A microbiota intestinal: uma nova esperança para prevenir a obesidade infantil?

Segundo a OMS1, o flagelo do nosso século foi o facto de quase 40 milhões de crianças com menos de 5 ano terem excesso de peso ou serem obesas em 2019. Para prevenir a obesidade infantil e voltar a equilibrar a balança energética, é habitual incidir-se na alimentação e no exercício físico, algo que é necessário, mas insuficiente. Agora as esperanças voltam-se para a microbiota intestinal, um interveniente fundamental no metabolismo e na comunicação com o cérebro. Desencriptação.

A microbiota intestinal Obesidade

40 milhões quase 40 milhões de crianças com menos de 5 ano terem excesso de peso ou serem obesas em 2019

Microbiota e obesidade: a disbiose na ordem do dia

A microbiota intestinal é um verdadeiro ecossistema microbiano situado nas nossas entranhas, sendo essencial para a nossa saúde. Em relação à obesidade, atualmente sabemos que o facto de existir uma diversidade reduzida na microbiota intestinal e uma sobrerrepresentação de algumas espécies bacterianas aumenta o risco de adiposidade, de resistência à insulina e de inflamação. Desta forma, os pacientes obesos teriam uma flora menos rica do que as pessoas magras, embora os resultados ainda não sejam todos unânimes.

Microbiota e obesidade: os fatores de risco

Além dos fatores genéticos, há outros fatores que contribuiriam para o desenvolvimento de obesidade nas crianças: a alimentação da mãe durante a gravidez, o tipo de parto, a alimentação do bebé (amamentação vs. alimentação ao biberão), tratamento com antibióticos durante a infância... Os mecanismos biológicos através dos quais estes fatores de risco vão influenciar o desenvolvimento de obesidade ainda não estão claramente determinados. No entanto, suspeita-se e dá-se particular atenção à microbiota

Microbiota e obesidade: comprovado pela ciência

Verifica-se que a obesidade é uma doença multifatorial. Como tal, ainda é muito cedo para dizer que há uma relação de causa-efeito exclusiva entre a microbiota e a obesidade no ser humano. No entanto, esta relação está comprovada nos animais, com estudos que demonstram que a característica "obeso" pode ser passada de um rato dador "obeso" para um rato recetor "magro" através de um transplante de microbiota fecal e vice-versa. 

Houve apenas um estudo em que se experimentou transplantar microbiota de pessoas magras para pessoas com excesso de peso. Por enquanto, não se observou nenhuma diminuição do (sidenote: Índice de Massa Corporal (IMC) IMC o Índice de Massa Corporal avalia a corpulência de uma pessoa, estimando a massa gorda do corpo com recurso ao cálculo da relação entre o peso (kg) e a altura elevada ao quadrado (m2) da pessoa. https://www.nhlbi.nih.gov/health/educational/lose_wt/BMI/bmicalc.htm https://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/nutrition/a-healthy-lifestyle/body-mass-index-bmi ) .

Microbiota e obesidade: quando as bactérias controlam o nosso prato e o nosso peso

Qual é a relação entre apetite e obesidade? A relação entre alimentação microbiota e obesidade é complexa. O modus operandi é o seguinte: os alimentos são digeridos, os nutrientes são metabolizados pelas bactérias e as moléculas produzidas, tais como os (sidenote: Ácidos biliares Os ácidos biliares facilitam a digestão e a absorção dos lípidos no intestino. Também exercem funções de tipo hormonal e estão envolvidos em diversos processos metabólicos. A microbiota intestinal vai modificar os ácidos biliares que, por sua vez, vão afetar a composição da microbiota intestinal. Staels B, Fonseca VA. Bile acids and metabolic regulation: mechanisms and clinical responses to bile acid sequestration. Diabetes Care. 2009;32 Suppl 2(Suppl 2):S237-S245.  Li R, Andreu-Sánchez S, Kuipers F, Fu J. Gut microbiome and bile acids in obesity-related diseases. Best Pract Res Clin Endocrinol Metab. 2021;35(3):101493.  ) , os (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) ou outras moléculas, por sua vez, vão dar início a determinados mecanismos que terão impacto na obesidade. Por exemplo, uma microbiota alterada afetará o controlo do armazenamento de gordura e aumentará demasiado a recuperação de energia. O intestino e o cérebro vão deixar de conseguir comunicar corretamente, o que leva à desregulação do apetite e da sensação de saciedade.

