Suspeitava-se que a microbiota intestinal estava envolvida na apneia do sono. Um estudo de randomização mendeliana avança com a papel potencialmente causal e aponta o dedo às bactérias suspeitas de aumentar as pausas respiratórias e outras com a capacidade de nos proteger.
Por trás do termo apneia do sono esconde-se uma patologia caracterizada por pausas respiratórias anormalmente frequentes durante o sono. Mesmo sendo esta doença frequente em crianças e adultos, não deixa de ter riscos, a curto (fadiga) e a longo prazo (distúrbios cognitivos, doenças cardiovasculares...).
São várias as causas: hipertrofia das amígdalas nas crianças, obesidade no adulto… A microbiota intestinal é igualmente invocada, mas a sua função causal ainda continua por comprovar. Não obstante, um estudo publicado em 2023 dá mais um passo na demonstração desta função causal. Como? Através de uma técnica denominada randomização mendeliana, que permite excluir vários fatores de confusão e preconceito.
O estudo acompanhou os suspeitos (as bactérias que aumentam o risco de apneia) mas também os super-heróis que nos protegem destas pausas respiratórias noturnas: por exemplo, a família bacteriana Ruminococcaceae promove noites sem problemas de ventilação.
1 bilhão
de pessoas no mundo serão afetadas pela apneia obstrutiva do sono
Como explicar tal poder sobre a nossa saúde? Sem dúvida pela capacidade destas bactérias de produzir moléculas benéficas, denominadas (sidenote:
Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC)
Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro.
Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25.), benéficas para a nossa saúde porque reduzem a inflamação, reforçam a nossa barreira intestinal e limitam a proliferação de bactérias patogénicas, mas também porque estas bactérias estão envolvidas no metabolismo dos ácidos biliares, conhecidos pela sua função no sono e na regulação dos seus ciclos.
A apneia do sono, um distúrbio masculino?
A apneia obstrutiva do sono (AOS) e a síndrome da apneia/hipopneia obstrutiva do sono (SAHOS) foram durante muito tempo consideradas como sendo doenças essencialmente masculinas. A apneia obstrutiva do sono é, com efeito, até 4 vezes mais frequente no homem e 7 vezes mais frequente em pessoas obesas (cujo índice de massa corporal [IMC] é ≥ 30). 2
As moléculas fabricadas pelas bactérias postas em causa
O estudo acompanhou igualmente várias outras moléculas fabricadas pelas bactérias do nosso tubo digestivo para identificar as que desempenham um papel nas pausas respiratórias noturnas. Bingo: algumas, como a leucina (ou outras decorrentes do sono no exterior, como a Epiandrosterona sulfato) aumentam efetivamente o risco da apneia do sono. No entanto, estas moléculas revelam-se, muitas vezes, desfavoravelmente conhecidas: por exemplo, índices elevados de leucina foram observados em crianças com apneia do sono. Por outro lado, em pacientes a quem foi prescrita uma máscara para reduzir a apneia, os índices de leucina reduziram significativamente.
Desta forma, as perturbações da nossa microbiota intestinal e as alterações dos metabolitos produzidos pelas bactérias do nosso tubo digestivo parecem ter, conforme o seu perfil, consequências benéficas ou prejudiciais na apneia do sono. A investigação continua para que um dia possamos adormecer profundamente e dormir como uma pedra.
Investigadores descobriram pela primeira vez a presença de pequenas vesículas da respetiva microbiota intestinal no líquido amniótico das mulheres grávidas. As mesmas poderão desempenhar um papel fundamental na imunidade futura do bebé.
Trata-se de uma descoberta surpreendente de uma equipa de investigadores finlandeses.
Os microrganismos da microbiota intestinal das mulheres grávidas produzem minúsculas vesículas – chamadas vesículas extracelulares ("VEs") – constituídas por material bacteriano, capazes de atravessar a barreira placentária e atingir o líquido amniótico no qual o feto está imerso. 1 Elas poderão contribuir para o desenvolvimento adequado da sua imunidade futura.
Já sabia?
A microbiota das crianças muito pequenas contém um número excecional de... vírus! Investigadores dinamarqueses analisaram as fezes de 647 crianças com um ano de idade e identificaram 10.000 espécies virais diferentes, a grande maioria das quais até então desconhecidas. 2 Mas, calma, esses vírus são aliados! 90% deles são "bacteriófagos" capazes de transferir genes para as bactérias e de torná-las mais competitivas. Ao impedirem que certas estirpes bacterianas proliferem demasiado, estes fagos ajudam também à manutenção do equilíbrio da microbiota. Assim, eles poderão desempenhar um papel importante na formação do sistema imunitário da criança e, por conseguinte, estar potencialmente implicados em determinadas disfunções. A acompanhar…
Fim da controvérsia em torno da microbiota do feto?
Esta descoberta poderá permitir pôr fim a um debate que agita a comunidade científica há já vários anos: será que o feto possui uma microbiota?
