A microbiota oral e intestinal na origem da aterosclerose?

A relação entre a microbiota e as doenças metabólicas já é conhecida há muito, devido ao envolvimento das bactérias da microbiota intestinal e oral no metabolismo dos lípidos, mas o que é que se passa quanto à relação entre estes microrganismos e as placas ateroscleróticas?

Interferência no metabolismo lipídico 1, inflamação ligada à translocação bacteriana e metabolitos bacterianos, etc.: vários mecanismos poderão explicar a relação entre a microbiota digestiva, da boca ao reto, e a aterosclerose. Mas os estudos realizados até agora sofriam de uma série de limitações (interações com os tratamentos dos pacientes, estilos de vida, etc.). Estes enviesamentos foram parcialmente ultrapassados por um estudo multicêntrico sueco abrangendo 8.973 participantes com idades compreendidas entre os 50 e os 65 anos, sem historial de aterosclerose, oriundos da coorte SCAPIS 2. Foram recolhidas e analisadas amostras da microbiota oral e fecal, e a aterosclerose coronária foi avaliada através do (sidenote: Score de cálcio avaliação quantificada da extensão dos depósitos ateromatosos calcificados nas paredes das artérias do coração, as coronárias. Quanto maior é o score de cálcio coronário, maior é o risco cardiovascular. Fonte: CHversailles   ) e de angiografia. Apesar de assintomáticos, 40,3% dos participantes apresentaram calcificação coronária e 5,4% possuíam pelo menos 1 estenose com oclusão superior a 50%.

64 espécies intestinais e orais envolvidas

Verificou-se que a composição e a riqueza da microbiota digestiva estavam associadas à aterosclerose subclínica. Assim, 64 espécies foram associadas ao score de cálcio coronário: 51 de uma forma prejudicial (sendo as associações mais fortes observadas para Streptococcus anginosus e Streptococcus oralis subsp oralis) e 13 de um modo protetor. Dessas 64 espécies, 19, incluindo estreptococos e outras espécies da cavidade oral, foram associadas a marcadores de inflamação (proteína C-reativa) e 16 a marcadores de infeção (contagem de neutrófilos). Muitas das espécies envolvidas (S. anginosus, S. oralis subsp oralis, S. parasanguinis, S. gordonii) são, segundo os autores, bactérias capazes de atravessar a barreira oral ou intestinal durante tratamentos dentários ou devido a lesões, infetando depois válvulas e vasos coronários (endocardite infecciosa).

Da disbiose digestiva à aterogénese

A composição da microbiota intestinal também pode contribuir para a aterogénese, alterando o metabolismo do hospedeiro. As espécies microbianas intestinais normalmente presentes na cavidade oral (por exemplo, todos os Streptococcus spp associados à calcificação coronária, Rothia mucilaginosa, Bifidobacterium dentium e Ligilactobacillus salivarius) foram associadas a níveis plasmáticos mais baixos de propionato de indol (considerado protetor contra a aterosclerose) e a níveis mais elevados de metabolitos plasmáticos derivados da microbiota, como ácidos biliares secundários e propionato de imidazol (pró-inflamatório). 

Embora ainda sejam necessários mais estudos longitudinais e experimentais, este trabalho fornece provas de associação entre a composição da microbiota do sistema digestivo (em particular Streptococcus spp e outras espécies também presentes na cavidade oral), a aterosclerose coronária e os marcadores de inflamação sistémica.

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A chuva não quebra ossos, mas as bactérias podem

E se a nossa saúde óssea dependesse apenas de algumas bactérias na nossa microbiota intestinal? É esta a ideia avançada por um estudo publicado na revista Frontiers in Endocrinology, baseado num inquérito em grande escala a mais de 2.000 americanos.

A microbiota intestinal

Por detrás do termo osteomicrobiologia esconde-se o estudo dos mecanismos que ligam a microbiota intestinal e o esqueleto. E inúmeras hipóteses quanto aos mecanismos envolvidos. Por exemplo, a flora intestinal poderá estimular certos glóbulos brancos, induzindo uma inflamação que pode levar à perda óssea. Muitos outros mecanismos têm sido aventados, alguns envolvendo os  (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) produzidos por bactérias após a fermentação de fibras no cólon, ou compostos dietéticos como as vitaminas K ou D. No entanto, ainda não existem estudos em grande escala. Ou melhor, não existiam, porque um estudo realizado com cerca de 2.000 americanos fornece novas informações.

A microbiota intestinal

Saiba mais

Saúde óssea: duas bactérias em foco

Este estudo reuniu os participantes de dois estudos muito diferentes: 836 homens idosos (média de idades 84,2 anos) e 1.227 homens e mulheres na casa dos cinquenta (média de idades 55,2 anos). Apesar desta heterogeneidade de perfis em função da idade e do sexo, duas bactérias suspeitas aparentam estar sistematicamente associadas a uma pior saúde óssea e, por conseguinte, a um risco acrescido de  (sidenote: Osteoporose Doença caracterizada por uma redução da massa óssea e uma deterioração da estrutura do tecido que a compõe. Torna os ossos mais frágeis e, portanto, aumenta significativamente o risco de fraturas.

