Destaques da microbiota da semana virtual ueg 2020

Feedback de congressos

Pelo Prof. Magnus Simrén
Departamento de Medicina Molecular e Clínica, Instituto de Medicina Academia Sahlgrenska, Universidade de Gotemburgo Gotemburgo, Suécia

DII

Devido à pandemia em curso, a Semana UEG 2020 foi, pela primeira vez realizada de forma virtual. Tal como nos anos anteriores, o evento atraiu um grande número de resumos de alta qualidade, e destes, um número substancial focou-se no papel dos micróbios na saúde e na doença.

MICROBIOTA, FATORES AMBIENTAIS E FATORES DO HOSPEDEIRO NA SAÚDE E NA DOENÇA

O microbioma intestinal tem sido associado a um grande número de doenças, mas ainda não é claro como deve ser definido um microbioma saudável ou pouco saudável. Um grande estudo que foi desenvolvido em holandeses (OP178 R Gacesa et al.) demonstrou padrões microbianos comuns a várias doenças, incluindo doença inflamatória intestinal (DII), síndrome do intestino irritável (SII), asma, diabetes e perturbações mentais), tornando possível definir grupos de micróbios e funções intestinais ligados à saúde e à doença. Especificamente, verificou-se que o microbioma associado às doenças era caracterizado por um aumento significativo da prevalência e abundância de agentes patogénicos oportunistas dos géneros Clostridium, Gordonibacter e Eggerthella, devido a uma redução do catabolismo dos hidratos de carbono, da síntese de aminoácidos e vitaminas, e do aumento da síntese de ácidos gordos de cadeia longa. Por outro lado, o microbioma saudável mostrou uma grande abundância de comensais produtores de butirato dos géneros Alistipes, Roseburia, Faecalibacterium e Butyrivibrio. Os autores também mostraram que o microbioma foi principalmente moldado pelo ambiente e estilo de vida e, por conseguinte, concluíram que as alterações através da melhoria da dieta, dos estilo de vida e do ambiente, bem como o uso de probióticos podem ser defendidos para melhorar a saúde em geral. Além disso, um estudo de acompanhamento longitudinal (OP201 L Chen et al.) destacou que as alterações microbianas ao longo do tempo parecem ser impulsionadas por exposições ambientais e podem afetar a saúde metabólica do hospedeiro.

A MICROBIOTA NAS DOENÇAS INTESTINAIS

A restrição da lactose é a base do tratamento para evitar queixas gastrointestinais (GI) nos indivíduos que têm má absorção de lactose devido a deficiência de lactase. No entanto, a gravidade dos sintomas intestinais, como flatulência, inchaço e diarreia, após a ingestão de lactose varia substancialmente, e a razão para tal permanece pouco clara. Através de análises do projeto holandês Microbioma (OP177 MDF Brandao Gois et al.), foi demonstrado que existe um papel mediador e plausível do microbioma intestinal, na relação da ingestão de lacticínios e da ocorrência de sintomas intestinais em indivíduos com deficiência de lactase;e em particular, o género Bifidobacterium foi considerado de potencial relevância. Assim, a modulação da composição da microbiota intestinal pode influenciar a sensibilidade aos produtos lácteos em indivíduos com má absorção de lactose.

Ainda que os mecanismos exatos que explicam os sintomas GI relacionados com os alimentos em pacientes com SII permaneçam pouco claros, mas sabe-se que diferentes ajustes dietéticos melhoram os sintomas GI em certos pacientes. Uma análise post-hoc de um ensaio clínico publicado anteriormente (P0786 E Colomier et al.) revelou padrões de fatores psicológicos, nutricionais e microbianos que podem prever a resposta ao tratamento tanto à dieta tradicional NICE (National Institute for Health and Care Excellence) pour le SII et au régime pauvre en oligo-, di-, monosaccharides et polyols fermentescibles (FODMAP, Fermentable Oligo-, Di-, Monosaccharides, and Polyols) para a SII como à dieta com baixo teor de Oligo-, Di-, Monossacarídeos e Polióis Fermentáveis (FODMAP) para sintomas específicos. Isto indica que será possível, num futuro próximo, a personalização individual dos conselhos de tratamento dietético na SII.

Os micróbios intestinais e os seus metabolitos estão envolvidos na fisiopatologia de uma série de doenças intestinais, incluindo a SII e a DII, com vários resumos na semana UEG 2020 a destacar este facto. Na DII, um grande estudo de coorte confirmou a presença de disbiose intestinal tanto na colite ulcerosa (CU) como na doença de Crohn (DC) (OP002 A Vich Vila et al.), e que se traduzno perfil metabólico fecal, que pode ser utilizado como um potencial biomarcador para distinguir entre DII e não DII e entre CU e DC. Especificamente, os metabolitos relacionados com a síntese de esfingolipídos foram aumentados na DII, enquanto que os metabolitos de ácidos gordos foram diminuídos. Além disso, num estudo de prova de conceito (OP045 L Oliver et al.), uma combinação de quatro marcadores de microbioma (Faecalibacterium prausnitzii e um dos seus fitologrupos (PHG-II), Ruminococcus sp. e Methanobrevibacter smithii) podem prever a resposta do tratamento ao anti-TNF com um valor preditivo positivo de 100% e um valor preditivo negativo de 75%. Deste modo, as análises do microbioma podem ser utilizadas para personalizar o tratamento na DII futuramente. O papel da microbiota intestinal na SII foi destacado em vários resumos, incluindo um estudo de apoio aos bons efeitos a longo prazo do transplante microbiano fecal na SII (OP059 M El-Salhy et al.), e está associado a alterações no perfil bacteriano fecal e de ácidos gordos de cadeia curta e a aumento das células enteroendócrinas (P0783 M El Salhy et al.). Além disso, outro estudo demonstrou um perfil microambiental intestinal distinto na SII com uma ligação ao hábito intestinal predominante do paciente (P0651 C Iribarren et al.), com a separação entre a SII e a saúde e entre os subtipos de SII (SII com diarreia versus SII com prisão de ventre) sendo na sua maioria impulsionada por metabolitos envolvidos, por exemplo, no metabolismo de aminoácidos e em determinadas funções celulares e moleculares. O papel que os micróbios desempenham parece ser mais importante do que a composição em si. Discutiram-se modelos animais de relevância para a fisiopatologia da SII. Osestudos destacaram a importância da microbiota intestinal para o desenvolvimento de interações anormais cérebro- intestino (P0052 M Constante et al.), bem como o papel do stress na indução de disbiose intestinal e hipersensibilidade visceral (OP056 C Petitfils et al.). Estes estudos são de grande relevância para a nossa compreensão das interações intestino-cérebro na SII e do papel dos micróbios intestinais e dos seus metabolitos nestas interações, enquadrando- se o conceito de que a SII e outros distúrbios GI funcionais são agora chamados distúrbios das interações intestino- cérebro.

A MICROBIOTA NAS DOENÇAS EXTRAINTESTINAIS

Por último, outros estudos focados no microbioma intestinal e em doenças extraintestinais foram analisados. Demosntrou- se que as alterações do microbioma intestinal tanto em recetores de transplante renal como hepático (OP180 JC Swarte et al. et OP112 y Li et al.). Os pacientes com doença renal em fase terminal caracterizavam-se por uma baixa diversidade microbiana intestinal, aumento dos fatores de virulência e genes de resistência aos antibióticos. A diversidade microbiana diminuiu ainda mais após o transplante renal e a composição da microbiota intestinal não sendo restaurada. Além disso, os imunossupressores tiveram um efeito profundo na composição da microbiota intestinal. Os autores admitiram que estas alterações poderiam ter implicações de grande alcance para o resultado do transplante renal. Conclusões semelhantes relativas à diversidade microbiana, composição da microbiota intestinal e efeito dos agentes imunossupressores também foram observadas nos recetores de transplante hepático, e de forma intrigante, a diversidade microbiana foi associada à sobrevivência pós transplante hepático, revelando, por conseguinte, um novo potencial biomarcador ou alvo terapêutico.