Vários estudos registaram a presença de ADN bacteriano no líquido amniótico, no (sidenote:
Mecónio
Primeira matéria fecal eliminada por um recém-nascido, contendo o líquido amniótico absorvido no útero. O mecónio ajuda a identificar os microrganismos que revestem o trato gastrointestinal do feto.
) e na placenta. Mas a sua origem mantinha-se um mistério e muitos investigadores mostravam-se céticos quanto à presença de bactérias vivas nas proximidades do feto.
Sabe-se agora que esse ADN poderá ser proveniente de VEs oriundas da microbiota materna.
Conhecidas há cerca de dez anos, as VE são constituídas por uma membrana que contém várias moléculas bacterianas: proteínas, lípidos, ADN, ARN, etc. São capazes de transitar para a corrente sanguínea, de serem transferidas para as células ou tecidos e de modularem o seu funcionamento. Constituem, portanto, um meio de comunicação singular entre a microbiota e o organismo hospedeiro.
Até agora, ninguém havia investigado o papel das VEs na gravidez, nem muito menos comprovado a sua presença no ambiente fetal.
Anne Kaisanlahti e os seus colaboradores da Universidade de Oulu, na Finlândia, recrutaram 25 mulheres grávidas das quais recolheram amostras de fezes.
Todas elas deram à luz por cesariana, o que permitiu aos cientistas recolher o líquido amniótico em condições ótimas de esterilidade. Seguidamente, procuraram VEs em todas as amostras.
Resultado: há efetivamente vesículas, tanto nas fezes como no líquido amniótico, e elas são muito semelhantes, indicando uma origem comum.
É de notar que os autores apresentam uma hipótese. A maioria das vesículas identificadas no líquido amniótico são provavelmente detritos celulares da mãe e do feto.
Ao injetar VEs maternas de origem fecal humana em ratas grávidas, os investigadores mostraram que as mesmas se encontravam no líquido amniótico, provando que são de facto capazes de migrar através do corpo e de atravessar a barreira placentária.
De acordo com a hipótese dos investigadores, uma vez deglutidas pelo feto, as VEs exporiam o intestino fetal a constituintes bacterianos, permitindo-lhe familiarizar-se muito cedo e em total segurança com os micróbios intestinais que o irão colonizar após o nascimento. Elas poderão, por conseguinte, desempenhar um papel imunitário fundamental para a sua saúde futura.
Foi demonstrado que a administração prévia de antibióticos reduz a eficácia dos inibidores de checkpoint imunológico e alteram a composição do microbioma e a resposta imunitária no cancro gástrico avançado.
Evidências crescentes revelam que o microbioma intestinal influencia a eficácia dos inibidores de checkpoint imunológico (ICI), tais como os inibidores PD-1, no combate ao cancro. Mas, até agora, o impacto dos antibióticos administrados pouco antes da imunoterapia permaneceu pouco claro, principalmente no cancro gástrico avançado.
Num estudo pioneiro publicado no Cell Reports Medicine1, uma equipa de investigação internacional fornece dados convincentes, de 329 doentes, que indicam que a toma de antibióticos um mês após o início da administração dos inibidores PD-1 produz consequências negativas.
Classificado como o quinto cancro com prevalência mais elevada em todo o mundo, o cancro gástrico avançado é a terceira maior causa de mortalidade relacionada com cancro, a nível global. 2
Análises esclarecem o intervalo de sobrevivência
Uma análise multicêntrica descobriu que 44-46% dos doentes com cancro gástrico avançado tinham tomado antibióticos num período entre 28 dias pré-imunoterapia. Este grupo, que tomou antibióticos (pATB), experimentou taxas de resposta significativamente mais baixas (1,5% vs 11,8%) e um tempo de sobrevivência mais curto, quando comparado com o grupo não-pATB, ao ser-lhe administrados medicamentos (sidenote:
Anti-PD-1
imunoterapia baseada em inibidores dos pontos de controlo (checkpoints) do sistema imunitário, que elimina a inativação pelo tumor do sistema de reconhecimento ligado à proteína PD-1 presente na superfície dos linfócitos T. A eficácia do sistema imunitário contra as células tumorais é restabelecida.
) (pembrolizumab ou nivolumab).
Surpreendentemente, não ocorreram diferenças de sobrevivência com o grupo que tomou antibióticos antes da quimioterapia (N=101 doentes que receberam o irinotecan como quimioterapia),, indicando mecanismos específicos da imunoterapia.
Para desvendar estes mecanismos, a equipa realizou o sequenciamento dos genes do microbioma no ADN genómico bacteriano extraído de amostras de fezes de 24 doentes tratados com PD-1. Assim, foram quantificadas as espécies de bactérias e as alterações de abundância devidas aos antibióticos.
Adicionalmente, sequenciaram células imunitárias sanguíneas ao nível da célula única, permitindo uma comparação complexa das frequências e propriedades do subconjunto de células.
