Amêndoas: poucos efeitos sobre a microbiota intestinal

Finalmente, as amêndoas talvez tenham de reduzir os seus argumentos na saúde. Pois apesar das expectativas, um estudo recente mostrou pouco efeito de 2 lanches com amêndoas na microbiota intestinal.

A microbiota intestinal

Sem dúvida, a alimentação é o meio mais eficaz para modular a composição da nossa microbiota intestinal. Mas os estudos limitam-se geralmente a um nutriente (efeito de uma determinada proteína, fibra...) sem avaliar o efeito inteiro do alimento. No entanto, todos os nutrientes de um alimento interagem, seja com efeitos antagónicos ou sinérgicos, de tal forma que, na vida real, o efeito global de um alimento raramente é a soma dos efeitos individuais de cada um dos seus componentes. Assim sendo, as amêndoas, como todas as sementes, são ricas em lípidos e, portanto, em calorias (o óleo é extraído delas!) mas também em fibras, o que tem um efeito no trânsito, além de polifenóis com propriedades antienvelhecimento, etc.

Para avaliar os efeitos das amêndoas na microbiota intestinal, os produtores americanos de amêndoas financiaram um estudo que, em termos de qualidade, é o Santo Graal da nutrição: um (sidenote: Ensaio controlado Estudo no qual uma parte dos participantes recebe um placebo ou um produto conhecido (no caso os queques) para permitir a comparação. ) (sidenote: Ensaio aleatório Estudo no qual os produtos testados são distribuídos aleatoriamente (em inglês, random) entre os participantes. ) . Desta forma, 87 jovens voluntários pouco inclinados para as frutas e legumes foram distribuídos aleatoriamente em 3 grupos comparáveis. A sua missão: consumir diariamente, durante 4 semanas, no lugar do seus lanches habituais 2 punhados de amêndoas inteiras, ou seja, o equivalente de pó de amêndoas, seja 2 queques que contêm o mesmo valor calórico (controlo). 

26 g de amêndoas = cerca de 20 amêndoas (1 punhado)

Resultados dececionantes, benefícios limitados para a saúde

O mínimo que se pode dizer é que os resultados observados não valeram o investimento. Os autores esperavam observar um efeito de impulso das amêndoas nas (sidenote: Bifidobactérias Bactérias em forma de bastonete, em Y. A maioria das espécies são benéficas para os seres humanos. Encontram-se no intestino humano, e também em alguns iogurtes.  Estas bactérias:
- Protegem a barreira intestinal 
- Participam no desenvolvimento do sistema imunológico e ajudam a lutar contra a inflamação 
- Promovem a digestão e aliviam os sintomas gastrointestinais Sung V, D'Amico F, Cabana MD, et alLactobacillus reuteri to Treat Infant Colic: A Meta-analysis. Pediatrics. 2018 Jan;141(1):e20171811.  O'Callaghan A, van Sinderen D. Bifidobacteria and Their Role as Members of the Human Gut Microbiota. Front Microbiol. 2016 Jun 15;7:925. Ruiz L, Delgado S, Ruas-Madiedo P, et al. Bifidobacteria and Their Molecular Communication with the Immune System. Front Microbiol. 2017 Dec 4;8:2345.
)
intestinais. Entretanto, aconteceu o contrário... Apostaram num trânsito intestinal acelerado graças às fibras nas amêndoas: mas não foi assim, as sementes oleaginosas não mudaram nada. O estudo pôs mesmo em causa um princípio até agora aceite pelos nutricionistas: que, ao contrário das amêndoas moídas finamente, as amêndoas inteiras continuariam, mesmo depois de mastigadas, a reter gotas lipídicas na sua estrutura. Porém, os resultados mostram que a moagem comercial das amêndoas resulta em quase nenhuma diferença em termos de acessibilidade lipídica. Ou seja, o seu organismo será capaz de assimilar a gordura e as calorias das amêndoas inteiras quase tão bem como das amêndoas moídas!

Ácido gordo de cadeia curta

A única nota positiva observada: o consumo de amêndoas (inteiras e moídas) levou a um aumento significativo na produção, pelas bactérias intestinais, de um (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) benéfico para a saúde. O butirato.

Fontes

Creedon AC, Dimidi E, Hung ES et al. The Impact of Almonds and Almond Processing On Gastrointestinal Physiology, Luminal Microbiology and Gastrointestinal Symptoms: a Randomized Controlled Trial and Mastication Study. Am J Clin Nutr. 2022 Sep 20:nqac265.

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Noticias

Amêndoa: efeitos limitados sobre a microbiota intestinal

Apesar de esperado o contrário, o consumo de amêndoas parece não ter efeito sobre a microbiota intestinal nem sobre o trânsito. O único benefício observado: um aumento do butirato que poupou dinheiro dos financiadores do estudo.

É o Santo Graal dos estudos que os produtores de amêndoas da Califórnia estão novamente a oferecer: um ensaio controlado aleatório (ECR). Objetivo: avaliar o impacto das amêndoas e a sua transformação (moídas ou não) sobre as bifidobactérias intestinais e, de modo acessório, na composição do conjunto da microbiota intestinal e no tempo de trânsito. Para isso, 87 adultos saudáveis, adeptos de lanches (batatas fritas, chocolate...) e pouco inclinados para as fibras (frutas e legumes...) participaram neste ensaio de 3 braços: durante 4 semanas, substituíram 2 lanches habituais ou por amêndoas inteiras (2*23 g/j) ou por amêndoas moídas (2+23 g/j) ou por 2 queques isocalóricos (controlo).

26 g de amêndoas = cerca de 20 amêndoas (1 punhado)

Amêndoa: o fim de um mito nutricional?

Conclusão? Contrariamente à hipótese principal, as bifidobactérias não eram mais abundantes, ao contrários, nas fezes dos grupos “amêndoas inteiras” (8,7%) ou “amêndoas moídas” (7,8%) comparativamente ao grupo de controlo (13,0%). Entretanto, esta leve diferença não resiste a um ajuste do teste. As amêndoas também não têm efeito sobre a microbiota intestinal, o tempo do trânsito intestinal (que os investigadores pensava acelerar), a consistência das fezes e os sintomas intestinais. As amêndoas moídas apresentavam tamanhos de partículas mais finas do que aquelas mastigadas: o efeito da moagem sobre a libertação de lipídios e, por consequência, a sua acessibilidade para o organismo mostrou-se menos importante do que o previsto, a ponto dos investigadores concluírem que a moagem comercial das amêndoas não provoca diferença clinicamente significativa em termo de bioacessibilidade dos nutrientes.

