Microbiota intestinal, um reflexo da nossa tireoide?

A microbiota intestinal pode refletir o estado da saúde da tiroide, de acordo com um estudo chinês que traz à discussão a ligação entre a composição da microbiota e o risco de vir a desenvolver nódulos e cancro da tiroide. Será este o primeiro passo para o desenvolvimento de probióticos potencialmente úteis para esta situação clínica?

Publicado em 07 Julho 2020
Atualizado em 29 Novembro 2021
Actu GP : Le microbiote intestinal, miroir de notre thyroïde ?

Sobre este artigo

Publicado em 07 Julho 2020
Atualizado em 29 Novembro 2021

 

A incidência das doenças da tiroide é cada vez maior, especialmente em mulheres. As alterações nos níveis dos estrogénios, o índice de massa corporal, a exposição à radioatividade, a etnia ou o elevado consumo de iodo são apenas alguns dos muitos fatores de risco. É sabido que as pessoas com alguma doença da tiroide apresentam um desequilíbrio hormonal e um mau funcionamento desta glândula. Aspetos podem ser detetados através de uma análise ao sangue. Sabe-se que essas hormonas podem afetar a composição da microbiota intestinal. Já esta última pode estar envolvida na troca de mensagens hormonais entre o intestino e o cérebro. Trabalhos anteriores já estabeleceram uma relação entre a microbiota intestinal, por um lado, e algumas doenças autoimunes da tiroide (como a (sidenote: tiroidite de Hashimoto e a doença de Graves Duas doenças autoimunes que são provocadas pelo “ataque” do sistema imunológico à glândula tiroideia, que a considera estranha ao organismo. A tiroidite de Hashimoto é caracterizada por hipotiroidismo e a doença de Graves por hipertiroidismo. ) ). E quanto aos nódulos e o cancro da tiroide?

Doentes com distúrbios da tiroide têm uma microbiota mais rica

Para testar essa hipótese, uma equipa de investigadores chineses analisou e comparou a composição das fezes de 74 participantes: 20 com cancro da tiroide, 18 com nódulos e 36 voluntários saudáveis. Os resultados demonstraram que existe uma maior abundância de bactérias intestinais nos doentes com distúrbios da tiroide em comparação com os indivíduos saudáveis. Os doentes também apresentaram um conteúdo mais baixo de Lactobacillus, bactéria envolvidas na retenção do selénio, um oligoelemento essencial para o funcionamento correto da tiroide, e de Butyricimonas, que produz uma substância com efeitos benéficos no trato gastrointestinal. Outras bactérias eram mais abundantes, nomeadamente a Neisseria e a Streptococcus no caso dos nódulos, bem como a Clostridiumem, no caso do cancro. Segundo os investigadores estas espécies parecem desempenhar um papel importante quer seja no bom funcionamento da tiroide quer seja no aparecimento desses distúrbios.

Biomarcadores bacterianos úteis

Os investigadores também observaram uma ligação entre a abundância de algumas espécies bacterianas e os níveis de TSH (tiroide stimulating hormone – hormona estimulante da tiroide) e T3 (triiodotironina), duas hormonas que indicam a presença potencial de doenças da tiroide. Contudo, ainda não é possível explicar se os distúrbios da tiroide observados estão associados a uma microbiota específica ou se algumas espécies bacterianas desencadeiam essas patologias. Todas essas descobertas podem facilitar o diagnóstico dos nódulos e cancro da tiroide e, como consequência, deve-se conduzir ao desenvolvimento de probióticos úteis para o seu tratamento.

 

Old sources

Fontes:

Zhang J et al. Dysbiosis of the gut microbiome is associated with thyroid cancer and thyroid nodules and correlated with clinical index of thyroid function. Endocrine 2019 Jun;64(3):564-574.

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