Fonte: Inserm
)
e de fraturas ao menor traumatismo: as bactérias Akkermansia e Clostridiales DTU089, mais abundantes nas pessoas com baixo nível de atividade física e consumo muito limitado de proteínas, dois dos comportamentos não recomendados a quem quiser manter os seus ossos saudáveis!

Inversamente, a flora intestinal rica em Lachnospiraceae e Faecalibacterium foi associada a tíbias mais resistentes. Assim, é possível que certas bactérias possam influenciar a forma como o osso se remodela com o passar dos anos. Possível, mas (ainda) não garantido.

Sol, exercício e equilíbrio alimentar!

Na verdade, trata-se apenas de um resultado preliminar. São necessários mais estudos, nomeadamente para se compreender melhor os mecanismos através dos quais certas bactérias conseguem influenciar a integridade do nosso esqueleto. O que se traduz numa enorme esperança: a de que um dia sejamos capazes de modular a nossa microbiota intestinal para protegermos melhor a nossa saúde óssea.

Enquanto aguardamos, passarmos algum tempo ao ar livre (para aproveitarmos o sol e produzirmos a famosa vitamina D que facilita a absorção do cálcio), fazermos exercício físico regularmente e termos uma alimentação equilibrada é o que nos ajuda a mantermos os nossos ossos saudáveis ao longo dos anos!

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A surpreendente origem das suas bactérias intestinais? Pode ser a sua próxima salada!

Poderá essa fresca dieta verde estar a alimentar os biliões de bactérias do seu intestino? Uma nova investigação revela surpreendentes ligações microbianas entre as frutas e legumes que comemos e a nossa diversidade intestinal microbiana.

A microbiota intestinal

Já todos ouvimos dizer que "uma maçã por dia mantém uma vida sadia". Mas e se essa fruta crocante também estiver a alimentar um mundo invisível dentro de nós? Uma nova investigação 1 revelou que, quando mordemos maçãs, cenouras e outros produtos frescos, podemos estar a fornecer micróbios que semeiam os nossos ecossistemas intestinais, integrando a vasta comunidade de bactérias que residem nos nossos intestinos. 

Cientistas do Instituto de Biotecnologia Ambiental da Áustria 2 descobriram uma nova e surpreendente ligação entre as frutas e legumes que comemos e as bactérias que residem nos nossos intestinos. Esta nova investigação descobriu que muitos tipos de bactérias intestinais têm origem em produtos frescos, migrando para o nosso sistema digestivo quando comemos frutas, legumes e outros alimentos vegetais.

A microbiota intestinal

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Ao examinarem o ADN bacteriano, os investigadores identificaram dezenas de géneros de bactérias que vivem tanto nos produtos como no interior dos intestinos humanos. Estes micróbios constituem uma pequena, mas significativa fração dos nossos ecossistemas intestinais: em média, cerca de 2% das bactérias intestinais específicas de cada indivíduo provêm de frutas e legumes.

Este valor é mais elevado nas crianças mais novas e nas pessoas que comem mais legumes. Embora em número relativamente reduzido, estas bactérias derivadas dos produtos agrícolas fornecem (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) , vitamina B12 e vitamina K benéficos para a saúde. 

2% dos micróbios intestinais dos seres humanos provêm dos frutos e legumes que consumimos!

Mais diversidade vegetal, maior diversidade intestinal

O estudo mostrou também ligações entre o consumo de produtos hortícolas e a saúde intestinal. O consumo semanal de mais de 10 tipos diferentes de frutas e legumes surgiu associado a uma maior diversidade de bactérias intestinais, em comparação com uma dieta vegetal menos variada. As pessoas que comeram mais vegetais tenderam a ter uma maior variedade de micróbios intestinais.

O que é que acontece quando os produtos frescos perdem diversidade?

Esta investigação veio chamar a atenção para um risco alarmante: enquanto a atividade humana degradar o solo e reduzir a variedade das plantas, podemos privar os nossos ecossistemas intestinais de micróbios vitais. Se as frutas e os legumes são cruciais para a transmissão de bactérias, quais serão as consequências de se consumir produtos da agricultura intensiva, com um microbioma deficiente? Talvez seja necessário repensar urgentemente a agricultura e a conservação para se manter as vias microbianas que ligam o ambiente e a saúde humana. 

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Da quinta para o intestino: os efeitos surpreendentes das frutas e legumes na microbiota intestinal

Cientistas descobriram pela primeira vez que mais de 2% dos micróbios intestinais dos seres humanos provêm de frutas e legumes. Estes micróbios vegetais subsistem durante anos, complementando os genes humanos através da produção de compostos benéficos para a saúde.

Novas investigações 1 revelam que o velho ditado "uma maçã por dia mantém uma vida sadia" também se aplica à alimentação dos nossos habitantes microscópicos: a microbiota intestinal. Os cientistas descobriram que as bactérias associadas às plantas migram para o trato digestivo humano e aí permanecem. Este estudo representa a primeira prova da transmissão de micróbios vegetais para o intestino através do consumo.

