Microbiota oral e idade avançada: um sumo de beterraba (e nitratos), vamos a isso?

Legumes e/ou um copo de sumo de beterraba: nada melhor para propiciar bactérias orais benéficas para a saúde vascular e a função cognitiva! Vamos a um copo?

A microbiota ORL Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal
Actu GP : Microbiote oral et grand âge : un jus de betterave - et des nitrates -, et ça repart ?

Já se conhecia o seu contributo nutritivo, os seus benefícios para a digestão e a hidratação, as suas virtudes antisstress... Mas as bênçãos dos legumes parecem ser inesgotáveis, com uma nova descoberta: a combinação imbatível dos nitratos com as nossas bactérias orais. De facto, como muitos outros vegetais, a beterraba é rico em nitrato inorgânico que é convertido pelas bactérias da nossa boca em nitrito, e depois em óxido nítrico (NO). Ora, este óxido não só é benéfico para a saúde das nossas artérias, mas também para os nossos neurónios. Único problema: com o avanço da idade, esse NO começa a ser pior sintetizado. E se para contrabalançarmos o peso dos anos, bebêssemos um copo de sumo de beterraba enriquecido com nitrato?

10 dias de sumo de beterraba enriquecido com nitrato para uma microbiota bucal totalmente em forma!

Os efeitos da utilização deste suplemento alimentar revelam-se rápidos: de acordo com um estudo, 10 dias de sumo foram suficientes para alterar significativamente a microbiota bucal de trinta islandeses com entre 70 e 80 anos. Assim, o consumo de sumo enriquecido com nitrato influenciou alguns grupos das suas bactérias orais. Especificamente, houve certas bactérias associadas com a inflamação (grupos das Prevotella e Veillonella) que diminuíram, caso da temida Clostridium difficile que pode infetar os intestinos e provocar diarreia. Em contrapartida, outras bactérias tornaram-se relativamente mais abundantes, por exemplo um conjunto que integra Neisseria e Haemophilus, duas bactérias associadas à saúde periodontal em idades mais jovens, a um IMC mais reduzido e ao facto de não se ser fumador.

Tensão arterial a baixar, capacidade de concentração a subir, moral no seu melhor

A suplementação com nitratos através do sumo de beterraba reduziu a pressão arterial média dos participantes. Sabe-se que a hipertensão arterial é um fator de risco de declínio cognitivo. Neste estudo, a redução da tensão arterial surgiu associada a um incremento de determinadas bactérias (Streptococcus e Rothia), cuja presença se reforçou após a ingestão do sumo. Além disso, o sumo de beterraba enriquecido com nitrato é também benéfico para a saúde cognitiva. Resta dizer que este estudo foi realizado junto de idosos ativos e saudáveis, com uma pressão arterial geralmente boa. Será que este efeito benéfico será replicado nas outras faixas etárias e em grupos de pessoas menos saudáveis? Enquanto aguardamos, continua a ser aconselhável introduzirmos o máximo de vegetais na ementa da nossa próxima refeição... e nos nossos batidos!

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Fontes:

Vanhatalo A, L'Heureux JE, Kelly J et al. Network analysis of nitrate-sensitive oral microbiome reveals interactions with cognitive function and cardiovascular health across dietary interventions. Redox Biol. 2021 Mar 5;41:101933. doi: 10.1016/j.redox.2021.101933.

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Acerca do papel das microbiotas vaginal, uterina e intestinal na endometriose

Causa ou consequência?  Embora seja difícil responder a esta pergunta, parece que a microbiota intestinal e as microbiotas do aparelho reprodutivo das mulheres que  sofrem de endometriose participam na patogénese desta doença grave.

A microbiota vaginal Microbiota vaginal: um marcador da progressão do vírus do papiloma? Endolisinas recombinantes contra a vaginose bacteriana A microbiota vaginal e a predisposição para candidíase

Doença inflamatória caracterizada pela presença de tecido endométrico no exterior da cavidade uterina, a endometriose (EM) afetará, de acordo com os estudos, 6 a 15% das mulheres em idade fértil. Pode causar dismenorreia primária grave, diminuição da fertilidade e uma massa pélvica, afetando gravemente a qualidade de vida das mulheres. Apesar de ainda não se perceber bem a patogénese da EM, a microbiota poderá estar envolvida. Assim, há hipóteses referentes a endotoxinas inflamatórias, nomeadamente lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano, presentes na cavidade peritoneal. Estas endotoxinas inflamatórias poderão participar na resposta pró-inflamatória e promover o crescimento da endometriose1.

