Prever a alergia através do mecónio

Uma menor maturação da microbiota intestinal que afete o desenvolvimento imunitário pode ser resultante da vida in utero. O que chegará para identificar precocemente as crianças com risco alérgico. Ou mesmo para prevenir o aparecimento de sensibilidade às alergias?

É imediatamente após o nascimento que começa a maturação da microbiota intestinal. Essa maturação continua durante os primeiros anos, paralelamente à do sistema imunitário. Ora, o estabelecimento dessa flora intestinal e o desenvolvimento imunitário desempenham parte ativa nas alergias, havendo, para cada uma delas, a suspeita de fatores influenciadores pré-natais. O mecónio, primeiras fezes do bebé, contém metabolitos produzidos ainda in utero. Reflexo das influências perinatais, uma vez que se forma a partir da 16.ª semana de gestação, representa também o substrato de base para a microbiota inicial da criança. Daí este estudo tentar relacionar as assinaturas metabólicas do mecónio, a maturação da microbiota e o desenvolvimento do sistema imunitário.

Menos maturação, mais atopia

Após terem analisado (ARNr 16s) as fezes recolhidas aos 3 meses e 1 ano de 950 crianças da coorte canadiana Child (Canadian Healthy Infant Longitudinal Development), os investigadores chegaram a um primeiro balanço: a microbiota intestinal dos futuros pacientes alérgicos está menos madura, mesmo antes do surgimento da atopia. Assim, os 212 lactentes que com 1 ano de idade viriam a surgir com atopia apresentavam, a partir dos 3 meses, uma microbiota menos madura do que a dos lactentes que não se tornaram atópicos. A abundância relativa de 13 dos 15 taxa mais envolvidos na maturação da microbiota era reduzida nos bebés atópicos.

Influência das exposições pré-natais

Para compreenderem a origem dessa diferença de maturação, os investigadores voltaram atrás no tempo e analisaram, num subgrupo de 100 crianças, amostras de mecónio. Foi lá que puderam observar uma menor diversidade bacteriana nos futuros atópicos. A diversidade metabólica também surgia reduzida, com menos moléculas associadas ao metabolismo dos aminoácidos, vitaminas e hormonas. Isto sugere a existência, desde o nascimento, de diferenças que influenciam o desenvolvimento da microbiota e, em última instância, o próprio desenvolvimento imunitário. Assim, a atopia aos 12 meses de idade estará associada a um mecónio metabolicamente menos rico no momento do nascimento e a uma redução na diversidade e na maturação da microbiota no início da vida. Tal sugere um possível mecanismo de ação: os metabolitos do mecónio, reflexo da exposição pré-natal, seriam metabolizados e fermentados pelas bactérias. Assim, a microbiota intestinal no início da vida, e, consequentemente, o desenvolvimento imunitário, poderão sofrer o impacto da vida intrauterina.

O mecónio não é estéril:

Prevenir... e prever?

Uma melhor compreensão das determinantes pré-natais da composição do mecónio e dos efeitos diretos e indiretos dos seus metabolitos no desenvolvimento imunitário e na colonização bacteriana nos recém-nascidos poderá, em última instância, permitir a prevenção do aparecimento de sensibilidade às alergias. Ou também prever esse risco através das assinaturas metabólicas, embora os primeiros testes dos investigadores (combinando dados do mecónio com dados clínicos da mãe e da criança) apresentem resultados que, embora certamente encorajadores, não são ainda suficientemente precisos.

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Publicações científicas: o estranho caso do Dr. Ciência e Mr. Fraude

O mundo das publicações científicas, indispensável à partilha dos resultados da investigação, é hoje em dia atormentado por dois males: as revistas predatórias e as fábricas de artigos.
Análise de um mundo sem lei nem fé.

Em investigação científica, é a publicação de artigos que permite aos investigadores partilharem as suas descobertas. Há um sistema de revisões cruzadas que garante a qualidade dos trabalhos publicados: qualquer artigo científico numa revista digna desse nome tem de ter sido revisto por outros especialistas nessa área, que podem recusar a publicação se o julgarem incorreto ou sem interesse, podem pedir ao autor melhorias ou explicações, etc. Mas…

Revistas predatórias (predatory journals)

Há revistas que disso só têm o nome: são as revistas predatórias. O seu princípio é simples: o autor paga para ser publicado, não importa a qualidade do artigo. Problema: os próprios investigadores são por vezes enganados, tanto enquanto autores (algumas revistas não predatórias pedem uma contribuição para os custos de publicação), como na qualidade de leitores desses artigos, que eles imaginam serem corretamente sujeitos a revisão por pares. Já em 2012, o americano Jeffrey Beall denunciou essas revistas1,2 propôs uma lista de critérios para as reconhecer (aceitação demasiado rápida de artigos, etc.) e elaborou uma lista dessas ovelhas negras3. Desde então, vários coletivos retomaram o testemunho, incluindo predatoryjournals.com. Para denunciar a extensão dessas práticas, alguns autores chegam a apresentar artigos incríveis: por 55 dólares, autores franco-suíços ridicularizaram uma dessas revistas ao conseguirem a publicação de um artigo alucinante assinado por coautores fictícios, de institutos inexistentes e com nomes sugestivos (Institute for Quick and Dirty Science), usando uma metodologia absurda, com conclusões delirantes (enriquecer o sal de mesa com hidroxicloroquina para reduzir acidentes de trotinete) e apresentando uma bibliografia disparatada.

Fábricas de artigos (paper mills)

E como se esse mal não bastasse, há uma segunda praga assola a publicação científica: as fábricas de artigos (paper mills). Estas fornecem a autores com falta de inspiração, de tempo e de ética, mas que desejam promover as suas carreiras mediante pagamento, artigos prontos a usar cujos dados são totalmente inventados. Como esses artigos podem ser publicados em revistas clássicas (e não apenas em revistas predatórias), torna-se difícil identificá-los. A fraude terá já assumido proporções industriais, podendo atingir os milhares ou dezenas de milhares de artigos4.