Os micróbios das plantas apanham boleia para colonizarem a microbiota intestinal

Os cientistas do Instituto de Biotecnologia Ambiental 2 da Áustria efetuaram uma análise genómica computacional sofisticada, reconstruindo 156 genomas bacterianos a partir de conjuntos de dados metagenómicos de frutas e legumes. Estas sequências de ADN microbiano serviram de referência para detetar bactérias derivadas de produtos frescos nos metagenomas de fezes humanas disponíveis publicamente. Os investigadores examinaram também uma coorte longitudinal que seguiu amostras de fezes de bebés ao longo de três anos para avaliar a persistência bacteriana.
Ficaram surpreendidos ao encontrarem géneros bacterianos comuns que habitam tanto os produtos frescos como os intestinos humanos. Os principais géneros das plantas detetados nos intestinos dos indivíduos incluíam Enterobacterales, Burkholderiales e Lactobacillales.

As plantas semeiam 2% do total das bactérias intestinais 

Em média, cerca de 2% das bactérias intestinais específicas de um indivíduo provêm de frutas e legumes. Esta proporção aumentou nas crianças mais novas e com uma maior ingestão de vegetais.

Embora esta proporção permaneça baixa em comparação com a comunidade bacteriana total, estas bactérias derivadas das plantas fornecem componentes essenciais para a saúde, como os ácidos gordos de cadeia curta, a vitamina B12 e a vitamina K. A sua abundância mais escassa esconde um papel funcional importante: complementar os genes e o metabolismo humanos.

2% dos micróbios intestinais dos seres humanos provêm das frutas e legumes que consumimos!

Por último, o estudo demonstrou que o consumo semanal de mais de 10 plantas diferentes, em comparação com uma menor diversidade alimentar, estava associado a uma maior riqueza de espécies intestinais. O consumo regular de vegetais surgiu também associado a uma estrutura mais heterogénea da comunidade bacteriana.

Semear o nosso futuro microbioma

Enquanto a atividade humana retrai os ecossistemas naturais e esgota as bactérias ambientais, a diminuição da contribuição microbiana dos produtos frescos pode ter consequências de grande alcance para a saúde pública que ainda estamos a começar a compreender.

Esta investigação destaca a importância insuspeita dos produtos como veículos vitais que semeiam o nosso ecossistema intestinal e sugere que a conservação das plantas e do solo pode lançar sementes para um melhor futuro do microbioma global.

É possível também argumentar que a diminuição da contribuição microbiana de produtos cultivados intensivamente e menos ricos em microbioma pode ter impactos negativos na saúde pública. Este destaque dado às frutas e legumes como veículos vitais, mas vulneráveis, que transmitem bactérias ambientais aos nossos intestinos tem implicações urgentes para a agricultura, a conservação e a medicina.

Recomendado pela nossa comunidade

"Boa investigação..."  -@saifudd62661144 (Da Biocodex Microbiota Institute no X)

"Informação completa sobre conhecimentos"  -@Naznain512345 (Da Biocodex Microbiota Institute no X)

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Quando as viagens criam a resistência aos antibióticos

É necessária prudência se os seus pacientes estiverem a planear uma viagem ao estrangeiro: estas deslocações estão relacionadas com a disbiose intestinal em 61% dos viajantes americanos e a aquisição de resistência aos antibióticos ocorre em 38% deles. Impõe-se uma sensibilização sobre os procedimentos de higiene e nos países de maior risco.

É um dos reversos da medalha das viagens internacionais: favorecem, entre outros, a propagação de resistências aos antibióticos. Os conhecimentos sobre este assunto são, no entanto, muito parciais (estudos sobre pequenos grupos, microrganismos mal caracterizados...) apesar da ameaça que estas resistências apresentam, uma equipa fez uma análise extensiva das microbiotas de 267 americanos seguidos em 3 clínicas (Boston, Nova Iorque e Salt Lake City) antes e depois de uma viagem além-fronteiras. 

5 milhões de mortes em todo o mundo

Nos Estados Unidos, os organismos com resistência  (sidenote: Antimicrobianos Os antimicrobianos - como os antibióticos, os antivirais, os antifúngicos e os antiparasitários - são medicamentos para prevenir e tratar infeções nos seres humanos, nos animais e nos vegetais. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antimicrobial-resistance  )  estão associados a mais de 2,8 milhões de infeções e a 35.000 mortes por ano. Em 2019, estimava-se que quase 5 milhões de mortes em todo o mundo estavam associadas à RAM bacteriana, incluindo 1,27 milhões de mortes por causa direta. 1

Disbiose do viajante

Primeira conclusão do estudo: a viagem perturba a microbiota intestinal, com uma perda significativa da diversidade microbiana em 61% dos viajantes. Esta percentagem varia de acordo com o país de destino (vai de 42% dos viajantes na América central a 76% na América do Sul).

A abundância de Escherichia spp. e de muitas outras enterobactérias (Klebsiella, Enterobacter e Salmonella) aumenta pela aquisição de novas estirpes, ao passo que o tipo Alistipes praticamente desaparece. As viagens no sul da Ásia acentuam o risco de regresso com um passageiro intestinal clandestino. Contudo, o consumo de água da torneira não filtrada ou a vacinação prévia contra a febre tifoide parecem limitá-lo.

