Viajar pode perturbar o intestino, mas não por muito tempo
Quem é que nunca teve problemas intestinais durante uma viagem? Para além dos desconfortos conhecidos, tais como a diarreia e o inchaço, as viagens podem afetar a nossa microbiota intestinal e levar à aquisição de novos genes, alguns dos quais estão ligados à resistência antimicrobiana. Felizmente para nós, a nossa microbiota demonstra uma grande resiliência, uma vez que estas alterações ficam resolvidas no espaço de 3 meses.
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Sobre este artigo
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Pode gostar de explorar novos destinos, mas sabia que as aventuras internacionais também podem ter impacto no mundo microscópico do seu intestino? Um novo estudo fascinante 1 revela que as viagens podem alterar temporariamente a microbiota intestinal e aumentar os genes de resistência antimicrobiana (ARG). Contudo, a boa notícia é que estas alterações tendem a ser reversíveis em indivíduos saudáveis.
O que é a resistência antimicrobiana?
A resistência antimicrobiana ocorre quando as bactérias, os vírus ou outros micróbios desenvolvem a capacidade de resistir aos efeitos dos medicamentos concebidos para eliminar ou travar o seu crescimento. Esta situação pode tornar as infeções mais difíceis de tratar e representa uma ameaça grave para a saúde mundial.
Efeito ricochete
A equipa de investigação acompanhou 89 viajantes saudáveis de Guangzhou, na China, recolhendo amostras de fezes antes das viagens, imediatamente após o regresso e três meses depois. Esta abordagem a longo prazo permitiu monitorizar a reação da microbiota intestinal e dos ARG ao longo do tempo.
Os resultados foram notáveis: mais de metade dos viajantes adquiriram pelo menos um novo ARG durante as viagens. Imediatamente após a viagem, registou-se um pico significativo. Contudo, no espaço de três meses, estes genes de resistência foram eliminados e a microbiota intestinal regressou ao estado anterior à viagem, o que demonstra a incrível resiliência dos nossos ecossistemas internos.
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A resiliência da microbiota intestinal
A microbiota intestinal é um ecossistema complexo com milhares de milhões de microrganismos, incluindo bactérias, vírus e fungos, que desempenham um papel crucial na saúde geral. Este estudo demonstra que, apesar de as viagens poderem perturbar temporariamente este equilíbrio delicado 2, a microbiota intestinal tem uma capacidade espantosa de regressar ao estado original em indivíduos saudáveis.
Uma "microbiota resiliente" ou "microbioma resiliente" refere-se à capacidade da comunidade de microrganismos que reside no intestino (ou noutra parte do corpo) para recuperar e regressar ao estado original saudável depois de ter sido afetada ou perturbada. Mais concretamente, significa que, apesar das alterações ou perturbações da microbiota causadas pela alimentação, pelos antibióticos, pelas doenças ou, tal como demonstrado neste estudo, pelas viagens, a microbiota tem a capacidade de recuperar e restabelecer a sua composição e função equilibrada.
Riscos para a saúde durante a viagem
Apesar da emoção de explorar novos destinos, não devemos esquecer as possíveis recordações que o viajante pode trazer consigo – diarreia, intoxicação alimentar, infeções respiratórias... Isto é que são recordações inesquecíveis! Mas brincadeiras à parte, estas peculiaridades das viagens não são motivo de riso. É importante tomar precauções, tal como consultar profissionais de saúde em viagem (os quais funcionam como guarda-costas pessoais para o sistema imunitário), tomar as vacinas recomendadas e praticar uma boa higiene. Alguma prevenção pode ajudar a assegurar que as suas aventuras estejam repletas de memórias felizes e não de alucinações febris.
Semana Mundial de Consciencialização do Uso de Antimicrobianos
A Semana Mundial de Consciencialização do Uso de Antimicrobianos (em inglês: WAAW, World AMR Awareness Week) é assinalada anualmente entre 18 e 24 de novembro. Em 2023, o tema escolhido é “Prevenir a resistência antimicrobiana em conjunto”, tal como em 2022. Esta resistência é uma ameaça não só para os seres humanos, mas também para os animais, as plantas e o ambiente.
O objetivo da campanha é, por conseguinte, sensibilizar para a resistência antimicrobiana e promover as melhores práticas, com base no conceito "Uma só saúde", entre todas as partes interessadas (público em geral, médicos, veterinários, criadores e agricultores, decisores, etc.), a fim de reduzir o aparecimento e a propagação de infeções resistentes.