Única diferença significativa observada: o consumo de amêndoas (inteiras ou moídas) provocou um aumento da produção de butirato pelas bactérias intestinais (24,1 μmol/g vs 18,2 μmol/g para o controlo), um ácido gordo de cadeia curta com benefícios reconhecidos para a saúde, que, segundo os autores, poderia sugerir uma modificação das funções da microbiota intestinal.

Sem efeito prébiótico 

Sem dúvida, foi uma deceção para os produtores americanos mas segundo este ECR, o consumo de amêndoas não exerce nenhum efeito prébiótico sobre as bifidobactérias fecais nem alterações importantes na microbiota nem no trânsito. A forte predominância feminina (86,2%) e a juventude (27,5 ± 6,2 anos) dos voluntários poderia ter distorcido os resultados? Talvez. Entretanto, espera-se que mais estudos visando uma população mais uniforme confirmem estes resultados.

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Noticias Gastroenterologia

Manual de Avaliação Diagnóstica no Síndrome do Intestino Irritável (SII)

Quantos pacientes a sofrerem de problemas intestinais vê por semana? Quantos são diagnosticados com síndrome do intestino irritável (SII)? Sabia que alguns pacientes sofrem mais de 4 anos até receberem um diagnóstico médico formal de SII? 

Até 75% das pessoas com Síndrome do Intestino Irritável (SII) podem ficar por diagnosticar. Diagnosticar adequadamente a SCI pode ser difícil e contingente, trata-se de uma doença complexa que é difícil de explicar ao seu paciente durante uma consulta do tipo habitual. 

Por isso, o Prof. Jean-Marc Sabaté, o Prof. Jan Tack, o Dr. Pedro Costa Moreira e o Biocodex Microbiota Institute criaram uma ferramenta com uma lista de verificação para melhor diagnosticar a SII e poder comunicar com o seu paciente. Esta ferramenta para a SII recebeu o aval da Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO= World Gastroenterology Organization)

SII
Actu GP : La dysbiose vaginale à l’origine de certains cas d’infertilité ?

Descarregue aqui a seu manual de avaliação diagnóstica :

Imagem
IBS Diagnostic Tool Pr. J Tack PT

52% Apenas 1 em cada 2 pessoas que sofreram de uma patologia digestiva envolvendo a microbiota, associa os dois

O que você encontrará no manual de avaliação diagnóstica no Síndrome do Intestino Irritável (SII)?

Caro profissional de saúde, vai encontrar pela primeira vez toda a informação de que necessita numa ferramenta útil de diagnóstico do SII: 

  • Ilustrações simples para explicar a doença, os sintomas e a fisiopatologia
  • Os critérios de diagnóstico e os subtipos de SII
  • Uma lista de verificação para os sintomas de alarme, para ajudá-lo a confirmar o seu diagnóstico
  • A lista de exames que são necessários, os recomendados em casos específicos e, finalmente, os que não são úteis como teste de rotina
  • Os quatro conceitos gerais de tratamento
  • Uma proposta de frequência para a realização dos cuidados de acompanhamento

Como definir o SII?

O que sabemos sobre a fisiopatologia?

Como diagnosticar o SII?

Quais são os sinais de alerta?

Que investigação complementar é necessaria?

Qual a terapêutica geral?

Como acompanhar o utente?

Criado por

Prof. Jean-Marc Sabaté

O Professor Jean-Marc Sabaté trabalha como consultor no Departamento de Gastroenterologia, Hospital Universitário de Avicenne, Bobigny, França, e é professor de Gastroenterologia na Universidade Sorbonne Paris Nord. Desde 2002, prossegue a sua investigação no campo da Síndrome do Colón Irritável (SCI) na unidade INSERM U-987 «Fisiopatologia e farmacologia clínica da dor» (Hospital Ambroise Paré, França). É o cofundador e Presidente do conselho científico da associação APSSII (Associação Francesa de Doentesque sofrem de síndrome do intestino intestinal).

Prof. Jan Tack

O Professor Jan Tack é atualmente chefe da clínica no Departamento de Gastroenterologia, professor de Medicina Interna e presidente do Departamento de Medicina Clínica e Experimental da Universidade de Leuven, Bélgica. O professor Jan Tack é também o investigador principal no Centro Translacional de Investigação de Doenças Gastrintestinais (TARGID) da Universidade de Leuven. É atualmente um dos principais investigadores clínicos e básicos no campo da motilidade gastrointestinal. É o presidente da Fundação de Roma para as Doenças Gastrointestinais Funcionais.

Dr. Pedro Costa Moreira

O doutor Pedro Costa Moreira trabalha como gastroenterologista no Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa - Penafiel, Porto, Portugal. Dedicou-se especialmente aos campos das doenças biliar-pancreáticas e endoscopia avançada (ultrassom endoscópico, colangiopancreatografia retrógrada endoscópica/ERCP ). Ao mesmo tempo, é coordenador e consultor científico em eventos formativos na plataforma (MGFamiliar.net). Iniciou a sua formação médica no Centro Hospitalar Universitário de São João’ – Porto, Portugal.

Endossado por

A Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO) 

A Organização Mundial de Gastroenterologia (WGO) é uma federação de 119 sociedades membros e quatro associações regionais de gastrenterologia que representam mais de 60.000 membros individuais em todo o mundo. A WGO concentra-se na melhoria dos padrões de formação, instrução e prática da gastroenterologia, hepatologia e outras disciplinas relacionadas a nível mundial. https://www.worldgastroenterology.org/

Obtenha a ferramenta impressa oficial!

Peça ao seu representante local o folheto formato leque do manual de avaliação diagnóstica no síndrome do intestino irritável (SII)

Para saber mais

Tudo o que precisa de saber sobre a Síndrome do Intestino Irritável (SII)

Materiais exclusivos dedicados à Síndrome do Intestino Irritável (SII)

Recomendado pela nossa comunidade

"Como gastroenterologista, nunca tive dificuldade em diagnosticar a SII, que é de longe a doença intestinal mais comum em qualquer idade.
Mas qualquer ferramenta que possa ajudar os médicos (especialmente os clínicos gerais) a chegar a um diagnóstico correto é obviamente muito bem-vinda."
 -  Mario Guslandi (Da Biocodex Microbiota Institute no LinkedIn)

"Excelente, obrigado!" - Carlos Mora (Da Biocodex Microbiota Institute no LinkedIn)

Fontes

1. Barbara G, Grover M, Bercik P, et al. Rome Foundation Working Team Report on Post-Infection Irritable Bowel Syndrome. Gastroenterology. 2019;156(1):46-58.e7.