Lactobacillus vaginais em regressão

Para aprofundar a "hipótese da contaminação bacteriana", uma equipa colheu microbiota ao longo do trato reprodutivo de 36 mulheres com endometriose (e de 14 controlos) operadas a tumor ginecológico benigno. Resultados? Disbiose cada vez mais pronunciada ao avançar-se no trato reprodutivo, diminuição de Lactobacillus na flora vaginal a agravar-se à medida que se aproxima o endométrio, e (sidenote: Unidades taxonómicas operacionais OTU (operational taxonomic unit), unidades taxonómicas operacionais, reunindo indivíduos filogeneticamente aparentados )  específicas do muco cervical que se reforçam no trato genital superior (amostras do endométrio e fluido peritoneal). Esta alteração da microbiota ao longo do trato reprodutivo sugere a possível participação de algumas bactérias na patogénese da EM.

Qual o papel da microbiota intestinal?

Mas a EM está longe de se limitar apenas a sintomas ginecológicos: até 90% das pacientes com endometriose apresentam também sintomas gastrointestinais.2 Dois estudos, um realizado na Suécia2 (66 pacientes de EM, 198 controlos emparelhados) e o outro em Xangai3 (12 pacientes de EM com casos moderados a graves, 12 controlos), debruçaram-se sobre a relação entre a microbiota intestinal e a EM: a (sidenote: Diversidade alfa Número de espécies coexistentes num determinado meio ) , e, em menor medida, a (sidenote: Diversidade beta Taxa de variação na composição em espécies, calculada comparando o número de táxons únicos em cada ecossistema ) , das floras das pacientes revelou-se inferior à dos controlos. As abundâncias de táxons bacterianos divergiam. Assim, no estudo chinês, o género Prevotella dominava entre as pacientes, enquanto o Coprococcus se impunha nos controlos; certas funções microbianas (processamento das informações ambientais, sistemas endócrino e imunitário) surgiam exacerbadas nas doentes com EM. Os níveis séricos de hormonas, e nomeadamente de estradiol e de fatores inflamatórios (em especial de IL-8) eram significativamente mais elevados nas mulheres com EM.3 Por fim, foram detetadas correlações entre a abundância de Blautia e Dorea e o nível de estradiol, e entre a profusão de Subdoligranulum e a concentração de IL-83. Existirão, por conseguinte, associações entre a microbiota intestinal, as hormonas séricas e os fatores inflamatórios em caso de EM.

Estrogénios ou pista inflamatória?

A EM é uma doença estrogénio-dependente2 e as respetivas pacientes geralmente apresentam níveis séricos elevados de estrogénios.3 Ora, a microbiota intestinal, e nomeadamente, as classes de bactérias Ruminococcaceae e Clostridia, poderão afetar os níveis séricos de estrogénio através da modulação da reabsorção dos estrogénios excretados na bílis e que acabam por penetrar no intestino3. Outros autores mencionam o papel regulador da microbiota intestinal nos processos inflamatórios fora do trato gastrointestinal2. Por outras palavras, embora sejam observadas correlações e sugeridas hipóteses, os mecanismos realmente envolvidos não estão ainda elucidados. O que não invalida o facto de estes três estudos sublinharem o envolvimento das microbiotas dos tratos reprodutivo e digestivo na EM... e permite a esperança de uma melhoria no diagnóstico e na assistência das mulheres afetadas.

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Microbiota intestinal: ainda não é "adulto" aos 5 anos?

Um estudo sueco1 demonstra que, aos 5 anos, a microbiota intestinal (MI) se aproxima da sua configuração adulta... sem, contudo, atingir a maturidade. Os esclarecimentos que nos traz sobre a dinâmica de colonização da MI sublinham a importância de defender esta contra quaisquer perturbações durante toda a infância.

A microbiota intestinal Sistema imunitário infantil: os benefícios do parto vaginal Possibilidade de a microbiota orofaríngea ter um papel no atrofio do crescimento de crianças Transplantes fecais para restaurar a microbiota dos bebés nascidos por cesariana?