A resistência organiza-se

A comunidade científica está a organizar-se para lutar também contra este segundo flagelo. Com cientistas, como a microbiologista Elisabeth Bik5, a assumirem o papel de detetives voluntários. Ao procurar imagens demasiado semelhantes para serem verídicas, ela denunciou no seu blog6, em 2020, 400 artigos presumivelmente de uma única fábrica de artigos chinesa. O Irão e a Rússia estão igualmente no banco dos réus. Na sequência disso, os editores estão a examinar os artigos denunciados, retirando muitos deles ou anexando-lhes a uma menção de "preocupante"7. Os editores sérios têm também mais cuidado com os novos pedidos de publicação, não hesitando em pedir aos autores os dados brutos para poderem validar a veracidade dos estudos realizados.

400 artigos presumivelmente de uma única fábrica de artigos chinesa

Dada a magnitude destes dois fenómenos, a prudência e o sentido crítico permanecem na ordem do dia, porque qualquer pessoa pode ser enganada. Ciente de tais fraudes, o Biocodex Microbiota Institute dedica o maior cuidado à escolha dos artigos que coloca em destaque no seu site.

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Burla, (falsa) ciência e publicações

A publicação de artigos científicos, indispensável à investigação, enfrenta atualmente dois males: as revistas predatórias e os artigos manipulados. Explicação. 

Parecem-se com artigos ou revistas científicas, pelo menos na forma... mas não são nem uma coisa nem outra digna desse nome. Hoje, dois males assolam o mundo da publicação científica: revistas “falsas” e artigos “falsos”. 

Revistas predatórias (predatory journals)

O princípio das revistas predatórias é simples: publicam artigos porque os respetivos autores lhe pagam para o fazer, e não devido à qualidade desses artigos. Tal permite a alguns autores a publicação de resultados medíocres sem qualquer mérito. Permite também a grupos de interesses dar destaque a estudos que sabem ser tendenciosos ou falsificados, no sentido de promover o produto ou o setor por eles representado (por exemplo um medicamento). Problema: é difícil reconhecer essas revistas predatórias porque se parecem como duas gotas de água com as verdadeiras, das quais plagiam por vezes até o nome. E isto a tal ponto que enganam bons cientistas, quer fazendo com que permitam a publicação nelas de bons artigos, quer levando-os a deixarem-se influenciar pelos maus que leem. Felizmente, há listagens on-line dessas revistas predatórias (mais de 14.000 títulos recenseados no início de 2021), publicadas por associações e por investigadores que não deixam de as perseguir, como https://predatoryjournals.com.

Fábricas de artigos (paper mills)

Além dessas "revistas falsas", há também "artigos falsos" escritos por "fábricas" cujo trabalho é fornecer ao preço da chuva artigos prontos a usar a autores em busca de inspiração ou de promoção na carreira. O problema é que, frequentemente, os resultados científicos são quase totalmente inventados e os dados em que se baseiam inteiramente errados. De tal forma que é possível ler aqui e ali, mesmo em revistas muito boas e que foram enganadas, artigos sobre o cancro, por exemplo, cujos dados são pura ficção científica.

14.000 Mais de 14.000 títulos recenseados no início de 2021

400 Mais de 400 artigos de investigação falsos que foram publicados

Elisabeth Bik, uma microbiologista holandesa especializada em integridade científica (e em microbiota!), identificou mais de 400 artigos de investigação falsos que foram publicados na China por apenas uma dessas fábricas de artigos1. Por isso, e embora os investigadores persigam implacavelmente essas ovelhas negras da publicação científica, é necessário cautela, porque qualquer pessoa pode ser enganada. Ciente de tais fraudes, o Biocodex Microbiota Institute dedica o maior cuidado à escolha dos artigos que coloca em destaque no seu site.

Criadora dos blogs Integrity Digest (sobre integridade científica) e Microbiome Digest (sobre a investigação no domínio da microbiota).

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Síndrome do cólon irritável: o transplante de microbiota fecal é eficaz a longo prazo

Este estudo de acompanhamento1 confirma que os efeitos benéficos do transplante de microbiota fecal recorrendo a um único "super-doador" se mantêm, um ano após o tratamento, no que respeita aos sintomas da síndrome do intestino irritável e à melhoria da qualidade de vida.

SII

Depois de terem demonstrado, no decurso de um estudo anterior2, que o transplante de microbiota fecal (TMF) era eficaz durante 3 meses na melhoria dos sintomas abdominais, da fadiga e da qualidade de vida em pacientes com Síndrome do Cólon Irritável (SCI), os investigadores decidiram prolongar o acompanhamento da sua coorte durante um ano para avaliar os efeitos a longo prazo. Esse é o objeto deste novo estudo.

Os benefícios mantêm-se passado 1 ano 

Entre os pacientes com SCI, 77 dos 91 pacientes que apresentaram resposta ao TMF no estudo anterior (redução ≥ 50 pontos no critério de avaliação da gravidade da SCI) foram acompanhados durante 1 ano após o TMF. Entre esses pacientes, 31 deles haviam recebido um transplante de fezes de 30 g e 40 outros de 60 g, de um único "super-doador".

"Super-doador"

 Com 36 anos de idade, este homem caucasiano foi qualificado de "super-doador" por estar de boa saúde, ter um IMC normal e fazer regularmente exercício. Tinha nascido de parto natural e sido amamentado. Não tomava qualquer medicamento, tinha recebido apenas três tratamentos com antibióticos ao longo da vida e tomava regularmente suplementos alimentares.

