É uma injustiça "metabólica" com que muitas vezes nos confrontamos... Enquanto alguns e algumas perdem os seus quilos a mais sem problemas, outros e outras, apesar dos seus esforços, não veem a sua curva do peso inverter-se ou, ainda pior, descobrem que ele continua a aumentar. Como explicar tais diferenças: pelas escolhas nutricionais mais inteligentes da parte de alguns? Pelo número de piscinas nadadas por outros? Por terem tido mais sorte na lotaria da genética?
Nutrição, desporto, genética...
A resposta poderá ser inteiramente outra e a origem estar na microbiota intestinal. De facto, esta é a hipótese aceite pelos investigadores que acompanharam, durante 6 meses, 83 adultos chineses (72 dos quais com excesso de peso ou obesos) de um programa de perda de peso que incluía ementas recomendadas e trocas de impressões diárias por smartphone com um nutricionista. Objetivo: uma restrição calórica de 30 a 50%. Os participantes comunicavam a respetiva ingestão de alimentos várias vezes por semana, usavam um sensor para calcular as calorias queimadas, e pesavam-se na balança todos os sábados. Recolhiam igualmente as fezes para se caracterizar a sua microbiota e a evolução da mesma durante o regime. Uma amostra de saliva permitia, por outro lado, determinar a sua predisposição genética para a obesidade.
... ou microbiota?
Resultados? Muito mais do que a alimentação, o nível de atividade física ou a herança genética, foi a microbiota intestinal inicial que melhor permitiu predizer a curva de peso durante o estudo. A abundância de duas bactérias – Blautia wexlerae e Bacteroides dorei –mostra-se particularmente capaz de prever a futura perda de quilos. A evolução do peso durante a dieta é também acompanhada por mudanças na abundância de certas bactérias: se as Ruminococcus gnavus, mais abundantes nas pessoas obesas, diminuem durante a perda de peso, as Akkermansia muciniphila e as Alistipes obesi, mais numerosas nas pessoas magras, aumentam no decurso do regime. A composição da microbiota permitirá, assim, prever a suscetibilidade individual para a perda de peso e abrir caminho a programas de nutrição personalizados, mais dirigidos a essa mesma microbiota. Será que é o fim das desigualdades metabólicas?