Candidíase

70 a 75% das mulheres sofrem episódios de candidíase vaginal pelo menos uma vez na vida1. Prurido e corrimento vaginal anormal... Os sintomas podem ser particularmente incómodos no dia a dia. E se que essa infeção fosse promovida pelo desequilíbrio da sua microbiota vaginal?2

Publicado em 16 Agosto 2021
Atualizado em 07 Março 2024

Sobre este artigo

Publicado em 16 Agosto 2021
Atualizado em 07 Março 2024

O que é a candidíase vaginal?

A candidíase vaginal é uma infeção da vulva e da vagina, provocada por um fungo do tipo levedura – Candida albicans na maioria dos casos3. Esta infeção é considerada a segunda mais vulgar entre as doenças infeciosas vaginais, a seguir à vaginose bacteriana1. É importante consultar um médico para confirmar o diagnóstico, porque os seus sintomas não são muito específicos; a maioria das manifestações clínicas mais vulgares desta infeção são os corrimentos vaginais anormais (leucorreia), o prurido genital e a sensação de queimadura acompanhada de dores ou irritações vaginais, que podem conduzir a (sidenote: Dispareunia Dor genital recorrente ou persistente que se manifesta durante as relações sexuais. ) ou a (sidenote: Disúria Termo utilizado para descrever uma micção (ação de urinar) dolorosa, muitas vezes descrita pelo doente como uma sensação de queimadura, formigueiro ou prurido ) 1.

42% Menos de 1 em cada 2 mulheres afirmam que o seu médico lhes explicou como manter uma microbiota vaginal equilibrada ou a importância de manter o melhor equilíbrio possível da sua microbiota vaginal

A microbiota vaginal está implicada?

A microbiota vaginal de cada mulher, que é única e diferente das outras microbiotas, apresenta reduzida diversidade quando bem equilibrada4: as espécies do género (sidenote: Lactobacilos Bactérias em forma de bastonete cuja característica principal é a de produzirem ácido láctico. É por essa razão que se fala em “bactérias do ácido láctico”. 
Estas bactérias estão presentes no ser humano ao nível das microbiotas oral, vaginal e intestinal, mas também nas plantas ou nos animais. Podem ser consumidas nos produtos fermentados: em produtos lácteos, como o iogurte e alguns queijos, e também em outros tipos de alimentos fermentados – picles, chucrute, etc..
Os lactobacilos são também consumidos em produtos que contêm probióticos, com algumas espécies a serem conhecidas pelas suas propriedades benéficas.   W. H. Holzapfel et B. J. Wood, The Genera of Lactic Acid Bacteria, 2, Springer-Verlag, 1st ed. 1995 (2012), 411 p. « The genus Lactobacillus par W. P. Hammes, R. F. Vogel Tannock GW. A special fondness for lactobacilli. Appl Environ Microbiol. 2004 Jun;70(6):3189-94. Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007.
)
são predominantes, mas também há leveduras (Candida albicans) em quantidades mais reduzidas.5 

Ao longo dos vários episódios da vida de uma mulher, o ecossistema vaginal evolui6. Esse desenvolvimento é normal e é influenciado pelo ciclo menstrual, a puberdade e a menopausa, e pela atividade sexual, a contraceção, a higiene íntima e as gravidezes.7,8,9

Quando o ecossistema vaginal é desequilibrado (por um tratamento com antibióticos, irrigações vaginais, stress, tabagismo, etc. )2,6, acontece o que se designa por (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) : os Lactobacillus deixam de ser predominantes, e algumas (sidenote: Infeção oportunista Infeção causada por um microrganismo normalmente não patogénico, mas que o pode tornar-se quando o seu anfitrião se encontra em desequilíbrio (há múltiplos fatores que podem causar esse desequilíbrio: enfraquecimento do sistema imunitário, doença, idade, certas drogas, etc.). ) têm a possibilidade de proliferar. É o que sucede no caso da candidíase: as Candida – que são leveduras normalmente presentes na vagina e nos intestinos5 – aumentam de forma anormal e tornam-se agentes patogénicos em determinadas condições. Por exemplo, estima-se que após um tratamento com antibióticos, 10 a 30% das mulheres sofram de candidíase vulvovaginal10.