Quando as resistências viajam

Um terço dos 267 viajantes reportou diarreia, e em 18% dos casos esta foi tratada com antibióticos.

Mas sobretudo, no regresso de viagem, 38% dos 267 dos viajantes adquiriram, pelo menos, um dos 3 tipos de bactérias resistentes alvo deste estudo: entre eles 98% adquiriram  (sidenote: Enterobactérias produtoras de betalactamases de espetro alargado (EBLSE): As enterobactérias produtoras de enzimas (lactamases de espetro alargado) têm a capacidade de hidrolisar e de provocar resistência a diversos tipos de antibióticos mais recentes. A Klebsiella pneumoniae e a Escherichia coli são as principais representantes. As EBLSE, predominantes entre as bactérias multirresistentes, estão na origem de infeções potencialmente graves e da prescrição de antibióticos de espetro bacteriano alargado. Fontes:

Pitout JD, Laupland KB. Extended-spectrum beta-lactamase-producing Enterobacteriaceae: an emerging public-health concern. Lancet Infect Dis. 2008 Mar;8(3):159-66. doi: 10.1016/S1473-3099(08)70041-0. Et Vodovar D, Marcadé G, Raskine L et al. Entérobactéries productrices de bêta-lactamases à spectre élargi : épidémiologie, facteurs de risque et mesures de prévention [Enterobacteriaceae producing extended spectrum beta-lactamase: epidemiology, risk factors, and prevention]. La Revue de medecine interne, 34(11), 687–693. https://doi.org/10.1016/j.revmed.2012.10.365
)
(em 98 % dos casos uma E. Coli), 18% de enterobactérias resistentes à colistina e 3% de enterobactérias produtoras de carbapenemases.

Que fatores de risco favorecem a aquisição destas resistências? As visitas a amigos ou a familiares, uma viagem ao sul da Ásia e o consumo de vegetais crus. Por outro lado, a diversidade intestinal antes da partida, a presença de um táxon bacteriano específico, o consumo de comida de rua e a utilização de antibióticos não alteram o cenário.

Uma das 10 principais ameaças à saúde pública

A OMS declarou a resistência antimicrobiana como uma das 10 principais ameaças à saúde pública que a humanidade enfrenta. 2

Limitar os riscos 

Na categoria das resistências adquiridas durante viagens, a fluoroquinolona foi particularmente assinalável: mais de um viajante em cada 2 (56%) não tem resistência antes da viagem e volta com, pelo menos, um gene associado a uma resistência a um antibiótico dessa classe. No total, o grupo de 267 viajantes voltou aos Estados Unidos com 72 novos genes de resistência, sendo 15 dos quais preocupantes em termos de saúde pública!

São resultados que suscitam alertas (sobretudo nos destinos de maior risco) e a necessidade de recordar os procedimentos corretos (o consumo de vegetais cozidos, a lavagem das mãos...). Inversamente, a modulação da microbiota intestinal antes da viagem (por exemplo, através de probióticos) não teria trazido qualquer vantagem adicional neste caso específico...

Semana Mundial de Consciencialização do Uso de Antimicrobianos

 

A Semana Mundial de Consciencialização do Uso de Antimicrobianos (em inglês: WAAW, World AMR Awareness Week) é assinalada anualmente entre 18 e 24 de novembro. Em 2023, o tema escolhido é “Prevenir a resistência antimicrobiana em conjunto”, tal como em 2022. Esta resistência é uma ameaça não só para os seres humanos, mas também para os animais, as plantas e o ambiente.

O objetivo da campanha é, por conseguinte, sensibilizar para a resistência antimicrobiana e promover as melhores práticas, com base no conceito "Uma só saúde", entre todas as partes interessadas (público em geral, médicos, veterinários, criadores e agricultores, decisores, etc.), a fim de reduzir o aparecimento e a propagação de infeções resistentes.

Resistência aos antibióticos: uma ameaça mundial, uma resposta global

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Prevenir a alergia aos amendoins graças à microbiota?

É possível que os pacientes que irão desenvolver uma alergia aos amendoins tenham uma assinatura microbiana específica antes mesmo de a alergia se manifestar e desde os seus primeiros meses de vida.

Um número crescente de estudos avança com a hipótese da existência de assinaturas microbiotas distintas de acordo com as alergias alimentares. Este campo de investigação contribui para um posicionamento da microbiota como um elemento fundamental no desenvolvimento destas alergias. Um novo estudo longitudinal publicado recentemente no Journal Of Allergy & Clinical Immunology fornece novos dados relativos às ligações que poderão existir entre o desenvolvimento de uma alergia a amendoins e a microbiota.
 
Esta alergia desenvolve-se geralmente durante a primeira infância e os investigadores estudaram a microbiota de crianças suscetíveis de manifestar um alergia aos amendoins aos 10 meses (SD: 3,1) e depois aos 9 anos (SD: 0,6). Dentro desta população, 35 (28,7%) crianças desenvolveram uma alergia ao amendoim antes dos 9 anos. 