 

Em jeito de conclusão e com base nos resumos apresentados na semana UEG 2020 é óbvio que o microbioma intestinal tem uma grande importância nos vários estados patológicos: desde a saúde à doença.. Para uma melhor compreensão do papel dos micróbios intestinais e dos seus metabolitos nas várias doenças, e a influência substancialmente dos cuidados de saúde hoje em dia e num futuro próximo, esta evidênciafará ainda mais sentido.

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De volta ao congresso

A Covid-19 e o microbioma intestinal

Microbiota e Covid-19
Pelo Prof. Tao Zuo
Instituto de Investigação em Gastroenterologia SYSU, Instituto de Investigação em Gastroenterologia de Guangdong, Sexto Hospital Afiliado da Universidade de Sun Yat-Sen, Universidade de Sun Yat-sen (SYSU), Guangzhou, China

Covid 19 coronavirus illustration.

A microbiota intestinal, incluindo as frações bacterianas, fúngicas e virais, está a co povoar os intestinos humanos e a regular a imunidade do hospedeiro contra as invasões patogénicas. As composições amplamente heterogéneas da microbiota intestinal (MI) entre indivíduos podem influenciar as respostas imunitárias do hospedeiro à infeção por SARS-CoV-2, levando a vários sintomas e resultados da doença da Covid-19. Por outro lado, embora a infeção por SARS-CoV-2 cause principalmente sintomas respiratórios, desregula profundamente a imunidade sistémica do hospedeiro e tem impacto nos sistemas gastrointestinais onde a microbiota intestinal pode ser afetada tanto a curto como a longo prazo. Aqui, revemos a evidência atual sobre o impacto da Covid-19 na GM humana, bem como as associações entre a composição da MI e a gravidade da Covid-19.

Covid-19 é uma doença respiratória causada por um novo coronavírus (SARSCoV 2) e ainda hoje afeta dezenas de milhões de pessoas em todo o mundo. Embora a maioria dos doentes com Covid-19 apresente sintomas respiratórios, 20% deles apresentam sintomas gastrointestinais (GI), incluindo diarreia [1], o que sugere que o trato digestivo é um local extrapulmonar de expressão da doença e infeção por SARS-CoV-2. Além disso, a Covid-19 apresenta um largo espectro de gravidade da doença, variando desde assintomática, ligeira, grave, e até crítica, resultando em insuficiência respiratória ou mesmo em morte [2].

O trato GI é o maior órgão imunitário do ser humano, desempenhando papéis críticos na defesa do hospedeiro contra infeções patogénicas. Triliões de microrganismos vivem e colonizam o intestino humano - bactérias, fungos, vírus, e outras formas de vida que são coletivamente conhecidas como a microbiota -, regulando a imunidade do hospedeiro. Por conseguinte, é importante compreender se a microbiota intestinal modula a suscetibilidade e gravidade da infeção por SARS-CoV-2, bem como o impacto da infeção por SARS-CoV-2 na Mdo hospedeiro e o seu efeito a longo prazo a jusante na saúde humana.

A microbiota bacteriana e a Covid-19

Os doentes que contraíram Covid-19 tiveram alterações significativas no microbioma bacteriano intestinal em comparação com indivíduos saudáveis, caracterizadas pelo esgotamento de organismos comensais benéficos e enriquecimento de agentes patogénicos oportunistas no intestino (Figura 1) [3]. O esgotamento dos simbiontes intestinais persistiu mesmo após a resolução da Covid-19. A abundância de linha de base (na hospitalização) das bactérias Coprobacillus, Clostridium ramosum e Clostridium hathewayi mostrou uma correlação positiva com a gravidade da Covid-19, ao passo que se verificou uma correlação inversa entre a abundância de Faecalibacterium prausnitzii (conhecida como bactéria anti-inflamatória) e a gravidade da doença.

ASARS-CoV-2 utiliza o recetor da enzima conversora da angiotensina 2 (ACE2) para entrar no hospedeiro e este recetor apresenta uma expressão elevada tanto no trato respiratório como gastrointestinal [4]. A ACE2 é importante no controlo da inflamação intestinal e da ecologia microbiana intestinal [5]. Quatro espécies de Bacteroides, B. dorei, B. thetaiotaomicron, B. massiliensis e B. ovatus, foram descritas como estando inversamente associadas à expressão da ACE2 em intestino murino [6]. Curiosamente, a sua abundância no microbioma fecal também mostrou uma correlação inversa com a carga viral fecal SARS-CoV-2 em doentes com Covid-19 durante o curso da doença. Estes achados sugerem que a GM bacteriana humana é afetada pela Covid 19 e pode calibrar a defesa do hospedeiro contra a infeção por SARS-CoV-2.

O microbioma fúngico e a covid-19

O trato GI também alberga um grande número de fungos, coletivamente conhecidos como microbioma (microbioma fúngico), que demonstraram estar implicados de forma causal na montagem e desenvolvimento imunitário da MI [7]. Os doentes com Covid 19 também tinham micobiomas intestinais alterados, caracterizados pelo enriquecimento de Candida albicans e configurações altamente heterogéneas de micobiomas (Figura 1) [8]. A diversidade do micobioma fecal em doentes com Covid 19 na alta foi 2,5 vezes maior do que a dos indivíduos saudáveis. Agentes patogénicos fúngicos oportunistas, Candida albicans, Candida auris e Aspergillus flavus, estavam altamente presentes nas fezes dos doentes com Covid-19 durante o curso da doença. Foram detetados dois agentes patogénicos fúngicos associados a sintomas respiratórios, Aspergillus flavus e Aspergillus niger, em amostras fecais de um subconjunto de doentes com Covid-19, mesmo após a resolução da doença. Micobiomas intestinais instáveis e disbiose prolongada persistiram em aproximadamente 30% dos doentes com Covid-19.

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Covid 12_fig 1 PT

O viroma intestinal e a Covid-19 

Através da sequenciação viral do RNA de shotgun, foi encontrada uma assinatura de infeção viral intestinal ativa em 47% dos doentes com Covid-19, mesmo na ausência de sintomas gastrointestinais e após a depuração respiratória do SARS-CoV-2 [9], o que sugere uma infeção “quiescente” por SARS-CoV-2 no trato gastrointestinal e potencial risco de transmissão fecal-oral. Os doentes com tal atividade gastrointestinal do SARS CoV-2 albergaram composições e funções GM anormais, caracterizadas por uma elevada abundância de agentes patogénicos oportunistas e uma maior capacidade de biossíntese de nucleótidos e aminoácidos e metabolismo de hidratos de carbono (glicólise) [9].

O trato GI humano também alberga abundantes membros virais/fágicos coletivamente conhecidos como o viroma intestinal. Os doentes com Covid-19 tinham sub-representação do vírus do mosqueado ligeiro da pimenta (vírus RNA) e múltiplas linhagens de bacteriófagos (vírus DNA) e enriquecimento de vírus DNA eucarióticos derivados do ambiente em amostras fecais, em comparação com indivíduos não-Covid 19 (Figura 1) [10]. O viroma fecal na infeção por SARS-CoV-2 mostrou mais capacidades de codificação genética associada ao stress, inflamação e virulência. Na linha de base do doente, abundância fecal do vírus RNA, vírus da mancha clorótica da pimenta e múltiplas espécies de bacteriófagos mostraram uma correlação inversa com a gravidade da Covid-19. Estes vírus também estiveram inversamente associados a níveis sanguíneos de proteínas pró-inflamatórias, glóbulos brancos e neutrófilos, o que indica que os vírus residentes no intestino poderiam afinar a resposta imunitária do hospedeiro à infeção por SARS-CoV-2. Entre as espécies de vírus DNA associados à gravidade da Covid-19, 40% das espécies mostraram correlação inversa com a idade, o que pode estar subjacente à observação de que os indivíduos idosos correm um risco maior para a Covid-19 manifestamente mais grave.

Conclusão

Em resumo, a recolha de evidência sugere que a MI humana (microbiota bacteriana, micobioma e viroma) é afetada na Covid-19. Tal desregulação persiste mesmo após a resolução da doença, o que constitui potencialmente uma ameaça a longo prazo para a saúde do hospedeiro. A composição da microbiota intestinal está associada às respostas imunitárias do hospedeiro e à gravidade da Covid-19 à infeção por SARSCoV- 2. É necessária mais investigação para explorar os efeitos a longo prazo da Covid-19 e para melhorar a MIdo hospedeiro, e a imunidade desta pandemia viral sem precedentes.

