Poderá a pele do sopa ser uma nova arma contra as micoses?

Bactérias isoladas da pele de um sapo do Panamá podem ser a nova arma contra a aspergilose, uma micose causada por fungos do género Aspergillus. Em humanos, esta micose pode, por vezes, provocar infeções respiratórias graves, cada vez mais resistentes aos chamados tratamentos "antifúngicos" padrão.

Publicado em 08 Julho 2020
Atualizado em 28 Dezembro 2021

Sobre este artigo

Publicado em 08 Julho 2020
Atualizado em 28 Dezembro 2021

 

Como é que algumas espécies de sapos resistiram ao surto de quitridiomicose, uma infeção fúngica que dizimou as populações de anfíbios em todo o mundo? Pensa-se que pode ter sido graças à presença, na microbiota da sua pele, de bactérias capazes de combater o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, responsável por esta doença.

Uma liderança terapêutica contra a aspergilose?

Para se ter certeza, os investigadores isolaram várias cepas bacterianas que colonizam a pele de 7 espécies de sapos que vivem no Panamá, um país particularmente afetado pela epidemia. Estes decidiram então investigar se a bactéria B. dendrobatidis conseguiria interromper o desenvolvimento do fungo e bloquear o crescimento de Aspergillus fumigatus, um fungo que causa mais de 80% da aspergilose humana. O objetivo dos autores era desenvolver terapias alternativas assentes em mecanismos de ação diferentes dos agentes antifúngicos padrão.

Salvando a própria pele... graças à pele!

A bactéria Pseudomonas cichorii, presente na pele de sapos, ocupa o primeiro lugar como o antifúngico mais potente, graças à produção de dois compostos ativos, um dos quais demonstrou, em testes de laboratório, ter uma forte capacidade de interromper o crescimento de fungos patogénicos B. dendrobatidis e A. fumigatus. Esta descoberta ainda precisa de confirmação em organismos vivos para demonstrar que a Pseudomonas cichorii impede realmente o desenvolvimento das infeções fúngicas. Perante isto, os sapos do Panamá podem ter escapado de uma extinção maciça causada por um fungo assassino, graças à sua pele! As bactérias da pele responsáveis pela sua sobrevivência poderiam perfeitamente ser usadas para desenvolver novos fármacos naturais contra a aspergilose humana.

 

Old sources

Fontes:

Martin HC, Ibáñez R, Nothias LF, et al. Viscosin-like lipopeptides from frog skin bacteria inhibit Aspergillus fumigatus and Batrachochytrium dendrobatidis detected by imaging mass spectrometry and molecular networking. Scientific Reports 2019 Feb 28;9(1):3019.

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