Uma assinatura da microbiota intestinal diferente desde os primeiros meses

Estas 35 crianças do grupo PA (Peanuts Allergy - Alergia a amendoins) apresentaram uma microbiota menos diversa inicialmente (p=0,014) do que o grupo NPA (Non Peanuts Allergy - Sem alergia a amendoins). Esta microbiota diversifica-se com a idade, ao passo que a do grupo NPA se mantém estável.
Aos 9 anos, os dois grupos apresentam uma diversidade microbiota comparável.

No início, o grupo PA apresenta uma maior proporção de Clostridium sensu stricto 1 sp, enquanto a Streptococcus sp é mais predominante no grupo NPA. Aos 9 anos, a abundância relativa destas duas espécies está normalizada nas duas populações. Em contrapartida, a espécie Bifidobacterium sp tem um declínio no grupo PA até se tornar mais presente na população NPA.

O desenvolvimento da alergia foi identificado como estando associado a uma modificação dos níveis de 139 metabolitos do metaboloma (FDR≤ 0,05). 

Estes metabolitos estão associados a uma via de metabolização da histidina (FDR = 0,037, impacto do percurso = 0,28).

Foram estudados especificamente seis ácidos gordos de cadeia curta. O grupo PA demonstra uma redução dos níveis de butirato e isovalerato enquanto o nível de isovalerato permanece estável no grupo NPA com um aumento do butirato.

E em comparação com um mecanismo fisiopatológico de alergia aos amendoins?

Os autores colocam a hipótese de que a diversidade inferior da microbiota dos bebés PA pode sugerir que estes possuem comunidades intestinais menos estáveis durante esta fase de desenvolvimento rápido do sistema imunitário.

A diminuição da abundância relativa da Bifidobacterium sp, conhecida pela sua utilização na probiótica antialérgica e por causar a apoptose dos mastócitos em ratos, pode igualmente desempenhar um papel no desenvolvimento das alergias. 

Os autores destacam igualmente que os microrganismos presentes nos intestinos das crianças predispostas a desenvolver esta alergia, albergam espécies capazes de produzir metabolitos provenientes da via metabólica da histidina, precursora da histamina, efetora característica das reações alérgicas.

Este estudo permite assim progredir na compreensão das ligações estreitas entre a microbiota e as alergias e coloca a questão do potencial de uma suplementação da microbiota intestinal para prevenir o surgimento da alergia aos amendoins.

Recomendado pela nossa comunidade

"Um grande favor para as pessoas que enfrentam alergias" "Muito boa análise"  -@LoveforSoil (Da Biocodex Microbiota Institute no X)

"Muito bom... obrigado"  -@thinhhoang_tk (Da Biocodex Microbiota Institute no X)

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Viajar é benéfico para os jovens... Assim como para a microbiota e a resistência aos antibióticos

Um turista americano tem 61% de hipóteses de regressar do estrangeiro com a microbiota desequilibrada e 38% de hipóteses de trazer consigo pelo menos uma resistência a um antibiótico. Faz pensar duas vezes antes de fazer a mala!

A microbiota intestinal

As viagens são momentos para criar memórias... incluindo algumas totalmente dispensáveis. Embora não surpreenda saber que um terço dos 267 americanos que viajaram para fora das fronteiras do seu país teve diarreia, é mais preocupante saber que 61% dos viajantes deixaram para trás uma parte da sua diversidade microbiana intestinal protetora. Pior ainda, muitos regressaram com passageiros clandestinos nos intestinos (Escherichia e outras enterobactérias como Klebsiella, Enterobacter e Salmonella) e sacrificaram a sua população intestinal de Alistipes.

5 milhões de mortes em todo o mundo

Nos Estados Unidos, os organismos com resistência antimicrobiana estão associados a mais de 2,8 milhões de infeções e a 35.000 mortes por ano. Em 2019, estimava-se que quase 5 milhões de mortes em todo o mundo estavam associadas à RAM bacteriana, incluindo 1,27 milhões de mortes por causa direta. 1

Bactérias e resistência aos antibióticos

Alguns dirão que são apenas algumas bactérias. É verdade, mas muitas dessas bactérias são conhecidas pela resistência aos antibióticos. E é aí que está o problema. No regresso da sua viagem, 38% dos 267 viajantes tinham adquirido pelo menos um dos 3 organismos resistentes aos  (sidenote: Antimicrobianos Os antimicrobianos - como os antibióticos, os antivirais, os antifúngicos e os antiparasitários - são medicamentos para prevenir e tratar infeções nos seres humanos, nos animais e nos vegetais. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antimicrobial-resistance  )  visados neste estudo e, sobretudo, 98% tinham adquirido Enterobacteriaceae muito perversas (geralmente E. coli) capazes de inativar os efeitos de muitos antibióticos e que representam atualmente o principal inimigo da luta contra a resistência aos antibióticos.

No total, o grupo de 267 viajantes americanos seguidos neste estudo regressou da sua peregrinação de 2 semanas no estrangeiro com 72 novos genes de resistência, 15 dos quais são preocupantes em termos de saúde pública!

Conselhos aos viajantes 

Se não podemos esquecer as viagens, o que podemos fazer para reduzir o risco de importar resistência aos antibióticos?