Fontes

1 Liang W, Feng Z, Rao S, et al. Diarrhoea may be underestimated: a missing link in 2019 novel coronavirus. Gut 2020; 69: 1141-3.

2 Onder G, Rezza G, Brusaferro S. Case-fatality rate and characteristics of patients dying in relation to Covid-19 in Italy. Jama 2020; 323: 1775-6.

3 Zuo T, Zhang F, Lui GCY, et al. Alterations in gut microbiota of patients with Covid-19 during time of hospitalization. Gastroenterology 2020; 159: 944-55.

4 Sungnak W, Huang N, Bécavin C, et al. SARS-CoV-2 entry factors are highly expressed in nasal epithelial cells together with innate immune genes. Nat Med 2020; 26: 681-7.

5 Hashimoto T, Perlot T, Rehman A, et al. ACE2 links amino acid malnutrition to microbial ecology and intestinal inflammation. Nature 2012; 487; 477-81.

6 Geva-Zatorsky N, Sefik E, Kua L, et al. Mining the human gut microbiota for immunomodulatory organisms. Cell 2017; 168: 928-43.

7 van Tilburg Bernardes E, Kuchařová Pettersen V, Gutierrez MW, et al. Intestinal fungi are causally implicated in microbiome assembly and immune development in mice. Nature Communications 2020; 11: 2577.

8 Zuo T, Zhan H, Zhang F, et al. Alterations in fecal fungal microbiome of patients with Covid-19 during time of hospitalization until discharge. Gastroenterology 2020; 159: 1302-10.

9 Zuo T, Liu Q, Zhang F, et al. Depicting SARS-CoV-2 faecal viral activity in association with gut microbiota composition in patients with COVID-19. Gut 2020; 70: 276-84.

10 Zo T, Liu Q, Zhang F. Temporal landscape of human gut RNA and DNA virome in SARS-CoV-2 infection and severity. Microbiome. 2021 Apr 14;9(1):91.

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Artigo

Microbiota duodenal em crianças subnutridas com atraso com enteropatia

Artigo comentado - Rubrica de crianças

Pelo Prof. Emmanuel Mas
Gastroenterologia e Nutrição, Hospital Saint-Antoine, Paris, França

Micrographie lumineuse d’un duodénum humain. HE stain, Magnification: 40X

Comentários sobre o artigo original de Chen et al. (N Engl J Med 2020) [1]

A disfunção entérica ambiental (DEA) é um distúrbio enigmático do intestino delgado que é postulada para desempenhar um papel na subnutrição infantil, um problema de saúde global premente. A definição da incidência deste distúrbio tem sido um entrave pela dificuldade de amostragem direta da mucosa do intestino delgado e da microbiota. Este estudo que envolveu 110 crianças que apresentavam um atraso do crescimento linear, que viviam numa favela urbana no Bangladesh, e que não tinham beneficiado de intervenção nutricional. Os autores realizaram uma endoscopia em 80 crianças com DEA confirmada por biopsia e para as quais estavam disponíveis amostras de plasma e duodeno. Das estirpes bacterianas obtidas das crianças, os níveis absolutos de um grupo partilhado de 14 de taxa (não tipicamente classificados como agentes enteropatogénicos) foram negativamente correlacionados com o crescimento linear e positivamente correlacionados com proteínas duodenais implicadas em respostas imuno-inflamatórias. A representação destes 14 de taxa duodenal da microbiota fecal foi significativamente diferente da representação de amostras obtidas de crianças saudáveis. A enteropatia do intestino delgado desenvolveu-se em ratinhos gnotobióticos que tinham sido colonizados com estirpes duodenais cultivadas obtidas de crianças com DEA. Estes resultados confirmam a existência de uma relação entre um atraso no crescimento e os componentes da microbiota do intestino delgado e da enteropatia, o que fornece uma fundamentação lógica para o desenvolvimento de terapias que visam contribuições microbianas efetivas para a DEA.

O QUE É QUE JÁ SABEMOS SOBRE ISTO?

A proporção de subnutrição crónica com atraso do crescimento é de 25% em lactentes que tiveram mais de 5 episódios de diarreia. Estas infeções intestinais recorrentes resultam em DEA, um distúrbio caracterizado por atrofia vilosa que combina uma redução da superfície intestinal e das capacidades de absorção, alteração da barreira intestinal e inflamação da mucosa. Dados mais recentes sugerem que a disbiose da microbiota do trato gastrointestinal superior pode estar presente na DEA.

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DESTE ESTUDO?

Este estudo incluiu 110 lactentes com uma idade média de 18 meses, de Dhaka, Bangladesh, que tinham subnutrição crónica eatraso no crescimento, e que foi definida uma intervenção nutricional. As biopsias duodenais confirmaram a presença de DEA em 80 deles. A microbiota aspirada duodenal de 36 destes lactentes foi analisada; um grupo de 14 de taxa de bacterianos estava presente em mais de 80% desta população e estavam negativamente correlacionadas com a relação comprimento/idade (r = - 0,049, p = 0,003) (Figura 1). O estudo proteómico das biopsias duodenais mostrou uma correlação positiva entre estes 14 de taxa e 10 proteínas, incluindo 2 peptídeos antimicrobianos, um marcador de inflamação intestinal (LCN2), e uma correlação negativa com 10 proteínas produzidas pelos enterócitos (Figura 2).

Dos 80 lactentes com DEA, o estudo proteómico do plasma mostrou uma forte correlação positiva com REG3A e LCN2.

A comparação da microbiota fecal dos lactentes com EED com 27 controlos revelou um aumento significativo da bactéria do género Veillonella, com elevada correlação com as proteínas duodenais implicadas na inflamação gastrointestinal.

Após a cultura de 39 estirpes bacterianas de aspirados duodenais de lactentes com disfunção entérica ambiental, incluindo 11 dos 14 de taxa, foram administrados por sonda oral a ratinhos que tinham sido alimentados com uma dieta semelhante à de um lactente de 18 meses de Dhaka. Vinte e três destas bactérias estavam presentes com uma abundância relativa > 0,1% em pelo menos uma parte do intestino. Os ratinhos de controlo receberam a microbiota cecal de ratinhos criados convencionalmente por sonda oral. Em contraste com os ratinhos de controlo, os ratinhos que receberam bactérias de “disfunção entérica ambiental” apresentaram infiltração de células mononucleares inflamatórias na lâmina própria do intestino delgado, além de anomalias epiteliais e distorção arquitetónica com criptas alongadas. Estas anomalias localizavam-se em placas no intestino delgado, mas não se estendiam ao cólon.

Do ponto de vista funcional, os resultados mostraram nestes ratinhos um aumento da expressão do mRNA dos peptídeos antimicrobianos (Reg3b e Reg3g), um aumento de uma metaloproteinase (MMP8) e uma redução das proteínas de junção estanque codificadoras do mRNA. Estas alterações da resposta imunitária inata e da barreira epitelial da mucosa podem explicar a translocação bacteriana sistémica para o baço (Escherichia coli e Enteroccocus hirae).

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Mas 12_Fig 1 PT
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Mas 12_Fig 2 PT

Pontos chave

  • A disfunção entérica ambiental é promovida por um distúrbio na microbiota intestinal a nível duodenal
  • Esta disbiose duodenal está correlacionada com a subnutrição crónica
  • A patologia é transmissível aos ratinhos, o que pode ajudar a compreender os mecanismos fisiopatológicos envolvidos (inflamação intestinal, anomalias da barreira epitelial e alterações imunitárias da sinalização bacteriana)

Conclusão

Os resultados deste estudo sugerem a existência de uma relação causal entre as bactérias do duodeno, a disfunção entérica ambiental e a subnutrição crónica com atraso do crescimento. Por conseguinte, sugere-se que estas crianças podembeneficiar do desenvolvimento de tratamentos que visem tratar esta disbiose.

