A microbiota vaginal
Como cuidar da microbiota vaginal?
Há centenas de bactérias que povoam a vagina.1 Vejamos como funcionam e porque devemos cuidar da nossa microbiota!
- Descubra as microbiotas
- Microbiota e doenças associadas
- Aja sobre a sua microbiota
- Publicações
- Sobre o Instituto
Acesso a profissionais de saúde
Encontre aqui o seu espaço dedicadoen_sources_title
en_sources_text_start en_sources_text_end
Capítulos
Sobre este artigo
Sumário
Sumário
21% Apenas 1 em cada 5 mulheres afirma saber o significado exato do termo "microbiota vaginal"
O que é exatamente a microbiota vaginal?
A microbiota vaginal, ou flora vaginal, consiste em centenas de bactérias e num menor número de fungos (Candida), que povoam a vagina.1
Para a maioria das mulheres (e contrariamente à microbiota intestinal), a microbiota vaginal encontra-se equilibrada quando sua diversidade é reduzida (cerca de 200 espécies bacterianas) e quando os lactobacilos – bactérias em forma de bastão – são predominantes.1
Todas as mulheres têm uma microbiota vaginal, mas a microbiota vaginal difere de mulher para mulher. Até à data, foram descritos cinco tipos principais de comunidades bacterianas vaginais:1,2
-
quatro dominados por (sidenote: Lactobacilos Bactérias em forma de bastonete cuja característica principal é a de produzirem ácido láctico. É por essa razão que se fala em “bactérias do ácido láctico”.
Estas bactérias estão presentes no ser humano ao nível das microbiotas oral, vaginal e intestinal, mas também nas plantas ou nos animais. Podem ser consumidas nos produtos fermentados: em produtos lácteos, como o iogurte e alguns queijos, e também em outros tipos de alimentos fermentados – picles, chucrute, etc..
Os lactobacilos são também consumidos em produtos que contêm probióticos, com algumas espécies a serem conhecidas pelas suas propriedades benéficas. W. H. Holzapfel et B. J. Wood, The Genera of Lactic Acid Bacteria, 2, Springer-Verlag, 1st ed. 1995 (2012), 411 p. « The genus Lactobacillus par W. P. Hammes, R. F. Vogel Tannock GW. A special fondness for lactobacilli. Appl Environ Microbiol. 2004 Jun;70(6):3189-94. Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007. ) (Lactobacillus crispatus, L. gasseri, L. iners, ou L. jensenii) -
um caracterizado por baixo teor ou ausência de lactobacilos
A microbiota vaginal é uma comunidade dinâmica, sujeita à influência de fatores onde se incluem a origem étnica, as hormonas sexuais, a contraceção hormonal, o comportamento sexual, o uso de irrigação vaginal, a dieta, o hábito de fumar, o ambiente social (por exemplo, o espaço habitado) e os genes.1,3
Paralelamente, a flora vaginal não vive isolada. O ânus e a entrada da vagina estão localizados um mesmo ao lado da outra, e as bactérias do primeiro podem colonizar a segunda. O intestino constitui assim um reservatório natural de lactobacilos para a vagina, o que é importante para o equilíbrio da flora vaginal.5,6,7
Como é que a microbiota vaginal se altera ao longo da vida?
O corpo evolui ao longo da vida, e a microbiota vaginal faz o mesmo. A composição da microbiota vaginal muda radicalmente desde a infância, ao passar pela idade adulta, e até à menopausa.1 As alterações hormonais modificam o ritmo das nossas vidas e afetam também a microbiota vaginal. Por exemplo, a menstruação altera temporariamente a diversidade microbiana da vagina.8 A microbiota desempenha também um papel importante no parto.1,10 Durante a gravidez, ocorrem mudanças fisiológicas destinadas a adaptar o corpo da mãe ao feto e vice-versa.9 Na mulher grávida, a microbiota vaginal é mais estável, menos rica e menos diversificada,9 com elevados níveis de estrogénio a assegurarem o predomínio total dos lactobacilos.1,8 Por último, na menopausa, a microbiota vaginal atinge um novo equilíbrio.10
Porque é que a microbiota vaginal é um fator fundamental para a saúde?
As bactérias da microbiota vaginal ajudam a manter um ambiente vaginal saudável.1 Algumas dessas bactérias, particularmente os lactobacilos, impedem que
(sidenote:
Microrganismos
Organismos vivos que são pequenos demais para serem vistos a olho nu. Eles incluem as bactérias, os vírus, os fungos, as arqueas, os protozoários, etc... E são comumente chamados de “micróbios”
Fonte: What is microbiology? Microbiology Society.