Microbiota e obesidade: personalizar a nossa alimentação para prevenir melhor

Verifica-se que a nossa alimentação influencia a composição da nossa microbiota. A microbiota da criança evolui durante os primeiros anos de vida, refletindo o ambiente em que se encontra inserida e a sua alimentação. Para os investigadores, é importante realizar intervenções alimentares neste período. Como? Através dos prebióticos naturalmente presentes nos alimentos e que as bactérias adoram, bem como dos probióticos, que são micro-organismos que podemos ingerir diretamente.

Adaptar a alimentação em função das especificidades da microbiota: esta nova abordagem permite prevenir melhor o risco de obesidade desde a infância. E se esta alimentação personalizada for um aliado de peso na luta contra a obesidade, um flagelo mundial que quase triplicou em meio século1? Continua em aberto o campo das possibilidades e das esperanças...

 

https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight

Fontes

Baranowski T, Motil KJ. Simple Energy Balance or Microbiome for Childhood Obesity Prevention? Nutrients. 2021;13(8):2730. Published 2021 Aug 9.  

 

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Cancro da mama, antibióticos e microbiota intestinal: uma combinação perdedora

O recurso a antibióticos é habitual em pacientes com cancro da mama, por exemplo para prevenir infeções oportunistas ou durante períodos de imunodeficiência. Neste estudo, os investigadores demonstram, num modelo de rato com cancro da mama, que os antibióticos, ao induzirem desequilíbrios na microbiota intestinal, podem acelerar o crescimento do tumor.

A microbiota intestinal (MI) tem participação na evolução de certas doenças e de vários cancros. No entanto, existem poucos estudos visando determinar a sua influência no cancro da mama. Por sua vez, os antibióticos têm impacto na população bacteriana da MI. Contudo, a utilização de antibióticos é habitual em pacientes com cancro, apesar de haver controvérsia quanto aos seus benefícios. O que faltava ainda demonstrar? Não existiam investigações que permitissem avaliar os efeitos dos antibióticos na MI e o respetivo impacto na evolução do cancro da mama. Essa lacuna foi agora preenchida através de um estudo em modelo de rato, recentemente publicado em iSciences.

Crescimento acelerado do tumor e depauperamento da microbiota nos ratos tratados com antibióticos

Antes e depois da injeção de células tumorais específicas do cancro da mama, os ratos foram submetidos a um cocktail de antibióticos: vancomicina, neomicina, metronidazol, anfotericina e ampicilina (VNMAA). Relativamente ao grupo de controlo, estes animais exibiram rapidamente um crescimento tumoral significativamente acelerado e um depauperamento considerável da microbiota intestinal.

Os investigadores concentraram-se depois nas consequências de um antibiótico amplamente utilizado em pacientes com cancro da mama: a cefalexina. Ora, embora a cefalexina tenha um impacto mais limitado sobre a microbiota do que o cocktail VNMAA, o aumento no crescimento do tumor foi similar ao induzido por este.

Papel antitumoral de determinadas bactérias intestinais

Nos ratos sob terapia por antibióticos, a metagenómica tornou possível demonstrar a existência de disbiose, não favorável às bactérias patogénicas, mas em detrimento de bactérias protetoras. De facto, os animais tratados com VNMAA e cefalexina apresentaram uma redução da abundância relativa de bactérias que se pensa desempenharem uma função antitumoral: Lactobacillus reuteri, Lachnospiraceae bacterium e Faecalibculum rodentium. A simples reintrodução desta última bactéria tornou possível restaurar o nível de crescimento tumoral anterior.

Os mastócitos, motores do crescimento tumoral em caso de disbiose

As perturbações na microbiota induzidas pelos antibióticos não têm impacto significativo sobre o microambiente imunitário do tumor. Em contrapartida, induzem um aumento do número de mastócitos no estroma tumoral.

Os investigadores trataram os ratos sob terapia antibiótica e os de controlo com cromoglicato, um estabilizador de mastócitos. Embora o cromoglicato mostrasse inibir o crescimento do tumor nos animais tratados com antibióticos, não exerceu qualquer influência sobre os do grupo de controlo. Estes dados sugerem um potencial papel dos mastócitos na evolução do cancro da mama em indivíduos com disbiose induzida por antibióticos.

Ainda que este estudo se concentre num modelo de rato, ele abre novas perspetivas para o tratamento do cancro da mama. É agora essencial compreender de onde vem o referido aumento dos mastócitos, que mudanças ocorrem nestes em resposta à perturbação da microbiota e o que é responsável por induzir essas mudanças e como as promove.

