Síndrome do intestino irritável: revelado o papel das bactérias brachyspira

SII

A presença de Brachyspira na mucosa do cólon em alguns pacientes com síndrome do intestino irritável, demonstrada pela primeira vez, poderá estar associada a determinados sintomas da doença, como a diarreia.

Publicado em 03 Março 2021
Atualizado em 04 Março 2022
Actu PRO : Syndrome de l’intestin irritable : le rôle de Brachyspira dévoilé

Sobre este artigo

Publicado em 03 Março 2021
Atualizado em 04 Março 2022

A incidência de síndrome do intestino irritável (SII), também conhecida por doença entérica inflamatória, aumenta na sequência de episódios de gastroenterite, sugerindo que a disbiose intestinal poderá desempenhar um papel no seu desencadeamento. No entanto, as investigações mais recentes, centradas na microbiota do lúmen intestinal, não revelaram evidências da existência de associações entre a composição da microbiota e a SII. Optando por uma mudança de estratégia, uma equipa analisou as bactérias presentes não no lúmen, mas sim no muco que reveste o epitélio intestinal, a partir de biópsias da mucosa do cólon sigmoide colhidas em pacientes com SII (nas suas variantes com diarreia, com obstipação, mista ou não classificada) e num grupo de controlo.

Péptidos assinalam a presença de Brachyspira

Análises metaproteómicas realizadas numa coorte exploratória (22 doentes e 14 controlos) revelaram, então, a presença no muco de péptidos microbianos derivados de espécies potencialmente patogénicas do género Brachyspira em 3/22 pacientes de SII. Essa presença das bactérias foi confirmada por microscopia eletrónica, tanto ao nível da membrana apical dos colonócitos como no muco. As análises por QPCR acoplado com imunofluorescência em todo o grupo (62 doentes e 31 controlos) indicam a existência de colonização por Brachyspira em 31% dos pacientes com SII e em 42% dos pacientes com formas diarreicas. Não foi observada qualquer colonização no grupo de controlo.

A Brachyspira coloniza as células do cólon

A presença específica de Brachyspira ao nível da membrana apical dos colonócitos (contrariamente ao muco), observada em 21% dos pacientes, estava associada a diarreia mais pronunciada e a um trânsito acelerado. A mucosa intestinal destes pacientes apresentava uma resposta inflamatória moderada, bem como aumento de determinadas células imunitárias (mastócitos). Entretanto, a abundância destas células pôde ser relacionada com a gravidade na escala da dor abdominal.

Antibióticos: efeitos contraprodutivos?

Numa última experiência, os investigadores testaram os efeitos do metronidazol em 4 pacientes. Um ano após o tratamento, 3 deles apresentavam uma redução na severidade da SII. No entanto, se, de facto, a Brachyspira tinha desaparecido do ápice das células do cólon, a sua presença nas criptas e nas células caliciformes poderá constituir uma nova estratégia de resistência bacteriana aos antibióticos. Em última análise, a colonização por Brachyspira em casos de SII (particularmente nas células do cólon) parece estar associada a respostas clínicas, metabólicas e imunitárias específicas, constituindo assim uma potencial ferramenta de diagnóstico para as diferentes formas de SII. Por outro lado, os tratamentos por antibióticos deverão ser encarados com precaução em doentes com SII, tendo em conta o efeito invasivo que os mesmos podem promover.