Quando a flora intestinal de obesos surge em auxílio de pacientes com cancro na fase terminal

A flora intestinal de pacientes com excesso de peso ou obesos poderá explicar parcialmente o respetivo aumento de peso. Mas a ponto de conseguir voltar a fazer engordar pacientes com cancro na fase terminal? Foi esta a experiência realizada por uma equipa de investigadores.

Publicado em 29 Setembro 2021
Atualizado em 31 Março 2022

Sobre este artigo

Publicado em 29 Setembro 2021
Atualizado em 31 Março 2022

A caquexia é a imagem que pensamos ter de alguém em greve de fome e que já não aguenta mais, ou de um doente em fim de vida: um estado de extrema exaustão e de emagrecimento do corpo, sintoma de desnutrição grave ou de fase terminal de certas doenças , como o cancro gastroesofágico. Como sabemos, a microbiota intestinal parece desempenhar um papel crucial na regulação do apetite, coisa que falta aos pacientes cancerosos. Daí a ideia desses investigadores: implantar nos seus pacientes a flora intestinal de pessoas obesas saudáveis, já que alguns dos respetivos (sidenote: Microrganismos Organismos vivos que são pequenos demais para serem vistos a olho nu. Eles incluem as bactérias, os vírus, os fungos, as arqueas, os protozoários, etc... E são comumente chamados de “micróbios” Fonte: What is microbiology? Microbiology Society.
 
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desempenharão um papel no seu aumento de peso.

Sem melhoras no apetite, mas um efeito benéfico na evolução do cancro

24 pacientes caquéticos com cancro gastroesofágico inoperável e a necessitarem de quimioterapia paliativa participaram na experiência. Doze receberam flora de um doador saudável com excesso de peso ou obeso; e doze receberam a sua própria microbiota (grupo de controlo). Ninguém soube quem é que recebia o quê, para não enviesar os resultados. Ao contrário do que esperavam os investigadores, o transplante de flora intestinal de doador obeso saudável não melhorou o apetite ou a caquexia dos pacientes com cancro que o receberam antes da quimioterapia. No entanto, eles apresentou-se benéfico para a evolução da doença: comparativamente ao grupo de controlo (que recebeu a sua própria flora intestinal), o cancro surgiu melhor controlado nos 12 pacientes que receberam a microbiota de um doador obeso. A respetiva sobrevivência melhorou também. 

Bactérias intestinais e eficácia da quimioterapia? 

Uma análise da sua nova microbiota fecal confirmou que o transplante de flora intestinal funcionou realmente, apesar da quimioterapia que se seguiu. Em contrapartida, é impossível aos investigadores saberem, nesta fase, se certas espécies bacterianas intestinais específicas poderão contribuir para uma maior eficácia da quimioterapia. Espera-se agora a realização de estudos a uma maior escala para se saber mais. Enquanto aguardamos os próximos resultados, acompanhe as novidades do instituto, mas não tente de forma alguma fazer um cocktail de flora intestinal caseiro!

Fontes

De Clercq NC, van den Ende T, Prodan A et al. Fecal Microbiota Transplantation from Overweight or Obese Donors in Cachectic Patients with Advanced Gastroesophageal Cancer: A Randomized, Double-blind, Placebo-Controlled, Phase II Study.  Clin Cancer Res. 2021 Apr 21.