A colonização da microbiota intestinal (MI) começa no momento do nascimento, por contacto com os microrganismos da flora vaginal da progenitora, no caso do parto vaginal, ou com os germes da pele da mãe e o ambiente, no da cesariana. Ela continua progressivamente até aos 2-3 anos, estabelecendo, de acordo com vários estudos, uma comunidade microbiana estabilizada de tipo "adulto". Mas nessa altura, será que a MI já concluiu realmente o seu amadurecimento? Investigadores suecos estudaram a dinâmica da composição da MI durante os primeiros 5 anos de vida numa coorte de 471 crianças (302 nascidas por via vaginal e 169 por cesariana). O perfil da respetiva MI foi estabelecido por sequenciação do gene do ARN ribossómico 16S em amostras fecais colhidas durante a primeira semana de vida, aos 4 meses, aos 12 meses, aos 3 anos e aos 5 anos. Foi depois comparado com o das mães e de adultos saudáveis. Principais resultados: a diversidade alfa (das espécies) nas amostras das crianças, representativa da riqueza da sua MI, continua, aos 5 anos, a ser inferior à dos adultos.

Uma maturação faseada que prossegue ao longo da infância

Ao avaliarem a prevalência e a proporção dos principais táxons a cada idade estudada, os autores observaram que a MI se desenvolveu a velocidades diferentes de criança para criança, mas seguindo trajetórias relativamente semelhantes. É entre os 4 e os 12 meses, na altura da diversificação alimentar, que a sua composição muda mais fortemente. Sofre, em especial, uma colonização por Ruminococcus gnavus, cuja presença diminui depois gradualmente a partir dos 12 meses. Alguns archaea, como Methanobrevibacter e bactérias pertencentes às Christensenellaceae, típicas da MI adulta, surgem a partir dos 12 meses e continuam a aumentar entre os 3 e os 5 anos. Esta dinâmica parece ser essencial à maturação da MI: quanto mais a MI é diversificada nas crianças, mais ela contém estes táxons "tardios" e menos R. gnavus subsistem. Ora, há estudos que já demonstraram que uma MI pouco rica e um excesso de R. gnavus estão ligados a diversas doenças (síndrome metabólica, doença cardiovascular, doença inflamatória crónica do intestino) e que a abundância em Methanobrevibacter e Christensenellaceae, entre outras, está associada com a saúde metabólica e com um menor índice de massa corporal.

Um equilíbrio a defender contra perturbações

Sem emitirem recomendações nesta fase, os autores deste estudo amplamente divulgado na imprensa sublinham, no entanto, a provável elevada sensibilidade da MI às perturbações durante a sua formação, com profundos efeitos para a saúde. Algumas das suas conclusões sobre o impacto de fatores precoces no desenvolvimento da MI são, no entanto, espantosas. A toma de antibióticos pela mãe durante a gravidez e pelo lactente durante o primeiro ano de vida não afeta a diversidade da MI ao longo do tempo. Quanto à forma de nascimento, ela parece ter um papel limitado: a diversidade da MI das crianças nascidas por cesariana é certamente inferior aos 4 meses, face ao das crianças nascidas por via vaginal, mas normaliza-se até aos 3 anos de idade. O desenvolvimento harmonioso da microbiota intestinal deve, portanto, ser preservado ao máximo, possivelmente até já depois dos 5 anos de idade, para se poder oferecer às crianças todos os ingredientes para um futuro saudável.

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A Microbiota Intestinal: ainda não é "adulto" aos 5 anos?

A microbiota intestinal torna-se "adulta" aos 2 ou 3 anos de idade, dizia-se. Não é bem assim, esclarecem os autores de um recente estudo científico1: aos 5 anos, a sua composição ainda não é semelhante à dos adultos. Alguns microrganismos cruciais para uma boa saúde continuam mesmo a desenvolver-se após essa idade. Daí a importância de se ter muito cuidado durante toda a infância!

A microbiota intestinal Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal
Actu GP : Microbiote intestinal : pas encore « adulte » à 5 ans ?