Um ano após o TMF, 86,5% dos pacientes do grupo dos 30 g e 87,5% do grupo dos 60 g mantiveram a resposta ao transplante; além disso, os sintomas abdominais e a fadiga surgiram significativamente menos graves e a qualidade de vida significativamente melhor após 1 ano do que após 3 meses. Paralelamente, 32,4% dos pacientes do grupo de 30 g e 45% do grupo de 60 g apresentaram remissão completa ao fim de 1 ano, em comparação com 21,6% e 27,5% (respetivamente) após 3 meses (p = 0,1 e p = 0,4, respetivamente). Todos os pacientes com recidivas (n = 10) utilizavam medicação regularmente. Não existiram diferenças nas taxas de resposta e de melhoria dos sintomas entre homens e mulheres, nem entre os diferentes subtipos de SCI.

Melhoria da diversidade bacteriana intestinal

Embora o índice de disbiose (ID) não tivesse melhorado no estudo anterior um mês após o TMF, isso alterou-se passado um ano, sinal do aumento da diversidade bacteriana. Nos grupos de 30 g e de 60 g, a abundância de várias bactérias aumentou significativamente um ano depois do TMF; a abundância de Bacteroides stercoris e Alistipes spp., bem como de Bacteroides spp. e Prevotella spp., surgiu inversamente correlacionada com a gravidade da SCI e da fadiga do paciente em ambos os grupos, tal como a de Parabacteroides spp. para o grupo de 60 g. Nenhum marcador bacteriano apareceu significativamente alterado no grupo de pacientes com recidiva clínica um ano após o TMF. Por outro lado, os ácidos gordos de cadeia curta fecais também se alteraram - aumento dos ácidos isobutírico e isovalérico, diminuição do ácido acético - nos pacientes em remissão completa e nos que apresentaram resposta, sugerindo que o metabolismo microbiano mudou de um padrão de fermentação sacarolítica para outro de fermentação proteolítica nestes pacientes um ano após TMF. 

Além de leves dores abdominais intermitentes, diarreia e obstipação que ocorreram durante os primeiros dois dias após o TMF, nenhum evento adverso foi comunicado durante o período de acompanhamento. Tal como o primeiro estudo, o TMF confirma seu potencial. Parece assim ser altamente promissor  para o tratamento a longo prazo dos sintomas da SCI e para a restauração da microbiota intestinal. 

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Antibióticos: fator de perturbação no desenvolvimento neurológico dos bebés?

Os antibióticos são muitas vezes indispensáveis ao tratamento de certas infeções desde a mais tenra idade. Mas, ao desequilibrarem a microbiota, será que poderão influenciar o desenvolvimento do sistema nervoso da criança e contribuir para certas doenças como o autismo?
Um recente estudo experimental1 em ratos fornece respostas iniciais - que são cautelosas.

A microbiota intestinal Transtornos do espetro do autismo 6 coisas essenciais sobre os antibióticos

Aquilo que designamos por perturbações do desenvolvimento neurológico (PDN), como o autismo ou a perturbação de défice de atenção com ou sem hiperatividade (PHDA ) deve-se a distúrbios que ocorrem nos primeiros meses de vida, quando o sistema nervoso central (cérebro, nervos, medula espinal, etc.) se encontra ainda em construção. A sua origem ainda é pouco conhecida, mas sabe-se que há múltiplos fatores genéticos e ambientais que entram em jogo no seu aparecimento. E se os antibióticos fossem um deles? 

Antibióticos

Salvaram milhões de vidas, mas a sua utilização excessiva e inadequada suscitou agora sérias preocupações para a saúde, nomeadamente com a resistência aos antibióticos e a disbiose microbiota. Todos os anos, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização Antimicrobiana (WAAW) para aumentar a consciência sobre a resistência antimicrobiana. Vamos ver esta página. 

Antibióticos: que impacto na microbiota e na saúde?

Saiba mais

O eixo intestino-cérebro em questão

Há muitas pistas que poderão indicar isso, de acordo com cientistas americanos. De facto, as PDN têm aumentado claramente nas últimas décadas, enquanto os antibióticos só se encontram disponíveis desde o pós-guerra. Nos Estados Unidos, as crianças tomam antibióticos, em média, três vezes antes dos 2 anos, um período crítico para o desenvolvimento neurológico. 

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WMD_quiz periodo perinatal_PT

Sabe-se também que o intestino é nosso "segundo cérebro": existe um "eixo" de comunicação bioquímica entre os dois órgãos. Pesquisas recentes tendem a sugerir que os antibióticos tomados durante a infância perturbam a microbiota intestinal ainda em construção e que as disbioses estão associadas a várias doenças, inclusivamente neurológicas ou psiquiátricas.2 

Os investigadores administraram, portanto, doses muito baixas de antibióticos da família da penicilina em ratinhos recém-nascidos durante 3 semanas. Ao compararem a sua microbiota com a de ratinhos não tratados, observaram uma alteração na respetiva flora intestinal, em particular uma diminuição das bactérias “boas”, os lactobacilos. Mas, além disso, identificaram 74 genes no seu córtex frontal e 23 genes na amígdala apresentando diferenças na sua atividade. Ora, essas duas partes do cérebro têm forte participação nas funções emocionais e cognitivas, mas também são altamente vulneráveis a perturbações iniciais. Os investigadores conseguiram ainda demonstrar a ligação entre certos microrganismos da microbiota e expressões genéticas nessas zonas do cérebro.

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Dysbiose pathologies PT

O papel e o impacto dos antibióticos no desenvolvimento neurológico das crianças necessitam ainda de ser explorados 

A toma de antibióticos muito cedo na vida, mesmo que em doses reduzidas, pode, por conseguinte, ter efeitos na atividade de certos genes em áreas do cérebro do rato (córtex frontal e amígdala), as quais, nos seres humanos, têm participação nas PDN. Mas os cientistas mostram-se cautelosos: não determinaram com toda a certeza se essas mudanças na expressão genética eram diretamente decorrentes dos antibióticos ou dos respetivos efeitos na microbiota. Também ficou ainda por provar se essas alterações são importantes para o desenvolvimento neurológico. E, é claro, os resultados obtidos em ratos não são necessariamente transponíveis para o ser humanos: servem, sobretudo, para abrir caminho para novas investigações.