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Analise multiomica longitudinal revela mecanismos especificos do subconjunto subjacentes a sindrome do intestino irritavel

Artigo comentado

Pelo Prof. Harry Sokol
Gastroenterologia e Nutrição, Hospital Saint-Antoine, Paris, França

DII: o papel dos vírus da microbiota intestinal
DII
 Irritable bowel syndrome (IBS). Coloured X-ray of the sigmoid colon (far right to centre) and rectum (lower centre) of a patient suffering from IBS.

Commentary on the original article by Mars et al. Cell 2020 [1]

O microbioma intestinal está implicado em inúmeros distúrbios gastrointestinais crónicos nos seres humanos. No entanto, a determinação do seu papel tem sido dificultada devido à falta de correlação entre estudos animais e humanos, bem como de uma visão multiómica integrada das alterações fisiológic as específicas da doença. Os autores integraram dados multiómicos longitudinais do microbioma intestinal, do metaboloma, do epigenoma hospedeiro e do transcriptoma no contexto da fisiologia hospedeira da síndrome do intestino ir ritável (SII). Identificaram variações específicas do subtipo de SII e relaciona das com os sintomas na composição e função microbiana. Um subgrupo de alterações identificadas nos metabolitos microbianos corresponde aos mecanismos fisiológicos do hospedeiro que são relevantes para a SII. Ao compilar múltiplas camadas de dados, os autores identificaram o metabolismo purina como sendo uma nova via metabólica hospedeiro- microbiota na SII com potencial aplicação terapêutica. Este estudo destaca o valor da amostragem longitudinal e a integração de dados multiómicos complementares na identifica ção de mecanismos funcionais que podem ser alvos terapêuticos futuros numa estratégia global de tratamento de doenças intestinais crónicas.

O QUE É QUE JÁ SABEMOS SOBRE ISTO?

A síndrome do intestino irritável (SII) é um distúrbio observado em pacientes em todo o mundo, caracterizada por dor ou desconforto abdominal recorrente. Ocorrendo principalmente nas mulheres, a SII está associada a alterações na forma ou frequência das fezes e é a forma desta última que define os subconjuntos da SII: SII com obstipação (SII-C), SII com diarreia (SII-D) ou SII com hábitos intestinais mistos (SII-M).

A patogénese da SII envolve alterações na motilidade gastrointestinal, secreção intestinal, hipersensibilidade visceral e permeabilidade intestinal, podendo todas elas ser modificadas pelo microbioma intestinal [2]. Além disso, os sintomas da SII são influenciados pela dieta, pela genética do hospedeiro e pelo ambiente, que também são conhecidos por modularem o microbioma intestinal humano [2]. A evidência experimental que apoia o papel do microbioma intestinal na SII baseiase em estudos de transplante em ratinhos, paciente-para-gnotobiótico que reproduziram determinados sintomas associados à SII-C e SII-D (tempo de trânsito, sensação de dor, permeabilidade intestinal...) [3]. No entanto, na ausência de modelos animais robustos para o estudo da SII são necessários, inclusive estudos em seres humanos para determinar as interações entre o microbioma intestinal e as vias patológicas específicas Os estudos da SII em seres humanos são limitados em geral pela utilização de amostragem transversal e pela não estratificação em subconjuntos de pacientes, o que se reflete na falta de concordância nos resultados obtidos no grande número de estudos sobre o microbioma [4].

A influência bem descrita do trânsito gastrointestinal no microbioma intestinal aumenta ainda mais a variabilidade dos estudos. Além disso, a SII, em comum com outras doenças gastrointestinais crónicas, caracteriza-se por períodos de remissão e exacerbação dos sintomas pelo que, por conseguinte, a amostragem transversal não consegue ter em conta as flutuações da doença ao longo do tempo. Por último, as diferenças inerentes à fisiologia do hospedeiro entre seres humanos e animais têm sido um obstáculo ao progresso na nossa compreensão dos papéis mecanicistas do microbioma intestinal na SII. Os autores realizaram um estudo longitudinal em subconjuntos de pacientes com SII, integrando medições multiómicas, incluindo o metagenoma microbiano, o transcriptoma do hospedeiro e o metiloma com avaliação das funções das células hospedeiras. Isto revelou mecanismos específicos do subconjunto da SII induzidos por metabolismo microbiano deficiente, que correspondiam a alterações simultâneas na fisiologia do hospedeiro.

Pontos chave

  • As funções da microbiota intestinal são prejudicadas na SII e existem diferenças entre a SII-C e a SII-D
  • O aumento da produção de triptamina e a redução da transformação dos ácidos biliares podem estar implicados na SII-D
  • O consumo excessivo de hipoxantina pela microbiota e pelas células hospedeiras pode ser implicado na SII alterando o nível de energia das células do epitélio da mucosa intestinal
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Sokol 12_figure 1 PT

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DESTE ESTUDO?

Aqui, os autores realizaram um estudo prospetivo longitudinal observacional com análise multiómica do microbioma intestinal e das células hospedeiras. Os indivíduos saudáveis foram comparados com pacientes com SII-C e SII-D. Numtotal de 77 participantes que forneceu pelo menos uma amostra de fezes (foram obtidas um total de 474 amostras de fezes), 42 dos participantes efetuaram uma sigmoidoscopia para a realização de biopsias do cólon. A fim de identificar os fatores microbianos que causam os sintomas específicos de cada um dos subconjuntos da SII, foi realizada uma sequenciação metagenómica e uma análise metabólica nas amostras de fezes. Realizou-se uma análise metabolómica e ensaios de citocinas em amostras de soro. Por último, realizaram-se 16 sequenciações de S, e análises metabolómicas, transcriptómicas e metilómicas debiopsias do cólon. Os autores identificaram diferenças na composição e diversidade da microbiota intestinal entre indivíduos saudáveis e pacientes com SII-C ou SII-D.

A análise metabolómica das fezes revelou níveis aumentados de triptamina, um metabolito de triptofano produzido por determinadas bactérias intestinais, em pacientes com SII-D (Figura 1). Como a triptamina acelera o trânsito devido a uma ação sobre o recetor de serotonina, 5-HT4, sugere- se que poderia ter um papel no fenótipo destes pacientes. Do mesmo modo, a proporção de ácidos biliares primários foi maior nos pacientes com SII-D, um sinal de transformação deficiente dos ácidos biliares pela microbiota. Experiências in vitro sugerem que os ácidos biliares primários aumentam a secreção no cólon e poderiam também participar no fenótipo.

Por último, a integração de dados multiómicos identificou um novo mecanismo potencial para a SII. Os resultados sugerem que nos pacientes com SII há uma degradação crescente dos nucleótidos purínicos e da hipoxantina em particular, pela microbiota e pelas células hospedeiras, o que induz o stress no cólon. Sugere-se que isto poderia levar a uma resposta compensatória com um aumento na recuperação da purina. Os níveis baixos de nucleótidos purínicos poderiam levar a uma fonte de energia reduzida para o epitélio da mucosa e a uma capacidade reduzida para a reparação da mucosa intestinal, o que poderia contribuir parcialmente para a fisiopatologia da SII.

QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS?

Estes dados sugerem um papel da microbiota intestinal na fisiopatologia da SII, com diferenças entre a SII-C e a SII-D. Além disso, estes resultados apontam para o papel potencial de uma deficiência em nucleótidos purínicos, em particular através de um consumo excessivo de hipoxantina pela microbiota e pelas células hospedeiras. Estes resultados apontam o caminho para tratamentos que estimulam a produção de hipoxantina microbiana ou que inibem localmente a xantina oxidase no intestino.

Conclusão

Este estudo longitudinal com multiómica integrada mostra o valor dos estudos longitudinais em seres humanos e destaca alterações funcionais da microbiota na SII que podem estar potencialmente implicadas na fisiopatologia desta doença. As novas pistas que foram identificadas podem ser novos alvos terapêuticos.

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Artigo comentário

Dialogo entre a microbiota intestinal e as respostas imunitarias do hospedeiro para combater as infeções pela

Síntese
Pelo Dra. Dorota Czerucka
Bióloga médica, Equipa eco sistemas e Imunidade, Centro científico do Mónaco, Mónaco

Goblet cells. Coloured transmission electron micrograph (TEM) of a section through goblet cells in the lining of the small intestine,part of the digestive tract.

