Autismo: quando o intestino dita a chuva e o bom tempo

O intestino é muitas vezes designado como o nosso segundo cérebro. E não é para menos, uma vez que estará intimamente ligado ao primeiro. A qualidade da nossa microbiota intestinal, indiciadora do nosso estado de espírito, do nosso comportamento e até mesmo da nossa saúde mental, estará em causa no que respeita à intensidade dos sintomas de determinadas doenças neurobiológicas, como as perturbações do espetro autístico.

Publicado em 20 Abril 2021
Atualizado em 31 Março 2022
Actu GP : Autisme : quand l’intestin fait la pluie et le beau temps

Sobre este artigo

Publicado em 20 Abril 2021
Atualizado em 31 Março 2022

Como explicar as “PEA”, Perturbações do Espetro Autístico? A questão ativa a comunidade científica há várias décadas. O intestino poderá ser uma das respostas, embora sem explicar tudo sobre a origem da doença, a qual se caracteriza por dificuldades na socialização e na comunicação ou ainda pela perturbação obsessivo-compulsiva (POC, ou OCD em inglês). E, muito em especial, os milhares de milhões de bactérias e de outros microrganismos que o habitam... para o melhor ou para o pior...

Ligação perigosa: perturbações intestinais e PEA

Após a descrição deste distúrbio em 1943, já foi identificada uma longa lista de sintomas associados às PEA. Entre outras, as perturbações intestinais (diarreia, obstipação, cólon irritável, etc.) fazem parte das afeções biológicas clássicas. As crianças com PEA sofrem 3 a 4 vezes mais de perturbações gastrointestinais. E a gravidade com que se manifesta o autismo corresponde frequentemente aos distúrbios intestinais mais severos, e vice versa. Como corolário, os investigadores conseguiram mesmo demonstrar que, quando as perturbações gastrointestinais são tratadas, os pacientes autistas apresentam melhoras no seu comportamento. Por isso, têm-se interessado pelos mecanismos na origem desses problemas gastrointestinais e voltado a sua atenção para a microbiota intestinal.

Uma microbiota que se toma por cérebro?

Primeira constatação: os pacientes autistas apresentam frequentemente uma flora intestinal alterada (disbiose) e pobre em bactérias benéficas, mas rica em micróbios implicados em algumas afeções intestinais (diarreia, obstipação, etc.). E estes não se limitam a atacar os intestinos, mas produzem também moléculas ditas "sinalizadoras", que são usadas na comunicação entre o intestino e o cérebro. Em termos simples, quando produzidas em grandes quantidades, estas moléculas poderão perturbar essa comunicação e provocar os problemas comportamentais caraterísticos das PEA.

Um passador em vez do intestino?

Segunda constatação: a barreira intestinal deixa de desempenhar a sua função, que consiste em impedir os micróbios, os alérgenos e outras moléculas estranhas de entrarem no sangue. Consequência: a ativação do sistema imunitário, que conduz a reações inflamatórias. Com efeito, muitos pacientes autistas apresentam permeabilidade intestinal, inflamação intestinal e perturbações intestinais e neurológicas associadas a uma resposta exacerbada ao stress. Embora estes dados sustentem a existência de uma forte ligação entre o intestino e o cérebro nas PEA, a verdade é que os mecanismos através dos quais as perturbações gastrointestinais contribuem para as PEA continuam ainda difíceis de compreender. São necessários estudos complementares para se identificarem abordagens terapêuticas capazes de tratar esses problemas intestinais e de melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Old sources

Fontes :

Bjørklund G, Pivina L, Dadar M, et al. Gastrointestinal alterations in autism spectrum disorder: What do we know? Neurosci Biobehav Rev. 2020 Nov;118:111-120. doi: 10.1016/j.neubiorev.2020.06.033. Epub 2020 Jul 1.

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