Exposoma: microbiota exposta, saúde em risco
Já repararam que algumas pessoas parecem adoecer com mais frequência do que outras? Por trás dessa aparente desigualdade, há um conceito que é tão holístico quanto revolucionário: o exposoma. Trata-se do conjunto de fatores ambientais a que estamos expostos ao longo das nossas vidas e que influencia a nossa saúde de uma forma bastante mais profunda do que pensamos. E a microbiota pode também desempenhar um papel fulcral. Explicações.
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Sobre este artigo
Os alimentos que ingerimos, a água que bebemos, o ar que respiramos, mas também o local onde vivemos, o nosso ambiente de trabalho... Em que medida os fatores a que estamos expostos desde o nascimento até à morte podem ser determinantes na progressão inexorável das doenças crónicas? Esta pergunta é uma verdadeira "armadilha" colocada à comunidade científica.
350 000 Este é o número das diferentes substâncias químicas sintéticas artificiais atualmente em circulação no mundo.
9 millions É o número de pessoas que morrem prematuramente todos os anos devido aos efeitos acumulados das exposições ambientais (12,6 milhões de acordo com a OMS ).
24 % É a percentagem de óbitos no mundo devidos a fatores ambientais (28% da mortalidade nas crianças com menos de 5 anos).
De facto, e muito embora os cientistas tentem há muitos anos avaliar o impacto de cada um destes fatores na saúde, temos de reconhecer que ainda se sabe muito pouco sobre as perturbações fisiológicas que provocam quando são combinados e se vão acumulando ao longo dos anos.
Há alguns que atuam em sinergia (o que é conhecido por “efeito de cocktail”), outros que se compensam mutuamente e outros ainda que têm um impacto numa fase da vida, mas não noutra, ou que simplesmente vão variando as consequências em função do tempo de exposição 5.
Natureza e microbiota: quais os efeitos para a sua saúde?
Exposoma: uma abordagem holística da saúde
Urbanização, stress, alterações climáticas, alimentação moderna, produtos tóxicos... Em 2005, motivado pela necessidade de compreender melhor a exposição, muitas vezes complexa, a esta multiplicidade de fatores ambientais, o epidemiologista britânico Christopher P. Wild (atualmente diretor do IARC, a Agência Internacional de Investigação do Cancro) propôs o conceito de “exposoma”. Define-o como: “a totalidade das exposições a que uma pessoa é sujeita desde a conceção até a morte”.
Segundo ele, o exposoma é “uma representação complexa e dinâmica das exposições a que a pessoa está sujeita ao longo da sua vida, integrando os ambientes químico, microbiológico, físico, recreativo e medicamentoso, o estilo de vida, a alimentação e as infeções. "
O genoma e o exposoma são complementares
Cuidado com atalhos, e com o facilitismo! que opõem o genoma e o exposoma. Pelo contrário, eles completam-se. O exposoma, que evoca o conceito de genoma, reúne todos os fatores não genéticos que influenciam a nossa saúde. Vem complementar a abordagem centrada no genoma, que, ao limitar-se aos genes e aos cromossomas, oferece apenas uma compreensão parcial do aparecimento das doenças.
Para Christopher P. Wild, as doenças crónicas podem ser explicadas pelas interações entre os nossos genes e o ambiente, donde a necessidade de ferramentas metodológicas para se desenvolver e melhorar as ciências da exposição, que ainda não são suficientemente tidas em conta.
Respirar, lavar-se, vestir-se, comer, trabalhar, ir para a cama não são, portanto, ações assim tão inócuas. Elas expõem-nos a fontes de micropartículas, substâncias químicas, poluentes, metais pesados, stress, ruído, radiações, etc., que são potencialmente nocivas para o nosso organismo e para a nossa microbiota.
Do exposoma ao conceito “One Health”: atuar de forma global
Não é segredo para ninguém que a nossa saúde está intimamente ligada à dos animais, plantas e microrganismos que vivem na Terra.
Todos pertencemos ao mesmo ecossistema, e as interações entre os seres humanos, a vida selvagem e o seu ambiente condicionam a nossa saúde coletiva. Estamos todos expostos aos mesmos contaminantes, de facto, sejam eles poluentes químicos, agentes patogénicos ou consequências das alterações climáticas.
