Exposoma: microbiota exposta, saúde em risco

Já repararam que algumas pessoas parecem adoecer com mais frequência do que outras? Por trás dessa aparente desigualdade, há um conceito que é tão holístico quanto revolucionário: o exposoma. Trata-se do conjunto de fatores ambientais a que estamos expostos ao longo das nossas vidas e que influencia a nossa saúde de uma forma bastante mais profunda do que pensamos. E a microbiota pode também desempenhar um papel fulcral. Explicações.  

Publicado em 24 Junho 2025
Atualizado em 01 Julho 2025

Sobre este artigo

Publicado em 24 Junho 2025
Atualizado em 01 Julho 2025

Os alimentos que ingerimos, a água que bebemos, o ar que respiramos, mas também o local onde vivemos, o nosso ambiente de trabalho... Em que medida os fatores a que estamos expostos desde o nascimento até à morte podem ser determinantes na progressão inexorável das doenças crónicas? Esta pergunta é uma verdadeira "armadilha" colocada à comunidade científica. 

350 000 Este é o número das diferentes substâncias químicas sintéticas artificiais atualmente em circulação no mundo.

9 millions É o número de pessoas que morrem prematuramente todos os anos devido aos efeitos acumulados das exposições ambientais (12,6 milhões de acordo com a OMS ).

24 % É a percentagem de óbitos no mundo devidos a fatores ambientais (28% da mortalidade nas crianças com menos de 5 anos).

De facto, e muito embora os cientistas tentem há muitos anos avaliar o impacto de cada um destes fatores na saúde, temos de reconhecer que ainda se sabe muito pouco sobre as perturbações fisiológicas que provocam quando são combinados e se vão acumulando ao longo dos anos.

Há alguns que atuam em sinergia (o que é conhecido por “efeito de cocktail”), outros que se compensam mutuamente e outros ainda que têm um impacto numa fase da vida, mas não noutra, ou que simplesmente vão variando as consequências em função do tempo de exposição 5.  

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Exposoma: uma abordagem holística da saúde

Urbanização, stress, alterações climáticas, alimentação moderna, produtos tóxicos... Em 2005, motivado pela necessidade de compreender melhor a exposição, muitas vezes complexa, a esta multiplicidade de fatores ambientais, o epidemiologista britânico Christopher P. Wild (atualmente diretor do IARC, a Agência Internacional de Investigação do Cancro) propôs o conceito de “exposoma”. Define-o como: “a totalidade das exposições a que uma pessoa é sujeita desde a conceção até a morte”. 

Segundo ele, o exposoma é “uma representação complexa e dinâmica das exposições a que a pessoa está sujeita ao longo da sua vida, integrando os ambientes químico, microbiológico, físico, recreativo e medicamentoso, o estilo de vida, a alimentação e as infeções. " 

O genoma e o exposoma são complementares

Cuidado com atalhos, e com o facilitismo! que opõem o genoma e o exposoma. Pelo contrário, eles completam-se. O exposoma, que evoca o conceito de genoma, reúne todos os fatores não genéticos que influenciam a nossa saúde. Vem complementar a abordagem centrada no genoma, que, ao limitar-se aos genes e aos cromossomas, oferece apenas uma compreensão parcial do aparecimento das doenças.

Para Christopher P. Wild, as doenças crónicas podem ser explicadas pelas interações entre os nossos genes e o ambiente, donde a necessidade de ferramentas metodológicas para se desenvolver e melhorar as ciências da exposição, que ainda não são suficientemente tidas em conta. 

Respirar, lavar-se, vestir-se, comer, trabalhar, ir para a cama não são, portanto, ações assim tão inócuas.  Elas expõem-nos a fontes de micropartículas, substâncias químicas, poluentes, metais pesados, stress, ruído, radiações, etc., que são potencialmente nocivas para o nosso organismo e para a nossa microbiota.

Do exposoma ao conceito “One Health”: atuar de forma global

Não é segredo para ninguém que a nossa saúde está intimamente ligada à dos animais, plantas e microrganismos que vivem na Terra. 