É uma verdade científica gravada em pedra nos livros de biologia. No ventre materno, o bebé não possui microbiota intestinal, e o seu sistema digestivo é ainda estéril! É a partir do nascimento que a microbiota começa a formar-se, devido ao contacto com todos os microrganismos da mãe durante o parto e ao respetivo ambiente. Pouco a pouco, torna-se mais rico e mais robusto em bactérias "amigas", até vir a parecer-se com o de um adulto cerca dos 2 ou 3 anos de idade, acreditavam até agora os cientistas. Recentemente, algumas equipas de investigação demonstraram que esse desenvolvimento poderá ser mais demorado, e há um novo estudo sueco, abrangendo mais de 470 crianças desde o nascimento até aos 5 anos, que suporta essa dinâmica.

Microbiota intestinal “adulta” aos 5 anos? Nem por isso!

Os investigadores analisaram os microrganismos presentes nas fezes das crianças em várias alturas (à nascença, aos 4 meses, aos 12 meses, aos 3 anos e aos 5 anos) e compararam-nos com os das suas mães e de outros adultos. Começaram por estudar a diversidade nas amostras. Primeira descoberta: apenas uma pequena minoria das crianças (3,5%) possuía, aos 5 anos de idade, uma microbiota intestinal com um índice de maturidade semelhante ao da dos adultos.

Observaram, em seguida, a forma como esses microrganismos colonizavam o intestino das crianças. Esquematicamente, desde o nascimento até aos 4 meses, a microbiota intestinal contém principalmente bactérias ácido-lácticas e bifidobactérias. Entre os 4 meses e 1 ano, com a diversificação alimentar, surge o “big bang”: há imensos novos microrganismos que chegam e se instalam, e enquanto uns se multiplicam, outros vão diminuindo. Entre o 1 e os 3 anos, a organização desta pequena comunidade no sentido de uma microbiota intestinal "de graúdos" estabiliza-se. No entanto, alguns microrganismos que se sabe serem muito importantes para uma boa saúde só surgem a partir de 1 ano, e continuam a aumentar depois dos 3 anos. Mesmo aos 5 anos, muitos ainda não atingem os mesmos níveis que nos adultos.

Desenvolvimento a proteger para uma saúde melhor

Os autores do estudo destacam que a microbiota intestinal é potencialmente sensível às perturbações no decurso de toda a sua constituição. Sabe-se também, atualmente, que um desequilíbrio da microbiota intestinal (disbiose) na primeira infância, por exemplo causado por antibióticos, pode mais tarde vir a afetar a saúde: problemas digestivos, excesso de peso, alergias2, 3, 4, etc. Sabe-se, ainda, que uma dieta saudável na altura da diversificação contribui para a criação de uma microbiota intestinal saudável5. O desenvolvimento harmonioso da microbiota intestinal deve, portanto, ser preservado ao máximo, possivelmente até já depois dos 5 anos de idade, para se poder oferecer às crianças todos os ingredientes para um futuro saudável!

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Autismo: variação da microbiota intestinal e gravidade das perturbações, há relação?

Um estudo americano avaliou, pela primeira vez, as alterações comportamentais nas crianças com perturbações do espectro autístico (PEA) em conexão com a composição da microbiota intestinal ao longo do tempo.  

A microbiota intestinal Autismo: descoberta de uma nova relação com a microbiota intestinal Autismo: um novo protocolo de transplante de microbiota fecal apresenta resultados promissores Antibióticos e microbiota intestinal: quais são os impactos a longo prazo?

A observação de disbiose intestinal e de afeções gastrointestinais é frequente em crianças com perturbações do espectro autístico (PEA). Paralelamente, surgem cada vez mais evidências científicas do papel da microbiota intestinal na modulação da sinalização cerebral, aquilo a que vulgarmente se chama o eixo intestino-cérebro. No entanto, os trabalhos de investigação sobre a relação entre a composição microbiana e as PEA têm produzido conclusões contraditórias, o que destaca a complexidade da patologia e da aplicação de um protocolo de estudo mais sofisticado. Foi com este objetivo que investigadores norte-americanos:

  • compararam a composição da microbiota intestinal de jovens pacientes com PEA face à de um grupo de controlo do Arizona e do Colorado, no sentido de perceberem se a diferença de localização geográfica poderá afetar a microbiota intestinal.
  • realizaram um (sidenote: Os controlos provenientes do Arizona não participaram no estudo longitudinal. )  para avaliar as relações entre os sintomas gastrointestinais, a alimentação, a composição da microbiota intestinal e a gravidade dos sintomas comportamentais.