Os seres vivos evoluíram durante milhões de anos em ambientes complexos ocupados por ecossistemas microbianos, e assim forjaram relações simbióticas reguladas pelo sistema imunitário. As novas técnicas de sequenciação revolucionaram os nossos conhecimentos e permitiram revelar que cada indivíduo abriga uma microbiota única, bem como o seu papel na fisiologia do hospedeiro e em muitas doenças como as infeções. O diálogo entre a microbiota intestinal e o sistema imunitário começa na vida fetal. A organização específica da microbiota – separada do hospedeiro por uma monocamada celular – representa um desafio particular para o sistema imunitário, cujo papel é reconhecer o “não-eu” como um sinal, potencial de infeção, de modo a iniciar as cascatas imunitárias. Por conseguinte, as trocas contínuas com a microbiota têm um impacto considerável no sistema imunitário do hospedeiro. A resposta imunitária, que devem incluir a microbiota, tem também um impacto quer na composição quer na função. Assim, as trocas bidirecionais e constantes entre estas duas entidades modelam tanto a imunidade do hospedeiro como a microbiota intestinal para proteger contra infeções e muitas doenças.

MICROBIOTA INTESTINAL E A BARREIRA INTESTINAL

A microbiota intestinal é constituída por uma primeira barreira que protege a mucosa intestinal dos agentes patogénicos. Este complexo ecossistema habita de forma estável no trato gastrointestinal e limita o acesso aos nichos do intestino bem como aos nutrientes necessários para a multiplicação das bactérias exógenas do intestino através do fenómeno de“resistência à colonização” [1] (Figura 1). Os enterócitos, que asseguram uma barreira física entre o lúmen intestinal e o hospedeiro, absorvem a água e os nutrientes, e segregam péptidos antimicrobianos PAM (RegIIIg, b-defensins e cathelicidin) [2]. Graças ao reconhecimento dos padrões moleculares associados aos microrganismos (Microbe-Associated Molecular Patterns, MAMP) por recetores específicos (incluindo os Toll-Like-Receptors, TLR), estas células serão capazes de traduzir o sinal em citocinas e quimiocinas para assinalar uma infeção e recrutar as células imunitárias (Figura 2). As células de Paneth participam na resistência à colonização ao segregarem também PAM (lisozima, a-defensinas, RegIIIg) [2]. As células caliciformes – secretoras de muco – e as células M têm a capacidade de fazer passar antigénios intactos e aleatoriamente capturados no lúmen intestinal a partir das bactérias comensais, dos agentes patogénicos ou dos antigénios alimentares. Estas serão, em seguida, preparados pelas células dendríticas (CD) e apresentados às células da imunidade adaptativa. Esta função é essencial para a tolerância intestinal e a indução das respostas imunitárias da mucosa [2]: um equilíbrio entre respostas pró- e anti-inflamatórias que ocorrem, de forma permanente (Figura 2). Tudo isto foi demonstrado em modelos murinos de colite induzida e em ratos com depleção de recetores TLR: a ausência de microbiota ou de reconhecimento desta reduz a proliferação das células epiteliais intestinais ou a reparação da barreira [2]. Por último, o muco também proporciona proteção através da captura dos PAM que manterão os agentes patogénicos afastados do epitélio. Num modelo de rato deficiente em Muc2 (um gene que codifica uma das proteínas que compõem o muco), observa-se um aumento na translocação de bactérias comensais e estes animais desenvolvem doenças inflamatórias intestinais [3].

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DIÁLOGO ENTRE A MICROBIOTA INTESTINAL E O SISTEMA IMUNITÁRIO INATO

Entre os atores do sistema imunitário inato envolvidos na homeostase intestinal, as células apresentadoras de antigénios (CPA), tais como os macrófagos (Mj) e as CD têm um papel importante. Os Mj e as CD sintetizam a IL-10 e, assim, promovem a diferenciação em Treg [4], bem como a maturação dos linfócitos Th17 através do envolvimento de bactérias comensais: as bactérias segmentadas filamentosas (Segmented Filamentous Bacteria, SFB). Estas bactérias têm a particularidade de aderir às células epiteliais intestinais, levando a uma estimulação ativa do sistema imunitário [5] (Figura 3). Um estudo mostra que a colonização de ratos por estas SFB induz a diferenciação de Th17 e exerce, assim, uma proteção contra o Citrobacter
rodentium
(equivalente murino dos EPEC e EHEC). Esta proteção é atribuída à capacidade a maturação dos linfócitos Th17 uma citocina conhecida
por estimular a síntese dos PAM [6]. As CD, por outro lado, são capazes de fagocitar bactérias presentes no lúmen intestinal graças a uma extensão das suas dendrites entre as células epiteliais. Estas bactérias comensais são, em seguida, transportadas até aos gânglios linfáticos mesentéricos para induzir a produção de IgA segregada pelos plasmócitos [1].

As células linfoides inatas (Innate Lymphoid Cells, ILC) também desempenham um papel importante na homeostase intestinal através da sua capacidade de iniciar e orientar as respostas imunitárias intestinais. Em particular, as ILC de tipo 3 (ILC3) têm um lugar especial na interação com a microbiota intestinal. Através da síntese da IL-22, estas células estimulam a produção de muco, de PAM, bem como a secreção de quimiocinas e o recrutamento de células polimorfonucleares (PMN) (Figura 2) [1].

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DIÁLOGO ENTRE A MICROBIOTA E O SISTEMA IMUNITÁRIO ADAPTATIVO

A maturação final do sistema imunitário adaptativo é caracterizada pelo povoamento da mucosa intestinal com linfócitos maduros efetores T pró-inflamatórios (Th17), anti-inflamatórios (Treg) e linfócitos B (Figura 2). Para além dos efeitos sobre os macrófagos e a diferenciação dos Th17, as SFB estimulam também o desenvolvimento dos órgãos linfoides e participam na diferenciação dos linfócitos B em plasmócitos produtores de IgA que conterão as bactérias patogénicas no muco [5]. Outras bactérias comensais podem estimular as respostas imunitárias adaptativas: uma mistura de 17 estirpes de Clostridia, isolada de uma amostra fecal humana e introduzida em ratos induz uma resposta anti-inflamatória ao estimular os Treg [7]. Faecalibacterium prausnitzi também foi identificado pela sua ação anti-inflamatória in vitro e in vivo ao atuar sobre o fator NF-kB, as CD e Mj que segrega IL-10 e promove a diferenciação dos Treg à custa dos Th17 [8]. Entre os Bacteroidetes, Bacteroides fragilis e B. thetaiotaomicron foram também descritos como exercendo uma atividade anti-inflamatória. B. fragilis sintetizando um polissacarídeo A (PSA) que suprime a produção pró-inflamatória de IL 17, e estimula a secreção anti-inflamatória de IL-10 (Figura 3). Num modelo específico de colite induzida por Helicobacter hepaticus, o PSA estimula o desenvolvimento dos órgãos linfoides, estimula o linfócito Treg e protege os ratos [9].

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Overview 12_fig 3 PT

METABOLITOS MICROBIANOS: MEDIADORES
IMPORTANTES DO DIÁLOGO ENTRE A MICROBIOTA E A IMUNIDADE ADAPTATIVA

Os ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), os metabolitos derivados do triptofano e os sais biliares são os principais metabolitos derivados da microbiota intestinal que exercem um efeito protetor contra as infeções [9, 10]. Sabe-se que o butirato, o propionato e o succinato têm ações na homeostase intestinal, secreção do muco, e também nas diferentes células do sistema imunitário. O butirato exerce, entre outros, efeitos anti-inflamatórios e antimicrobianos. Esta ação é mediada pelos recetores acoplados às proteínas G (GPR) encontrados em células epiteliais e macrófagos [9]. F. prausnitzi é um grande produtor de butirato, o que pode explicar em parte o seu efeito anti-inflamatório. De facto, inibe a ativação de NFkB e, assim, inibe a síntese de citocinas pró-inflamatórias IFN-g, TNF-a, IL-1b, IL-8 pelos enterócitos (Figura 3). Também induz modificações metabólicas e epigenéticas (através das histonas desacetilases HDAC) dos macrófagos em ratos, amplificando assim as suas atividades antimicrobianas in vitro e in vivo [11]. As bactérias comensais também podem metabolizar o triptofano e produzir substâncias antimicrobianas. Assim, os Lactobacilos utilizam-no como fonte de energia para sintetizar um indol que se liga aos recetores de hidratos de carbono arílicos (AhR) presentes nas ILC3. AhR induzirá a secreção de IL-22 pelas ILC e, subsequentemente, a secreção de AMP e induzirá a proteção contra infeções [9].

