Lúpus - uma doença autoimune

Lúpus, também designado por lúpus eritematoso sistémico ou disseminado, é uma doença autoimune. A microbiota gastrointestinal pode estar envolvida nesta doença. 

A microbiota intestinal

O número de pessoas afetadas por lúpus é difícil de determinar. Estima-se que a sua prevalência em todo o mundo varie entre 10 a 150 casos por cada 100 000 pessoas, das quais a maior parte é mulher (85 %).

Quando o sistema imunitário ataca as suas próprias células

Por razões que permanecem desconhecidas, o sistema imunitário de pessoas afetadas pelo lúpus produz auto-anticorpos, que provocam reações inflamatórias e lesões que podem afetar todos os tecidos. Um leque alargado de sintomas resulta daí: fadiga, erupção cutânea, dor articular, olhos secos, perda de cabelo, trombose, febre, pleurisia e pericardite. A doença progride em surtos de duração e intensidade variáveis, que alternam com períodos de remissão. O diagnóstico do lúpus é confirmado por teste sanguíneo e a extensão das lesões é medida através de exames de imagem.

A causa é desconhecida, mas há fatores que predispõem para a doença

Ainda que as causas do lúpus permaneçam desconhecidas, vários fatores que predispõem para a doença foram identificados: estrogénios, uma disposição genética, certos medicamentos, radiação UV, stress e certos vírus (vírus Epstein-Barr). Trabalhos de investigação têm vindo a examinar o papel da microbiota intestinal. Na verdade, um desequilíbrio (disbiose) foi observado em doentes com lúpus durante o período de remissão. A microbiota pode ainda estar envolvida na produção de auto-anticorpos.

Reduzir e espaçar os surtos

Não há medicação que cure o lúpus. Contundo combinações de várias moléculas (anti-inflamatórios não-esteroides, antimaláricos, corticosteroides, imunossupressores e anticorpos monoclonais, dependendo da gravidade da doença) atenuam os surtos, limitam complicações e aumentam os períodos de remissão. Ao mesmo tempo, tratamentos de longa duração menos agressivos previnem o aparecimento de novas crises.

Se o papel da microbiota se confirmar, a sua modulação através da dieta ou de probióticos pode tornar-se uma opção terapêutica promissora.

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Doença

Arterite reumatoide

A arterite reumatoide é uma doença inflamatória das articulações que afeta muitas articulações. Uma das causas de que se suspeita é a interação da flora intestinal com uma predisposição genética específica. 

A microbiota intestinal
Actu PRO : Polyarthrite : le microbiote intestinal altéré dès les stades précoces

Aproximadamente 1 % da população adulta sofre de artrite reumatoide (AR), com maior prevalência nas mulheres do que nos homens.

Uma doença autoimune que progride em surtos

A AR é uma doença autoimune que progride em surtos e que causa inflamação persistente das articulações, sobretudo nos pés e nas mãos. Inchaço, dor e rigidez das articulações são os sintomas principais. Sem tratamento médico, a AR espalha-se para novas articulações e deforma-as ou até as destrói, progressivamente.

Uma predisposição genética emparelhada com desequilíbrio da microbiota

Apesar de existirem genes para a predisposição da AR, não são suficientes para causar a doença. Interagem com fatores ambientais, entre os quais as microbiotas intestinal e bocal vêm sendo consideradas. Na verdade, os doentes apresentam desequilíbrios microbianos (disbiose) muito similares aos observados em doentes afetados por doenças inflamatórias dos intestinos e que diminuem com o tratamento.

Probióticos como terapia adjuvante

Não há tratamento que cure a AR, mas há formas de abrandar a sua progressão e aliviar os sintomas: medicação para a dor, terapia de controlo (imunossupressores ou biofármacos), reabilitação (terapia física, ergoterapia, balneoterapia, etc.). Probióticos foram recentemente utilizados como terapia suplementar, o que é considerado uma abordagem promissora.

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Transtornos do espetro do autismo

Transtornos do espetro autismo (TEA) referem-se a um conjunto de doenças neurobiológicas que afetam as interações sociais. Podem ter uma origem gastrointestinal. 