Os investigadores descobriram dois grandes efeitos interligados da exposição de pATB que podem prejudicar a eficácia do inibidor PD-1:
Diversidade global reduzida das bactérias intestinais, incluindo menor número de “bactérias boas”, tais como as Lactobacillus gasseri.
Aumento das células esgotadas CD8+ T sobrecarregadas com PD-1 e outros checkpoints imunológicos inibidores em vez de células T efetoras mais robustas.
Análises computacionais suplementares demonstraram que o microbioma e os índices imunitários estão estatisticamente associados aos resultados dos pacientes: Por exemplo, uma maior abundância de Lactobacillus gasseri foi relacionada com um maior período livre de progressão e sobrevivência global. Por outro lado, o aumento desproporcional de células CD8+ T exaustivas em circulação prenunciou um pior prognóstico.
É necessária uma grande precaução na prescrição de antibióticos
Os autores recomendam vivamente aos médicos que ponderem a necessidade de antibióticos e procurem alternativas, antes do início da imunoterapia. Os ATB devem ser prescritos com precaução em doentes com AGC, cujo plano seja administrar-lhes inibidores PD-1. Sugerem uma validação prospetiva das intervenções de modulação do microbioma, tais como os transplantes fecais, de forma a salvaguardar a resposta ao tratamento dos doentes pATB.
Este estudo revelou uma peça essencial do puzzle da imunoterapia no tratamento do cancro, que destaca o papel do microbioma. Estudos prospetivos adicionais e de maiores dimensões, acompanhados pela análise translacional viriam a confirmar as conclusões deste estudo. Este estudo abre portas promissoras para a estimulação dos resultados clínicos no cancro de estômago avançado e outros.
O acesso a água corrente, a cuidados de saúde e a uma dieta diversificada não impede que os bebés tenham uma microbiota intestinal menos madura do que os que nascem num ambiente rural menos favorecido. Esta é a principal lição de um estudo 1 realizado no Senegal
O ambiente – alimentação, higiene, local e estilo de vida, poluentes, medicamentos, etc. – condiciona o desenvolvimento e a composição da microbiota intestinal. Mas a genética também o faz!
As alterações do microbiota são associadas a certas doenças, como a obesidade e alergias. Tendo em conta que o estilo de vida contribui para alterações na microbiota que influenciam as doenças, os investigadores quiseram descobrir qual o impacto da urbanização na microbiota intestinal, abstraindo-se do fator genético.
Para o efeito, recrutaram 60 jovens mulheres fulani do Senegal e os bebés que elas tinham acabado de dar à luz, a maioria dos quais por via vaginal. Todas as mulheres pertenciam ao mesmo grupo étnico e, por conseguinte, apresentavam unidade genética. Por outro lado, viviam em ambientes fundamentalmente diferentes:
Metade deles vivia num ambiente "tradicional" (rural), com pouco ou nenhum acesso a serviços (eletricidade, centros de saúde, água corrente, etc.) e com uma alimentação pouco diversificada;
A outra metade vivia na cidade de Dacar (urbano) com eletricidade, água corrente, cuidados de saúde e uma dieta muito mais diversificada.
As mães “urbanas” possuíam um índice de massa corporal (sidenote:
Índice de Massa Corporal (IMC)
IMC o Índice de Massa Corporal avalia a corpulência de uma pessoa, estimando a massa gorda do corpo com recurso ao cálculo da relação entre o peso (kg) e a altura elevada ao quadrado (m2) da pessoa.
https://www.nhlbi.nih.gov/health/educational/lose_wt/BMI/bmicalc.htm
https://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/nutrition/a-healthy-lifestyle/body-mass-index-bmi) mais elevado do que o das mães “rurais”.
Os cientistas recolheram amostras de fezes de mães e bebés em dois momentos: durante os primeiros 6 meses de vida destes (T1) e um ano depois (T2).
5 fatores principais influenciam a microbiota intestinal dos bebés 2
• Tipo de parto: a criança nascida de parto vaginal tem uma maior diversidade de microbiota do que as crianças nascidas por cesariana;
• Idade gestacional à nascença: a prematuridade tem impacto negativo na colonização da microbiota;
• Aleitamento materno: o leite materno fornece micróbios, nutrientes, imunoglobulinas e agentes antibacterianos, substâncias benéficas que não existem nas fórmulas para lactentes;
• Ambiente: os irmãos, os hábitos alimentares, o local de residência, etc., desempenham todos um papel na colonização da microbiota;
• Genética: um estudo realizado em crianças com menos de 10 anos revelou que a semelhança microbiana entre os gémeos idênticos era mais elevada do que entre os gémeos fraternos ou as crianças não aparentadas 3
Melhores condições de vida, mas consequências nocivas para a microbiota intestinal
Os investigadores apuraram que os bebés urbanos apresentavam um "atraso na maturação” da sua microbiota intestinal, caraterizado por uma menor diversidade microbiana. Esse déficit não foi observado nos lactentes rurais. Isto pode indicar que as condições sanitárias do ambiente urbano ou que a poluição ou a alimentação influenciam a evolução da sua microbiota.