)
patogénicos se instalem na vagina. Vários mecanismos têm sido sugeridos:
- ao produzir ácido láctico, a microbiota promove um ambiente ácido (pH ≤ 4,5), inadequado para muitos dos agentes patogénicos11,12
- compostos defensivos produzidos pela microbiota, tais como peróxido de hidrogénio (H2O2) ou substâncias antibacterianas (bacteriocinas), atacam bactérias, vírus e fungos potenciais intrusos11,12
- a microbiota funciona como uma barreira, tornando difícil aos agentes patogénicos implantarem-se nas paredes vaginais. A presença de lactobacilos acelera a renovação do epitélio, ao qual os agentes patogénicos podem tentar fixar-se11,12
- a microbiota facilita a produção, pelo epitélio vaginal, de um muco protetor que mantém os agentes patogénicos à distância11,12
- ao estimular o sistema imunitário da mulher, a microbiota melhora a sua capacidade de lutar contra ataques de agentes patogénicos11,12
30% 3 em cada 10 mulheres sabem que a microbiota vaginal está equilibrada quando a sua diversidade bacteriana é baixa.
Que doenças estão asociadas a uma microbiota vaginal desequilibrada?
Stress, doenças, higiene excessiva (irrigação), medicamentos (antibióticos, etc.), álcool, tabaco... todos estes fatores podem afetar a composição da microbiota vaginal.8 Quando a composição da microbiota se encontra desequilibrada, temos aquilo a que chamamos “ (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ”.8,11
A disbiose vaginal ocorre quando os lactobacilos, bactérias fundamentais da flora vaginal, perdem a sua predominância, abrindo caminho para microrganismos oportunistas virem colonizar a vagina.8,11 A presença destes está frequentemente associada a corrimentos vaginais, comichão (prurido) e ardor, ou ainda a um cheiro a peixe, mas também pode ser assintomática.8
Uma disbiose vaginal é associada a:
- vaginose bacteriana , devido à colonização por bactérias patogénicas1
- candidíase, resultante da proliferação de um fungo8
- redução da fertilidade11
- maior risco de parto prematuro1
É de ter em conta que...
... as mulheres que sofram de vaginose bacteriana são mais propensas a contraírem doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) como a herpes, o papilomavírus, o VIH/SIDA ou infeções bacterianas (gonorreia, clamídia, tricomoníase).3,14
Sabendo o que tem impacto direto nela, como podemos cuidar da nossa microbiota vaginal?
É essencial cuidar da microbiota vaginal. A higiene íntima diária é crucial para prevenir a disbiose. Há por aí muitas informações falsas, pelo que é importante perceber o que se deve e o que não se deve fazer.
Diariamente:
Embora a irrigação vaginal não seja recomendada, uma vez que altera a flora vaginal, a lavagem externa da vulva com um gel íntimo15 adequado ajuda a reduzir a acumulação indesejada de secreções vaginais, suor, urina e contaminantes fecais.16
Para se contribuir para a boa saúde da microbiota vaginal...
... a higiene continua a ser necessária,15 mas não chega. Já existem ou estão a ser testadas várias opções para a microbiota vaginal:
- Os Probióticos: são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, oferecem benefícios para a saúde do hospedeiro.17,18 Podem reduzir ou corrigir de forma segura os desequilíbrios da microbiota. Os probióticos femininos, administrados através da vagina ou por via oral, podem ajudar a reequilibrar a flora vaginal, atenuar os sintomas e reduzir o risco de recorrência de várias infeções vaginais.13,19,20,21 Isto confirma-se tanto para mulheres em idade fértil como nas mulheres pós-menopausa.13,20,21
- Os prebióticos: são fibras alimentares não digeríveis específicas que conferem benefícios para a saúde. São usados seletivamente por microrganismos benéficos na microbiota do hospedeiro.22,23 Quando adicionados a probióticos em produtos específicos, são conhecidos por simbióticos.24 Há prebióticos para mulheres, concebidos para promover um incremento dos lactobacilos e para ajudar a restaurar uma acidez vaginal saudável.19,25,26
Mas não é tudo!
Estudos recentes trouxeram à luz do dia novas opções terapêuticas para a modificação da microbiota vaginal, como o transplante de microbiota vaginal (TMV). Inspirado nos transplantes de microbiota fecal, o TMV implica enxertar a microbiota vaginal de uma mulher saudável noutra que sofra de disbiose vaginal. Trata-se de uma escolha promissora para a vaginose bacteriana refratária ou recorrente, embora até agora só tenha sido testada num número muito reduzido de pacientes (5 em 2019).27
Todas as informações deste artigo são provenientes de fontes científicas aprovadas. Tenha em conta que não são exaustivas. Apresentamos aqui a totalidade dos estudos dos quais retirámos todas estas informações.
Observatório Internacional de Microbiotas
12 Kovachev S. Defence factors of vaginal lactobacilli. Crit Rev Microbiol. 2018 Feb;44(1):31-39.
15 Bohbot JM, Rica E. Microbiote vaginal, la révolution rose. Editions Marabout. 288 p.