10 a 30% das mulheres sofram de candidíase vulvovaginal após um tratamento com antibióticos

Existem outros fatores de risco que podem aumentar o risco de se desencadear uma infeção1: a toma de  corticosteroides, a gravidez, as doenças que implicam diminuição da resposta imunitária, a diabetes mal controlada, mas também os contracetivos orais, a utilização de dispositivo intrauterino, etc.. Há muitos fatores que têm sido identificados, sem que os respetivos mecanismos estejam inteiramente compreendidos11

Antifúngicos e probióticos

O tratamento tradicional da candidíase vaginal é uma terapêutica antifúngica, mediante administração local ou por via oral11. No entanto, podem ocorrer recidivas, e há novas abordagens terapêuticas a serem avaliadas11. Trabalhos recentes sugerem que probióticos tomados por via oral ou de aplicação tópica (cápsulas ou óvulos) poderão reequilibrar a microflora vaginal e reduzir a frequência da recorrência das infeções por Candida.12,13

Para se reduzir o risco de infeção, é recomendado que se cumpram algumas práticas de higiene pessoal. São gestos a adotar diariamente para cuidar da sua microbiota vaginal.

Este artigo recorre a fontes científicas homologadas. Em caso de sintomas, não hesite em consultar o seu médico generalista ou o seu ginecologista.

Fontes:

1 Gonçalves B, Ferreira C, Alves CT, et al. Vulvovaginal candidiasis: Epidemiology, microbiology and risk factors. Crit Rev Microbiol. 2016 Nov;42(6):905-27. 

2Riepl M. Compounding to Prevent and Treat Dysbiosis of the Human Vaginal Microbiome. Int J Pharm Compd. 2018 Nov-Dec;22(6):456-465.

3 Ceccarani C, Foschi C, Parolin C, et al. Diversity of vaginal microbiome and metabolome during genital infections. Sci Rep. 2019 Oct 1;9(1):14095.

4Gupta S, Kakkar V, Bhushan I. et al. Crosstalk between Vaginal Microbiome and Female Health: A review. Microb Pathog. 2019 Aug 23;136:103696.

5d'Enfert C, Kaune AK, Alaban LR, et al. The impact of the Fungus-Host-Microbiota interplay upon Candida albicans infections: current knowledge and new perspectives. FEMS Microbiol Rev. 2020 Nov 24:fuaa060. 

6Amabebe E, Anumba DOC. The Vaginal Microenvironment: The Physiologic Role of Lactobacilli. Front Med (Lausanne). 2018 Jun 13;5:181.

7Gupta P, Singh MP, Goyal K. Diversity of Vaginal Microbiome in Pregnancy: Deciphering the Obscurity. Front Public Health. 2020 Jul 24;8:326.

8Greenbaum S, Greenbaum G, Moran-Gilad J, Weintraub AY. Ecological dynamics of the vaginal microbiome in relation to health and disease. Am J Obstet Gynecol. 2019 Apr;220(4):324-335.

9Lewis FM, Bernstein KT, Aral SO. Vaginal Microbiome and Its Relationship to Behavior, Sexual Health, and Sexually Transmitted Diseases. Obstet Gynecol. 2017;129(4):643-654.

10 Shukla A, Sobel JD. Vulvovaginitis Caused by Candida Species Following Antibiotic Exposure. Curr Infect Dis Rep. 2019 Nov 9;21(11):44.

11 de Cássia Orlandi Sardi, J, Silva, D.R, et al. Vulvovaginal Candidiasis: Epidemiology and Risk Factors, Pathogenesis, Resistance, and New Therapeutic Options. Curr Fungal Infect Rep 15, 32–40 (2021). 

12Strus M, Chmielarczyk A, Kochan P, et al. Studies on the effects of probiotic Lactobacillus mixture given orally on vaginal and rectal colonization and on parameters of vaginal health in women with intermediate vaginal flora. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2012 Aug;163(2):210-5. 

13Vujic G, Jajac Knez A, Despot Stefanovic V, et al. Efficacy of orally applied probiotic capsules for bacterial vaginosis and other vaginal infections: a double-blind, randomized, placebo-controlled study. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2013 May;168(1):75-9. 

14Chen Y, Bruning E, Rubino J, et al. Role of female intimate hygiene in vulvovaginal health: Global hygiene practices and product usage. Womens Health (Lond). 2017 Dec;13(3):58-67.

15Hill DA, Taylor CA. Dyspareunia in Women. Am Fam Physician. 2021 May 15;103(10):597-604.

 

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