Não obstante, as diferenças na composição da microbiota entre bebés urbanos e rurais eram menores do que entre a das mulheres urbanas e rurais. Segundo os autores do estudo, isto pode explicar-se pelo facto de os bebés terem sido expostos durante menos tempo do que as respetivas mães a certos fatores da urbanização, como a alimentação, una vez que a diversificação alimentar não ocorre geralmente antes do sexto mês.
Ainda segundo os autores, o facto de as mães urbanas estarem expostas a um maior número de fatores – a urbanização, mas também uma maior prevalência de parasitas e de excesso de peso do que as mães rurais – pode também estar na origem destas diferenças.
Os investigadores observaram também que os bebés com a microbiota imatura ao ano de idade eram mais suscetíveis às infeções respiratórias e dermatológicas do que os bebés rurais no T2, mas não no T1. Apresentavam igualmente mais sintomas de alergia. Por fim, as mães urbanas tinham um índice de massa corporal ( (sidenote:
Índice de Massa Corporal (IMC)
IMC o Índice de Massa Corporal avalia a corpulência de uma pessoa, estimando a massa gorda do corpo com recurso ao cálculo da relação entre o peso (kg) e a altura elevada ao quadrado (m2) da pessoa.
https://www.nhlbi.nih.gov/health/educational/lose_wt/BMI/bmicalc.htm
https://www.euro.who.int/en/health-topics/disease-prevention/nutrition/a-healthy-lifestyle/body-mass-index-bmi) maior do que as mães rurais, bem como uma maior presença de Lachnospiraceae e Enterobacter, bactérias que têm sido associadas à obesidade em diversos estudos.
Segundo os autores, embora este estudo sugira que a urbanização altera a microbiota, ele não identifica claramente quais são os fatores responsáveis, entre os muitos a que as mães e os seus filhos estão expostos (água potável, alimentação, poluição, condições de trabalho, etc.). Por conseguinte, serão necessários mais estudos antes de se poder tirar conclusões.
Fumar perturba fortemente o equilíbrio da microbiota oral. Uma boa notícia para quem está a ponderar deixar de fumar este ano: bastam 5 anos após o último cigarro para que a microbiota oral volte a ser semelhante à de um não fumador. É o principal resultado de um novo estudo europeu.
Poderia não saber, mas a boca é muito mais do que uma simples máquina de mastigação. Ela é a casa de vários microrganismos, a “microbiota oral”, que desempenha um papel benéfico e importante na nossa saúde.
As bactérias da microbiota oral não gostam do cigarro
Problema: um estudo realizado em 2016 na América evidenciou que os fumadores têm uma microbiota oral muito alterada 1 e este facto tem consequências na sua saúde. Vários estudos demonstram, com efeito, que no caso de (sidenote:
Disbiose
A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano.
Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232.) da microbiota oral, o risco de problemas cardiovasculares e de doença periodontal (inflamação e recessão gengival) aumenta.
Deparamo-nos com a mesma problemática de saúde pública nos europeus? Uma equipa de investigadores decidiu aprofundar a questão e, pela primeira vez, determinar se deixar de fumar permite corrigir a situação. 2
Quem sabe o que é a microbiota bucal que levante a mão!
Segundo o Observatório Internacional de Microbiotas, em 6500 inquiridos nos meses de março e abril de 2023 (França, Espanha, Portugal, Brasil, México, China), apenas 17% sabem precisamente o que é a microbiota oral.
Além disso, mais de 1 em 3 chineses e 1 em 3 americanos não sabe que o tabagismo pode afetar a microbiota (intestinal, oral...), em oposição a 1 em 4 pessoas em França e apenas 1 em 5 pessoas no Brasil.
Analisaram a microbiota salivar de 1601 italianos com uma idade média de 45 anos, entre os quais 45% eram fumadores ou antigos fumadores. Os investigadores procuravam saber, especificamente, se a atividade das bactérias que transformam o nitrato da alimentação em nitrito, um composto benéfico para os vasos sanguíneos, era afetada pelo tabagismo.
Voltar ao equilíbrio depois de deixar de fumar
O que demonstram os resultados? Em primeiro lugar, que os fumadores italianos têm uma microbiota oral bem mais alterada do que os não fumadores. Não obstante, uma boa notícia! Entre os não fumadores, quanto maior o número de anos sem fumar, mais a microbiota oral se reaproxima da dos não fumadores.
Tabaco: a autópsia de um assassino
Metais pesados, gases tóxicos, alcatrão, nicotina... O tabaco é uma verdadeira fábrica química e um assassino silencioso terrível. De acordo com a Santé Publique France (3), é a causa de 1 em cada 3 cancros e constitui um fator importante no enfarte do miocárdio, na bronquite crónica obstrutiva (BPCO) e no acidente vascular cerebral (AVC).