2. Black CJ, Ford AC. Global burden of irritable bowel syndrome: trends, predictions and risk factors. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 2020; 17: 473-86.

3. Blake MR, Raker JM, Whelan K. Validity and reliability of the Bristol Stool Form Scale in healthy adults and patients with diarrhoea-predominant irritable bowel syndrome. Aliment Pharmacol Ther. 2016;44(7):693-703.

4. Carbone F, Van den Houte K, Besard L, et al. Diet or medication in primary care patients with IBS: the DOMINO study - a randomised trial supported by the Belgian Health Care Knowledge Centre (KCE Trials Programme) and the Rome Foundation Research Institute [published online ahead of print, 2022 Apr 28]. Gut. 2022;gutjnl-2021-325821.

5. Collins, S. A role for the gut microbiota in IBS. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 11, 497–505 (2014).

6. Drossman DA, Tack J. Rome Foundation Clinical Diagnostic Criteria for Disorders of Gut-Brain Interaction. Gastroenterology. 2022 Mar;162(3):675-679

7. Ford AC, Sperber AD, Corsetti M, et al. Irritable bowel syndrome. Lancet. 2020 Nov 21;396(10263):1675-1688.

8. Fukudo S, Okumura T, Inamori M, et al. Evidence-based clinical practice guidelines for irritable bowel syndrome 2020. J Gastroenterol. 2021;56(3):193-217.

9. Hillestad EMR, van der Meeren A, Nagaraja BH, et al. Gut bless you: The microbiota-gut-brain axis in irritable bowel syndrome. World J Gastroenterol. 2022 Jan 28;28(4):412-431.

10. https://www.snfge.org/content/constipation-chronique

11. Kindt S, Louis H, De Schepper H, et al. Belgian consensus on irritable bowel syndrome. Acta Gastroenterol Belg. 2022;85(2):360-382.

12. Lacy BE, Pimentel M, Brenner DM, et al. ACG Clinical Guideline: Management of Irritable Bowel Syndrome. Am J Gastroenterol. 2021;116(1):17-44.

13. Longstreth GF, Thompson WG, Chey WD, et al. Functional bowel disorders [published correction appears in Gastroenterology. 2006 Aug;131(2):688]. Gastroenterology. 2006;130(5):1480-1491.

14. Mearin F, Lacy BE, Chang L, et al. Bowel Disorders. Gastroenterology. 2016;S0016-5085(16)00222-5.

15. Moayyedi P, Mearin F, Azpiroz F, et al. Irritable bowel syndrome diagnosis and management: A simplified algorithm for clinical practice. United European Gastroenterol J. 2017;5(6):773-788.

16. Savarino E, Zingone F, Barberio B, et al. Functional bowel disorders with diarrhoea: Clinical guidelines of the United European Gastroenterology and European Society for Neurogastroenterology and Motility. United European Gastroenterol J. 2022;10(6):556-584.

17. Sayuk GS, Wolf R, Chang L. Comparison of Symptoms, Healthcare Utilization, and Treatment in Diagnosed and Undiagnosed Individuals With Diarrhea-Predominant Irritable Bowel Syndrome. Am J Gastroenterol. 2017 Jun;112(6):892-899.

18. Simrén, M., Tack, J. New treatments and therapeutic targets for IBS and other functional bowel disorders. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 15, 589–605 (2018).

19. Sperber AD, Bangdiwala SI, Drossman DA, et al. Worldwide Prevalence and Burden of Functional Gastrointestinal Disorders, Results of Rome Foundation Global Study. Gastroenterology. 2021;160(1):99-114.e3.

20. Sperber AD. Epidemiology and Burden of Irritable Bowel Syndrome: An International Perspective. Gastroenterol Clin North Am. 2021 Sep;50(3):489-503.

21. Vasant DH, Paine PA, Black CJ, et al. British Society of Gastroenterology guidelines on the management of irritable bowel syndrome. Gut. 2021;70(7):1214-1240.

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Artigo Gastroenterologia

Gordura, açúcar e doenças metabólicas: uma equipe de cientistas coloca sobre a mesa o papel da microbiota intestinal e da imunidade

Comer muitas gorduras e muito açúcar promove a obesidade e a diabetes tipo 2, é um facto. Atualmente, também se sabe que a microbiota intestinal e o seu sistema imunitário participam na regulação do metabolismo. Mas decifrar os mecanismos envolvidos não constitui tarefa fácil! Alguns cientistas1 conseguiram-no e revelaram que o excesso de açúcar é um fator importante.

A microbiota intestinal

É uma questão de bom senso. Uma dieta do tipo " (sidenote: Regime ocidental Alimentação rica em alimentos transformados, em açúcar refinado, sal, gorduras saturadas (carnes vermelhas) e gorduras trans (produtos panificados) Zinöcker MK, Lindseth IA. The Western Diet-Microbiome-Host Interaction and Its Role in Metabolic Disease. Nutrients. 2018 Mar 17;10(3):365.  ) ", muitas vezes demasiado rica (sidenote: Regime ocidental Alimentação rica em alimentos transformados, em açúcar refinado, sal, gorduras saturadas (carnes vermelhas) e gorduras trans (produtos panificados) Zinöcker MK, Lindseth IA. The Western Diet-Microbiome-Host Interaction and Its Role in Metabolic Disease. Nutrients. 2018 Mar 17;10(3):365.  ) tem impacto na nossa saúde. É um regime alimentar que tende a aumentar a inflamação no organismo e a perturbar o metabolismo. Pode gerar obesidade, diabetes do tipo 2 ou síndrome metabólica. Segundo numerosos estudos, a microbiota intestinal e o seu sistema imunitário têm uma forte influência no equilíbrio metabólico: ocorrem perturbações nos nossos intestinos que transformam os excessos alimentares em quilos a mais e em doenças graves.