Impacto da localização geográfica na microbiota

Os investigadores demonstraram que a composição da microbiota intestinal diferia entre os pacientes do Arizona e os do Colorado: as crianças do Arizona apresentavam maior diversidade do que as do Colorado. Foi uma surpresa para eles, uma vez que tinham usado os mesmos métodos de colheita de fezes, extração de ADN e sequenciação. Mediante reanálise cruzada de amostras do Colorado no Arizona, concluíram e confirmaram que o local da extração de ADN não tinha influência na diversidade microbiana. Os investigadores descobriram também que os sintomas gastrointestinais eram mais importantes nos pacientes com PEA em comparação com controlos do Arizona, mas não com os do Colorado. Para os autores, isto confirma a importância da localização do local de estudo na composição da microbiota intestinal, e demonstra que estas diferenças nos sintomas gastrintestinais nas PEA podem contribuir para os resultados inconsistentes publicados na literatura.

Deterioração da linguagem relacionado com a diversidade da microbiota

A análise longitudinal revelou uma associação entre o aumento da gravidade dos distúrbios comportamentais e as modulações da microbiota intestinal. Nomeadamente, a diminuição da diversidade da microbiota intestinal ao longo do tempo surgiu relacionada com um aumento da severidade das alterações comportamentais: agravamento dos problemas de linguagem, letargia, isolamento social das pessoas com PEA, etc.. Em contrapartida, os investigadores não detetaram qualquer ligação significativa entre os comportamentos associados com as PEA e os sintomas gastrointestinais ou a alimentação. Para os autores, são necessários mais estudos multicêntricos e longitudinais complementares, com mais participantes, no sentido de se caraterizar a relação entre as PEA e a microbiota intestinal.

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Menstruação dolorosa: e se a microbiota vaginal também for responsável?

É bastante normal que se sinta dores e algum desconforto durante o período menstrual. O que já não é normal é sofrer dores de tal forma excessivas que impliquem faltas ao trabalho ou à escola. Este novo estudo examina o papel da microbiota vaginal neste tipo de dores a que frequentemente se chama dismenorreia.

A microbiota vaginal Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal
Actu GP : Règles douloureuses : et si le microbiote vaginal était en cause ?

Face às dores menstruais, nem todas as mulheres se encontram no mesmo barco. Existe um elevado grau de variabilidade interindividual na intensidade das dores menstruais, no número de zonas dolorosas ou nos sintomas gastrointestinais que surgem em simultâneo. As causas biológicas de tal variabilidade ainda são, de momento, pouco conhecidas. E agora é a microbiota vaginal que se encontra sob a mira dos investigadores. De facto, os sintomas/intensidade da dor da (sidenote: Dismenorreia Dismenorreia é o termo médico que designa as dores associadas ao período (menstruação), ou cólicas menstruais. )  poderão ser exacerbados por uma inflamação provocada por alterações da microbiota vaginal. Embora tenha sido realizado em múltiplos contextos ginecológicos (vaginose, aborto espontâneo ou endometriose), este é o primeiro estudo a concentrar-se na relação entre a composição da microbiota vaginal e a intensidade da dor durante a menstruação.

Heterogeneidade das microbiotas vaginais

Houve 20 mulheres a participarem num estudo-piloto. Após terem preenchido questionários, foram classificadas em três grupos, de acordo com as dores que sentiam durante o período menstrual: "dores ligeiras localizadas", "dores fortes localizadas" e "múltiplos sintomas graves". A microbiota vaginal foi analisada em dois momentos do ciclo, durante a menstruação e fora da mesma. Os resultados demonstram variabilidade interindividual quanto à estabilidade da microbiota vaginal, ou seja, que a sua composição pode variar muito de uma mulher para outra e ao longo do ciclo. Entretanto, foram também observadas disparidades na sua composição durante a menstruação, em função da intensidade da dor. Nomeadamente, as mulheres com sintomas mais graves de dismenorreia apresentavam, durante o período, um perfil microbiano vaginal com proporções inferiores de lactobacilos e mais elevadas de bactérias potencialmente pró-inflamatórias.