Todos pertencemos ao mesmo ecossistema, e as interações entre os seres humanos, a vida selvagem e o seu ambiente condicionam a nossa saúde coletiva. Estamos todos expostos aos mesmos contaminantes, de facto, sejam eles poluentes químicos, agentes patogénicos ou consequências das alterações climáticas.


Por conseguinte, o conceito de exposoma enquadra-se naturalmente numa abordagem global como a de “One Health”. Esta iniciativa, reconhecida pela OMS, pela FAO e pela OIE (Organização Mundial da Saúde Animal), põe em evidência a interdependência entre a saúde humana, a saúde animal e a saúde ambiental. 

Uma melhor compreensão do exposoma, ou seja, das exposições a que estamos sujeitos ao longo da nossa vida, é, por conseguinte, essencial para podermos reduzir o risco de doenças e adotar comportamentos corretos na nossa vida quotidiana. E a microbiota no meio disto tudo? 

Microbiota e exposoma: um diálogo no seio da nossa saúde  

E se a nossa saúde dependesse do diálogo entre o nosso ambiente e os bilhões de microrganismos que habitam o nosso corpo? Poluentes, alimentação, estresse, natureza... o expossoma interage constantemente com a nossa microbiota e pode influenciar seu equilíbrio frágil. Um elo pouco conhecido, mas central, especialmente na prevenção de doenças crônicas. O impacto da natureza sobre a nossa microbiota, e o da urbanização, é uma prova disso.


Descubra como essa troca silenciosa molda a nossa saúde.
 

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Microbiota sob pressão: como o exposoma promove as doenças crónicas

O nosso ambiente tem uma influência profunda sobre a nossa saúde... ao afetar a nossa microbiota. Desreguladores endócrinos, microplásticos, medicamentos, alimentos ultraprocessados: todos esses elementos fazem parte do expossoma e contribuem para fragilizar o ecossistema intestinal, favorecendo o surgimento de doenças crônicas. A ciência começa a revelar como esses distúrbios podem levar à obesidade, depressão, doenças inflamatórias intestinais (DII) e alergias. Entre os exemplos mais recentes: o expossoma fúngico e a resistência bacteriana.


Explore as conexões entre meio ambiente, disbiose e doenças modernas.
 

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Do nascimento à morte, um exposoma com consequências diferentes para a nossa saúde

Do nascimento à morte, um expossoma com diferentes impactos sobre a nossa saúde. A nossa sensibilidade ao ambiente evolui com a idade. Desde a gestação, o expossoma modula a imunidade, molda a microbiota do bebê e influencia o risco futuro de asma ou alergias. Na adolescência, ele afeta a saúde mental e da pele. Na idade adulta, determina o nível de inflamação e o bem-estar geral. Já nos idosos, pode tanto preservar quanto comprometer a longevidade, como mostra o estudo sobre a microbiota de centenários.


Descubra como cada etapa da vida interage com o expossoma.

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Rumo a um exposoma mais favorável 

Talvez não tenhamos controle sobre tudo, mas podemos agir! Um expossoma benéfico é possível: uma alimentação rica em fibras, atividade física, contato com a natureza, higiene suave, redução dos desreguladores... são ações simples que ajudam a proteger a nossa microbiota e prevenir doenças. A dieta mediterrânea e um ambiente rico em microrganismos são provas vivas disso.

23 % Esta é a percentagem de redução da mortalidade nas mulheres cuja alimentação mais se aproxima da dieta mediterrânica, em comparação com as que mais se afastam dela.

25 % É a percentagem de redução do risco de cancro entre as pessoas que seguem uma dieta biológica (-34% para o risco de cancro da mama).

Descubra maneiras concretas de cultivar um ambiente saudável.

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As microbiotas são sentinelas do nosso ambiente. Interfaces vivas entre o nosso corpo e o mundo exterior, as microbiotas refletem fielmente o ambiente em que vivemos. Compreender o expossoma é identificar os mecanismos que nos permitem viver melhor, envelhecer com mais saúde e prevenir as doenças do futuro. A abordagem expossômica lança uma nova luz sobre a nossa relação com a saúde pública, a ecologia e os comportamentos do dia a dia.