Quanto mais gorduras e mais açúcares, menos células imunitárias intestinais que equilibram o metabolismo 

Para melhor compreenderem estas perturbações, os investigadores alimentaram os ratos com uma dieta rica em gorduras e açúcares durante 4 semanas. Como se esperava, estes ratos sobrealimentados ganharam mais peso do que os normalmente alimentados e desenvolveram uma (sidenote: Síndrome metabólica Combinação de vários distúrbios metabólicos: hipertensão, perímetro da circunferência abdominal aumentado, aumento dos níveis de triglicéridos e glicose no sangue associados a níveis de colesterol “bom” baixos. Alberti KG, Zimmet P, Shaw J. The metabolic syndrome--a new worldwide definition. Lancet. 2005 ; 366 (9491) : 1059-62. ) . A análise da flora intestinal dos excrementos dos ratos mostrou que esta dieta resultou rapidamente na perda de um tipo particular de bactérias da sua microbiota intestinal, as (sidenote: Bactérias filamentosas segmentadas As bactérias filamentosas segmentadas (SFB) são bactérias da família Clostridiales que colonizam o intestino de muitos dos animais vertebrados e invertebrados, sem causarem resposta inflamatória. Pelo contrário, a sua presença estimulará a resposta imunitária. Estas bactérias ajudarão à diferenciação e à maturação de certas células de defesa e promoverão a eliminação de micróbios patogénicos.  Hedblom GA, Reiland HA, Sylte MJ, et al. Segmented filamentous bacteria–metabolism meets immunity. Frontiers in microbiology. 2018 Aug 24;9:1991.  https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fmicb.2018.01991/full     ) . Esta perda, por sua vez, diminuiu a produção de certas células imunitárias, os (sidenote: Linfócitos Th17 (T helpers 17) Os linfócitos Th17 são células do sistema imunitário que desempenham uma função na defesa do hospedeiro contra os agentes patogénicos, nomeadamente ao nível das barreiras epiteliais, como a barreira intestinal. Awasthi A, Kuchroo VK (2009) Th17 cells: From precursors to players in inflammation and infection. Int Immunol 21:489–498. ) , surgindo depois a síndrome metabólica. 

Os investigadores descobriram que estes Th17 regulam a absorção de lípidos no intestino e são necessários para a proteção contra a síndrome metabólica. E que, inversamente, a sua perda foi responsável pelos efeitos nocivos para a saúde da dieta rica em gorduras e açúcares. Através da administração de bactérias filamentosas segmentadas aos ratos sobrealimentados, a produção de Th17 foi reativada. Resultado: os ratos perderam peso e melhoraram o metabolismo.

O açúcar, líder do sindicato do crime metabólico! 

Mas, de entre o excesso de açúcares e o de gorduras, quem é o mais "culpado"? O efeito de uma dieta rica em gorduras e açúcares (incluindo sacarose e maltodextrina, habitual em doces e refrigerantes) foi comparado com o de uma alimentação rica em gorduras, mas pobre em açúcares. Veredicto: os açúcares por si só modificam a composição da microbiota intestinal em detrimento das bactérias filamentosas segmentadas - que, não esqueçamos, estimulam os Th17. Então, será suficiente eliminar o açúcar da dieta para assegurar a proteção contra as doenças metabólicas? Não completamente, observam os investigadores, a proteção também requer a presença de células Th17 induzidas pela microbiota intestinal.

Em suma, a síndrome metabólica, a obesidade e a diabetes tipo 2 dependem de interações complexas entre a alimentação, a microbiota intestinal e a imunidade. De acordo com os investigadores, não existe uma dieta de "formato único" que possa proporcionar a todos o efeito desejado: é necessária uma abordagem personalizada às perturbações metabólicas. Futuramente, ela poderá vir a ter em conta as variações entre indivíduos do sistema imunitário da microbiota intestinal.

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Noticias

Associação entre a DII e quantidades maiores de microplásticos nas fezes

Pelo Dr. Alberto Caminero
Departamento de Medicina, Farncombe Family Digestive Health Research Institute, Universidade McMaster, Hamilton, Canadá

Num estudo recente, os cientistas revelam que as pessoas que tinham uma alta concentração de microplásticos nas suas fezes eram mais propensas a ter uma doença inflamatória intestinal (DII). Será isto suficiente para construir uma associação causal?

Qual é a sua opinião relativamente às hipóteses dos investigadores, sugerindo que a exposição a Microplásticos pode estar relacionada com o processo da DII ou que a DII agrava a retenção de MP?

Até 71% dos pacientes com doença inflamatória intestinal (DII) acreditam que a dieta afeta a sintomatologia e 81% seguem dietas de eliminação enquanto em remissão. Contudo, as atuais recomendações dietéticas são confusas e contraditórias. Neste estudo realizado pelo Dr. Yan Zhang da Universidade de Nanjing (China) e publicado na revista Environmental Science & Technology, os autores levantaram a hipótese provocatória de que os microplásticos (MP) podem contribuir para o desenvolvimento da DII. Os MP são pequenas partículas de plástico (<5 mm de diâmetro) e considerados um grande problema ambiental devido à utilização excessiva de plásticos nos dias de hoje. Os MP são amplamente distribuídos, facilmente ingeridos com a nossa dieta, ou mesmo inalados, e podem acumular-se em vários órgãos devido às suas pequenas dimensões e baixa taxa de degradação. Embora estudos pré-clínicos tenham sugerido os eventos adversos dos MP nas perturbações metabólicas e inflamações, o seu impacto na saúde humana ainda não foi totalmente investigado. Aqui, os autores recolheram fezes de pacientes saudáveis e com DII e analisaram a concentração de MP. Os autores mostraram uma maior concentração de MP fecais nos pacientes com DII do que nos pacientes saudáveis. De forma intrigante, a concentração de MP correlacionou-se positivamente com a gravidade da doença, sugerindo os MP como potenciais desencadeadores da ativação clínica na DII ao mesmo tempo que proporciona uma potencial ligação entre a dieta e a inflamação. De facto, os autores relataram que os pacientes com uma maior abundância de MP fecais consumiam mais produtos embalados em plástico. Embora tenha sido sugerido que os MP poderiam passar através da barreira intestinal para o sistema circulatório e ter um potencial impacto na saúde, os resultados são muito preliminares e é necessária mais informação antes de se tirarem conclusões prematuras que afetem os pacientes. Independentemente do impacto na gastroenterologia, este estudo destaca as preocupações globais relativamente à grande utilização do plástico nos dias de hoje, as implicações que pode ter para a saúde humana através da cadeia alimentar, mas também através das mercadorias e produtos agrícolas, e a necessidade premente de reduzir a utilização do plástico.