Os probióticos são conhecidos pela eficácia na prevenção da diarreia do viajante 2,3,  mas segundo os autores, não têm qualquer valor acrescentado para evitar trazer estes germes multirresistentes para casa. O estudo sugere que a composição da microbiota antes da partida não tem qualquer impacto na aquisição destas bactérias resistentes. Não vale a pena a privação de comida de rua quando se está lá, porque não faz diferença

Uma das 10 principais ameaças à saúde pública

A OMS declarou a resistência antimicrobiana como uma das 10 principais ameaças à saúde pública que a humanidade enfrenta. 4

Por outro lado, comer legumes crus parece ser muito arriscado. Não baixe a guarda quando visitar familiares ou amigos no estrangeiro, coma apenas legumes bem cozinhados, descasque a fruta e, tal como em casa, lave as mãos regularmente.

E deve estar particularmente atento se viajar para o Sul da Ásia, um destino que anda de mãos dadas com um risco acrescido de regressar com um passageiro clandestino nos intestinos!

Semana Mundial de Consciencialização do Uso de Antimicrobianos

A Semana Mundial de Consciencialização do Uso de Antimicrobianos (em inglês: WAAW, World AMR Awareness Week) é assinalada anualmente entre 18 e 24 de novembro. Em 2023, o tema escolhido é “Prevenir a resistência antimicrobiana em conjunto”, tal como em 2022. Esta resistência é uma ameaça não só para os seres humanos, mas também para os animais, as plantas e o ambiente.

O objetivo da campanha é, por conseguinte, sensibilizar para a resistência antimicrobiana e promover as melhores práticas, com base no conceito "Uma só saúde", entre todas as partes interessadas (público em geral, médicos, veterinários, criadores e agricultores, decisores, etc.), a fim de reduzir o aparecimento e a propagação de infeções resistentes.

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Prevenir a alergia aos amendoins através da microbiota?

Poderá um desequilíbrio no microbiota intestinal desempenhar algum papel no desenvolvimento da alergia aos amendoins? Esta é a hipótese de um estudo realizado ao longo de quase 10 anos e publicado na prestigiada revista JACI.

A microbiota intestinal Alergias alimentares

Alergia aos amendoins: um problema vulgar mas grave para as nossas crianças. Sabia que esta alergia afeta cerca de 2% das crianças nos países ocidentais? 1 Dificuldades respiratórias, inchaço da garganta, diarreia, náuseas, erupções cutâneas, desmaios, etc. Os sintomas variam em gravidade, mas o mais preocupante é a anafilaxia ou choque anafilático 
– uma reação intensa de todo o corpo que pode ser fatal. 2,3 Esta alergia manifesta-se frequentemente na primeira infância e, ao contrário de outras alergias alimentares, pode ser muito mais grave, prolongando-se até à idade adulta em 80% dos casos. 1

2% Esta alergia afeta cerca de 2% das crianças nos países ocidentais

80% Esta alergia pode ser muito mais grave, prolongando-se até à idade adulta em 80% dos casos

Microbiota e alergia alimentar: existe alguma ligação?

E a microbiota intestinal? Há vários anos que sabemos que as comunidades microbianas que povoam o intestino também desempenham um papel fundamental na construção do sistema imunitário. Estudos recentes sugerem mesmo que a microbiota intestinal pode estar envolvida no desenvolvimento de alergias alimentares. Os pacientes com alergias alimentares apresentam uma microbiota intestinal desequilibrada.

 Então, o que é que acontece durante a primeira infância, antes mesmo que as alergias se desenvolvam? Esta é a pergunta a que investigadores americanos tentaram responder, analisando o microbiota de 122 crianças desde a primeira infância até ao aparecimento da alergia, com o objetivo de compreender melhor como se desenvolvem as alergias para que um dia possam ser prevenidas.

O sistema imunitário

Os primeiros anos de vida de uma criança são cruciais, pois é durante este período que o sistema imunitário se desenvolve intensamente, influenciando imenso a capacidade dessa criança para combater infeções e alergias mais tarde na vida. 

Diz-me a tua microbiota, dir-te-ei a tua futura alergia...

A primeira constatação dos investigadores foi que os doentes que desenvolveram a alergia ao amendoim por volta dos 9 anos de idade tinham uma microbiota intestinal pouco diversificada durante os primeiros meses de vida. As suas comunidades microbianas evoluíram de forma mais dinâmica, com uma distribuição menos homogénea das espécies em comparação com a microbiota das crianças que não desenvolveram alergias, cuja flora intestinal evoluiu de forma mais contínua e homogénea ao longo do tempo.

A alergia ao leite de vaca e a microbiota intestinal estão relacionadas?

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A segunda descoberta foi que certas espécies do género Clostridium estavam mais presentes nos bebés que não eram posteriormente alérgicos ao amendoim, enquanto as bactérias Streptococcus sp estavam, pelo contrário, mais presentes naqueles que desenvolveram esta alergia. Cerca dos nove anos de idade, as conhecidas bactérias benéficas Bifidobacterium eram mais prevalentes nos indivíduos não alérgicos.

