Será a eficácia das vacinas condicionada pela microbiota intestinal?
Embora vacinadas, algumas crianças não desenvolvem imunidade protetora, particularmente em países de baixos e médios rendimentos. A microbiota intestinal, intimamente ligada ao funcionamento imunitário, pode ser um dos fatores por trás dessa variabilidade nas respostas vacinais.
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Sobre este artigo
Reconhecidamente, a vacinação é um dos maiores sucessos de saúde pública, salvando milhões de vidas em todo o mundo, principalmente entre as crianças mais pequenas (0-5 anos), que são mais vulneráveis às doenças infeciosas. No entanto, a sua eficácia varia de uma população para outra, com níveis mais altos de imunidade protetora nos países europeus em comparação com os países de baixos e médios rendimentos (PBMR). Embora o desenvolvimento da microbiota intestinal no início da vida esteja intimamente ligado à maturação do sistema imunitário e a microbiota das crianças nos PBMR difira significativamente da das crianças europeias, os investigadores compilaram numa revisão as provas que apontam para o papel da microbiota intestinal nas disparidades nas respostas vacinais.
Propriedades imunomoduladoras
Nela descobrimos que a presença de certos táxons está correlacionada com a taxa de resposta à vacina: positiva para Actinobacteria, mas negativa para Enterobacteriaceae, num estudo sobre as vacinas contra a tuberculose, o tétano, a hepatite B e a poliomielite nos lactentes do Bangladesh. Para além destas observações, as intervenções destinadas a modificar a microbiota (prebióticos, probióticos, antibióticos) testemunham também o seu envolvimento na resposta vacinal. Uma revisão sistemática de 2018 resumiu os resultados de 26 ensaios realizados com probióticos em seres humanos para melhorar a eficácia de diferentes vacinas. Ela constata a existência de efeitos positivos em metade dos casos. Simetricamente, os estudos que testaram os efeitos dos antibióticos detetaram ausência de efeitos ou uma redução na resposta imunitária, atribuída à perturbação da microbiota.
Dois géneros bacterianos especialmente envolvidos
Dois géneros bacterianos parecem ser particularmente capazes de modular as respostas à vacinação: Bifidobacterium e Bacteroides, comunidades que são essenciais para o desenvolvimento de uma microbiota saudável nos bebés, mas que poderão provavelmente sofrer perturbações significativas nessa etapa da vida (cesariana, entre outras). Os efeitos da microbiota nas respostas vacinais serão mediados por certos metabolitos e/ou componentes celulares, como os ácidos gordos de cadeia curta, os exopolissacarídeos ou as vesículas extracelulares.
A caminho de uma nova geração de estratégias vacinais
Embora as cepas e os produtos de interesse mereçam ser melhor caraterizados, as perspetivas clínicas abertas pela intrincada relação entre a microbiota e a eficácia vacinal são ricas. Objetivo: novas terapias de estimulação vacinal, potencialmente desprovidas de adjuvantes (muitas vezes suspeitos de efeitos adversos) e capazes de melhorar a proteção das crianças dos PBMRs.