas, ou III) se são resultado de uma comunicação entre a microbiota e a resposta imunitária do hospedeiro a nível da mucosa durante os ataques e agravamento. As mudanças na microbiota podem, também, resultar de um controlo da asma realizado de forma incorreta ou uma inflamação das vias respiratórias.