O que é a Semana Mundial de Sensibilização para os Antimicrobianos?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial da Conscientização Antimicrobiana (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência antimicrobiana mundial.

A resistência antimicrobiana ocorre quando as bactérias, vírus, parasitas e fungos alteram-se com o tempo e já não respondem aos medicamentos. Como resultado da resistência aos medicamentos, os antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos tornam-se ineficazes e as infeções tornam-se cada vez mais difíceis ou impossíveis de tratar, aumentando o risco de propagação de doenças, doenças graves e morte.

Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizar cuidadosamente antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasíticos, de forma a evitar o surgimento futuro de resistência antimicrobiana. 

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Aspirina: efeito antibiótico no cancro colorretal?

Conhecida pelos seus efeitos anti-inflamatórios, a aspirina também manifesta ação antibiótica face a certas bactérias envolvidas no cancro colorretal. Ao ponto de prevenir, in vitro e in vivo, a tumorigénese.

O conhecimento das correlações clínicas e dos potenciais papéis mecanicistas de certos microrganismos do intestino e da microbiota tumoral no início, progressão e sobrevivência do cancro colorretal (CCR) está a avançar. Mas ainda há um longo caminho a percorrer antes de se chegar a abordagens diagnósticas, preventivas ou terapêuticas que envolvam a microbiota. Mais um passo acaba, contudo, de ser dado: uma equipa demostrou que a aspirina, um quimiopreventivo recomendado pela (sidenote: United States Preventive Services Task Force Um painel independente e voluntário de especialistas nacionais em prevenção de doenças e em medicina baseada em evidências. 
 
)
para a profilaxia do CCR, exerce efeitos específicos sobre a (sidenote: Fusobacterium nucleatum Presença acrescida nos adenomas do cólon e CCR do ser humano, responsável pela proliferação tecidual in vitro e nos modelos animais.  ) , uma bactéria associada à doença.

Efeito in vitro e in vivo

Investigadores americanos acabaram de demonstrar que a aspirina interrompe o crescimento da cepa Fn7-1 de F. nucleatum ou pode mesmo matá-la, in vitro, em culturas de tecidos de adenomas do cólon humano. Em doses que não inibem o crescimento bacteriano, a aspirina influencia a expressão genética de Fn7-1: 55 genes são sobrerregulados e 155 são subregulados.

Foram também realizadas experiências in vivo pelos investigadores a fim de avaliar a relevância da modulação de F. nucleatum pela aspirina. Num modelo de rato, foi inoculada diariamente Fn7-1 por via oral para induzir um tumor intestinal: uma dieta enriquecida com aspirina bastou para inibir a tumorigénese observada nos ratos em comparação com a que não recebeu aspirina. O efeito protetor da aspirina também foi encontrado relativamente a outras cepas de F. nucleatum, incluindo algumas isoladas de tecidos CRC humanos, revelando-se estas mais sensíveis do que a cepa Fn7-1. Em contrapartida, o efeito protetor revelou-se muito mais moderado face a outras bactérias associadas ao CCR, como a Bacteroides fragilis enterotóxica e a Escherichia coli produtora de colibactina.

Finalmente, uma (sidenote: PCR quantitativa Método específico de PCR (reação em cadeia da polimerase) que permite medir a quantidade inicial de ADN. 
 
)
realizada no ADN de adenomas de pessoas que tomam aspirina diariamente, mostrou uma abundância 2 a 3 vezes menor de fusobactérias nesses tecidos em comparação com a dos pacientes do grupo de controlo. Este resultado sugere que o efeito modulador observado in vitro se verifica no ser humano.

Efeito antibiótico além do efeito anti-inflamatório

O conjunto destes dados confirma a atividade antibiótica direta da aspirina contra as cepas de F. nucleatum. O seu efeito protetor nos adenomas e no cancro colorretal excede, portanto, o seu papel anti-inflamatório. Parece promissor ter em consideração os efeitos da aspirina na microbiota para se otimizar a avaliação do risco/benefício da sua utilização na prevenção e tratamento do CCR. No entanto, o efeito anti-inflamatório da aspirina não é provavelmente suficiente para interromper a tumorigénese em sua totalidade. Portanto, continuam a ser necessários mais estudos antes de se perspetivar a sua utilização para melhorar o prognóstico do CCR, que é a segunda causa de morte por cancro em todo o mundo.

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Alergias: o papel da vida in utero

Mesmo antes do nascimento da criança, a sua vida in utero poderá determinar o risco de ela vir a sofrer de alergias. Como? Através de um mecónio menos rico, o qual afetará o desenvolvimento da sua microbiota intestinal e, em última instância, do seu sistema imunitário.

Rinite alérgica Asma e microbiota Eczema alérgico Alergias alimentares

Se há quem leia o futuro nas borras de café, os investigadores estão a começar a prever o risco de alergias no (sidenote: Mecónio Primeira matéria fecal eliminada por um recém-nascido, contendo o líquido amniótico absorvido no útero. O mecónio ajuda a identificar os microrganismos que revestem o trato gastrointestinal do feto. ) , as primeiras fezes dos bebés semelhantes ao alcatrão. Eczemas, alergias alimentares, asma, rinite alérgica: quase 1 em cada 3 crianças hoje atualmente de alergias. No entanto, muitas coisas poderão acontecer antes mesmo do nascimento. Daí a ideia dos investigadores de estudar o mecónio que começa a formar-se ainda no útero materno, a partir da 16ª semana de gestação.

Fundo alérgico desde a gravidez?

Os seus resultados suportam a ideia de que o estabelecimento da alergia começa muito antes dos seus primeiros sintomas: assim, a partir dos 3 meses, os bebés futuramente com alergias apresentam uma microbiota intestinal menos diversificada e menos madura. Por isso, os investigadores foram estudar o que existe a montante, as primeiras fezes, o famoso mecónio. Constataram no mecónio o mesmo que aos três meses: uma menor diversidade de bactérias presentes, e uma diversidade reduzida nas moléculas produzidas por esses microrganismos. 