Por conseguinte, o conceito de exposoma enquadra-se naturalmente numa abordagem global como a de “One Health”. Esta iniciativa, reconhecida pela OMS, pela FAO e pela OIE (Organização Mundial da Saúde Animal), põe em evidência a interdependência entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental.
Uma melhor compreensão do exposoma, ou seja, das exposições a que estamos sujeitos ao longo da nossa vida, é, por conseguinte, essencial para podermos reduzir o risco de doenças e adotar comportamentos corretos na nossa vida quotidiana. E a microbiota no meio disto tudo?
Microbiota e exposoma: um diálogo no seio da nossa saúde
E se a nossa saúde dependesse do diálogo entre o nosso ambiente e os bilhões de microrganismos que habitam o nosso corpo? Poluentes, alimentação, estresse, natureza... o expossoma interage constantemente com a nossa microbiota e pode influenciar seu equilíbrio frágil. Um elo pouco conhecido, mas central, especialmente na prevenção de doenças crônicas. O impacto da natureza sobre a nossa microbiota, e o da urbanização, é uma prova disso.
Descubra como essa troca silenciosa molda a nossa saúde.
Microbiota e exposoma: um diálogo no seio da nossa saúde
Microbiota sob pressão: como o exposoma promove as doenças crónicas
O nosso ambiente tem uma influência profunda sobre a nossa saúde... ao afetar a nossa microbiota. Desreguladores endócrinos, microplásticos, medicamentos, alimentos ultraprocessados: todos esses elementos fazem parte do expossoma e contribuem para fragilizar o ecossistema intestinal, favorecendo o surgimento de doenças crônicas. A ciência começa a revelar como esses distúrbios podem levar à obesidade, depressão, doenças inflamatórias intestinais (DII) e alergias. Entre os exemplos mais recentes: o expossoma fúngico e a resistência bacteriana.
Explore as conexões entre meio ambiente, disbiose e doenças modernas.
Microbiota sob pressão: como o exposoma promove as doenças crónicas
Do nascimento à morte, um exposoma com consequências diferentes para a nossa saúde
Do nascimento à morte, um expossoma com diferentes impactos sobre a nossa saúde. A nossa sensibilidade ao ambiente evolui com a idade. Desde a gestação, o expossoma modula a imunidade, molda a microbiota do bebê e influencia o risco futuro de asma ou alergias. Na adolescência, ele afeta a saúde mental e da pele. Na idade adulta, determina o nível de inflamação e o bem-estar geral. Já nos idosos, pode tanto preservar quanto comprometer a longevidade, como mostra o estudo sobre a microbiota de centenários.
Descubra como cada etapa da vida interage com o expossoma.
Do nascimento à morte, um exposoma com consequências diferentes para a nossa saúde
Rumo a um exposoma mais favorável
Talvez não tenhamos controle sobre tudo, mas podemos agir! Um expossoma benéfico é possível: uma alimentação rica em fibras, atividade física, contato com a natureza, higiene suave, redução dos desreguladores... são ações simples que ajudam a proteger a nossa microbiota e prevenir doenças. A dieta mediterrânea e um ambiente rico em microrganismos são provas vivas disso.
23 % Esta é a percentagem de redução da mortalidade nas mulheres cuja alimentação mais se aproxima da dieta mediterrânica, em comparação com as que mais se afastam dela.
25 % É a percentagem de redução do risco de cancro entre as pessoas que seguem uma dieta biológica (-34% para o risco de cancro da mama).
Descubra maneiras concretas de cultivar um ambiente saudável.
Rumo a um exposoma mais favorável
As microbiotas são sentinelas do nosso ambiente. Interfaces vivas entre o nosso corpo e o mundo exterior, as microbiotas refletem fielmente o ambiente em que vivemos. Compreender o expossoma é identificar os mecanismos que nos permitem viver melhor, envelhecer com mais saúde e prevenir as doenças do futuro. A abordagem expossômica lança uma nova luz sobre a nossa relação com a saúde pública, a ecologia e os comportamentos do dia a dia.
1. https://www.inserm.fr/c-est-quoi/ambiance-ta-life-cest-quoi-lexposome/
7. OIE (2021). One Health: A collaborative, global approach to understanding risks for human, animal, and ecosystem health.