Período menstrual e microbiota vaginal: o progresso da ciência...
Publicações científicas recentes vieram fornecer novos dados que destacam o papel fundamental da microbiota vaginal na saúde das mulheres. O Instituto Biocodex Microbiota lança um conjunto de entrevistas com especialistas dedicado à microbiota, às mulheres e à saúde. O que já é que já se sabe sobre a microbiota e a saúde feminina? O que é que ainda falta descobrir?
Segundo ato: o ciclo menstrual e a microbiota vaginal. A Prof. Ina Schuppe Koistinen, investigadora da microbiota, diz-nos tudo!
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52% Apenas 1 em cada 2 mulheres sabe que a microbiota vaginal tem uma função de autolimpeza
O que é exatamente a microbiota vaginal e qual é o seu papel?
Prof. Ina Schuppe Koistinen: A microbiota vaginal define-se como o ecossistema complexo de
(sidenote:
Microrganismos
Organismos vivos que são pequenos demais para serem vistos a olho nu. Eles incluem as bactérias, os vírus, os fungos, as arqueas, os protozoários, etc... E são comumente chamados de “micróbios”
Fonte: What is microbiology? Microbiology Society.
)
, incluindo bactérias, vírus e fungos, que vivem no interior da vagina e que evoluiu biologicamente para ajudar a proteger o sistema reprodutivo feminino.
A microbiota vaginal
Contrariamente à intestinal, uma microbiota vaginal saudável possui uma diversidade reduzida e é dominada por espécies de Lactobacillus. Os lactobacilos protegem a vagina contra a proliferação de outros organismos, mantendo o pH vaginal baixo através da produção de ácido láctico e agentes antimicrobianos como o H2O2 e de bacteriocinas. Além disso, competem por nutrientes, aderem firmemente à membrana mucosa e modulam o sistema imunitário local.
Como é que a microbiota vaginal se altera durante o ciclo menstrual?
I. S.-K.: Sabemos que uma microbiota vaginal saudável é resistente a alterações como as menstruações, a atividade sexual e as flutuações hormonais. Na maioria das mulheres, mas não em todas, a microbiota vaginal permanece relativamente estável durante o período menstrual. O sangue da menstruação aumenta o pH e proporciona nutrientes a bactérias vaginais como Gardnerella ou Prevotella, que se encontram associadas a uma microbiota vaginal desequilibrada (aquilo que chamamos uma (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ).
Portanto, existe um efeito durante a hemorragia que faz com que a microbiota vaginal fique mais diversificada1, mas esta recupera normalmente quando a fase menstrual termina (e é o que chamamos "resiliência").
As proteções higiénicas têm impacto na minha microbiota vaginal?
I. S.-K.: Existem poucos dados científicos sobre a relação entre a menstruação, o método de proteção higiénica e a microbiota vaginal. Neste momento, não se sabe se as proteções higiénicas influenciam a sua composição. Trata-se de uma situação verdadeiramente crítica porque metade da população feminina (cerca de 26% da população mundial2) se encontra em idade reprodutiva e é abrangida, mas ainda não houve qualquer grande estudo de coorte que tivesse comparado a várias proteções higiénicas: tampão, penso, copo menstrual ou cuecas absorventes. Num estudo de investigação em curso, na Suécia, estamos a investigar o impacto da proteção higiénica na microbiota vaginal de 2.000 mulheres. Mal posso esperar para ver os resultados.
Período menstrual: não subestime o poder da sua alimentação!
Muitas mulheres descrevem ter sintomas gastrointestinais (GI) durante o período (inchaços, dores abdominais, diarreia, etc.). Sabia que uma dieta saudável pode aliviar as dores do sistema digestivo associadas à menstruação? Os legumes, os frutos e os alimentos fermentados ricos em bifidobactérias e lactobacilos, bem como os ricos em fibras e com propriedades anti-inflamatórias, podem ser benéficos para a sua microbiota intestinal. É a altura perfeita para experimentar o kimchi e a chucrute, se ainda não estiver convencida!