Actu PRO : Autisme : découverte d’un nouveau lien avec le microbiote intestinal

Os TEA incluem o autismo, claro, mas também a Síndrome de Asperger, a Síndrome de Landau-Kleffner e a PGD-SOE (Perturbação Global do Desenvolvimento Sem Outra Especificação).

Rapazes 4 vezes mais afetados que raparigas

Em todo o mundo, os transtornos do espetro autismo afetam aproximadamente uma em cada 160,2 crianças, afetando 4 vezes mais os rapazes que as raparigas.
Apesar da diversidade dos transtornos, os TEA têm características em comum: problemas de comunicação, alterações nas relações sociais, interesses limitados e problemas de comportamento.

Sinais indicativos para estar atento

Certos sinais indicativos devem ser vistos em consulta: uma criança que seja indiferente aos sons em seu redor, que não aponte com o dedo, que evite o contacto com os olhos, que não reage a separações ou encontros, cujas atividades motoras sejam limitadas e repetitivas, etc. Apenas um especialista pode sugerir ou excluir um diagnóstico de TEA e definir o tratamento.

Causas ainda desconhecidas

Ainda que as causas para os transtornos do espetro autismo permaneçam desconhecidas, investigadores têm estudado de perto as causas relacionadas com fatores ambientais e genéticos. Além disso, estudos clínicos têm demonstrado a existência de disbiose em crianças autistas,5 associada a uma alteração na atividade metabólica na microbiota intestinal.

Nenhum tratamento até à data

Esta descoberta leva à ideia de que corrigir desequilíbrios no ecossistema digestivo pode melhorar as anomalias comportamentais nos TEA e abrir novas perspetivas terapêuticas. Estudos clínicos acerca das conexões biológicas entre o autismo e a microbiota intestinal têm vindo a ser avaliados.

Até à data, nenhuma medicação cura os TEA; um tratamento específico para as necessidades de cada criança pode, ainda assim, melhorar consideravelmente a sua qualidade de vida.

Recomendado pela nossa comunidade

"Obrigado pela consciencialização" - Comentário traduzido de Marge OBrien (Da My health, my microbiota)

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Fibrose Quística

A fibrose quística é uma doença genética rara que se manifesta através de problemas respiratórios e digestivos graves. Parece haver uma ligação entre estes sintomas e a microbiota gastrointestinal. 

A microbiota ORL

Estima-se que 105.000 pessoas foram diagnosticadas com fibrose quística em 94 países. A França foi o primeiro país do mundo a introduzir o rastreio à nascença.

Alteração na proteína CFTR envolvida

A fibrose quística é causada por uma alteração na proteína CFTR (do inglês, Cystic Fibrosis Transmembrane conductance Regulator), resultante de uma mutação no seu gene. A proteína CFTR normal regula trocas de água e sais minerais ao longo das membranas celulares. Quando existe uma alteração nesta proteína, há um aumento na viscosidade do muco, fazendo com que este se acumule no trato respiratório e digestivo. Esta acumulação é o cenário ideal para infeções bacterianas no trato respiratório e pode levar mesmo levar a falência respiratória. No sistema digestivo, a fibrose quística leva a insuficiência pancreática que afeta a digestão, a absorção de nutrientes, o crescimento e manifesta-se com alternância entre diarreia e obstipação.

Desequilíbrio na microbiota

Um desequilíbrio na microbiota intestinal pode estar associado aos sintomas respiratórios da fibrose quística. Esta disbiose, observada antes do aparecimento dos primeiros sinais, pode ser agravada pela doença e estar associada ao tratamento com antibióticos. Contribui para a subnutrição, atrasos no crescimento e, mais comummente, para complicações digestivas e respiratórias nestes doentes.

Reduzir sintomas

O tratamento a estes doentes é dado em centros especializados; o seu objetivo específico é limpar os brônquios usando descongestionantes brônquicos e broncodilatadores, em combinação com sessões de reabilitação respiratória. A cada três a quatro meses, é prescrito tratamento com antibióticos. Problemas digestivos são tratados com uma dieta hipercalórica, suplementada com extratos pancreáticos e vitaminas.

