Comer alimentos demasiado gordos é desequilibrar a nossa flora intestinal
Gordura? As nossas papilas gustativas adoram-na e inundamo-las regularmente nela, para desgosto da nossa flora intestinal,5,6 que depois se vira para o lado escuro da inflamação e do aumento de peso. Salvo se optarmos pelas gorduras certas e não pouparmos nas fibras. Seria tentador adaptar uma dieta mais equilibrada e personalizada a cada individuo, desde que as nossas bactérias não fossem tão diversas...
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Sobre este artigo
Hiperglicemia, excesso de lipídios no sangue, hipertensão: os efeitos de uma dieta muito rica em gorduras são conhecidos, mas constituem apenas a ponta do iceberg. Os investigadores desvendaram detalhadamente o importante papel da microbiota intestinal nestes distúrbios metabólicos. Separando o trigo do joio, que é como quem diz as gorduras boas das más.
Tanto nos ratos de laboratório alimentados com uma mistura excessivamente gorda como nos pacientes com síndrome metabólica, a conclusão é a mesma: a sua flora intestinal não se assemelha à dos congéneres saudáveis. Demasiadas gorduras por dia reduzem a quantidade de Akkermansia muciniphila, bactéria benéfica que melhora a glicemia e a sensibilidade à insulina e protege contra a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos (aterosclerose). Como o nome indica, esta bactéria também produz uma substância chamada “mucina”, secreção que consolida o muco protetor da barreira intestinal. Outro efeito colateral do excesso de gordura na alimentação é a redução de lactobacilos e bifidobactérias, as bactérias “boas” que reduzem a inflamação e a formação de tecido adiposo.:
As gorduras não são todas iguais
Mas, facto, de que gorduras falamos? Os ácidos gordos saturados, como óleo de palma são definitivamente de evitar, como repetem as mensagens de saúde pública: estão associados a uma diminuição da diversidade bacteriana e ao aumento de peso. Por outro lado, o teor de ácido oleico no azeite, um ácido gordo monoinsaturado da família dos ómega-9, será capaz de restaurar a diversidade bacteriana e de reduzir o peso – pelo menos no rato. É também de apostar nos ácidos gordos polinsaturados do tipo ómega-3, como o óleo de peixe, que favorecem a presença de Akkermansia muciniphila, lactobacilos e bifidobactérias. Estes ómega-3 devem, entretanto, ter precedência sobre os ómega-6, que também são essenciais ao organismo mas devem ser consumidos com moderação, porque alimentam a inflamação e reduzem as bifidobactérias.
“Come primeiro as tuas fibras”
E como a gordura não é a causadora de tudo, para o bem ou para o mal, há uma outra categoria de alimentos que também pesa no equilíbrio metabólico: as fibras, que são açúcares não digeríveis que se encontram nos cereais, tubérculos, frutos de casca rija, sementes, frutas e legumes. Sem fibras para fermentar para delas extraírem energia sob a forma de AGCC, as bactérias começam a destruir o muco de proteção que reveste as nossas células intestinais, expondo-as às invasões bacterianas. Além disso, as fibras permitem um melhor controlo da glicose no sangue, provavelmente graças à presença de Prevotella nos nossos intestinos. Moral da história: pela sua microbiota, consuma gordura moderadamente – mas da boa – e não se esqueça de comer fibra!
5 Yang BG, Yeon Hur KY, Lee MS. Alterations in Gut Microbiota and Immunity by Dietary Fat. Yonsei Med J 2017 Nov;58(6):1083-1091.
6 Cândido FG, Valente FX, Grześkowiak ŁM, Moreira APB, Rocha DMUP, Alfenas RCG. Impact of dietary fat on gut microbiota and low-grade systemic inflammation: mechanisms and clinical implications on obesity. Int J FoodSci Nutr. 2018 Mar;69(2):125-143.