Qual seria o seu conselho aos pacientes que sofrem de DII em relação à exposição a microplásticos? Reduzir o consumo de comida takeaway, água engarrafada, etc...?

Os resultados devem ser tomados com cautela e é necessária mais investigação para compreender o aumento relatado de MP fecais na DII e as implicações para a gravidade clínica. Embora o consumo dietético pareça ser a hipótese mais plausível, múltiplos fatores demográficos, metodológicos ou clínicos poderiam explicar este aumento. Seria interessante ver se estas observações se aplicam a outros países que não a China, onde a DII está a aumentar. Os pacientes com DII também apresentam um microbioma intestinal, absorção, permeabilidade e motilidade alterados, bem como consistência diferente das fezes, todos fatores que podem influenciar a excreção dos MP. De facto, o microbioma intestinal é um ecossistema complexo e diversificado que apresenta micróbios com capacidade para digerir diferentes componentes, incluindo MP, e os pacientes com DII apresentam um microbioma alterado. Além disso, os pacientes consomem frequentemente diferentes medicamentos ou bioprodutos (vitaminas, probióticos, etc.) para gerir os seus sintomas, o que também pode afetar indiretamente os MP fecais. Por último, a dieta afeta a sintomatologia na DII e há a impressão errada de que os alimentos ultralimpos que são frequentemente embalados em plástico ou engarrafados (por exemplo, o aumento do uso de água engarrafada nas últimas décadas) são benéficos. Assim, as escolhas dietéticas dos pacientes poderiam potencialmente incluir mais alimentos embalados em plástico. O meu conselho aos pacientes é aderirem a dietas tradicionais e bem toleradas, preferindo alimentos caseiros e naturais, e evitando tanto alimentos ultraprocessados como alimentos embalados em plástico. A redução do plástico também é boa para cuidar do nosso planeta.

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Opinião do especialista

A Microbiota Vaginal # 16

Pela Prof. Satu Pekkala
Investigador na Academia da Finlândia, Faculdade de Ciências do Desporto e da Saúde, Universidade de Jyväskylä, Finlândia

Microbiota 16 vaginal microbiota

GONORREIA NAS MULHERES: UMA LIGAÇÃO ENTRE A MICROBIOTA VAGINAL E OS SINTOMAS?

Lovett A, Seña AC, Macintyre AN, et al. Cervicovaginal Microbiota Predicts Neisseria gonorrhoeae Clinical Presentation. Front Microbiol 2022; 12: 790531.

Todos os anos, são relatados quase 90 milhões de casos de gonorreia em todo o mundo. Nas mulheres, a infeção do trato genital inferior pela Neisseria gonorreia tem consequências altamente variáveis, desde a ausência de sintomas até à cervicite. Embora os fatores subjacentes a esta variabilidade não sejam conhecidos, a microbiota cervico-vaginal pode estar envolvida. De facto, uma equipa demonstrou recentemente que a microbiota cervico-vaginal prediz a apresentação clínica da gonorreia nas mulheres.

Estes são os resultados de um estudo piloto nos EUA sobre 19 pacientes infetados com N. gonorreia, 10 dos quais eram sintomáticos e 9 assintomáticos. A maioria destes pacientes eram afro-americanos, uma população cuja microbiota é mais frequentemente baixa em lactobacilos do que a das mulheres caucasianas. Neisseria spp. representava apenas 0,24% das bactérias presentes em todos os 19 pacientes, quer sintomáticos quer assintomáticos. Metade das pacientes de cada grupo também tiveram coinfecções com Chlamydia trachomatis e/ou Trichomonas vaginalis.

A microbiota cervico-vaginal dos pacientes assintomáticos sem coinfecção continha mais frequentemente comunidades microbianas dominadas por lactobacilos (92,2% de bactérias em média) do que a dos pacientes sintomáticos sem coinfecção (21,6%).

Em contraste, as mulheres sintomáticas tinham comunidades microbianas caracterizadas por taxas bacterianas mais diversas e heterogéneas. Eram compostas por uma mistura de bactérias anaeróbias associadas à vaginose bacteriana (BV): Prevotella, Sneathia, Mycoplasma hominis e Bacterial Vaginosis-Associated Bacterium- 1 (BVAB1) / Candidatus Lachnocurva vaginae.

Estes resultados são meramente os de um estudo piloto baseado numa pequena amostra. Este é um primeiro passo crucial, mas são necessários mais estudos para avaliar o efeito potencialmente protetor contra a infeção por N. gonorreiae de uma microbiota vaginal dominada por Lactobacillus.

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Revista de imprensa

A Microbiota Intestinal # 16

Pela Prof. Satu Pekkala
Investigador na Academia da Finlândia, Faculdade de Ciências do Desporto e da Saúde, Universidade de Jyväskylä, Finlândia

Microbiota 16 Gut microbiota

ASSOCIAÇÕES DO MICROBIOMA INTESTINAL EM COORTES CRUZADAS COM RESPOSTA INIBIDORA DO PONTO DE CONTROLO IMUNITÁRIO NO MELANOMA AVANÇADO 

Lee KA, Thomas AM, Bolte LA, et al. Cross-cohort gut microbiome associations with immune checkpoint inhibitor response in advanced melanoma. Nat Med 2022; 28: 535-44.

Os inibidores do ponto de controlo imunitário (ICI) melhoraram significativamente o tratamento do melanoma avançado. No entanto, nem todos os pacientes respondem ao tratamento, que se pensa estar ligado à microbiota intestinal. Lee et al. realizaram a sequenciação metagenómica de amostras fecais de cinco coortes europeias de ICI, com um total de 165 pacientes com melanoma cutâneo avançado. Devido a diferenças clínicas e mutacionais entre as coortes, foram analisados separadamente e não agrupados. Os autores encontraram uma diferença significativa na composição da microbiota intestinal entre respondedores e não respondedores na coorte PRIMM-UK, mas não na coorte PRIMM-Netherland (NL). Além disso, ao analisar as bases de dados disponíveis publicamente (n = 147 amostras metagenómicas), tornou-se evidente que havia uma reprodutibilidade limitada das previsões de resposta entre as coortes. Nenhuma bactéria era um biomarcador inteiramente constante de resposta aos ICI em todos os conjuntos de dados. No entanto, um painel de espécies microbianas, incluindo Bifidobacterium pseudocatenulatum, Roseburia spp. e Akkermansia muciniphila, foi identificado no estudo associado com os respondedores. Quanto aos genes funcionais da microbiota, por exemplo, as adeninas metílases de ADN foram aumentadas nos respondedores. Em conclusão, embora tenha sido identificado um potencial painel de biomarcadores microbianos mostrando a capacidade de resposta ao tratamento ICI, são necessários estudos futuros em coortes maiores. Além disso, vários fatores clínicos devem ser considerados como confusos ao avaliar os biomarcadores que podem ser úteis no diagnóstico.