No futuro, novas estratégias terapêuticas que visem impactar a microbiota durante as primeiras semanas de vida através da amamentação ou do uso de probióticos poderão atrasar as lesões respiratórias, reforçar o sistema imunitário destes doentes e, como resultado, reduzir a morbilidade e mortalidade associadas à fibrose quística.

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Infeções respiratórias de inverno

Constipação, bronquite, inflamação por Streptococcus… é difícil passar o inverno sem ser afetado por pelo menos uma destas infeções respiratórias. Em termos preventivos, a terapêutica probiótica pode estimular as defesas imunitárias. 

A microbiota pulmonar

As doenças de inverno, que são a maior parte das vezes virais, têm geralmente sintomas semelhantes à gripe (vírus influenza), sendo por isso que são chamadas doenças semelhantes à gripe ou sintomas semelhantes aos da gripe.

Sintomas semelhantes aos da gripe, muitas vezes confundidos com gripe

Os sintomas semelhantes aos da gripe incluem alguns ou todos os seguintes sintomas: febre > 38.5º C, arrepios, tosse, fadiga, dor muscular, dor de garganta, dor de cabeça, pingo no nariz, etc. Apenas análises ao sangue podem confirmar a infeção por vírus influenza.

Sobrecarga do sistema imunitário

As defesas imunitárias intestinas protegem de ataques por agentes patogénicos como bactérias e vírus. Contudo, no inverno, o sistema imunitário é atacado com maior frequência. Passamos mais tempo confinados e os espaços são menos arejados. Como resultado, é transmitida uma maior quantidade de micróbios em circulação (ar expirado, tosse, espirros).

Estudos sobre a terapia probiótica

A natureza viral das infeções respiratórias de inverno exclui imediatamente o uso de antibióticos. O tratamento é sintomático: paracetamol, em conjunto com hidratação e descanso, está na base das prescrições médicas.
O uso de probióticos tem-se provado eficaz em estudos clínicos das doenças respiratórias de inverno. O uso diário de probióticos por vários meses reduz a febre, o pingo no nariz e a tosse. Leva ainda à redução da prescrição de antibióticos e ao número de dias de doença.

Recomendado pela nossa comunidade

"Tomar um prebiótico e um probiótico é útil . Um intestino saudável é um sistema imunitário saudável." - Sharon Smerek (Da My health, my microbiota)

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Doenças inflamatórias do intestino (DII)

As Doenças Inflamatórias do Intestino (DII) incluem a Doença de Crohn e a colite ulcerosa. Estas doenças não têm influência na esperança de vida, mas alteram significativamente a qualidade da mesma. Os planos terapêuticos estão a começar a visar a microbiota. 

A microbiota intestinal
DII
IBD the role of gut microbiota viruses

A DII, a Doença de Crohn e a colite ulcerosa são caracterizadas por inflamação na parede de parte do trato digestivo, que está relacionada com hiperatividade do sistema imunitário digestivo. Durante as crises na DII, os sintomas mais comuns são a dor abdominal e a diarreia, que pode por vezes ser hemorrágica. Estas doenças podem ainda apresentar sinais em sistemas fora do trato digestivo, incluindo nas articulações e nos sistemas oftálmico, cutâneo e hepático.

As DII afetam 1 em cada 1000 pessoas na Europa Ocidental e aparecem mais frequentemente entre os 20 e os 40 anos. Estas doenças seguem percursos intermitentes, com alternância entre períodos de surto e remissão. Na Doença de Crohn, esta inflamação pode estar localizada em todas as porções do sistema digestivo, da boca ao ânus, ainda que seja mais comummente encontrada no intestino. A colite ulcerosa localiza-se no reto e no cólon.

Doenças multifatoriais

As causas de DII incluem predisposição genética, fatores ambientais como a poluição e a dieta, o sistema imunitário e a microbiota intestinal. As DII podem ainda ser causadas por uma diminuição à exposição a microrganismos durante a infância, resultante de uma higiene excessiva, por exemplo.