É igualmente um fator agravante de úlcera gástrica, diabetes, infeções ORL e dentárias, doença periodontal, catarata e degeneração macular relacionada com a idade (DMLA). Todos os anos é responsável por 8 milhões de mortes em todo o mundo. 4 A cereja no topo do bolo: não existe um limite abaixo do qual o cigarro não represente um risco. E se pensar em deixar de fumar?
Em pessoas que tenham deixado de fumar há, pelo menos, 5 anos as populações bacterianas na boca apresentam quase o mesmo perfil que os não fumadores. Perante o tabaco, a microbiota oral apresenta, portanto, uma boa resiliência.
Além disso, constatamos nos fumadores uma diminuição das bactérias capazes de transformar os nitratos alimentares em nitritos. Porque é esta informação interessante? Porque os nitritos são indispensáveis à produção de monóxido de azoto (NO)
No caso de diminuição do NO, observamos um aumento do fluxo sanguíneo nas gengivas, o que leva a uma inflamação e à recessão gengival. Sabemos também que uma deficiência de NO é um fator de risco no desenvolvimento de uma doença cardiovascular. A microbiota oral está, portanto, envolvida no risco acrescido cardiovascular observado em fumadores.
Apesar de existirem reservas, este estudo é importante, porque foi realizado num grande grupo de pessoas e calculou finamente o impacto da intensidade do tabagismo.
São resultados que devem ser relembrados na hora de optar por boas resoluções!
Múltiplas associações entre a microbiota intestinal e medições da densidade óssea apontam para uma ligação entre esta flora e o metabolismo esquelético. Determinadas bactérias e vias metabólicas são assinaladas.
Da microbiota intestinal à saúde do esqueleto, poderá haver apenas um passo, a acreditar em investigações anteriores: 1 estima-se que certos microrganismos intestinais aumentam a produção de linfócitos T, o que estimula a produção de mediadores imunitários e citocinas inflamatórias, promovendo a osteoclastogénese e a perda óssea em ratos. Outros estudos apontam para ligações mecanicistas que envolvem a produção de ácidos gordos de cadeia curta (AGCC) microbianos e o metabolismo dos componentes alimentares que participam no metabolismo ósseo (vitaminas K, D e polissacáridos complexos). Foi até criado um termo dedicado: osteomicrobiologia. No entanto, os estudos clínicos eram raros, até ao que foi publicado por uma equipa americana.
2 coortes diferentes, um suspeito comum
Este trabalho baseia-se nas coortes de dois estudos observacionais: 831 homens idosos (média de idade de 84,2 anos) provenientes do estudo MrOS 2 sobre a osteoporose nos homens e 1.227 homens e mulheres mais jovens (média de idade de 55,2 anos) oriundos do Framingham Heart Study (FHS). 3 A análise dos dados identificou 37 géneros microbianos que parecem estar envolvidos no estudo FHS (nomeadamente DTU089, Marvinbryantia, Blautia e Akkermansia negativamente associados à densidade óssea, e Turicibacter e Victivallis associados positivamente) e 4 géneros no MrOS (associações negativas com Methanobrevibacter e DTU089, e positivas com Lachnospiraceae NK4A136).
Assim, e apesar da diferença entre as duas coortes em termos de altura, sexo e idade, uma bactéria comum surgiu associada a uma menor densidade óssea em ambas as coortes: a DTU089, que se sabe ser mais abundante nas pessoas com um reduzido nível de atividade física e um consumo muito limitado de proteínas, dois fatores desfavoráveis à saúde óssea.
Os investigadores aproveitaram as duas coortes para efetuar uma meta-análise. Resultados: uma maior abundância de Akkermansia e DTU089 foi associada a rádios e a tíbias menos densos; pelo contrário, uma presença mais elevada do grupo Lachnospiraceae NK4A136 e de Faecalibacterium foi relacionada com uma melhor densidade óssea.
Os investigadores identificaram ainda oito vias metabólicas associadas às medições ósseas, a mais importante das quais é a via de biossíntese da histidina, da purina e da pirimidina. Experiências anteriores em ratos já tinham apontado para uma perturbação do metabolismo das purinas na osteoporose.
Embora estes resultados sejam apenas preliminares e requeiram mais estudos para se compreender melhor os mecanismos através dos quais certas bactérias são capazes de modificar a integridade do esqueleto, eles corroboram os resultados pré-clínicos iniciais. E, acima de tudo, reforçam a esperança de que um dia seja possível modular a microbiota intestinal para que se possa proteger melhor a saúde óssea dos pacientes.
Os investigadores conseguiram “transmitir” os sintomas da doença de Alzheimer a ratos jovens, transplantando-lhe simplesmente a microbiota intestinal de pacientes doentes. Estes microrganismos foram suficientes para alterar a sua memória espacial.
A doença de Alzheimer é reconhecida como sendo multifatorial: a genética, o estilo de vida, o ambiente estão envolvidos. Mas, de acordo com um estudo publicado na revista Brain 1 em outubro de 2023, parece que a microbiota intestinal desempenha igualmente um papel. E não menos importante: o simples transplante para ratos jovens da microbiota intestinal proveniente de pacientes com a doença de Alzheimer é suficiente para induzir nos animais alterações na sua memória espacial, um sintoma típico da doença.