Para além destas alterações na abundância de certas bactérias, que diferiam entre os dois grupos de crianças, os autores observaram que os metabolitos produzidos pela microbiota – o metaboloma – eram diferentes nas crianças que desenvolveram alergia. Em particular, certos ácidos gordos de cadeia curta  (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) , como o butirato e o isovalerato, diminuíram ao longo do tempo nos pequenos pacientes futuras vítimas de alergia. Ora, o isovalerato é já conhecido pelas suas propriedades protetoras contra a alergia (asma e atopia).

O desenvolvimento da alergia ao amendoim foi associado a alterações em 139 metabolitos, em particular ligados a uma via metabólica da histidina, um precursor da histamina, molécula bioativa que é libertada durante as reações alérgicas.

Rumo a uma prevenção precoce desta alergia?

Os autores aventam a hipótese de o desenvolvimento de alergias poder estar ligado a uma microbiota menos diversificada nos bebés, associada a alterações na abundância de certas bactérias específicas numa idade fundamental para o desenvolvimento do sistema imunitário. Estas informações permitem compreender melhor o mecanismo subjacente ao desenvolvimento da alergia ao amendoim e poderão conduzir a terapias baseadas na microbiota para a prevenir.

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Prever o risco de prematuridade através da microbiota vaginal?

Durante a gravidez, a estrutura genética da população bacteriana da microbiota vaginal parece seguir uma trajetória específica, podendo a gestação resultar em prematuridade. A Gardnerella spp. pode ser um sinal.

Complicações respiratórias, gastrointestinais e do neurodesenvolvimento: a (sidenote: Prematuridade nascimento antes das 37 semanas de gravidez. Existem subcategorias de prematuridade, em função da idade gestacional:
- Extremos prematuros (menos de 28 semanas);
- Grandes prematuros (entre a 28.ª e a 32.ª semana);
- Prematuros intermédios e tardios (entre a 32.ª e a 37.ª semana). Fonte: OMS
)
é a principal causa de morbilidade e mortalidade neonatal. A microbiota vaginal parece estar envolvida, mas os mecanismos subjacentes permanecem pouco esclarecidos. Contudo, esta flora pode evoluir rapidamente durante a gestação, devido à pressão das alterações hormonais, infeções genitais, antibióticos... Uma equipa de investigadores e de médicos dos estados de Nova Iorque e da Virgínia acompanharam, ao longo de toda a gravidez, a evolução do genoma da microbiota vaginal de 175 americanas (40 tiveram um parto prematuro espontâneo, 135 deram à luz no fim do tempo).

27% Apenas 27% das mulheres pesquisadas afirmam saber que a microbiota vaginal está equilibrada quando a sua diversidade bacteriana é baixa

Uma diversidade genética mais elevada

O estudo demonstra que os 2 tipos de gravidez se distinguem em termos da composição da microbiota vaginal: determinadas espécies bacterianas do género Lactobacillus como a L. helveticus, L. crispatus,, L. gasseri ou L. jensenii são associadas a gravidezes que chegam ao fim do tempo, enquanto as bactérias Megasphaera genomosp., Gardnerella spp. et Atopobium vaginae são associadas à prematuridade.
Outra conclusão: a diversidade genética da microbiota vaginal é mais elevada durante a primeira metade das gravidezes que terminam prematuramente, devido à espécie Gardnerella. Mais precisamente, a (sidenote: Diversidade nucleotídica número da diferença de nucleótidos para uma determinada sequência de 2 indivíduos (aqui 2 bactérias) selecionados aleatoriamente na população. ) da Gardnerella spp. é mais elevada no início das gravidezes que terminam prematuramente, alcançando um pico na 13.a semana de gestação, e voltando depois ao seu valor inicial na 20.ª semana de gestação, enquanto que no caso de gravidezes que chegam ao fim do tempo, os seus valores mantêm-se estáveis. Desta forma, a diversidade genética da Gardnerella spp. durante a primeira metade da gravidez vai afetar o resultado da mesma e poderá, talvez, ser utilizada como biomarcador no diagnóstico precoce da prematuridade.

3,4 milhões de bebés nascidos prematuramente (antes das 37 semanas de gestação) em 2020.

900 000 óbitos relacionados com a prematuridade em 2019, principal causa de mortalidade em crianças com menos de cinco anos.

4% a 16% de nascimentos prematuros consoante o país, em 2020.

Uma evolução adaptativa da Gardnerella

Mas como explicar este pico de diversidade nucleotídica da Gardnerella? Comparativamente às outras bactérias, a Gardnerella demonstra uma taxa de crescimento 1,5 vezes mais elevada no início da gravidez, (sidenote: Recombinação genética troca de informações genéticas (fragmento de ADN ou de ARN com determinados vírus) que permite a criação de novas combinações genéticas e, consequentemente, de novos genomas, garantindo uma mistura genética e a manutenção de uma diversidade que permite a adaptação a uma eventual alteração do ambiente. ) mais frequentes e uma maior seleção de mutações que trazem benefícios a esta bactéria (e uma taxa de eliminação mais elevada das mutações nocivas).
Estarão envolvidos antibióticos e outros xenobióticos. Com efeito, o património genético mais diversificado da G. swidsinskii parece corresponder a uma adaptação aos medicamentos, (sidenote: maior presença dos genes resistentes aos antibióticos transmitidos pelos bacteriófagos. )

Da microbiota vaginal ao hospedeiro

Assim, as variação genómica das bactérias vaginais irá afetar os fenótipos do hospedeiro (afetando o resultado da gravidez). No entanto, os autores não excluem outra explicação, mesmo que julguem ser pouco provável: as associações entre a diversidade genética microbiana e os resultados da gravidez podem igualmente ser uma consequência de fatores interferentes (medicamentos, compostos químicos...) não contabilizados e que influenciam as duas variáveis.