Uma esperança para as mulheres que sofrem

Este estudo-piloto, embora limitado em dimensão, idades e diversidade étnica, constitui um primeiro passo para sustentar investigações mais amplas sobre a associação entre a intensidade de dor e a composição da microbiota vaginal durante a menstruação. A hipótese avançada pelos investigadores é a seguinte: durante a menstruação, a degradação dos tecidos do endométrio libertará moléculas (prostaglandinas) capazes de causar contrações musculares uterinas e aumento da sensibilidade, contribuindo para a dor menstrual. Determinadas bactérias da microbiota vaginal poderão promover a libertação dessas moléculas e estimular a de citoquinas pró-inflamatórias que amplificam os sintomas de dismenorreia. Embora estas hipóteses tenham ainda de ser confirmadas, o estudo-piloto destaca a importância de se ter em conta as diferenças interindividuais e a dinâmica da microbiota vaginal no decurso do ciclo. Estes conhecimentos podem contribuir para o desenvolvimento de intervenções personalizadas e/ou biomarcadores destinados a prevenir a dismenorreia, e, em última análise, melhorar a qualidade de vida das mulheres.

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Fontes:

Chen CX, Carpenter JS, Gao X, et al. Associations Between Dysmenorrhea Symptom-Based Phenotypes and Vaginal Microbiome: A Pilot Study [published online ahead of print, 2021 Mar 13]. Nurs Res. 2021

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Disbiose intestinal em macacos infetados com SARS-CoV-2

Uma equipa francesa do Centro de Infeção e Imunidade de Lille, em colaboração com o CEA, o INRAE, o Instituto Pasteur e o Hospital Saint Antoine, demonstrou em macacos que o SARS-CoV-2, agente da Covid-19, induz uma disbiose intestinal que persistirá mesmo após a eliminação do vírus.

A microbiota intestinal Covid-19: envolvimento da microbiota intestinal? Como é que a covid-19 afeta a microbiota intestinal?
Actu PRO : Dysbiose intestinale chez les macaques infectés par le SARS-CoV-2

A interação fortemente regulada entre a microbiota intestinal (MI) e o hospedeiro influencia múltiplas funções fisiológicas, nas quais se inclui a homeostase imunitária. Múltiplos dados pré-clínicos e clínicos mostram que a composição da microbiota intestinal é transitoriamente modificada no contexto de uma infeção respiratória viral aguda. No âmbito da Covid-19, o estudo da microbiota intestinal durante a infeção é especialmente relevante, uma vez que o SARS-CoV-2 possui recetores de ACE2 também no intestino, o vírus se deteta em mais de 25% dos pacientes infetados, e as alterações da microbiota intestinal associadas às patologias pulmonares podem influenciar a gravidade da doença . Este estudo pré-clínico é o primeiro a debruçar-se sobre a cinética da infeção por SARS-CoV-2 nas mudanças dinâmicas da microbiota intestinal de macacos.

O macaco: um bom modelo de infeção por SARS-CoV-2

Os dados humanos de que atualmente dispomos são muito importantes, mas não permitem acompanhar a totalidade da evolução da infeção (ou seja, desde antes da contaminação até depois da sua resolução). Os investigadores preencheram algumas das peças que faltavam no quebra-cabeças da infeção, recorrendo a duas espécies de macaco (Macaca fascicularis e Macaca mulatta). Estes primatas não humanos são um modelo pertinente para o estudo da Covid-19: os vírus replicam-se no seu trato respiratório superior e no inferior, induzindo patologia pulmonar e respiratória sem causar sintomas. Dois macacos de cada espécie foram infetados por via intranasal e endotraqueal. Foram colhidas amostras de sangue (medição de citoquinas) e de fezes 9 dias antes da infeção e em D0, e depois em D3, D5, D7, D10, D13, D20 e D26 após a infeção. Dois macacos apresentaram diarreia transitória em D4.

Covid-19: disbiose persistente, mesmo após a infeção...

A análise por sequenciação do gene do ARN ribossómico 16S revelou alterações significativas na composição da microbiota intestinal, com um pico a entre 10 e 13 dias após a infeção. Certas alterações da microbiota poderão persistir depois da eliminação do SARS-CoV-2 do trato respiratório superior (vírus indetetável na rinofaringe e na traqueia em D20, mas presente nas fezes de 2 macacos), e isso até ao 26.º dia. Foram observadas, durante a infeção, múltiplas mudanças na abundância de táxons bacterianos, especialmente em D13. A profusão relativa de Acinetobacter e de determinados géneros da família Ruminococcaceae foi, particularmente, associada afirmativamente à presença do vírus no trato respiratório superior.