O aparecimento de uma alergia poderá, portanto, explicar-se pelo seguinte mecanismo: durante a gravidez, fatores ambientais que favorecem a alergia poderão modificar a composição do mecónio, que surge menos rico em metabolitos no nascimento. Como as primeiras bactérias a colonizar o tubo digestivo do bebé se alimentam desses metabolitos, o mecónio menos rico corresponde a uma perda de diversidade e de maturação da microbiota no início da vida. 

Prevenir... e prever?

As consequências destas descobertas são múltiplas. Por um lado, os investigadores esperam um dia conseguir prevenir tais alergias. Isso implicará uma melhor compreensão não apenas daquilo que afeta in utero a composição do mecónio, mas também de como os diferentes metabolitos do mecónio influenciam a colonização bacteriana nos recém-nascidos. Por outro lado, esperam ser capazes de vir a prever o risco de alergias, baseando-se na composição do mecónio no recém-nascido. Enquanto se aguarda, só é possível recomendar que as mulheres grávidas adotem um estilo de vida saudável durante a gravidez.

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Um novo marcador inesperado para prever a evolução do cancro da próstata: a microbiota intestinal

De acordo com um novo estudo publicado na Cancer Science, a composição da microbiota intestinal poderia ser utilizada como marcador de risco elevado do cancro da próstata.

Depois de ter demonstrado que as bactérias intestinais e os seus metabólitos (ácidos gordos de cadeias curtas AGCC) favorecem o crescimento das células cancerígenas nos modelos de murina de cancro da próstata, os investigadores deste novo estudo quiseram aprofundar a ligação entre a microbiota intestinal (MI) e o prognóstico de cancro da próstata no homem. E os resultados são, no mínimo, surpreendentes…

Uma coorte "descoberta" e outra de "teste" 

Foram incluídos no estudo 152 homens japoneses sujeitos a uma biópsia da próstata (96 positivos e 56 negativos) e distribuídos aleatoriamente por duas coortes: a coorte "descoberta" (114 pacientes) e a coorte de "teste" (38 pacientes). Em cada coorte foram estabelecidos dois grupos de comparação: um grupo grave (homens com cancro da próstata de grau 2 ou mais) e um grupo negativo/grau 1 (homens com biópsia negativa ou cancro da próstata de grau 1). As amostras foram recolhidas durante o toque retal antes do tratamento com antibióticos profiláticos e da biópsia da próstata. A composição da microbiota intestinal foi determinada por sequenciação do gene de ARNr 16S.

Bactérias específicas abundantes assinalam a gravidade

Embora não tenha sido observada nenhuma diferença significativa da diversidade bacteriana entre os grupos de pacientes, três táxons bacterianos (Rikenellaceae, Alistipes e Lachnospira) eram mais abundantes nos pacientes com cancro da próstata grave. O estado metastático dos pacientes, por seu lado, não estava ligado à presença destas bactérias. Os dados microbianos também foram utilizados para prever os perfis funcionais das microbiotas dos pacientes: (sidenote: Metabolismo do amido e da sacarose, biossíntese dos fenilpropanoides, biossíntese da fenilalanina, da tirosina e do triptofano, metabolismo dos aminoácidos ciano e metabolismo da histidina )  eram mais frequentes nos pacientes com cancro da próstata grave.

Rumo a um índice microbiano fecal da próstata? 

Em seguida, os investigadores avaliaram se os perfis microbianos permitiam identificar os pacientes com cancro da próstata de risco elevado na coorte de "teste". As três bactérias identificadas anteriormente não permitiram, por si só, distinguir os homens com cancro da próstata grave. Utilizando o modelo de regressão LASSO, puderam ser identificadas 18 unidades taxonómicas operacionais (OTU) suplementares. Estes grupos bacterianos estavam fortemente associados (positiva ou negativamente) a um cancro da próstata de risco elevado na coorte "descoberta" e foram utilizados para criar um índice microbiano fecal da próstata (FMPI — Fecal Microbiome Prostate Index). Na coorte de "teste", este FMPI não só era significativamente mais elevado nos pacientes com cancro da próstata grave (P < 0,001) como permitia detetar estes pacientes com um rigor mais importante do que a dosagem tradicional do PSA (antigénio específico da próstata) no sangue. 

Embora estes resultados sejam muito encorajadores, a coorte de estudo era composta apenas por homens japoneses residentes em zona urbana e com um estilo de vida semelhante. Para corroborar estes primeiros resultados, é conveniente alargar o campo da investigação a outras populações.

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Transplante de microbiota fecal: um novo tratamento para a síndrome do intestino irritável?

Um novo estudo demonstra que o transplante de microbiota fecal contribui para a melhoria dos sintomas da síndrome do intestino irritável e da qualidade de vida dos pacientes, inclusivamente um ano após o tratamento. No entanto, é essencial que o dador seja saudável. 

A microbiota intestinal Doenças gastrointestinais funcionais Transplante fecal
SII

Dores, cãibras, flatulência, diarreia, obstipação, etc. A síndrome do intestino irritável é uma doença que se manifesta por um conjunto de sintomas abdominais que aparecem e desaparecem ao longo da vida do paciente. Estes sintomas podem ser exacerbados pelo stress, por alterações emocionais ou pela ingestão de determinados alimentos e alteram significativamente a qualidade de vida do paciente. Se não existir nenhum problema anatómico ou estrutural no intestino das pessoas que sofrem desta síndrome, muitas vezes, equaciona-se a possibilidade de esta estar relacionada com problemas a nível da microbiota intestinal

Um dador único com uma supermicrobiota?