Conteúdo intestinal modificado

A microbiota intestinal parece desempenhar um papel importante, ainda que pouco conhecido, na inflamação característica das DII. Numerosos estudos têm observado disbiose nestes doentes, i.e., uma alteração no equilíbrio da microbiota, relacionado com fatores genéticos e ambientais. As bactérias anti-inflamatórias, em particular, estão enfraquecidas. Esta desregulação altera o conteúdo microbiano do intestino e pode levar a inflamação crónica.

Esperança no tratament

Não há terapêutica que cure, mas os anti-inflamatórios podem ajudar nas crises dolorosas. Hoje em dia, o tratamento inclui terapêutica com corticosteroides, tratamento com chamados “imunomoduladores”, que consegue diminuir as reações do sistema imunitário, como os inibidores do TNFα, e cirurgia, em 80 % dos casos na Doença de Crohn e 20 % na colite ulcerosa. Raramente estas medidas promovem uma cura definitiva. Investigadores estão atualmente a tentar identificar o papel da microbiota nas DII, tentando reduzir a presença de agentes patogénicos e aumentar o crescimento de microrganismos bons.

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Eczema alérgico

O eczema alérgico, ou dermatite atópica, é uma doença da pele que combina a secura da pele com comichão. Não contagioso, este problema de pele aparece provavelmente por predisposição para alergias, onde a microbiota desempenha um papel importante. 

A microbiota da pele

Três vezes mais comum do que há 30 anos, hoje, o eczema afeta até 20 % das crianças. Tornou-se o problema de pele mais comum na infância nos países desenvolvidos. Contudo, na maioria dos casos, o eczema desaparece na adolescência e apenas 10 a 15 % dos doentes fica afetado para o resto da vida.

Uma resposta imunitária excessiva

O eczema está relacionado com uma predisposição genética que altera a barreira cutânea. Esta alteração abre caminho para que alergénios penetrem na pele, o que causa uma resposta imunitária excessiva. Podem ainda estar envolvidas alterações, observadas nestes doentes, na composição e diversidade das microbiotas intestinal e cutânea.

O eczema aparece muito cedo na infância (entre os 1 e os 3 meses) com pele áspera e seca e o aparecimento de manchas vermelhas que dão muita comichão durante as crises inflamatórias.

Limitar a irritação da pele

O tratamento para o eczema tenta, primeiro, limitar a irritação da pele (vestindo roupas de algodão, usando géis sem sabão, sendo cauteloso a lavar a pele, etc.) e reduzir as lesões cutâneas através de cremes hidratantes e esteroides de uso tópico. Nos casos mais graves, o médico pode prescrever anti-histamínicos a curto prazo.

Os probióticos melhoram os sintomas

Outra abordagem: corrigir a disbiose (desequilíbrio na flora intestinal) modificando as microbiotas intestinal e cutânea. Vários estudos têm mostrado que os probióticos melhoram os sintomas do eczema (em particular lactobacilos) e reduzem a inflamação intestinal nos bebés afetados. Dados como tratamento preventivo na mulher grávida, podem reduzir a frequência dos sintomas no bebé.

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Asma e microbiota

Doença respiratória crónica bastante vulgar que atinge tanto adultos como crianças, a asma afeta mais de 260 milhões de pessoas em todo o mundo.1 Trata-se da doença crónica mais comum entre as crianças.1 A asma não controlada, que é a forma mais debilitante da doença, tem consequências graves para o dia-a-dia dos pacientes. A descoberta do envolvimento das microbiotas intestinal, pulmonar e nasal na evolução da asma vem abrir novas perspetivas terapêuticas. Explicações.

A microbiota pulmonar
Actu GP On lève le pied sur le ménage ! les poussières protègeraient contre l'asthme !

O que é a asma?

A asma é uma doença respiratória crónica que se manifesta através de tosse persistente, respiração ofegante, falta de ar, capacidade respiratória reduzida ou uma combinação de todos estes sintomas.1 Os mesmos resultam do estreitamento das vias aéreas nos pulmões, devido a uma inflamação dos brônquios.1 Revela-se através de crises, que são mais frequentes durante a noite ou aquando de atividades que envolvam esforço físico. A gravidade e a frequência dessas crises variam de paciente para paciente.1

Já sabia?