DIÁLOGO MICROBIOTASISTEMA IMUNITÁRIO INTESTINAL PARA SE PROTEGER CONTRA INFEÇÕES VIRAIS

Entre os vírus entéricos, o norovírus e o rotavírus estão as principais causas de gastroenterites [12]. Os vírus entéricos infetam diferentes tipos celulares: os enterovírus 71 infetam especificamente as células caliciformes, enquanto o tropismo dos rotavírus é dirigido principalmente para os enterócitos [13] (Figura 4A). A microbiota intestinal atua como uma barreira contra as infeções virais entéricas. Os vírus evoluíram e adaptaram-se ao seu hospedeiro para desenvolver mecanismos que lhes permitem passar a barreira intestinal e escapar à imunidade de barreira: de facto, é difícil infetar efetivamente, por via oral, os ratos com vírus entéricos humanos [13]. A penetração do vírus no enterócito resulta na secreção do interferão (IFN) de tipo III. A deteção viral pode induzir a IL-la que ativa as ILC3 para produzir IL-22. Esta IL protege contra infeções virais entéricas e atua sinergicamente com os IFN de tipo III para induzir a expressão de efetores antivirais e de IL-15. O reconhecimento viral pelos TLR-3 leva à ativação da via NF-kB e também à produção de IL-15. A IL-15 ativa os linfócitos citotóxicos (células NK). Os vírus que atravessaram a barreira intestinal induzem a produção de IFN tipo I pelos macrófagos na lamina propria (Figura 4B). Alguns vírus entéricos (rotavírus, reovírus enterovírus) são capazes de se ligar às bactérias intestinais, promovendo a penetração nas células epiteliais intestinais [13]. As SFB, que permitem uma renovação epitelial, resultam na proteção contra a infeção pelo rotavírus em ratos ao expulsarem as células infetadas [14]. Os ácidos biliares metabolizados pela microbiota intestinal também desempenham um papel ao protegerem o intestino delgado (mas não o cólon) contra a infeção aguda pelo norovírus em ratos, promovendo a produção de IFN de tipo III a nível do intestino delgado [15].

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Overview 12_fig 4 PT

Conclusão

O estudo das relações entre a microbiota intestinal e a imunidade intestinal é um grande avanço na investigação em gastroenterologia. A homeostase intestinal é mantida graças ao reconhecimento de bactérias comensais pelas células do sistema inato e pelas células do epitélio intestinal, quer por contacto direto (caso das SFB), quer através da síntese de metabolitos saídos da microbiota. A perturbação da homeostase (disbiose intestinal, infeções, etc.) leva a uma estimulação das respostas inatas e a uma ativação do sistema adaptativo. Uma má “gestão” da inflamação poderia levar ao surgimento de doenças como a síndrome do cólon irritável pós-infecioso.

Fontes

Perez-Lopez A, Behnsen J, Nuccio SP, Raffatellu M. Mucosal immunity to pathogenic intestinal bacteria. Nat Rev Immunol 2016 ; 16 : 135-48. 

Allaire JM, Crowley SM, Law HT, et al. The intestinal epithelium: central coordinator of mucosal immunity. Trends Immunol 2018 ; 39 : 677-96.

3 Van der Sluis M, De Koning BA, De Bruijn AC, et al. Muc2-deficient mice spontaneously develop colitis, indicating that MUC2 is critical for colonic protection. Gastroenterology 2006 ; 131 : 117-29.

Kim M, Hill A A, Wu WJ, et al. Intestinal microbes direct CX3CR1+ cells to balance intestinal immunity. Gut Microbes 2018 ; 17 : 151-63.

Flanningan KL, Denning TL. Segmented filamentous bacteria-induced immune responses: a balancing act between host protection and autoimmunity. Immunology 2018 ; 154 : 537-46.

Ivanov I I, Atarashi K, Manel N, et al. Induction of intestinal Th17 cells by segmented filamentous bacteria. Cell 2009 ; 139 : 485-98.

Atarashi K, Tanoue T, Oshima K, et al. Treg induction by rationally selected mixture of Clostridia strains from the human microbiota. Nature 2013 ; 500 : 232-6.

8 Miquel S, Martin R, Rossi O, et alFaecalibacterium prausnitzi and human intestinal health. Curr Opin Microbiol 2013 ; 16 : 255- 61.

Levy M, Blacher E, Elinav E. Microbiome, metabolites and host immunity. Curr Opin Microbiol 2017 ; 35 : 8-15.

10 Michaudel C, Sokol H. The gut microbiota at the service of immunometabolism. Cell Metabolism 2020 ; 32 : 514-23.

11 Schulthess J, Pandey S, Capitani S, et al. The short Chain Fatty Acid Butyrate imprints an antimicrobial program in macrophages. Immunity 2019 ; 50 : 432-45.

12 Bányai K, Estes MK, Martella V, et al. Viral gastroenteritis. Lancet 2018 ; 392 : 175-86.

13 Segrist E, Cherry S. Using diverse model systems to define intestinal epithelial defenses to enteric viral infections. Cell Host Microbe 2020 ; 27 : 329-44.

14 Shi Z, Zou J, Zhang Z, et al. Segmented filamentous bacteria prevent and cure rotavirus infection. Cell 2019 ; 179 : 644-658.e13.

15 Grau KR, Zhu S, Peterson ST, et al. The intestinal regionalization of acute norovirus infection is regulated by the microbiota via bile acid-mediated priming of type III interferon. Nat Microbiol 2020 ; 5 : 84-92.

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Artigo

Genes de resistência aos antibióticos “sobem a bordo” da microbiota intestinal durante as viagens internacionais

Sabe-se que os antibióticos salvam vidas. Mas sabe-se também que o seu uso excessivo e abuso é o principal fator que conduziu ao aparecimento de agentes patogénicos resistentes. O que começamos a saber é que o desenvolvimento das viagens internacionais favorece a aquisição de genes de resistência aos antibióticos. O que ainda permanece incerto é a extensão e a magnitude da propagação desse fenómeno. Um novo estudo publicado em Genome Medicine escalpeliza a questão.

Desde 2015, a OMS organiza todos os anos a (sidenote: World Antimicrobial Awareness Week Semana Mundial para a Utilização Adequada dos Antimicrobianos Aprofundar: https://www.who.int/campaigns/world-antimicrobial-awareness-week/2021 ) . Objetivo? Sensibilizar os profissionais de saúde e o público em geral sobre a utilização adequada de antimicrobianos para combater (sidenote: A resistência aos antibióticos ) . Os autores contribuem com novos conhecimentos sobre os mecanismos através dos quais a resistência aos antibióticos se propaga pelo mundo. O problema é atualmente mais grave nos países detentores de rendimentos médios ou baixos. Além disso, a capacidade de um gene de resistência se espalhar através das viagens (sidenote: Prevalência do gene de resistência na região, bactérias portadoras do gene e presença de elementos genéticos móveis na proximidade dele que possam promover a sua propagação ) . Portanto, os investigadores procuraram avaliar se as viagens internacionais para certos países onde a resistência a determinados antibióticos é muito elevada poderia facilitar a sua disseminação para regiões mais protegidas.

As viagens internacionais promovem a aquisição de genes de resistência

Para confirmarem esta hipótese, os referidos investigadores recorreram a um grupo de 190 viajantes dinamarqueses (média de idades: 50,7 anos) oriundos da coorte COMBAT (Carriage Of Multiresistant Bacteria After Travel). Os membros desse grupo foram divididos em 4 subgrupos de acordo com seu local de estadia em zonas com elevada prevalência de resistência a antibióticos: Sudeste Asiático, Sul da Ásia, Norte de África e África Oriental. Foi colhida uma amostra fecal de cada um dos participantes imediatamente antes e depois das respetivas viagens, que tiveram entre 1 semana e 3 meses de duração.