Existe alguma relação entre os períodos dolorosos e a microbiota?
I. S.-K.: Mais uma vez, e infelizmente, existe muito pouca pesquisa sobre este tema. Segundo um estudo feito na Suécia3, 50% das jovens adolescentes relataram dor durante o período menstrual, e quase 40% dor intensa. As pesquisas têm mostrado que as mulheres com dor menstrual possuem níveis elevados de prostaglandinas, hormonas conhecidas por causarem cólicas abdominais.
50% das jovens adolescentes relataram dor durante o período menstrual.
Neste momento, não se sabe se existe envolvimento da microbiota. É necessário reforçar a investigação porque sempre foi dito às raparigas que é normal ter dores menstruais. Mas não é! É necessário investigar os fatores associados à dor menstrual no sentido de se aliviar as mulheres e de se melhorar o diagnóstico da endometriose. De acordo com a Forbes, apenas 4% do total do financiamento de I&D na indústria farmacêutica são dedicados a questões específicas da saúde feminina, o que é bastante desencorajador.... Estou convencida de que necessitamos de aumentar a consciencialização para este tema, é essa a minha missão!
Existe algum risco de aumento das infeções vaginais durante o ciclo menstrual? Isso está relacionado com a minha microbiota?
I. S.-K.: O risco de infeções vaginais (por Candida ou vaginose bacteriana) agrava-se durante o período e isso está relacionado com a microbiota vaginal. Como já expliquei, o sangue menstrual cria um ambiente que favorece o crescimento de bactérias patogénicas, gerando (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) .
72 million milhões de mulheres em todo o mundo que têm de enfrentar o período sem terem acesso a uma casa de banho decente.
De acordo com a (sidenote: Fontes ) , há 72 milhões de mulheres em todo o mundo que têm de enfrentar o período sem terem acesso a uma casa de banho decente. Além disso, há mulheres que podem não ter possibilidade de pagar a proteção higiénica e sofrem um maior risco de infeções. São necessários recursos e instrução para se melhorar esta situação.
Sexo durante o período: há algum impacto na microbiota vaginal e no risco de infeções?
I. S.-K.: Ter relações sexuais durante o período menstrual não causa quaisquer problemas, mas se a sua microbiota vaginal for mais suscetível à disbiose, é recomendável usar preservativo. Todas as práticas sexuais onde exista troca de fluidos corporais podem agravar a disbiose vaginal. Uma microbiota vaginal disbiótica torna-a mais suscetível a infeções sexualmente transmissíveis por bactérias como a clamídia e a gonorreia, e por vírus, como o do papiloma humano (HPV) ou o VIH4-6.
Tem algum conselho sobre como cuidar da microbiota vaginal durante o período menstrual?
I. S.-K.: O primeiro conselho que posso dar é que cada mulher deve escolher os produtos com os quais se sinta confortável. Isso ajudá-la-á a enfrentar o período menstrual da melhor forma, sentindo-se confortável e segura. É importante escolher um produto que corresponda ao seu fluxo de sangue.
Depois, há regras muito simples a seguir: trocar o seu tampão ou seu copo menstrual (terá de esterilizá-lo antes da inserção) a cada 4 a 6 horas para limitar o risco de (sidenote: Síndrome do choque tóxico: É uma patologia rara, mas que implica risco de vida, que é causada por bactérias que penetram no organismo e libertam toxinas nocivas, e que está associada ao uso de tampões e copos menstruais. Fontes. ) 7, lavar as mãos antes de inserir a proteção higiénica e evitar tampões ou pensos absorventes com perfume e outros tipos de produtos químicos. A vagina limpa-se com as respetivas descargas, pelo que a lavagem vaginal é desnecessária. Deve-se lavar a vulva com água morna, com uma solução de limpeza sem sabão ou com óleos isentos de perfume e não usar agentes antimicrobianos que possam perturbar a microbiota. Convém praticar sexo seguro, usar de brandura para com a vulva e a vagina e não utilizar demasiado sabão nem perfumes, este é o melhor conselho que eu posso dar!