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Microbiota intestinal e quimioterapia: efeitos secundários indesejáveis ou melhor eficácia do tratamento?

Um artigo de análise da literatura avalia as ligações entre a microbiota intestinal e a eficácia e os efeitos secundários indesejáveis da quimioterapia. Explicação.

A quimioterapia melhorou dramaticamente a sobrevivência global dos pacientes com cancro. Em contrapartida, os seus (sidenote: Mais de 87% dos pacientes sob quimioterapia tiveram pelo menos um efeito secundário indesejável. ) continuam a afetar fortemente o respetivo bem-estar físico (vómitos, diarreia, obstipação, fadiga, afrontamentos, etc.) e psicológico (depressão, insónias, problemas cognitivos, etc.). Sem esquecer a incidência de infeções e a morbidade e mortalidade decorrentes, ligadas à imunossupressão. Paralelamente, suspeita-se que a microbiota intestinal esteja associada à eficácia da quimioterapia e aos seus efeitos secundários, embora existam poucos dados disponíveis. Daí esta revisão da literatura abrangendo 17 estudos (ou seja, (sidenote: 5 estudos sobre o cancro colorretal, 3 sobre a leucemia mieloide aguda, 2 sobre o linfoma não-Hodgkin, 1 sobre o cancro da mama, 1 sobre o cancro do pulmão, 1 sobre o cancro dos ovários, 1 sobre o cancro do fígado e os últimos 3 sobre vários outros tipos de cancro. ) ) dedicada à relação entre a microbiota intestinal, a quimioterapia e os efeitos colaterais desta.

Microbiota, eficácia e toxicidade da quimioterapia

Dos 17 estudos examinados, 7 eram de natureza observacional. Três desses estudos avaliaram a ligação entre a microbiota intestinal, a eficácia da quimioterapia e a ocorrência de efeitos secundários recorrendo a amostras fecais colhidas antes da quimioterapia. Os quatro outros averiguaram a associações entre a microbiota intestinal, a quimioterapia e a ocorrência de efeitos secundários pós-quimioterapia usando amostras fecais colhidas após o tratamento. Resultado? A microbiota intestinal está associada à eficácia da quimioterapia e à ocorrência de efeitos colaterais.
 

Os outros 10 estudos, já de natureza prospetiva (permitindo perspetivar relações de causa e efeito), monitorizaram o impacto da quimioterapia na microbiota intestinal (riscos de infeção, diarreia, etc.) durante o tratamento através de múltiplas colheitas de amostras de fezes (antes, durante e/ou após a quimioterapia). E as respetivas conclusões? A quimioterapia modifica a microbiota intestinal das pessoas com cancro. Esse efeito modulador estará associado a um risco acrescido de infeção e exercerá impacto na eficácia do tratamento. Além disso, a disbiose assim induzida parece estar relacionada com os efeitos secundários indesejáveis.

Biomarcação e modulação


Estes resultados abrem amplas perspetivas: a microbiota intestinal não só poderá ser usada como biomarcador para a previsão dos resultados da quimioterapia e dos seus efeitos indesejáveis, como a respetiva modulação durante o tratamento permite a esperança de se poder vir a reduzir os efeitos secundários indesejáveis e melhorar a eficácia do tratamento. Tal esperança é confirmada pelos resultados de alguns estudos de intervenção (prebióticos, atividade física, etc.).


Esta análise das relações complexas entre a microbiota intestinal e a quimioterapia destaca o potencial de pesquisas futuras para se vir a melhorar a prestação de cuidados aos pacientes. E isto mesmo que se saiba da necessidade de realização futura de ensaios multicêntricos internacionais destinados ao fornecimento de dados que tenham em conta os diversos fatores de equívocos (idade, origem étnica, sexo, comorbilidades, drogas, espaço de vivência, dieta, atividade, etc.).

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Quando determinadas bactérias vaginais "marcam na roupa interior" a progressão do cancro do colo do útero

A composição da microbiota do colo do útero altera-se de forma característica no caso de lesões pré-cancerígenas evolutivas. De tal forma que a presença de determinadas bactérias pode levar à suspeita de lesões graves ou até de cancro.