  • A asma é uma patologia que afeta mais as crianças do que os adultos. Em contrapartida, a mortalidade é mais elevada entre os adultos.2
  • A asma infantil é mais vulgar nos rapazes mas, entre os adultos, são as mulheres as mais afetadas.2

Predisposições e fatores desencadeadores de asma

A asma é uma doença complexa e multifatorial. Pode surgir em pessoas com predisposição genética (com fundo alérgico) e/ou devido à exposição a fatores ambientais, como os alérgenos (pólen, ácaros do pó doméstico), os fumos do tabaco e outros, ou a poluição atmosférica. As emoções fortes, o ar frio ou o exercício físico podem também desencadear crises. Por fim, há ainda fatores individuais que também podem ter contribuição ativa, como as infeções ou a obesidade.2

Qual a relação com a microbiota?

Numerosos estudos constatam o papel que poderá ser desempenhado pelas nossas várias microbiotas no aparecimento da doença:

Microbiota intestinal

Microbiota intestinal: uma diversidade reduzida, isto é, um desequilíbrio na respetiva composição (a que se chama (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ), durante os primeiros anos de vida encontra-se associada a um agravamento do risco de se vir a sofrer de asma posteriormente na infância.3 De facto, há alguns investigadores que sustentam que uma análise da microbiota intestinal das crianças poderá permitir prever o risco de aparecimento da doença.4 Um dos fatores de desequilíbrio que é bastante estudado é o impacto dos antibióticos quando são tomados logo nas primeiras semanas ou mesmo meses de vida, isto é, quando a microbiota intestinal e a imunidade estão ainda em vias de amadurecimento.5 Alguns estudos têm demonstrado uma associação entre essa toma e o aumento do risco de asma mais tarde na infância.6 Uma equipa de investigação defendeu, recentemente, a tese de a disbiose intestinal que surge nos lactentes expostos a antibióticos poder ser responsável pela asma nessas crianças.7 No entanto, o referido mecanismo ainda está por confirmar.

Microbiota pulmonar

Microbiota pulmonar: é também apontada como tendo um papel importante, embora se trate de uma área de investigação em plena expansão e onde os conhecimentos são ainda bastante limitados.8 A deteção nos pacientes de uma flora pulmonar peculiar, com assinaturas específicas, sugere a existência de um participação sua na asma.9,10 Além disso, tudo indica que a função respiratória em casos de asma moderada a grave esteja relacionada com o grau de inflamação nos pulmões, e também com a composição da microbiota.11,12 A investigação avança no sentido de se confirmarem estes resultados, e a caracterização das populações bacterianas existentes no trato respiratório inferior tem como objetivo principal permitir a prestação de melhores cuidados aos pacientes, para além de uma melhor previsão das crises.10

Microbiota nasal

Microbiota nasal: aqui, uma vez mais, os dados são ainda muito limitados. No entanto, um desequilíbrio na sua composição também poderá estar associado à patologia13 ou à gravidade das crises,14 sem que a respetiva relação causal se encontre ainda estabelecida. Finalmente, como para o caso da microbiota intestinal, um estudo muito recente abrangendo 700 crianças sugere que a alteração da microbiota nasal por antibióticos tomados antes da idade de 1 ano poderá explicar a ocorrência de asma infantil por volta dos 7 anos.15 Obviamente, isto terá ainda de ser confirmado.

Viver com asma: que tratamentos e que soluções?

Embora a asma não possa ser curada, há tratamentos que asseguram aos pacientes com asma uma melhor qualidade de vida para lhes permitir um dia-a-dia normal e ativo. Utilizam-se tratamentos sintomáticos principalmente para reduzir a intensidade dos ataques agudos através da abertura dos brônquios. Recorre-se também a terapêuticas de fundo visando, por sua vez, a redução da inflamação nas vias aéreas para melhorar a função respiratória, reduzindo assim a gravidade das crises.1 

Estudos científicos sobre a relação entre a microbiota e a asma sugerem que uma alteração da microbiota poderá prevenir esta doença, o que leva os investigadores a concentrarem os seus esforços na utilização de probióticos e prebióticos.16,17 A utilização destes como tratamento está também a ser estudada.18

Será que existem fatores de proteção?