Os investigadores deste estudo testaram através de um ensaio clínico a eficácia de um transplante de microbiota fecal com recurso a uma amostra de fezes de um único homem caucasiano de 36 anos1 que satisfazia todos os requisitos de um “superdador”: pessoa saudável com IMC normal que faz exercício físico com regularidade, nasceu de parto natural e foi amamentada. Além disso, este homem não tomava nenhum medicamento, não foi tratado com antibióticos mais do que três vezes ao longo da sua vida e tomava regularmente suplementos alimentares. Neste ensaio clínico, o transplante de microbiota fecal revelou-se eficaz nos pacientes que sofrem de síndrome de cólon irritável. No entanto, estes resultados apenas foram observados 3 meses após o transplante e há muitas questões a que falta dar resposta (por exemplo, ainda não se sabe se o efeito clínico do transplante se mantém a longo prazo). Durante um estudo em curso, os investigadores continuaram a acompanhar estes pacientes durante um ano. 

Benefícios sempre presentes após 1 ano 

A maioria dos pacientes que reagiram ao transplante de microbiota fecal após 3 meses mantiveram a reação após 1 ano. O facto de os seus sintomas abdominais, fadiga e qualidade de vida terem melhorado substancialmente em relação aos 3 meses após o transplante é outro resultado encorajador. Ainda melhor, entre 32 e 45% dos pacientes (consoante os grupos) tiveram uma remissão completa durante o ano em que foram acompanhados. A análise completa da microbiota intestinal dos pacientes demonstrou a existência de alterações a nível do perfil bacteriano intestinal e de uma diminuição significativa do índice de disbiose.

Em suma, o transplante de microbiota fecal de um “superdador” permite restabelecer a microbiota intestinal e diminuir os sintomas dos pacientes que sofrem de síndrome do intestino irritável. 

 

1. El- Salhy M, Hatlebakk JG, Gilja OH, et al. Efficacy of faecal microbiota transplantation for patients with irritable bowel syndrome in a randomised, double- blind, placebo- controlled study. Gut. 2020;69(5):856- 867.

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Já ouviu falar de “disbiose”?

A disbiose é uma rutura do equilíbrio delicado entre os milhares de milhões de micro-organismos da microbiota humana e das suas boas relações com o nosso corpo. Genética, alimentação desequilibrada, antibióticos, etc. Há vários fatores causadores de disbiose, sendo esta, na maioria das vezes, causada por múltiplos fatores. Hoje em dia, a investigação científica demonstra que a disbiose da microbiota intestinal (a mais estudada), bem como a das nossas outras microbiotas, como a do sistema vaginal, cutâneo ou pulmonar, está associada a diferentes doenças, desde a síndrome do colón irritável até às disfunções metabólicas, como a obesidade, ou até à sinusite crónica e ao eczema. Como é que a microbiota pode ficar desequilibrada? Quais são as consequências de uma disbiose para a nossa saúde? Como podemos restabelecer o equilíbrio da microbiota?

Passamos a explicar.

O que é a disbiose?

Primeiro, olhemos para a própria palavra: “disbiose”. A etimologia deste termo científico é realmente muito simples! Em grego, a palavra bios significa “vivo” e o prefixo dis- significa “mau”.

Pode definir-se “disbiose” como uma alteração na composição e função da microbiota. Esta alteração resulta de uma combinação de fatores ambientais e de fatores específicos de cada pessoa1.

À medida que os micro-organismos colonizam todo o nosso corpo, é possível observar uma disbiose na:

  • Microbiota intestinal: várias doenças foram associadas à disbiose intestinal: diarreia associada a antibióticos14, gastroenterite17, cólica infantil44
  • Microbiota da pele: a disbiose é frequentemente associada a condições patológicas (acne45, dermatite atópica46)
  • Microbiota vaginal: a disbiose vaginal está associada à vaginose bacteriana1, à candidíase47, à fertilidade reduzida48 ou a um risco acrescido de parto prematuro1
  • Microbiota ORL (otorrinolaringológica): várias doenças podem estar associadas ao desequilíbrio da microbiota oral, auricular ou nasofaríngea
  • A microbiota pulmonar: a disbiose pode contribuir para o desenvolvimento de infeções respiratórias de inverno49, asma50 e fibrose quística51
  • A microbiota urinária: estudos publicados demonstraram que a microbiota urinária pode desempenhar uma função nas infeções do trato urinário52

A disbiose na ordem do dia: a microbiota intestinal 

A nossa microbiota intestinal é a principal microbiota do corpo humano 2. Alberga, pelo menos, 1000 espécies diferentes 3 de micro-organismos, nomeadamente bactérias, fungos e vírus. Os grupos dos Firmicutes (que inclui os lactobacilos, que são “bactérias boas” bastante conhecidas) e dos Bacteroidetes representam, no seu conjunto, 70% a 90% da comunidade bacteriana do nosso intestino 2-4. A nossa microbiota também contém Actinobacteria, das quais fazem parte as bifidobactérias, que são famosas pelos benefícios que proporcionam. Há outros micro-organismos da nossa microbiota que nos podem deixar doentes: são os chamados agentes “potencialmente patogénicos", mas são uma minoria 2. A disbiose traduz-se por um ou mais dos fenómenos abaixo:

  • As proporções entre estas grandes famílias de bactérias modificam-se significativamente, havendo nomeadamente uma perda de lactobacilos e bifidobactérias 5;
  • Os micro-organismos úteis que costumam viver na nossa microbiota (micro-organismos “comensais”) diminuem ou desaparecem 1.
  • A diversidade dos micro-organismos presentes na microbiota fica mais pobre, ou seja, a microbiota fica com menos espécies diferentes 5.
  • Os micro-organismos potencialmente patogénicos da microbiota proliferam1,5.

Por conseguinte, a nossa microbiota fica mais frágil e as bactérias “más” prevalecem sobre as “boas” 2. Desta forma, a microbiota protege menos o nosso organismo contra as agressões e assegura as suas funções essenciais para a nossa boa forma e saúde de maneira menos eficaz 1,6.