A microbiota vaginal Cancro do estômago

O cancro do colo do útero é o terceiro cancro feminino mais frequente a nível mundial (2.o nas mulheres dos 15 aos 44 anos) e é causado pela persistência do famoso vírus do papiloma humano (HPV), um inimigo público perseguido ativamente nas citologias. De forma geral, o surgimento de um possível cancro é precedido por uma longa fase pré-cancerígena com lesões evolutivas. Os investigadores apresentaram a hipótese de a microbiota vaginal ser um fator influenciador do risco de contaminação pelo HPV, da sua persistência e do desenvolvimento das lesões.

Menos lactobacilos

Ao analisar a microbiota do muco cervical de 94 mulheres com idades compreendidas entre os 18 e os 52 anos, os investigadores provaram que este difere consoante a fase da doença. Quanto mais avançadas estiverem as lesões, maior é a diversidade bacteriana na flora do colo do útero de cada mulher e menor é a predominância dos lactobacilos (bactérias em forma de palitos) que são substituídos por outras bactérias. Contudo, contrariamente à microbiota intestinal, a microbiota vaginal está equilibrada quando apresenta uma diversidade reduzida e uma grande predominância de lactobacilos (> 70% da comunidade bacteriana das mulheres saudáveis). No caso das mulheres com cancro do colo do útero acontece o contrário: máxima diversidade e perda de posição dominante dos lactobacilos.

Microbiota vaginal está equilibrada quando apresenta uma diversidade reduzida!

Saiba mais

Marcadores de lesões avançadas ou de cancro

Segunda observação da equipa: a microbiota vaginal das mulheres com lesões de grau elevado, ou até mesmo cancro, distingue-se cada vez mais daquela das mulheres saudáveis em matéria de leque de bactérias presentes. A existência de novas espécies bacterianas (Porphyromonas, Fusobacterium, Prevotella e Campylobacter) parece estar associada à presença de um cancro cervical, enquanto outras bactérias (Sneathia) indicam a presença de lesões de grau elevado. São as lesões que desequilibram a flora, ou é o desequilíbrio da flora que promove o desenvolvimento de lesões? A relação de causalidade precisa de maior aprofundamento.

De acordo com os investigadores, a presença destas bactérias pode, no futuro, ser analisada como marcador de progressão da doença. A análise da microbiota cervical pode, assim, fazer parte do diagnóstico, ou até mesmo da prevenção e tratamento do cancro do colo do útero. Enquanto esperamos, as citologias regulares continuam a ser a forma de detetar possíveis lesões o mais cedo possível.

Fontes

Wu S, Ding X, Kong Y et al. The feature of cervical microbiota associated with the progression of cervical cancer among reproductive females. Gynecol Oncol. 2021 Sep 6:S0090-8258(21)01314-7.

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Um ácido gordo de cadeia curta da microbiota intestinal pode combater a endometriose?

A endometriose altera consideravelmente a qualidade de vida das mulheres afetadas pelas dores e infertilidade que pode provocar. Apesar de afetar 1 em cada 10 mulheres, os seus mecanismos continuam mal compreendidos e os tratamentos insatisfatórios. Um estudo recente1 em animais abre novas perspetivas ao mostrar que o butanoico, um ácido gordo de cadeia curta produzido pela microbiota intestinal, trava o desenvolvimento das lesões provocadas pela endometriose.

As teorias sobre a origem da endometriose continuam por esclarecer. De acordo com a hipótese que prevalece atualmente, há fragmentos do endométrio que saem do útero para o espaço peritoneal durante a menstruação retrógrada e se implantam nos tecidos circundantes. No entanto, apesar de 90% das mulheres terem menstruações retrógradas, apenas 10% sofrem de endometriose. Além disso, os tratamentos atuais para a doença acarretam efeitos secundários e não previnem a recaída. 

Para apresentar novas soluções terapêuticas às mulheres, é necessário identificar outros fatores que contribuem para a alteração do ambiente peritoneal e para o desenvolvimento de lesões. Neste contexto, a microbiota intestinal suscita a atenção dos investigadores. De facto, a microbiota intestinal das mulheres com endometriose apresenta uma diversidade alfa menor e uma composição bacteriana alterada face às mulheres sem endometriose. Além disso, os metabólitos produzidos pela flora cólica de um modelo de ratos com endometriose são diferentes daqueles dos ratos de controlo. Este ponto é importante, uma vez que é através dos metabólitos oriundos da transformação das fibras alimentares que a microbiota intestinal fornece os seus benefícios ao organismo humano. Entre estes, os ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) como o butanoico, o acetato ou o propionato têm claramente efeitos antiproliferativos e anti-inflamatórios. Nesse sentido, os autores do estudo publicado na Life Science Alliance debruçaram-se sobre o papel dos AGCC na endometriose in vivo num modelo roedor com endometriose e in vitro em células de lesões provocadas pela endometriose.