A AKKERMANSIA MUCINIPHILA INTESTINAL PREVÊ UMA RESPOSTA CLÍNICA AO BLOQUEIO PD-1 EM PACIENTES COM CANCRO DO PULMÃO AVANÇADO DE CÉLULAS NÃO PEQUENAS

Derosa L, Routy B, Thomas Am et al. Intestinal Akkermansia muciniphila predicts clinical response to PD-1 blockade in patients with advanced non-small-cell lung cancer. Nat Med 2022; 28: 315-24.

de células não pequenas (NSCLC) não respondem ao tratamento com inibidores do ponto de controlo imunitário (ICI), tais como anti-PD-1. Provas recentes mostram que certos membros da microbiota intestinal, especialmente Akkermansia muciniphila, podem influenciar a eficácia dos ICI em pacientes com NSCLC. Além disso, a resistência ao tratamento tem sido associada a um microambiente tumoral inflamatório inferior. Derosa et al. estudo prospetivo e multicêntrico incluiu 338 pacientes com NSCLC avançados tratados com ICI para determinar se os perfis metagenómicos da microbiota intestinal poderiam explicar a resposta ao tratamento. Mostram que uma maior abundância de Akkermansia nas fezes de base estava associada a uma maior taxa de resposta ao tratamento com ICI, associada a um benefício clínico (aumento da sobrevida). Além disso, a presença de Akkermansia associada a outras mudanças potencialmente relevantes em termos de prognóstico na microbiota intestinal. Vários genes tumorais expressos de forma diferente foram ligados à resposta ao bloqueio PD-1 sugerindo que a Akkermansia poderia promover a migração de células T helper para o microambiente tumoral. Para finalmente mostrar que a Akkermansia podia salvar a resistência ao ICI, os autores inocularam duas estirpes diferentes de A. muciniphila em ratos que foram previamente transplantados com fezes de um paciente com resistência ao bloqueio PD-1. Em comparação com os ratos de controlo, as duas estirpes resgataram a resposta ao tratamento. De longe, este estudo é a maior análise prospetiva metagenómica que validou a Akkermansia como um potencial fator prognóstico para os pacientes tratados com NSCLC com ICI e mostrou o potencial mecanicista da Akkermansia.

TRANSPLANTE DE MICROBIOTA FECAL PARA A DOENÇA BIPOLAR: UM ESTUDO DE CASO DETALHADO

Parker G, Spoelma MJ, Rhodes N. Faecal microbiota transplantation for bipolar disorder: A detailed case study. Bipolar Disord 2022 (ahead of print).

A única indicação validada para o FMT é a infeção recorrente por Clostridioides difficile. Contudo, o envolvimento da microbiota intestinal em numerosas outras doenças (doença de Parkinson, por exemplo) sugere que as indicações para FMT poderiam em breve ser expandidas. A microbiota intestinal também pode modificar numerosos processos associados à depressão, tais como o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal da glândula. Até agora, não existem ensaios publicados que utilizem o FMT para tratar pacientes com condições bipolares. O estudo longitudinal de Parker et al. apresenta o caso de um homem de 28 anos de idade com doença bipolar. Aos 10 anos de idade, desenvolveu episódios depressivos. Os sintomas incluíam um humor severamente deprimido, pensamentos suicidas, anergia, concentração reduzida, retardamento psicomotor e insónia. Os sintomas eram geralmente associados à irritabilidade e ansiedade. Aos 15 anos de idade, desenvolveu o seu primeiro episódio hipomaníaco. Durante anos, foi tratado com sucesso com drogas, mas depois voltaram a ocorrer problemas de humor. Começou voluntariamente a tomar probióticos (estirpes de Lactobacillus e Saccharomyces. Depois dos probióticos, ele próprio relatou um enorme alívio dos sintomas. Encorajado pelas melhorias, o paciente leu sobre a investigação microbiológica e optou por experimentar o FMT. Este procedimento foi realizado através de colonoscopia por um gastroenterologista. Após o FMT, ele traçou os seus estados de humor durante 470 dias consecutivos. Ele auto-relatou que os episódios de humor diminuíram em frequência e severidade ao longo dos meses. Foi também capaz de reduzir significativamente o tratamento medicamentoso. Doze meses após o FMT, declarou ter tido níveis elevados distintos, praticamente sem sintomas bipolares, e os sintomas do distúrbio de hiperatividade de défice de atenção tinham melhorado. Embora este seja apenas um estudo de caso, o FMT foi capaz de reduzir os sintomas bipolares, justificando assim a necessidade de estudos FMT em coortes bipolares maiores.

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Revista de imprensa

Destaques da 54a espghan

FEEDBACK DE CONGRESSOS

Pelo Prof. Koen Huysentruyt
Gastrenterologia, hepatologia e nutrição pediátricas, Centro de Reabilitação Intestinal Infantil de Bruxelas (BCIRC), Bélgica

Microbiota 16 congress review

A 54.a reunião ESPGHAN anual teve lugar de 22 a 25 de junho de 2022 na bela cidade de Copenhaga. Foi a primeira vez que a reunião se realizou de novo na vida real, após dois anos de limitações devido à pandemia de Covid. Foi uma grande oportunidade para se encontrar com especialistas em gastroenterologia, hepatologia e nutrição pediátricas de todo o mundo para partilhar conhecimentos, investigação e novas perspetivas interessantes. O objetivo deste artigo é destacar alguns dos tópicos abordados sobre o microbioma.