Pedra angular do moderno arsenal terapêutico, os antibióticos salvaram milhões de vidas. Por outro lado, a sua utilização excessiva e por vezes inadequada pode levar ao aparecimento de múltiplas formas de resistência dos microrganismos. Todos os anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW) para aumentar a sensibilização para este problema de saúde pública. Leia a página dedicada.

Resistência aos antibióticos: a microbiota em primeiro plano

O uso maciço e por vezes inadequado de antibióticos torna-os cada vez mais inef…

A equipa combinou a utilização de ferramentas de sequenciação shotgun, metagenómica funcional e modelagem estatística para analisar minuciosamente o resistoma intestinal dos participantes. Comparando as amostras antes e depois das viagens, descobriu-se um aumento no número de genes de resistência a antibióticos no regresso dessas viagens. Além disso, detetou-se que a aquisição de genes de resistência era maior nos viajantes de regresso do Sudeste Asiático em comparação com os provenientes de outros destinos.

56 genes de resistência adquiridos durante a viagem

Os investigadores detetaram a aquisição de 56 genes de resistência (e a perda de 4) durante as viagens, e os que codificam proteínas responsáveis pelo efluxo dos antibióticos e pela modificação do alvo foram os mais constantes. Entre eles, genes de resistência clássicos e bem conhecidos (blaCTX-M, resistente às β-lactaminas, mcr-1, resistente à colistina ou variantes de tetX, resistentes a tetraciclinas e qnr, resistente a fluoroquinolonas), e outros nunca antes identificados. Os autores constataram que 6/56 genes adquiridos estão associados ao destino, incluindo 3/6 detetados em viajantes provenientes do sudeste asiático a corresponderem a variantes dfrA1 que conferem resistência à trimetoprima. Por outro lado, a identificação de determinado número de elementos genéticos de alta mobilidade na vizinhança dos genes de resistência poderá contribuir para a aquisição da abundante quantidade de genes de resistência observada nos participantes com estadias na referida região.

Compreender melhor os mecanismos de propagação da resistência aos antibióticos: é também nesse sentido que a Biocodex Microbiota Foundation está a trabalhar, tendo lançado recentemente a sua bolsa internacional 2022 cujo tema de investigação é "estrutura e função do resistoma intestinal". Face à resistência aos antibióticos, há uma capacidade de resposta multidisciplinar e coletiva que se organiza.

Apresentamos-lhe o Professor Sørensen, galardoado com a bolsa Internacional 2022 da Biocodex Microbiota Foundation.

A sua equipa foi pioneira num estudo ambicioso sobre o resistoma de 700 crianças que permitirá um avanço na compreensão da evolução e disseminação da resistência antimicrobiana no intestino humano dos primeiros anos de vida.

Descubra o seu projecto

O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência aos antimicrobianos a nível global. 
Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizarem cuidadosamente os antimicrobianos, a fim de evitar o surgimento de uma maior resistência aos antimicrobianos. 

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Noticias Gastroenterologia

As forças bacterianas do eixo intestino-pulmão em guerra contra a tuberculose

Na origem da tuberculose está uma bactéria, a Mycobacterium tuberculosis, cujo nome de código é: Bacilo de Koch (do nome do seu descobridor). No coração da infeção: as microbiotas do intestino e dos pulmões. Entre os possíveis complementos das terapias atuais: bactérias benéficas. 

A microbiota pulmonar Já ouviu falar de “disbiose”? Probióticos A microbiota intestinal

Tuberculose: doença infeciosa, altamente transmissível que afeta (sidenote: Tuberculosis_WHO Oct 2021 ) . Embora os casos sejam mais raros nos países desenvolvidos graças à vacinação, a tuberculose ainda é um problema importante de saúde pública. A pandemia da COVID-19 inverteu anos de progresso global na luta contra a tuberculose: pela primeira vez em mais de uma década, as mortes por tuberculose aumentaram no mundo, (sidenote: Tuberculosis deaths rise for the first time in more than a decade due to the COVID-19 pandemic _WHO Oct 2021 ) (OMS). As vítimas colaterais seriam as nossas microbiotas intestinal e pulmonar, que estariam fortemente implicadas nesta infeção.

A microbiota intestinal desequilibrada 

Primeira microbiota afetada: a nossa flora intestinal que atua em estreita colaboração com as nossas células imunitárias ao longo da nossa vida. Nos pacientes com tuberculose, esta microbiota está “a meio mastro”. ela perdeu a sua diversidade, algumas bactérias estão menos presentes mas outras são abundantes. O desequilíbrio de algumas espécies de bactérias (disbiose) poderia mesmo ser característica das fases de progressão da doença.

1,4 milhões Em 2019, 1,4 milhões de pessoas morreram com tuberculose (OMS,2020).

Para além disso, parece que, a partir de experiências com animais, essas perturbações no equilíbrio da microbiota intestinal reduzem a eficácia dos fármacos antituberculose. Daí a ideia, que ainda precisa de ser confirmada, de reequilibrar a microbiota intestinal com os probióticos e (sidenote: Postbióticos Preparação de microrganismos inanimados e/ou componentes que conferem uma vantagem à saúde do hospedeiro. Salminen S, Collado MC, Endo A, et al. The International Scientific Association of Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on the definition and scope of postbiotics. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2021 Sep;18(9):649-667. ) . Objetivo: reforçar a eficácia dos medicamentos antituberculose e também melhorar as defesas imunitárias dos pacientes contra a bactéria responsável pela tuberculose.

A microbiota pulmonar igualmente afetada

Neste campo, os estudos são mais raros. Porém, os seus resultados convergem com aqueles do nível intestinal: baixa da diversidade da microbiota dos pacientes, modificação das espécies dominantes. Em resumo: uma disbiose pulmonar também é observada em caso de infeção. Esta microbiota pulmonar poderia, também, participar não apenas no desenvolvimento da doença mas também na eficácia do tratamento.

As forças do eixo intestino-pulmão na infeção

Apesar de ocuparem localizações distintas, as microbiotas digestiva e pulmonar estão longe de agir de modo isolado. Estas duas microbiotas comunicam de modo estreito e a sua diversidade evolui em espelho: a microbiota intestinal participa nas respostas imunitárias pulmonares, e a infeção pulmonar também tem influência na composição da microbiota intestinal. Assim, não são apenas duas microbiotas mas todo um eixo intestino-pulmão que desempenhariam um papel na infeção e no tratamento da tuberculose. Pode ser considerada uma nova abordagem para o tratamento.

Recomendado pela nossa comunidade

"Importante saber" - Comentário traduzido de Linda Snow (Da My health, my microbiota)

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Noticias

Covid-19: a mortalidade prevista pelas bactérias da microbiota da orofaringe?

E se a abundância de bactérias da microbiota da orofaringe bastasse para predizer a mortalidade dos pacientes com Covid-19 desde a sua admissão no hospital? É o que parece mostrar este estudo, que confirma o quanto os tratamentos com antibióticos ou a ventilação desestabilizam esta microbiota.

Desapareceu a estratificação dos pacientes com Covid-19 admitidos nos hospitais com base na sua idade ou obesidade. No futuro, a medição da abundância de 2 espécies de bactérias da microbiota da orofaringe poderia ser a referências, pois é mais fiável. É, em todo caso, o que aparece nos trabalhos de uma equipa alemã que estudou esta microbiota como papel central: ela regula a imunidade do hospedeiro, a homeostasia das mucosas e a defesa contra os agentes patogénicos. Entretanto, os estudos anteriores revelaram-se pouco conclusivos. Sem dúvida, porque a maioria deles estudou apenas pacientes com COVID-19 grave, para os quais numerosos fatores de confusão (antibióticos, ventilação mecânica invasiva...) tiveram impacto na diversidade e na composição da microbiota recolhida.

Quando os antibióticos e a ventilação perturbam a microbiota da orofaringe 

Este estudo clínico transversal e multicêntrico (7 centros alemães) adotou a sua metodologia: as microbiotas da orofaringe foram recolhidas em 72 adultos saudáveis, 112 pacientes com outra infeção que não o SARS-CoV-2 (infeções respiratórias superiores leves ou pneumonia crítica) e em pacientes com COVID-19 leve (36), moderada (37) e grave (65). Ou seja, um total de 322 pacientes com idades entre os 21 e os 93 anos.