Aparentemente, a exposição a (sidenote: Microrganismos Organismos vivos que são demasiado pequenos para serem vistos a olho nu. Incluem as bactérias, os vírus, os fungos, as arqueias, os protozoários, etc., e são vulgarmente designados "micróbios". What is microbiology? Microbiology Society. ) durante a infância será benéfica para prevenir a asma. Contrariamente à crença popular, viver num ambiente estéril não exerce necessariamente qualquer efeito protetor face às doenças respiratórias. Assim, há alguns estudos que demonstram que o pó doméstico não constitui forçosamente um fator de risco de desenvolvimento da doença.19 Outros estudos têm destacado uma diminuição do risco de asma nas crianças nascidas e criadas no campo20 e com animais domésticos.21

Este artigo recorre a fontes científicas homologadas mas, em caso de sintomas, não hesite em consultar o seu médico generalista ou o seu pediatra.

Fontes

1 World Health Organization. 2021. Asthma. World Health Organization, Geneva, Switzerland. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/asthma

Dharmage SC, Perret JL, Custovic A. Epidemiology of Asthma in Children and Adults. Front Pediatr. 2019 Jun 18;7:246. 

Abrahamsson TR, Jakobsson HE, Andersson AF, et al. Low gut microbiota diversity in early infancy precedes asthma at school age. Clin Exp Allergy. 2014 Jun;44(6):842-50. 

Stokholm J, Blaser MJ, Thorsen J, et al. Maturation of the gut microbiome and risk of asthma in childhood. Nat Commun. 2018 Jan 10;9(1):141. 

Coker MO, Juliette C. Madan JC. Chapter 3 - The microbiome and immune system development, The Developing Microbiome. Academic Press. 2020. p 43-66.

Murk W, Risnes KR, Bracken MB. Prenatal or early-life exposure to antibiotics and risk of childhood asthma: a systematic review. Pediatrics. 2011 Jun;127(6):1125-38. 

Patrick DM, Sbihi H, Dai DLY, et al. Decreasing antibiotic use, the gut microbiota, and asthma incidence in children: evidence from population-based and prospective cohort studies. Lancet Respir Med. 2020 Nov;8(11):1094-1105. 

Hauptmann M, Schaible UE. Linking microbiota and respiratory disease. FEBS Lett. 2016 Nov;590(21):3721-3738.

Millares L, Bermudo G, Pérez-Brocal V, et al. The respiratory microbiome in bronchial mucosa and secretions from severe IgE-mediated asthma patients. BMC Microbiol. 2017 Jan 19;17(1):20. 

10 Sullivan A, Hunt E, MacSharry J, et al. 'The Microbiome and the Pathophysiology of Asthma'. Respir Res. 2016 Dec 5;17(1):163. 

11 Turturice BA, McGee HS, Oliver B, et al. Atopic asthmatic immune phenotypes associated with airway microbiota and airway obstruction. PLoS One. 2017 Oct 20;12(10):e0184566.

12 Taylor SL, Leong LEX, Choo JM, et al. Inflammatory phenotypes in patients with severe asthma are associated with distinct airway microbiology. J Allergy Clin Immunol. 2018 Jan;141(1):94-103.e15. 

13 Kang HM, Kang JH. Effects of nasopharyngeal microbiota in respiratory infections and allergies. Clin Exp Pediatr. 2021 Apr 15.

14 Zhou Y, Jackson D, Bacharier LB, et al. The upper-airway microbiota and loss of asthma control among asthmatic children. Nat Commun. 2019 Dec 16;10(1):5714.

15 Toivonen L, Schuez-Havupalo L, Karppinen S, et al. Antibiotic Treatments During Infancy, Changes in Nasal Microbiota, and Asthma Development: Population-based Cohort Study. Clin Infect Dis. 2021 May 4;72(9):1546-1554. 