O VIROMA

Prof. Dennis Sandris Nielsen apresentou- nos o viroma, uma coleção de vírus que transportamos, que é um campo de investigação emergente que parece desempenhar um papel importante na saúde humana e na doença. A análise da amostra fecal mostra que aproximadamente 6% do ADN encontrado não é de origem bacteriana, mas de origem viral. Por cada bactéria no corpo humano, um vírus corresponde a ela. Tal como o microbioma, o viroma é influenciado por fatores pré, peri e pós-natais (dieta, ambiente, irmãos, medicamentos, etc.). Estes vírus são assim omnipresentes no intestino e desempenham um papel fundamental na regulação do microbioma intestinal. Os bacteriófagos são um tipo de vírus que atacam bactérias numa matéria específica do hospedeiro. São descritos dois tipos diferentes de interações: a “kill-the-winner dynamics” e a “piggyback-the-winner dynamics”. No primeiro, os bacteriófagos atacam as bactérias, injetam o seu ADN e utilizam as bactérias como hospedeiro para criar novas partículas de fago depois de a célula ser lisada. O orador faz uma analogia com os leões e as gazelas na Savana, significando uma dinâmica de constante diversidade, destruição dos concorrentes de nicho, desvio de fago e rotação bacteriana e pressão sobre o hospedeiro para diversificação do recetor de fago. No último, o vírus cavalga com o vencedor, integrando o seu ADN no genoma da bactéria, alterando a célula hospedeira e tornando-a mais eficiente, tornando assim o vencedor num vencedor. Um estudo sobre amostras fecais de uma população infantil saudável na Dinamarca identificou mais de 10.000 espécies virais, pertencentes a 248 famílias virais. Notavelmente, 232 dessas famílias não foram descritas anteriormente, apoiando a hipótese de que apenas a ponta do iceberg foi ainda descoberta [1]. As questões que são levantadas são que implicações tem na saúde humana, e se desempenha um papel no amadurecimento do sistema imunitário. O desequilíbrio viromático intestinal pode desempenhar um papel no desenvolvimento da doença (ou seja, VEO-IBD, NEC, etc.).

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CESARIANA E MICROBIOMA

O modo de parto à nascença desempenha um papel fundamental na formação precoce do microbioma intestinal. Os bebés que nascem por via vaginal são expostos a diferentes estirpes bacterianas em comparação com os que nascem por cesariana, com uma colonização diferente como consequência. Além disso, a razão para uma cesariana é na maioria das vezes devida a uma emergência fetal. Esses bebés são mais propensos a ter um pH baixo no sangue do cordão umbilical, o que causa uma redução na permeabilidade da junção apertada promovendo a disbiose.

A amamentação parece neutralizar o efeito pernicioso da cesariana na microbiota e continua a ser o padrão dourado na nutrição infantil. No entanto, as mulheres que dão à luz por cesariana têm menos probabilidades de amamentar, ou atrasam a iniciação da amamentação, e os bebés são então alimentados com leite em pó. Por esta razão, os investigadores procuram constantemente o cocktail perfeito de pré, pró, sin ou pós-bióticos para imitar o microbioma intestinal de um bebé amamentado.

O Dr. Eduardo López-Huertas discutiu uma estirpe de Lactobacillus. fermentum e mostrou resultados promissores em bebés nascidos por cesariana. Num ensaio aleatorizado controlado (RCT), analisaram as amostras de fezes de bebés alimentados com um leite em pó simbiótico contendo L. fermentum e GOS e encontraram grandes semelhanças com as amostras de bebés amamentados (bifidobactérias superiores, pH fecal inferior) [2]. Além disso, é demonstrado numa meta-análise recente (3 ensaios) que L. fermentum reduz a incidência de infeções gastrointestinais com 73% em bebés nascidos por cesariana. É necessária mais investigação para investigar possíveis vantagens na prevenção de potenciais doenças, ou seja, infeções do trato gastrointestinal ou do trato respiratório, especialmente em bebés nascidos por cesariana, que têm um microbioma intestinal desvantajoso [3].

HMO EM LEITE EM PÓ INFANTIL E O MICROBIOMA

O Dr. Giles Major forneceu-nos os seus conhecimentos sobre a ligação entre os glicanos e o microbioma intestinal. Os glicanos ou oligossacarídeos do leite humano (HMO) afetam a composição geral do microbioma intestinal. O leite materno é composto por muitos HMO diferentes que variam em concentração no leite materno, dependendo da etnia da mãe e durante o crescimento do bebé. Quando o microbioma intestinal é investigado numa idade precoce, notamos uma predominância de bifidobactérias no leite materno em comparação com os lactentes alimentados com leite em pó. Estas bifidobactérias são importantes porque absorvem carbono e produzem ácidos gordos de cadeia curta que modulam a permeabilidade da barreira intestinal. A sua fonte de carbono são HMO, e o microbioma desempenha um papel na digestão desses HMO através da presença de CAZymes. Assim, os CAZymes que tiver, determinarão quais os glicanos que pode digerir e o tipo de glicanos que uma criança é alimentada conduzirá a maturação do microbioma nos primeiros anos de vida.

Foi realizado um RCT no qual um grupo de controlo de bebés alimentados com leite em pó foi comparado a grupos de teste que receberam um leite em pó 5-HMOBlend. O ensaio ainda está em curso, mas os resultados preliminares mostram que a diversidade microbiana intestinal global foi significativamente diferente no grupo de controlo em comparação com o grupo de ensaio, sendo que no grupo de teste a composição se tornou mais semelhante à dos bebés amamentados. O orador sugere que isto poderia ser a consequência da promoção de bifidobactérias, embora isto tenha sido apenas uma especulação.

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De volta ao congresso Pediatria Gastroenterologia

A integração de bacteroidota e lachnospiraceae no microbioma intestinal em pontos-chave dos primeiros anos de vida está ligada ao desenvolvimento neurológico infantil

Artigo comentado - rubrica pediátrica

Pelo Prof. Emmanuel Mas
Gastroenterologia e Nutrição, Hospital Saint-Antoine, Paris, França

Comentários sobre o artigo de Oliphant K et al. [1]

O microbioma intestinal nos primeiros anos de vida desempenha um papel crítico no desenvolvimento do hospedeiro e influencia o funcionamento do cérebro. Este estudo investigou a associação entre a sucessão do microbioma intestinal desde a primeira semana de vida e o crescimento da circunferência da cabeça (HCG). Foram recolhidas semanalmente amostras de fezes de uma coorte de recémnascidos pré-termo, a fim de avaliar a composição microbiana intestinal, em conjunto com dados clínicos e medições da circunferência da cabeça. Os bebés prematuros com trajetórias subótimas de HCG tiveram um esgotamento na abundância/prevalência de Bacteroidota e Lachnospiraceae, que não estava relacionado com a morbilidade e restrição calórica. Este artigo fornece provas de que a sua integração no microbioma intestinal precisa de ocorrer precocemente para um desenvolvimento neurológico ótimo.