O ácido butanoico inibe o crescimento de lesões ao ativar diversos mecanismos

Os primeiros resultados demonstram que a endometriose desequilibra a microbiota intestinal dos ratos ao provocar uma redução da produção de ácido butanoico. A equipa observou também que o ácido butanoico (e não outros AGCC como o acetato ou o propionato) inibe o crescimento de lesões provocadas pela endometriose. O ácido butanoico agirá através de, pelo menos, três mecanismos: ativando recetores de membranas acoplados à proteína G (RCPG): GPR43 e GPR109A, inibindo a enzima histona desacetilase (HDAC) e ativando a Rap1GAP (proteína ativadora de GTPase Ras-proximate-1). A Rap1GAP bloqueia a via de sinalização Rap1 implicada na proliferação, migração e aderência das células. Já é conhecida como supressor de tumores, incluindo no cancro no endométrio

Agora, novos estudos devem determinar se as mulheres com endometriose apresentam um teor de ácido butanoico fecal inferior ao das mulheres que não são afetadas pela doença. Se for esse o caso, poderão ser testadas diferentes abordagens para a prevenção do desenvolvimento de lesões: dieta alimentar, análogos do ácido butanoico, complementos à base de ácido butanoico ou probióticos que promovam a produção de ácido butanoico.

Recomendado pela nossa comunidade

"Obrigado por este artigo!" - Comentário traduzido de Diome🌺 (Da Biocodex Microbiota Institute em X)

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Para ver o mundo cor-de-rosa, coma chocolate negro!

Sonha com um (excelente) motivo para comer chocolate negro nos festejos de Ano Novo? Há um estudo clínico que lho oferece numa bandeja! O cacau aumenta a diversidade microbiana intestinal e provoca uma retroação virtuosa no nosso cérebro que se traduz num efeito de "boa sensação" persistente. Gulosos, acabou a culpa!

A microbiota intestinal Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal Perturbações de humor

Os transtornos de humor caracterizam-se por sentimentos de tristeza, impotência, desespero ou ainda irritabilidade. Para melhor prevenir e tratar estes transtornos, a investigação científica estudou, entre outros temas, a nutrição e a microbiota intestinal, o nosso segundo cérebro. Determinados alimentos, como o chocolate, podem regular o nosso humor, embora os resultados sejam frequentemente controversos. Pela primeira vez, um ensaio clínico procura verificar e explicar os efeitos positivos do chocolate negro no nosso humor. Portanto, vamos abrir a caixa juntos e explicar. 

Chocolate negro e bom humor: a prova científica

(sidenote: Shin JH, Kim CS, Cha L, et al. Consumption of 85% cocoa dark chocolate improves mood in association with gut microbial changes in healthy adults: a randomized controlled trial. J Nutr Biochem. 2021;99:108854. )

Ao fim de três semanas, os participantes que tinham consumido diariamente chocolate negro com 85% de cacau apresentaram uma redução significativa de todos os sentimentos negativos, enquanto o grupo que tinha consumido cacau a 70% não apresentou alterações significativas. Assim, os efeitos do cacau no bom humor parecem depender da dose consumida. Atenção que estamos a referir-nos a cacau, e os bombons praliné que comemos no Natal contêm menos de 50%!

Microbiota intestinal e chocolate: um pequeno pecado com benefícios?

O estudo científico também demonstrou que o chocolate negro com 85% de cacau aumenta a diversidade das comunidades microbianas no intestino. Segundo os autores, os polifenóis que existem em grande quantidade no cacau terão uma ação positiva na flora intestinal travando o crescimento de bactérias patogénicas e promovendo o desenvolvimento de bactérias benéficas. Se o intestino e o chocolate parecem unir-se mais no sentido de melhorar a saúde do que no sentido de a piorar, resta uma questão: qual é a ligação com o nosso bom humor? A torre de controlo das emoções não se encontra no cérebro?

Do intestino ao cérebro: uma rede de comunicação digna do Charlie e a Fábrica de Chocolate!

