Gripe: cuidar da microbiota intestinal evita complicações?

Investigadores franceses descobriram que a gripe interrompe o equilíbrio da microbiota intestinal, enfraquecendo as defesas imunológicas pulmonares e aumentando a probabilidade de superinfeções bacterianas.

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 27 Dezembro 2021
Actu GP: Grippe : prendre soin de son microbiote intestinal pour prévenir les complications ?

Sobre este artigo

Publicado em 14 Julho 2020
Atualizado em 27 Dezembro 2021

Todos os invernos, milhões de franceses contraem gripe. Apesar das campanhas de vacinação e tratamento, os mais vulneráveis podem desenvolver complicações que às vezes se revelam fatais. Essas formas graves estão de uma forma geral relacionadas com a pneumonia causada por superinfeções bacterianas. Um estudo recente publicado numa revista de prestígio sugere que a microbiota intestinal está envolvida nesse processo.

Desequilíbrio da flora intestinal

É agora reconhecido que a microbiota intestinal desempenha um papel fundamental no bom funcionamento do sistema imunológico. Neste estudo, ratinhos infetados com gripe mostraram um desequilíbrio transitório na composição e atividade de sua microbiota intestinal ( (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ). Além disso, a produção de ácidos gordos de cadeia curta ( (sidenote: AGCC Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (combustível) para as células do indivíduo. Interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Fontes:
Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25.
)
) foi bastante reduzida. Os AGCC, especialmente o acetato, têm a capacidade de agir à distância do intestino em determinadas células imunes dos pulmões (macrófagos), estimulando a sua atividade antibacteriana. Em suma, acredita-se que uma disbiose da microbiota intestinal associada à gripe reduza a produção de acetato, comprometendo as defesas imunológicas dos pulmões contra as bactérias.

O papel da dieta

Esse desequilíbrio intestinal não é causado diretamente pelo próprio vírus, mas parece ser o resultado de uma redução na ingestão de alimentos devido à perda de apetite, um sintoma frequente da gripe. Como tal, para preservar a integridade da microbiota intestinal e fortalecer as defesas imunológicas, recomenda-se consumir alimentos ricos em fibras (por exemplo, legumes, frutas e leguminosas). Por outro lado, é fortemente desaconselhado reduzir a ingestão calórica ou jejuar durante surtos de gripe.

Novas estratégias terapêuticas

Foi demonstrado em ratinhos que essa suscetibilidade à superinfeção bacteriana pode ser corrigida com tratamento com acetato. Com base nessas descobertas, um tratamento à base de acetato, ou de compostos semelhantes, poderá ser uma abordagem terapêutica valiosa. Além disso, segundo os autores, devem ser avaliadas estratégias terapêuticas baseadas no uso de prebióticos e probióticos.

Fontes:

Sencio V, Barthelemy A, Tavares LP, et al. Gut Dysbiosis during Influenza Contributes to Pulmonary Pneumococcal Superinfection through Altered Short-Chain Fatty Acid Production. Cell Rep. 2020;30(9):2934–2947.e6. 

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