Uma microbiota intestinal desequilibrada
Já se sabia que os pacientes que sofrem de Alzheimer apresentam uma alteração na sua microbiota intestinal. Os autores confirmaram de novo essa observação com, por exemplo, uma redução nos doentes do número de bactérias do género Coprococcus, associadas a um envelhecimento saudável.
Mas demonstram, sobretudo, que estas alterações estão associadas ao estado clínico dos pacientes e, mais precisamente, ao seu resultado num teste de avaliação de capacidades cognitivas e de memória, designado MMSE: quanto mais determinadas bactérias reconhecidas como sendo benéficas para a saúde estiverem presentes, maior é a pontuação MMSE. Em oposição, a abundância de bactérias nocivas (por exemplo, Desulfovibrio) acompanha a degradação da pontuação MMSE. Desta forma, as bactérias intestinais estão associadas aos desempenhos cognitivos dos pacientes.
Uma transferência de flora intestinal... e de doença
Mas como compreender esta ligação entre o intestino e o cérebro? A microbiota intestinal contribui para a doença de Alzheimer ou também sofre com a mesma?
Para responder à questão, a equipa recolheu fezes de dadores saudáveis e de doentes de Alzheimer e transplantou-as para jovens ratos adultos. Resultado: em ratos que receberam a flora “Alzheimer”, a abundância de bactérias nocivas Desulfovibrio aumenta, o sistema digestivo altera-se (fezes mais húmidas, encurtamento do cólon…) e sobretudo, os ratos têm mais dificuldades na realização de tarefas que necessitam da sua memória espacial a longo prazo. São sintomas comparáveis aos de humanos atingidos pela doença.
10 milhões de novos casos por ano
Atualmente, mais de 55 milhões de pessoas são atingidas pela demência em todo o mundo. Todos os anos surgem cerca de 10 milhões de novos casos. 2
Experiências complementares parecem indicar que o transplante alterou nos ratos um processo que permite produzir novos neurónios. Como podem os acontecimentos que decorrem no tubo digestivo “subir ao cérebro”? Sem dúvida através da circulação sanguínea: a microbiota intestinal desequilibrada fabrica pequenas moléculas capazes de atravessar a barreira do cérebro e de nele colocar em perigo os processos de regeneração dos neurónios.
Trata-se apenas de resultados preliminares que outros estudos deverão sustentar. Mas permitem estudar a doença de Alzheimer de um ângulo mais amplo que apenas o do cérebro. O suficiente para, um dia, inspirar novas abordagens com o objetivo de atrasar o surgimento ou abrandar a progressão da demência ou mesmo de doenças neurodegenerativas e cognitivas no geral?
A microbiota intestinal dos doentes de Alzheimer revela-se disbiótica. Mas esta é uma causa da doença ou uma consequência? As experiências de FMT realizadas em ratos sugerem uma relação causal.
A microbiota intestinal estará envolvida na doença de Alzheimer. Demonstrado através das alterações específicas desta flora dos doentes e nos modelos murinos. Mas estas modificações da microbiota intestinal são a causa ou um sintoma da doença? Os trabalhos publicados na Brain1 fornecem alguns elementos de resposta.
Alteração do estado cognitivo e assinatura microbiana
Os 64 doentes de Alzheimer que participaram no estudo apresentam, em comparação com os 69 indivíduos saudáveis, uma maior inflamação sistémica. A microbiota está enriquecida com Bacteroidetes (que inclui várias espécies pró-inflamatórias) e empobrecida em Firmicutes e Verruocomicrobiota (identificadas como benéficas). Clostridium sensu stricto 1 e Coprococcus, produtora de ácidos gordos de cadeia curta, estão menos presentes, ao passo que a abundância de patobionte Desulfovibrio aumenta.
Contudo, estas alterações da microbiota intestinal demonstram estar associadas ao estado clínico dos pacientes vítimas de Alzheimer e, em especial, nas pontuações de avaliação cognitiva e da memória MMSE (Mini-Mental State Examination): quanto menos Coprococcus estão presentes, menor é a pontuação MMSE. Aumenta a abundância de Desulfovibrio e Dialister, mais a pontuação MMSE se degrada. Estes resultados demonstram uma assinatura microbiana de alteração dos desempenhos cognitivos na doença de Alzheimer.
60-70% dos casos
A demência é resultado de várias doenças e lesões que afetam o cérebro. A doença de Alzheimer é a causa mais comum de demência e está na origem de 60 a 70 % dos casos.
Mais de 55 milhões
Atualmente, mais de 55 milhões de pessoas são atingidas pela demência em todo o mundo. Todos os anos surgem cerca de 10 milhões de novos casos.