Por via sanguínea ou nervosa, os metabólitos produzidos pelas bactérias da microbiota intestinal afetam o funcionamento do cérebro e, por consequência, as nossas emoções através do eixo intestino-cérebro. O estudo também demonstra a existência de uma associação entre o efeito positivo no humor e a presença de determinadas bactérias benéficas ao consumir chocolate negro com 85% de cacau. Para os autores, este efeito positivo seria mediado pelas alterações na diversidade e abundância de determinadas bactérias da microbiota intestinal. Este estudo sugere, assim, um efeito (sidenote: Prebióticos Os prebióticos são fibras alimentares específicas não digeríveis que têm efeitos benéficos na saúde. São utilizados de forma seletiva pelos micro-organismos benéficos da microbiota do indivíduo. Os produtos específicos que combinam probióticos e prebióticos chamam-se produtos simbióticos. Gibson GR, Hutkins R, Sanders ME, et al. Expert consensus document: The International Scientific Association for Probiotics and Prebiotics (ISAPP) consensus statement on the definition and scope of prebiotics. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2017;14(8):491-502. Markowiak P, Śliżewska K. Effects of Probiotics, Prebiotics, and Synbiotics on Human Health. Nutrients. 2017;9(9):1021. ) do cacau na diversidade da microbiota intestinal e dá-nos uma desculpa para nos deixarmos levar com moderação pela tentação do chocolate…

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Quando as bactérias da microbiota intestinal armazenam medicamentos

A bioacumulação de medicamentos pelas bactérias intestinais modifica a sua disponibilidade e a secreção bacteriana de metabólitos. Com o desfecho possível de disbioses e implicações em termos de farmacocinética, efeitos secundários e reações a medicamentos.

Sabemos que os medicamentos afetam a microbiota intestinal. Mas sabia que também existem interações no sentido inverso? Com um resultado positivo ou negativo na eficácia dos medicamentos. Por exemplo, a lovastatina e a sulfassalazina são transformadas quimicamente pelas bactérias intestinais nas respetivas formas ativas, enquanto a digoxina é inativada pelo metabolismo bacteriano. Recentemente, foram sinalizadas mais de 100 moléculas como sendo afetadas pela microbiota intestinal. E, segundo os resultados de uma equipa de investigação, os mecanismos em jogo estão longe de se limitarem à biotransformação…

Biotransformação e, acima de tudo, bioacumulação

O estudo em causa analisou a fundo as interações entre 25 estirpes representativas das bactérias intestinais humanas e (sidenote: 12 moléculas administradas por via oral e 3 testemunhas: a digoxina (interação altamente específica com Eggerthella lenta), o metronidazol e a sulfassalazina, medicamentos conhecidos por serem metabolizados por diversas bactérias intestinais ) . Os resultados? As culturas in vitro dos 15 × 25 = 375 duos de bactérias e medicamentos identificam 70 interações entre bactérias e medicamentos, das quais 29 (18 espécies, 7 medicamentos) eram desconhecidas até então. Em particular, apenas 12 das 29 novas interações são explicadas por fenómenos de biotransformação. Todas as restantes, ou seja, 17 interações (14 espécies, 4 medicamentos), têm por base a bioacumulação: as bactérias armazenam o medicamento na sua célula sem o modificar e, na maioria dos casos, sem incidência no crescimento da bactéria. Na lista de medicamentos exclusivamente bioacumulados, destacamos a (sidenote: Duloxetina Antidepressivo inibidor da recaptura da serotonina e da noradrenalina ) e o antidiabético rosiglitazona. Contudo, a bioacumulação não é sistemática. Determinadas moléculas (montelucaste, roflumilaste) podem ser bioacumuladas por determinadas espécies bacterianas, biodegradadas por outras.

O caso da duloxetina

A título de exemplo, a equipa aprofundou o estudo da bioacumulação da duloxetina. Esta liga-se a diversas enzimas bacterianas e modifica a secreção de metabólitos pelas bactérias afetadas. Quando testada numa comunidade microbiana de 4  (sidenote: 4 espécies bacterianas Bacteroides thetaiotaomicron, Eubacterium rectale, Lactobacillus gasseri, Ruminococcus ) contendo, alternadamente, bactérias acumuladoras e não acumuladoras, a duloxetina modifica significativamente a composição da comunidade. De facto, a bioacumulação deste medicamento implica, além do armazenamento do medicamento nocivo para determinadas bactérias, a secreção de metabólitos por determinadas espécies (Streptococcus salivarius) que vão agir como substrato de acolhimento para outras (Eubacterium rectale), aumentando assim a sua abundância significativamente. Assim, os medicamentos destinados a pessoas parecem ser capazes de modular as comunidades microbianas intestinais, não só pela inibição direta, mas também através da criação de sinergias de alimentação cruzada. Os resultados foram confirmados de acordo com o modelo Caenorhabditis elegans: as bactérias bioacumuladoras reduzem o efeito da duloxetina no movimento deste verme.