Os resultados? A administração de antibióticos de largo espectro e a ventilação mecânica invasiva parecem desestabilizar a microbiota da orofaringe: uma perda da diversidade e uma disbiose grave foram confirmadas nos pacientes com COVID-19 admitidos num hospital com COVID-19 moderada ou grave ou no caso da recolha ter sido realizada durante um internamento prolongado.

Duas espécies bacterianas prevêem a mortalidade

Mas sobretudo, as amostras recolhidas rapidamente após a admissão (para não haver perturbação pelos tratamentos nos hospitais) apresentaram uma assinatura preditiva da mortalidade associada à COVID-19 no hospital, de acordo com modelos de inteligência artificial (aprendizagem automática). Assim, a abundância, pelo menos, de dois géneros de bactérias Neisseria (e mais especificamente a espécie Neisseria subflava) e Haemophilus (espécies Haemophilus influenzeae, parainfluenzae e pittmaniae) aumenta fortemente o risco de morte. E este modelo preditivo mostra ser mais fiável do que os modelos que se baseiam em variáveis clínicas como a idade, o sexo e a obesidade. Os mecanismos em questão não foram ainda descodificados mas estas bactérias poderiam regular as respostas imunitárias inatas e a produção de citocinas.

Assim, a assinatura preditiva da microbiota da orofaringe, facilmente acessível na admissão, poderia permitir uma estratificação dos pacientes. Então, isto levará a um melhor acompanhamento, um tratamento adaptado desde as primeiras fases e uma otimização dos meios e do pessoal de cuidados intensivos atribuídos.

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Noticias Otorrinolaringologia Gastroenterologia

Um centro internacional de conhecimento sobre as microbiotas!

A microbiota é uma área da saúde em crescimento e os cientistas consideram-na o órgão recém-descoberto do corpo humano. À medida que a investigação científica com ela relacionada cresce, é agora claro que os triliões de microrganismos (bactérias, vírus e fungos) que compõem a microbiota têm um impacto comprovado em domínios sanitários como as doenças digestivas, a saúde feminina e infantil, etc.. Para divulgar os conhecimentos sobre a microbiota e aumentar a consciencialização para a respetiva problemática, o Biocodex Microbiota Institute concebeu um centro de conhecimento dedicado à microbiota centrado no utilizador que proporciona aos seus visitantes informações atualizadas, adequadas e de confiança para uma melhor saúde.

Já alguma vez ouviu falar da palavra “disbiose”? Ou sobre os benefícios dos probióticos para sua saúde? Já sabia que a microbiota intestinal é um bom indicador da longevidade? Ou que sua microbiota vaginal consiste em centenas de bactérias que ajudam a manter um ambiente vaginal saudável? Tanto os curiosos como os especialistas encontrarão aqui as respostas para estas perguntas.

 

Um centro concebido em torno de três grandes áreas da saúde e centrado em percursos personalizados:

Com foco nos intestinos,

“O poder do nosso Intestino”: criado especificamente para destacar a sua importância, aborda temas como o “eixo intestino-cérebro”, as doenças digestivas e respetivas soluções.

Com foco na saúde das mulheres de todas as idades

“A microbiota feminina”: analisa todos os assuntos relativos ao tema, como a puberdade, a gravidez, as respetivas doenças e como cuidar de tudo isto.

Com foco nas outras microbiotas

“As maravilhas da nossa microbiota”: reúne diferentes assuntos como a microbiota cutânea, otorrinolaringológica ou pulmonar e as funções que as mesmas desempenham no corpo.

As informações sobre a microbiota, redigidas por cientistas, ficam ao dispor de todos através de notícias, entrevistas com médicos, dossiers temáticos, infografias, conteúdos aprofundados e até mesmo histórias na versão móvel.

“Temos a expetativa de aumentarmos a consciencialização para o papel fundamental deste importante órgão através de conteúdos fiáveis, atualizados e úteis para os médicos e para o público em geral, afirma Murielle Escalmel, Diretora de Comunicação Científica Institucional. Graças a este centro de conhecimento dedicado à microbiota, pretendemos firmar o Biocodex Microbiota Institute como uma importante fonte de informação para quem pretende conhecer melhor a nossa microbiota. Mantemos igualmente a nossa promessa: a informação científica ao serviço da nossa saúde!”

Sobre o Microbiota Institute 

O Biocodex Microbiota Institute é uma instituição científica internacional que visa promover a saúde através da divulgação de conhecimentos sobre a microbiota humana. Para o fazer, dirige-se aos profissionais de saúde e ao público em geral para os consciencializar para o papel fundamental desse órgão ainda pouco conhecido do corpo humano.

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Um centro internacional de conhecimento dedicado à microbiota!

Quer manter-se informado sobre a microbiota? Necessita de aprofundar os seus conhecimentos? Procura um parceiro útil e de confiança no que respeita a investigação e a informações relativas à prática clínica? O Biocodex Microbiota Institute lança um centro de conhecimento dedicado à microbiota. Este site foi concebido para lhe fornecer conteúdos fiáveis, atualizados e adequados. Foi também projetado para refletir o dinamismo e a inovação da microbiota humana.

Disponível em 7 línguas (inglês, francês, espanhol, russo, polaco, turco e português), este centro internacional online disponibiliza as últimas notícias e dados científicos sobre a microbiota, incluindo conteúdos exclusivos do Instituto, como a revista Microbiota, dossiers temáticos, cursos de formação contínua de medicina e entrevistas com especialistas.

Um parceiro útil e de confiança para os profissionais de saúde 

Numa secção dedicada aos profissionais de saúde, encontrará também infografias práticas e pedagógicas, como: "O que são os probióticos? ” ou “O que necessita de saber sobre as 6 microbiotas do corpo humano”, que poderá transferir e partilhar facilmente com os seus pacientes. Quer partilhar outras informações com os seus pacientes? Convide-os a descobrirem a secção destinada ao público em geral do site através de percursos online dedicados, onde poderão encontrar conteúdos atualizados, úteis e de fácil compreensão.

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Também se encontram disponíveis neste centro calendários de congressos, onde poderá encontrar os próximos eventos sobre a microbiota. E depois da sua passagem pelo site, não se esqueça de se inscrever online para receber o “Microbiota Digest”, um boletim mensal com as últimas novidades sobre a microbiota. Deseja partilhar uma publicação? Seguir o tweet ao vivo de uma conferência (WGO, ESPGHAN, etc.)? Ou navegar pela nova conta do Twitter do Microbiota Institute (@Microbiota_Inst) concebido para chegar ao maior número possível de membros da comunidade dos profissionais de saúde que desejem estar ao corrente das novidades mais recentes no domínio da microbiota. Ao fornecer aos profissionais de saúde as mais recentes notícias e dados científicos e ainda uma variedade de ferramentas e serviços pedagógicos, o site do Biocodex Microbiota Institute visa ajudar os profissionais de saúde a melhorarem diariamente a compreensão dos seus pacientes sobre as respetivas doenças. 

“Temos a expetativa de aumentarmos a consciencialização para o papel fundamental deste importante órgão através de conteúdos fiáveis, atualizados e úteis para os médicos e para o público em geral, afirma Murielle Escalmel, Diretora de Comunicação Científica Institucional. Graças a este centro de conhecimento dedicado à microbiota, pretendemos firmar o Biocodex Microbiota Institute como uma importante fonte de informação para quem pretende conhecer melhor a nossa microbiota. Mantemos igualmente a nossa promessa: a informação científica ao serviço da nossa saúde!”

Sobre o Microbiota Institute

O Biocodex Microbiota Institute é uma instituição científica internacional que visa promover a saúde através da divulgação de conhecimentos sobre a microbiota humana. Para o fazer, dirige-se aos profissionais de saúde e ao público em geral para os consciencializar para o papel fundamental desse órgão ainda pouco conhecido do corpo humano. 

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Olivier VALCKE

Responsável Editorial e de Relações Públicas
Telefone : +33 1 41 24 30 00
o.valcke@biocodex.com

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