1000 Alberga, pelo menos, 1000 espécies diferentes de micro-organismos.

O que é uma disbiose?

Embora a disbiose não seja considerada uma doença por si só, foi associada a vários problemas de saúde e pode contribuir para o desenvolvimento ou agravamento de determinadas condições médicas.

Desequilíbrios da microbiota próprios de cada pessoa

No entanto, a disbiose não é um termo universal que se pode aplicar a todos e em todas as circunstâncias!1 Na verdade, é influenciada pelos nossos genes e pelos micro-organismos (definição: organismos vivos que são demasiado pequenos para se ver a olho nu, que incluem, entre outros, bactérias, vírus, fungos, arqueia, protozoários e que costumam ser chamados “ (sidenote: https://microbiologysociety.org/why-microbiology-matters/what-is-microbiology.html ) ”) que colonizaram o nosso corpo nos nossos primeiros anos de vida. A composição da nossa microbiota é pessoal e varia tanto de uma pessoa para outra que pode inclusivamente ser específica de cada pessoa tal como uma impressão digital.7 Contudo, também pode evoluir consoante a nossa idade, o nosso estado de saúde, o nosso nível de stress, a nossa alimentação, o local onde vivemos, os medicamentos que tomamos, entre outros.8 Desta forma, cada um de nós pode ter a “sua” disbiose quando a nossa microbiota se desequilibra e deixa de funcionar corretamente no nosso organismo.1

Mas então o que é uma microbiota equilibrada?

O prefixo dis- de disbiose é o oposto de eu- (“bom”) ou de sim- (“com”).  Como tal, falamos de “eubiose” ou de “simbiose” quando a nossa microbiota está de boa saúde, ou seja, quando ela interage de forma harmoniosa com o nosso organismo e quando a sua comunidade microbiana está equilibrada.1

Na verdade, os milhares de milhões de micro-organismos que compõem a nossa microbiota e habitam no nosso corpo beneficiam-se mutuamente.9 Cada um tira proveito do que precisa. O organismo fornece alimento e abrigo aos micro-organismos da microbiota, e estes, por sua vez, contribuem para diferentes funções importantes do nosso corpo como a digestão, a absorção de nutrientes, a proteção da impermeabilidade da parede intestinal e a luta contra os germes indesejáveis.2,8,10 É um verdadeiro trabalho de equipa! 

Os diferentes micro-organismos da comunidade da nossa microbiota, incluindo os potenciais agentes patogénicos, estão presentes em número e proporções adequadas para coabitarem pacificamente e assegurarem as funções benéficas para o organismo. No entanto, o equilíbrio frágil entre ecossistemas microbianos do nosso corpo pode entrar em rutura. Quando isto acontece, a eubiose converte-se em disbiose.8

O que provoca uma disbiose?

Tal como indica a sua definição, a disbiose aparece como resultado de diferentes fatores muito diferentes e, muitas vezes, correlacionados5. Podemos, contudo, distinguir:

os que estão associados à própria pessoa, tais como: 

  • a genética;1 
  • a idade;11
  • alguns problemas de saúde e lesões;1

os que estão associados ao contexto da pessoa, tais como:

  • a toma de medicamentos (antibióticos, anti-inflamatórios, etc.);2,5
  • as infeções;12
  • o estilo de vida: alimentação desequilibrada ou mudanças a nível alimentar, stress, tabagismo, higiene inadequada, etc.;1, 5,8
  • a poluição.8

O que pode causar uma disbiose?

Nos antibióticos: insubstituíveis, mas disruptores da microbiota

Os antibióticos foram um dos progressos terapêuticos mais importantes do século XX. Desde a descoberta da penicilina em 1928, estes medicamentos permitiram salvar milhões de vidas.13 No entanto, como destroem não só os germes nocivos, mas também as bactérias “boas”, os antibióticos desequilibram a microbiota. A curto prazo, a disbiose resultante da toma de antibióticos pode manifestar-se sob a forma de diarreia14 ou micose vaginal.15 Também se suspeita de que a disbiose intestinal induzida por antibióticos tem um impacto a longo prazo, nomeadamente quando se tomam antibióticos durante a infância, contribuindo para o aumento do risco de aparecimento de diferentes doenças crónicas como a obesidade ou alergias.16

Nas infeções: quando os micróbios atacam

Quando há infeções como as gastroenterites virais ou intoxicações alimentares por salmonela, os germes nocivos e ofensivos invadem a microbiota. Estes germes não têm origem na microbiota, mas sim no exterior, sendo transmitidos, por exemplo, por mãos ou alimentos contaminados. Estas infeções desencadeiam reações fortes do nosso sistema imunitário, inflamações intestinais e diarreia. Por sua vez, tudo isto provoca perturbações abruptas do equilíbrio da nossa flora intestinal. Além disso, os micróbios que causam estas infeções podem promover o desenvolvimento de outras bactérias potencialmente patogénicas que já estão presentes na microbiota. Desta forma, as infeções provocam disbioses com as quais todos os germes nocivos beneficiam. 1,12,17,18

Na alimentação: o equilíbrio da microbiota no nosso prato

O que comemos afeta a nossa microbiota ao longo da nossa vida. As grandes mudanças alimentares (a nível de composição ou quantidade) podem desencadear uma disbiose. Mas isto não é tudo. Se as variações normais das nossas ementas de um dia para o outro só provocarem mudanças transitórias da microbiota, o nosso tipo de alimentação pode mudar de forma duradoura o ecossistema digestivo5 e contribuir para o aparecimento de disbiose no futuro. Desta forma, estudos sugerem que a dieta “ocidental” rica em gordura, açúcar e proteína promove o desequilíbrio da microbiota intestinal, ao passo que uma alimentação variada e rica em fruta e legumes pode protegê-la.1,19

Antibióticos

Salvaram milhões de vidas, mas a sua utilização excessiva e inadequada suscitou agora sérias preocupações para a saúde, nomeadamente com a resistência aos antibióticos e a disbiose microbiota. Todos os anos, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW) para aumentar a consciência sobre a resistência antimicrobiana. Vamos ver esta página. 