O QUE É QUE JÁ SABEMOS SOBRE ISTO?

As perturbações do desenvolvimento neurológico são frequentes em crianças pequenas, afetando até 8,4% dos indivíduos com menos de 5 anos de idade em todo o mundo. O crescimento da circunferência da cabeça (HCG) é um marcador correlacionado com o neurodesenvolvimento precoce.

É importante procurar fatores ambientais que possam ser modificados para reduzir as perturbações do desenvolvimento neurológico. Os estudos de nutrição interventiva não demonstraram resultados significativos no neurodesenvolvimento (por exemplo: o benefício do aleitamento materno). Os autores investigaram o microbioma intestinal (GM) porque a sua aquisição durante os primeiros meses de vida e o uso de antibióticos durante o primeiro ano estão associados a várias patologias, incluindo as perturbações do neurodesenvolvimento mais tarde na infância, em particular a perturbação do défice de atenção e a perturbação do espectro do autismo. O objetivo do estudo era determinar se existe uma relação entre as características do GM inicial e uma trajetória subótima do HCG (SHCGT).

QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS CONCLUSÕES DESTE ESTUDO?

Os bebés com < 37 semanas de idade pós-menstrual (unidade de cuidados neonatais de Chicago) foram incluídos entre janeiro de 2010 e dezembro de 2018. A trajetória do HCG foi a diferença entre os z-scores da circunferência da cabeça medidos à nascença e às 36 semanas pós-menstrual (PMA); foram utilizadas perdas de 0,5 z-scores de intervalo para definir os grupos com uma trajetória adequada de HCG (AHCGT) ou uma trajetória subótima (ligeiramente, moderada e severamente prejudicada, SHCGT).

A β-diversidade do GM diferiu significativamente entre os bebés SHCGT e AHCGT, assim como a alteração da abundância dos taxa nas amostras de fezes a 30 PMA. A perda em HCG z- score > 0,5 ocorreu entre 31 e 36 semanas PMA nos grupos SHCGT. Isto sugere que um GM “imaturo” precede o SHCGT.

SHCGT infants had a significantly decreased abundance of Bacteroidota (p = 0.0009) (Figure 1) and Lachnospiraceae (p = 0.009), between 31 and 36 weeks PMA, which may result in a reduced carbohydrate utilisation capacity of these taxa. The prevalence of the Ruminococcaceae family (p = 0.007) was attributed to the species Faecalibacterium prausnitzii (p = 0.004), 48% in the AHCGT vs 8% in the SHCGT infants. It is to be noted that there was an increase in Firmicutes in the SHCGT groups from 24 to 30 weeks PMA (p = 0.009) but without any difference in the sub-taxa.

Os bebés SHCGT tiveram uma diminuição significativa da abundância de Bacteroidota (p = 0,0009) (Figura 1) e Lachnospiraceae (p = 0,009), entre 31 e 36 semanas de PMA, o que pode resultar numa redução da capacidade de utilização de hidratos de carbono destes taxa. A prevalência da família Ruminococcaceae (p = 0,007) foi atribuída à espécie Faecalibacterium prausnitzii (p = 0,004), 48% no AHCGT vs 8% nos bebés SHCGT. É de notar que houve um aumento de Firmicutes nos grupos SHCGT de 24 para 30 semanas PMA (p = 0,009) mas sem qualquer diferença na sub-taxa.

A análise dos parâmetros clínicos mostrou que as alterações no HCG não se deviam a restrições calóricas. Houve mais morbilidades nas crianças dos grupos SHCGT do que naquelas com AHCGT: enterocolite necrosante (p = 0,0006), lesão neurológica grave (p = 0,01), sepsis (p = 0,03). Contudo, os métodos analíticos utilizados, tais como a decisão aleatória com permutações, mostraram que os fatores mais importantes associados às trajetórias do HCG foram as características do GM e não as comorbilidades, quer de 24 a 30 PMA ou de 31 a 36 PMA (Figura 2). Em bebés livres de morbilidades graves, as diferenças em Bacteroidota e Lachnospiraceae ainda estavam presentes, mas a abundância de Actinobacteriota foi significativamente maior no grupo AHCGT e no grupo SHCGT ligeiro do que nos grupos moderada e severamente SHCGT. O tipo de parto teve mais efeito nas trajetórias de HCG do que fatores que influenciam o GM, tais como nutrição entérica e tratamentos com antibióticos. Isto está ligado à transmissão do GM no parto porque a abundância de Bacteroidota foi maior em bebés por parto vaginal do que naqueles com parto por cesariana. Além disso, entre os bebés por parto vaginal, aqueles com um SHCGT tiveram uma queda na abundância dos taxa acima descritos como relacionados com as trajetórias do HCG, em comparação com o AHCGT. Além disso, o termo de nascimento é um fator importante porque todos os bebés SHCGT por parto vaginal nasceram < 27 semanas de idade pós-menstrual, enquanto apenas 17% dos bebés AHCGT por parto vaginal nasceram < 27 semanas de idade pós menstrual.

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PONTO CHAVE

  • A colonização precoce do intestino por Bacteroidota e Lachnospiraceae no bebé prematuro pode melhorar o desenvolvimento neurológico, através de certas vias metabólicas (hidratos de carbono, aminoácidos)

QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS PRÁTICAS?

Sugere-se, portanto, que SHCGT começa com uma redução da abundância de Bacteroidota e Lachnospiraceae, e depois é exacerbado com a redução em Actinobacteriota.

O nascimento por via vaginal permite a transmissão vertical de Bacteroidota.

Deve-se, no entanto, estar vigilante em relação aos bebés nascidos antes das 27 semanas de PMA, porque mesmo aqueles que nascem por via vaginal parecem estar em maior risco de SHCGT.

Conclusão

O microbioma intestinal é um fator importante que influencia a trajetória de crescimento da circunferência da cabeça. A aquisição muito precoce de certas bactérias (Bacteroidota e Lachnospiraceae), potenciada por um parto vaginal, pode reduzir as perturbações de desenvolvimento neurológico.

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Artigo comentário Microbiota intestinal