16 Meirlaen L, Levy EI, Vandenplas Y. Prevention and Management with Pro-, Pre and Synbiotics in Children with Asthma and Allergic Rhinitis: A Narrative Review. Nutrients. 2021 Mar 14;13(3):934. 

17 Fonseca VMB, Milani TMS, Prado R, et al. Oral administration of Saccharomyces cerevisiae UFMG A-905 prevents allergic asthma in mice. Respirology. 2017 Jul;22(5):905-912. 

18 Chiu CJ, Huang MT. Asthma in the Precision Medicine Era: Biologics and Probiotics. Int J Mol Sci. 2021 Apr 26;22(9):4528. doi: 10.3390/ijms22094528.

19 O'Connor GT, Lynch SV, Bloomberg GR, et al. Early-life home environment and risk of asthma among inner-city children. J Allergy Clin Immunol. 2018 Apr;141(4):1468-1475. 

20 Depner M, Taft DH, Kirjavainen PV, et al.  Maturation of the gut microbiome during the first year of life contributes to the protective farm effect on childhood asthma. Nat Med. 26(11):1766-1775. 2020 ;

21 Mäki, J.M., Kirjavainen, P.V., Täubel, M. et al. Associations between dog keeping and indoor dust microbiota. Sci Rep. 2021 Mar 5;11(1):5341.

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Rinite alérgica

A rinite alérgica, ou febre dos fenos, é a manifestação mais comum de uma alergia respiratória. É causada por uma resposta imunitária anormal e excessiva quando o organismo encontra uma substância estranha ou à qual se tornou sensível. A rinite alérgica está associada a uma disbiose das microbiotas ORL e intestinal. 

A microbiota ORL

400 milhões de pessoas afetadas 

Sensação de formigueiro, espirros, lacrimejo, comichão, obstrução nasal ou corrimento nasal... Embora muito frequente, a rinite alérgica tem um impacto real na vida das pessoas.  Estima-se que 400 milhões de pessoas sejam afetadas por esta alergia respiratória 1
A rinite alérgica diz-se sazonal (conhecida como "febre dos fenos") quando está associada a pólenes de árvores, gramíneas ou herbáceas, e perene quando se deve a alergénios presentes durante todo o ano, como ácaros, bolores ou pelos de animais (gatos, cães) 2

40% A rinite alérgica afeta até 40% da população mundial com elevada prevalência.

Sintomas da rinite alérgica 

A rinite alérgica tem sintomas muito característicos, geralmente associados 3

  • Prurido (comichão, irritação) 
  • Anosmia (perda de olfato) 
  • Rinorreia (corrimento nasal) 
  • Espirros repetidos 
  • Obstrução nasal (nariz entupido) 

Na rinite alérgica sazonal ou na rinite alérgica perene, estes sintomas agravam-se. 

Microbiotas alteradas 

Foram demonstrados desequilíbrios ao nível da microbiota intestinal e da microbiota ORL (nariz-garganta-ouvidos), também designadas «disbiose », em casos de rinite alérgica. Esta disbiose é caracterizada por uma baixa diversidade da microbiota intestinal 4,5 e uma composição diferente da microbiota ORL (nariz-garganta-ouvidos) em comparação com indivíduos saudáveis 6-8. Resumidamente, todos os fatores suscetíveis de afetar a microbiota intestinal (antibióticos, dieta, etc.) durante o período perinatal podem ter efeitos a longo prazo na suscetibilidade a alergias 9

Tratamentos da rinite alérgica 

O tratamento da rinite alérgica baseia-se em 3 vias: remoção de alérgenos, medicação e dessensibilização. Também existem tratamentos sintomáticos, que visam melhorar o seu conforto 10. A abordagem que consiste em corrigir a (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) e reequilibrar as microbiotas utilizando probióticos é objeto de estudos cujos resultados parecem promissores. Estes probióticos seriam eficazes na melhoria dos sintomas da rinite alérgica e da qualidade de vida dos pacientes 11