Os resultados deste estudo indicam que a bioacumulação de medicamentos no seio das bactérias intestinais modifica a sua disponibilidade e o metabolismo bacteriano. Tal pode levar a repercussões individuais no seio da composição da microbiota intestinal, mas também na farmacocinética e na reação a medicamentos. Os autores sugerem a criação sistemática de estudos das interações recíprocas entre as bactérias e os medicamentos para estimar mais corretamente os efeitos secundários.

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A microbiota intestinal, uma nova pista para o tratamento da diabetes tipo 2?

Menos diversificadas e esgotadas em certas bactérias: estas são as características da microbiota intestinal das pessoas com diabetes do tipo 2. Estes valiosos dados que apontam para novas formas de prevenir e curar este flagelo mundial da saúde. 

A microbiota intestinal Diabetes do tipo 2

Uma das principais causas da cegueira, da insuficiência renal, de acidentes cardiovasculares e da amputação1, a diabetes é uma doença grave que surge quando o pâncreas não produz insulina suficiente (diabetes do tipo 12), ou, na maioria dos casos, quando o organismo desenvolve uma resistência a esta hormona (diabetes do tipo 2, DT23). Com o número de casos de diabetes a quadruplicar nos últimos 40 anos, afetando agora mais de 420 milhões de pessoas em todo o mundo1, governos e organizações internacionais estão a trabalhar para melhorar o acesso aos cuidados de saúde. O dia mundial acontece todos os 14 de novembro desde 1991 como forma de sensibilizar as populações sobre a doença.

Uma microbiota específica no caso da DT2...

Neste contexto, os investigadores estão a lutar para identificar tanto os fatores envolvidos como os que podem prevenir a doença. Entre estes fatores, a microbiota intestinal está a receber cada vez mais atenção. E com razão: a sua composição tem sido associada ao risco de T2D em vários estudos. No último estudo, os investigadores usaram a artilharia pesada e conseguiram reunir mais de 2.000 participantes (em comparação com algumas centenas, no máximo, em estudos anteriores) a fim de comparar a microbiota dos indivíduos afetados com a dos indivíduos não afetados.

 ... já modificado nas fases iniciais

Os resultados são encorajadores: são observados menos casos de DT2 em pessoas cuja microbiota é diversificada e rica em certas bactérias, capaz de produzir um determinado ácido gordo de cadeia curta especial, o (sidenote: AGCC Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (combustível) para as células do indivíduo. Interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Fontes:
Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25.
)
, um composto com efeitos benéficos no metabolismo e na atividade celular e com propriedades anti-inflamatórias. Os investigadores foram mais longe, mostrando, pela primeira vez, que estas pessoas são também menos afetadas pela (sidenote: Resistência à insulina Uma resposta alterada das células à acção da insulina (uma hormona que ajuda o corpo a utilizar o açúcar para fins energéticos), a resistência à insulina resulta numa má regulação dos níveis de açúcar no sangue. Fontes:
Inserm. La résistance à l’insuline, une histoire de communication. 2018. 
Centers for disease control and prevention. Diabetes - Resources and Publications -Glossary 
)
, um fenómeno que aparece muito cedo no desenvolvimento da DT2. Mais concretamente? A microbiota já tem características específicas nas fases iniciais de desenvolvimento da doença.

Estes resultados particularmente encorajadores contribuem para a nossa compreensão dos fatores envolvidos no desenvolvimento da doença. Melhor ainda, eles poderiam preparar o caminho para novos tratamentos direcionados para um número crescente de pacientes.

Fontes
  1. OMS. Diabète. 13 avril 2021.
  2. Centers for disease control and prevention. What is Diabetes - Type 1 Diabetes _ November 16, 2021. https://www.cdc.gov/diabetes/basics/type1.html
  3. Centers for disease control and prevention. Wh at is Diabetes - Type 2 Diabetes. November 16, 2021. https://www.cdc.gov/diabetes/basics/type2.html 
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