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Noticias Pediatria

O transplante de microbiota vaginal é o novo milagre para bebés nascidos por meio de cesariana?

A microbiota de bebés nascidos de cesariana é diferentes da de bebés nascidos de parto vaginal e está associada a um risco de doenças acrescido. Novas investigações demonstram que o transplante de microbiota vaginal (TMV) em recém-nascidos poderá reverter os distúrbios de microbiota relacionados com a cesariana. Mas o TMV é seguro e eficaz? Vamos descobrir.

30% 1 em cada 3 mulheres sabe também que o parto (vaginal ou por cesariana) tem impacto na microbiota intestinal do recém-nascido

A cesariana é um método comum de parto em todo o mundo. A taxa global de cesarianas permanece nos 21%, variando amplamente entre os 0,6% e 58,1% dependendo das regiões. Contudo, o parto por cesariana tem sido associado a um risco acrescido de efeitos negativos para a saúde, incluindo doenças autoimunes e distúrbios metabólicos, alterações na microbiota intestinal e mesmo perturbações do desenvolvimento neurológico dos bebés 1. A investigação emergente aponta para o Transplante de microbiota vaginal (TMV) como uma intervenção prospetiva para melhorar a maturação da microbiota intestinal e o desenvolvimento neurológico em bebés nascidos de cesariana. Contudo, a sua segurança e eficácia ainda estão a ser debatidas.

Como funciona o TMV? 

Duas horas antes da cesariana, uma gaze humedecida com solução salina estéril é colocada na parte inferior da vagina em mulheres que irão ser sujeitas a cesariana. Esta gaze permanece nesse local durante aproximadamente uma hora e é removida 30 minutos antes da administração dos antibióticos profiláticos em preparação para a cesariana.

Imediatamente após o nascimento, um enfermeiro especializado coloca a gaze em contacto com o recém-nascido. A gaze é passada nos seus lábios, rosto, peito, braços, pernas, genitais e nádegas. Em seguida, o enfermeiro limpa as costas do bebé. Demora cerca de 15 segundos. Não é dado banho ao bebé durante 12 horas 2.

O TMV é seguro e eficaz? 

Uma nova investigação publicada na Cell Host & Microbes realizou um ensaio clínico aleatório, controlado e triplo cego vara avaliar a segurança e a eficácia do TMV na melhoria do desenvolvimento neurológico, da microbiota intestinal e do metaboloma em bebés nascidos de cesariana 2. No estudo participaram 76 mulheres grávidas com cesarianas programadas.

Os recém-nascidos foram atribuídos aleatoriamente a TMV (n = 35) ou a um grupo de controlo (n = 41). O desenvolvimento neurológico dos recém-nascidos foi avaliado com o Ages and Stages Questionnaire (ASQ-3) aos 6 meses de idade. A sua microbiota intestinal e metabolomas também foram analisados. Foram também incluídas para comparação no estudo 33 mulheres grávidas com previsão de parto vaginal.

É possível destacar quatro conclusões essenciais:

  • Segurança: O estudo concluiu que o TMV é maioritariamente seguro, não apresentando incidentes adversos graves (serious adverse events, SAE) ocorridos nos primeiros 42 dias após o nascimento.
  • Benefícios para o desenvolvimento neurológico: Os bebés que receberam o TMV demonstraram índices de desenvolvimento neurológico significativamente superiores, aos 6 meses de idade, quando comparados com os bebés do grupo de controlo.
  • Maturação da microbiota intestinal: O TMV também levou a uma maturação acelerada da microbiota intestinal em bebés nascidos de cesariana. A intervenção normalizou parcialmente a composição da microbiota intestinal, fazendo com que esta se assemelhasse à de bebés nascidos por parto vaginal.
  • Função metabólica: O TMV aumentou os níveis de metabolitos fecais essenciais e das funções metabólicas, incluindo os metabolismos dos hidratos de carbono, de energia e dos aminoácidos, no prazo de 42 dias após o nascimento.

Em oposição ao Transplante de microbiota fecal (TMF), que não deve ser realizado sem supervisão médica e que acarreta riscos substanciais, o TMV destaca-se como um procedimento médico menos arriscado que pode ser facilmente ensinado a enfermeiros e parteiras. Os profissionais de cuidados de saúde devem considerar o TMV como uma potencial intervenção para melhorar o microbioma intestinal e o desenvolvimento neurológico de bebés nascidos de cesariana.

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Noticias Obstetrícia