Fontes

1 Nur Husna SM, Tan HT, Md Shukri N, et al. Allergic Rhinitis: A Clinical and Pathophysiological Overview. Front Med (Lausanne). 2022 Apr 7;9:874114. 
2 Saleh HA, Durham SR. Perennial rhinitis. BMJ. 2007 Sep 8;335(7618):502-7.  
3 Brożek JL, Bousquet J, Agache I, et al. Allergic Rhinitis and its Impact on Asthma (ARIA) guidelines-2016 revision. J Allergy Clin Immunol. 2017 Oct;140(4):950-958.  
4 Kaczynska A, Klosinska M, Chmiel P, et al. The Crosstalk between the Gut Microbiota Composition and the Clinical Course of Allergic Rhinitis: The Use of Probiotics, Prebiotics and Bacterial Lysates in the Treatment of Allergic Rhinitis. Nutrients. 2022 Oct 16;14(20):4328.  
5 Coker MO, Juliette C. Madan JC. Chapter 3 - The microbiome and immune system development, The Developing Microbiome. Academic Press. 2020. p 43-66. 
6 Lyu J, Kou F, Men X, Liu Y, Tang L, Wen S. The Changes in Bacterial Microbiome Associated with Immune Disorder in Allergic Respiratory Disease. Microorganisms. 2022 Oct 19;10(10):2066.  
7 Kang HM, Kang JH. Effects of nasopharyngeal microbiota in respiratory infections and allergies. Clin Exp Pediatr. 2021 Apr 15. 
8 Zhou Y, Jackson D, Bacharier LB, et al. The upper-airway microbiota and loss of asthma control among asthmatic children. Nat Commun. 2019 Dec 16;10(1):5714. 
Kalbermatter C, Fernandez Trigo N, Christensen S, et al. Maternal Microbiota, Early Life Colonization and Breast Milk Drive Immune Development in the Newborn. Front Immunol. 2021 May 13;12:683022. 
10 Richard D deShazo, Stephen F Kemp. Patient education: Allergic rhinitis (Beyond the Basics). UpToDate. 2021 
11 Luo C, Peng S, Li M et al. The Efficacy and Safety of Probiotics for Allergic Rhinitis: A Systematic Review and Meta-Analysis. Front Immunol. 2022 May 19;13:848279.  

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Alergias alimentares

As alergias alimentares são um fenómeno constantemente em progressão e permanecem difíceis de tratar. Contudo, novas terapias têm vindo à luz com a descoberta do envolvimento da microbiota. 

A microbiota intestinal
Food allergies

Alergias alimentares são uma disfunção no sistema imunitário, que reage de forma anormal imediatamente após a ingestão de um alimento específico. O alimento, normalmente inofensivo para o corpo, é então designado de “alergénio”. Estas alergias afetam 3 % da população em geral e 5 % crianças.

Muitos alimentos para culpar

Os produtos mais prováveis de desencadear uma alergia alimentar são numerosos e variam de acordo com a idade o com os hábitos alimentares da pessoa. Os websites governamentais atualizam com regularidade a lista de alergénios identificados. As crianças são mais sensíveis aos ovos, amendoins e leite de vaca, enquanto os adultos são mais sensíveis a crustáceos e moluscos, certas frutas e soja.
Em contraste com as intolerâncias alimentares, os sintomas das alergias alimentares aparecem de forma violenta: podem ser digestivos, respiratórios ou cutâneos. Angioedema, ataques de asma e choque anafilático são emergências que podem pôr em causa a vida.

Desequilíbrio na microbiota

Ainda não foi explicado porque é que certos alimentos causam reações imunitárias inapropriadas. Os estudos rapidamente estabeleceram uma relação entre estes fenómenos alérgicos e uma alteração na microbiota: os doentes alérgicos têm todos uma microbiota diferente comparativamente a indivíduos saudáveis. Observações na microbiota de pessoas afetadas têm mostrado que certas bactérias são responsáveis pelo aparecimento da hipersensibilidade a proteínas alimentares.

Probióticos como prevenção?

Ainda que o tratamento de primeira linha para alergias alimentares seja remover o alimento em causa, numerosos estudos têm sugerido que modular a microbiota com probióticos e prebióticos pode prevenir o desenvolvimento de alergias.

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