Faltava compreender a contribuição da microbiota intestinal humana na doença de Alzheimer. Para este efeito, a equipa transplantou amostras fecais de pacientes de Alzheimer e de indivíduos saudáveis para jovens ratos adultos com uma microbiota empobrecida por 7 dias de antibióticos. Enquanto a diversidade dos táxones se manteve nos ratos que receberam uma flora saudável, o FMT da microbiota de um paciente de Alzheimer induziu uma modificação mais importante dos táxones, com um particular aumento de Desulfovibrio. A função cólica dos ratos que receberam a microbiota de um paciente com Alzheimer foi igualmente alterada (movimentos intestinais mais húmidos, encurtamento do cólon, hiperplasia das criptas do cólon proximal...).
… e transferência das alterações de memória
Sobretudo, os ratos que receberam a microbiota de um paciente com Alzheimer têm mais dificuldade na realização de determinadas tarefas, especialmente as que requerem memória espacial a longo prazo e que dependem fisiologicamente da neurogénese, processo através do qual as células de origens neurais do hipocampo geram neurónios ao longo de toda a vida. Por outro lado, os autores demonstram que o FMT de uma microbiota de um paciente com Alzheimer afeta essa neurogénese e, principalmente, a sobrevivência e a arborização dendrítica dos neurónios. Como? Sem dúvida por via vascular. Determinados metabolitos bacterianos capazes de atravessar a barreira sangue-cérebro foram identificados pelos autores. Além disso, os autores demonstram que in vitro, mergulhar as células embrionárias progenitoras do hipocampo num soro proveniente de doentes, afeta a proliferação neural, a diferenciação e a morfologia das dendrites.
Estes resultados, que devem ser apoiados por outros estudos (mecanicistas, de intervenção, de metabolómica...), demonstram que a doença de Alzheimer não se limita unicamente ao cérebro. Podem inspirar novas abordagens destinadas a atrasar o aparecimento ou a abrandar a progressão da demência, possivelmente aplicar-se a outros problemas neurodegenerativos e cognitivos.
Suspeitava-se da existência de uma interação bidirecional entre a microbiota intestinal e a vacinação. Investigações acabam de o confirmar, ao caraterizar as bactérias ligadas à durabilidade da imunidade e os efeitos de duas tecnologias de vacinas (ARN e vírus inativado) na microbiota.
As respostas imunitárias à vacina contra a COVID-19 dependem de uma série de fatores, incluindo a composição da microbiota intestinal. Por outro lado, a vacinação poderá modular a flora intestinal. Para compreender melhor esta interação nos dois sentidos, foi realizado um estudo longitudinal prospetivo em Hong Kong. Tal foi alcançado através da recolha de amostras de sangue e fezes (na inclusão e, depois, 1 e 6 meses após a vacinação) de participantes vacinados com (sidenote:
BNT162b2
Vacina de ARN anticovid 19 incorporada em nanopartículas lipídicas do laboratório BioNTech-Pfizer, comercializada sob o nome "Comirnaty" na UE.
) (n=121 participantes, idade média = 42 anos) ou (sidenote:
CoronaVac
Vacina anticovid 19 de vírus inteiro inativado, com adjuvante (hidróxido de alumínio), da Sinova. Autorizada em muitos países da Ásia e da América do Sul. Na Europa, está autorizada na Bósnia, na Ucrânia e na Turquia.
Fonte: www.mesvaccins.net/
) (40 participantes, idade média = 55), que não contraíram Covid durante o estudo.
Efeito da microbiota na resposta às vacinas
A imunogenicidade da BNT162b2 (vacina de ARNm) foi mais forte e duradoura do que a da CoronaVac, com os participantes a apresentarem níveis de anticorpos mais elevados aos 6 meses.
Nos participantes vacinados com BNT162b2, uma maior abundância de Bifidobacterium adolescentis, B. bifidum e Roseburia faecis na altura da vacinação foi associada a uma melhor resposta à vacina. A abundância em três espécies bacterianas (B. adolescentis, Lachnospira pectinoschiza e Lactococcus lactis) no momento da inclusão permitiu mesmo prever a resposta à vacina aos 6 meses. 28 metabolitos, incluindo o ácido nicotínico (vitamina B) e o ácido γ-aminobutírico (GABA), surgiram associados, positiva ou negativamente, à resposta à vacina.
Nos vacinados com CoronaVac (vírus inativado), mais anticorpos aos 6 meses estiveram associados a mais bactérias produtoras de ácidos gordos de cadeia curta, como Phocaeicola dorei, Blautia massiliensis e Dorea formicierans, e a uma menor abundância de Faecalibacterium prausnitzii na inclusão. A abundância em três espécies bacterianas (Clostridium fessum, Actinomyces sp. ICM47 e Enterrotcloster citroniae) na inclusão permitiu prever os níveis de anticorpos aos 6 meses. 42 metabolitos, incluindo o L-triptofano, foram associados negativamente aos níveis de anticorpos aos 6 meses. Cada tecnologia de vacinas está, portanto, ligada a uma resposta imunitária específica, dependendo da composição inicial da microbiota.