Antibióticos: que impacto na microbiota e na saúde?

Saber mais
O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência antimicrobiana mundial.

A resistência antimicrobiana ocorre quando as bactérias, vírus, parasitas e fungos alteram-se com o tempo e já não respondem aos medicamentos. Como resultado da resistência aos medicamentos, os antibióticos e outros medicamentos antimicrobianos tornam-se ineficazes e as infeções tornam-se cada vez mais difíceis ou impossíveis de tratar, aumentando o risco de propagação de doenças, doenças graves e morte.

Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizar cuidadosamente antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiparasíticos, de forma a evitar o surgimento futuro de resistência antimicrobiana. 

Para cada microbiota, uma disbiose e patologias próprias

A disbiose: causa ou consequência de uma doença?

Vários estudos que compararam as microbiotas de pessoas saudáveis e doentes demonstraram que a disbiose está associada a diversas patologias crónicas — não só a doenças intestinais como a síndrome do cólon irritável ou a Doença de Crohn, como também à obesidade, às alergias, à asma e a alguns cancros1.  Mas será a disbiose que provoca a doença ou a doença que dá origem à disbiose? Para os cientistas, a resposta a esta pergunta nem sempre é evidente, mas é objeto de várias investigações em curso.

Para esclarecer esta questão, em 2019, os investigadores deram início ao Homo symbiosus, um grande projeto de investigação que tem como objetivo determinar melhor a forma e o motivo pelo qual há tantas doenças crónicas associadas à disbiose intestinal. Os investigadores colocaram a hipótese de que “todos estes fenómenos de disbiose intestinal, proliferação microbiana, inflamação e enfraquecimento da parede intestinal se provocam mutuamente”10.

A disbiose da microbiota intestinal está associada a diversas doenças, incluindo condições digestivas, metabólicas22, alérgicas23 e até mentais24. Contudo, o corpo humano abriga também ecossistemas microbianos específicos na pele25, no trato urinário26, na vagina27, na boca28 e nos pulmões29, cuja composição pode ficar desequilibrada e associada a doenças específicas.

Como podemos restabelecer o equilíbrio da microbiota?

Normalmente, após um episódio de disbiose, a microbiota consegue recuperar naturalmente o seu equilíbrio inicial (embora nunca recupere totalmente a sua composição inicial). Quando isto acontece, dizemos que a microbiota é “resiliente”30. Contudo, por vezes, esta “rebiose”, ou seja, a recuperação do equilíbrio microbiano, pode demorar algum tempo. Por exemplo, mesmo num adulto saudável, a rebiose pode ocorrer seis meses após a toma de um antibiótico31. Acontece que a disbiose pode acabar por provocar um estado de desequilíbrio que se vai perpetuar e autossustentar de forma duradoura sem se conseguir restabelecer completamente, o que pode ser prejudicial para a saúde1.

O que se deve fazer perante uma disbiose? Há muitas soluções à nossa disposição para restabelecer o equilíbrio de uma microbiota e melhorar a saúde.

Observatório Internacional de Microbiotas

Descubra os resultados de 2023
Os probióticos: micro-organismos benéficos de reforço

Os probióticos são “micro-organismos vivos que, quando são administrados em quantidades adequadas, beneficiam a saúde do hospedeiro”.32,33 Pode clicar aqui para aceder a uma página com informações sobre probióticos, o seu funcionamento e fabrico, a forma como os pode escolher corretamente, entre outros. Visite a nossa página dedicada aos probióticos.

Os prebióticos: para sustentar a nossa microbiota

Os prebióticos provêm principalmente das fibras alimentares (fruto-oligossacarídeos, galacto-oligossacarídeos, inulina, etc.) e são substratos ou elementos nutritivos indigeríveis que são utilizados pelos micro-organismos da microbiota e que afetam positivamente a saúde.34,35 Pode clicar aqui para obter mais informações sobre a forma como afetam a microbiota. Os produtos específicos que combinam probióticos e prebióticos chamam-se produtos simbióticos.36,37

Uma alimentação saudável para manter um bom funcionamento

O que comemos, bem como a qualidade e diversidade dos alimentos que ingerimos, não só contribuem para o equilíbrio da nossa microbiota intestinal,38-39 como também influenciam a sua composição e, por conseguinte, conduzem ao aparecimento de algumas doenças22. Não hesite em contactar o seu médico de clínica geral e/ou o seu dietista para conhecer melhor os alimentos com efeitos benéficos ou nocivos para manter os seus intestinos na melhor forma 40  e manter-se saudável!

Transplante de microbiota: uma técnica promissora

Tal como acontece com alguns órgãos do corpo humano, a microbiota pode ser transplantada noutra pessoa para se tentar restabelecer o equilíbrio do seu ecossistema microbiano.41,42 Atualmente, esta abordagem terapêutica está bem documentada para a microbiota intestinal, sendo conhecida como transplante de microbiota fecal (TMF), mas apenas se permite a sua aplicação no tratamento de infeções recorrentes por Clostridioides difficile.41 Ainda assim, é objeto de investigação intensiva para outras patologias intestinais.41 No âmbito vaginal, o transplante de microbiota vaginal (TMV) está em estudo e pode representar uma opção promissora para o tratamento da vaginose bacteriana refratária ou recorrente.41 Os estudos sobre transplantes de microbiota cutânea ainda são raros, mas os primeiros resultados são promissores.44,45

"Informativo" -Peggy Rhinelander (Da My health, my microbiota)


"É absolutamente fascinante a forma como a disbiose revela as ligações ocultas entre a nossa saúde e o microbiota!" -Aware Health Rewards App (Da My health, my microbiota)

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