Efeitos da vacina sobre a microbiota
Inversamente, qualquer das vacinas alterou a microbiota intestinal, com uma redução da diversidade, um aumento de Bacteroidota e Pseudomonadota e uma menor abundância de Bacillota e Actinomycetota, uma redução das vias de biossíntese da histidina e um aumento das vias de degradação da metionina e da arginina. As alterações na microbiota intestinal associadas à vacinação CoronaVac foram mais semelhantes às induzidas pelo vírus SARS-CoV-2. A tecnologia desta vacina (vírus inteiro inativado) poderá explicar esta diferença.
Por fim, a microbiota intestinal do grupo BNT162b2 recuperou mais rapidamente a sua diversidade, mas uma maior proporção (58,0%) das espécies modificadas pela vacinação não tinha regressado aos níveis iniciais 6 meses após a vacinação, em comparação com o CoronaVac (21,6%).
Um novo estudo acaba de demonstrar que certas caraterísticas da microbiota intestinal podem ser um indicador do nível de anticorpos anticovid nos 6 meses após a vacinação. Uma novidade!
Diz-me o aspeto da tua microbiota, dir-te-ei como é que a vacina anticovid te vai proteger.
É este o resumo das conclusões de um estudo 1 publicado em setembro passado na revista Signal Transduction and Targeted Therapy.
Os investigadores conseguiram demonstrar que a presença de certas bactérias e de determinadas moléculas no intestino antes da primeira injeção poderá reforçar a imunidade conferida pela vacina, prolongando assim o seu período de ação.
Trata-se de uma perspetiva promissora para o desenvolvimento de adjuvantes
Este resultado foi comprovado pela participação de 161 voluntários inscritos durante 6 meses.
121 deles receberam 2 injeções de Comirnaty, a vacina da Pfizer BioNTech (vacina de ARNm), e os restantes 40 receberam CoronaVac, a vacina da empresa chinesa Sinovac Biotech (vírus inativado). Nenhum dos voluntários foi infetado com Covid durante o estudo. Imediatamente antes da vacinação, e posteriormente um mês e seis meses depois, os cientistas recolheram neles:
amostras de sangue para medir as concentrações de anticorpos, e
amostras de fezes para identificar as bactérias da respetiva microbiota intestinal e medir as substâncias produzidas pelo doente e pelas suas bactérias (vitamina B3, GABA, ácido fumárico, etc. que constituem o famoso "metaboloma").
À partida, os cálculos dos investigadores mostram que o Comirnaty proporciona uma melhor imunidade do que o CoronaVac.
Vacinas: como funcionam?
Sabermo-nos defender contra uma doença implica conhecermos bem o nosso inimigo! É para isso que servem as vacinas contra os vírus.
É injetado um antigénio, ou seja, o agente patogénico inativado, atenuado ou um fragmento do mesmo;
As células imunitárias produzem anticorpos específicos dirigidos contra esse antigénio;
Em resposta, o corpo armazena células de "memória";
Em caso de infeção pelo verdadeiro agente patogénico, a ativação das células de memória do sistema imunitário é rápida e eficaz (mais do que se o organismo o descobrisse pela primeira vez);
O agente patogénico é destruído.
Fabricado a partir de vírus SARS-CoV-2 inativados, o CoronaVac funciona segundo este princípio. O Comirnaty é um pouco diferente: contém uma espécie de “projeto” ou “planta” (o famoso ARN mensageiro) que permite às células fabricar proteínas idênticas às presentes na superfície do vírus COVID, e são estas proteínas que vão desempenhar o papel de antigénio no fabrico de anticorpos.
Fonte: OMS 2
O estado da flora intestinal determina a resposta imunitária induzida pela vacina
No grupo CoronaVac, a presença reduzida de Faecalibacterium prausnitzii e a abundância em Phocaeicola dorei – a mesma assinatura que a encontrada em pacientes infetados com COVID – foi associada a uma melhor imunidade aos 6 meses, assim como a maior presença no metaboloma de ácido fumárico, um composto conhecido por inibir a replicação do vírus.
Outro resultado foi que, na microbiota dos voluntários do grupo Comirnaty, uma proporção mais elevada de estirpes bacterianas alteradas pela vacina não recuperou o seu estado pré-vacinação, face ao que ocorreu no grupo Coronavac. Embora seja ainda difícil analisar as consequências, os investigadores salientam que algumas das estirpes afetadas são as mesmas que se encontram alteradas em pessoas que sofrem de COVID-19 prolongada.
Rumo a novos adjuvantes
Já se sabia que a microbiota, a genética e o excesso de peso influenciavam a eficácia das vacinas anticovid. Mas esta é a primeira vez que um estudo mostra que a estrutura da microbiota e do metaboloma antes da vacinação pode permitir prever o nível de imunidade 6 meses depois.
Embora os resultados precisem de ser confirmados por um estudo mais específico, eles sugerem que em breve poderá ser possível utilizar bactérias ou compostos do metaboloma como adjuvantes para melhorar a eficácia das vacinas.