…E a microbiota intestinal com a atividade funcional alterada

Foi utilizada uma abordagem metabolómica para avaliar as consequências funcionais das alterações na microbiota intestinal associadas com a infeção. Objetivo: quantificar três das mais importantes classes de metabolitos derivados da microbiota – ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), ácidos biliares e metabolitos de triptofano. Os níveis de AGCC surgiram modificados durante a infeção, especialmente entre o 2.º e o 13.º dia. Além disso, foram identificadas várias mudanças nos ácidos biliares e nos metabolitos de triptofano dos animais infetados. A abundância relativa de vários táxons conhecidos por serem produtores de AGCC (principalmente da família das Ruminococcaceae) pôde ser negativamente correlacionada com determinados marcadores inflamatórios sistémicos, enquanto vários elementos do género Streptococcus surgiram, por sua vez, em estreita relação direta com os referidos marcadores. Este estudo demonstra que uma infeção experimental em macacos com SARS-CoV-2 promove a disbiose intestinal no que se refere à composição e à atividade funcional. A continuação da disbiose após a resolução da infeção poderá ter um papel importante nas formas longas de Covid-19 que são atualmente detetadas nos seres humanos.

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Microbiota do couro cabeludo: aplique-lhe óleo (de coco)!

Quem é que nunca teve caspa na gola da camisola ou nos ombros da camisa? Esses pequenos flocos particularmente teimosos e inestéticos refletem uma disfunção crónica e bastante generalizada do couro cabeludo. Um estudo recente comprova que o óleo de coco ajuda a manter um couro cabeludo saudável, agindo favoravelmente sobre a respetiva microbiota.

A microbiota da pele Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal

Logo que os sacudimos, eles regressam imediatamente. Quem? Os flocos de caspa, é claro! Afeção cutânea caracterizada por descamação excessiva do couro cabeludo, com ou sem prurido, a caspa resulta de vários fatores: suscetibilidade genética, composição do sebo e microbiota do couro cabeludo. Será um fungo, chamado Malassezia, o responsável por acelerar o desenvolvimento da caspa e da inflamação. Embora eficazes contra este fungo, os antifúngicos não previnem a reaparição da caspa após a interrupção do tratamento. Em países da África e da Ásia, e nomeadamente na Índia, utiliza-se óleo de coco para manter a saúde do couro cabeludo, hidratar a pele e reforçar a função de barreira desta. Neste estudo, os investigadores compararam o impacto da aplicação de óleo de coco, face à de um champô neutro, na microbiota bacteriana e fúngica do couro cabeludo de 140 mulheres com e sem caspa.

Caspa: um fungo específico à cabeça?

No couro cabeludo das mulheres com caspa, descobriram-se populações bastante numerosas de fungos Malassezia. Por outro lado, outra espécie do fungo, M. globosa, colonizava abundantemente o couro cabeludo das mulheres que não apresentavam caspa nem comichão. O tratamento por óleo de coco permitiu aumentar a proporção de M. globosa relativamente aos outros grupos de Malassezia, até se atingir uma relação semelhante à dos couros cabeludos saudáveis.

Óleo de coco para o motor do seu couro cabeludo?

Embora não se tenham observado quaisquer diferenças significativas entre a microbiota bacteriana do grupo saudável e a do grupo com caspa, o tratamento com óleo de coco permitiu, em ambos os grupos, um aumento das bactérias que participam no metabolismo da biotina. Esta vitamina do complexo B é essencial à manutenção da saúde da pele e do couro cabeludo. É também conhecida por reduzir a inflamação. Serão necessários mais estudos para se compreender os mecanismos subjacentes, mas, para os investigadores, o efeito positivo do óleo de coco na composição e no funcionamento das comunidades microbianas constituirá um primeiro passo no sentido da recuperação a mais longo prazo de um couro cabeludo saudável.

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Fontes:

Saxena, R., Mittal, P., Clavaud, C. et al. Longitudinal study of the scalp microbiome suggests coconut oil to enrich healthy scalp commensals. Sci Rep 2021 Mar 31;11(1):7220.


 

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Influência do cão sobre a microbiota do pó na prevenção da asma: ao cão e ao menino

Os cães não levam para casa do dono apenas o seu carinho e o seu brinquedo favorito: a sua presença altera também a microbiota do pó doméstico, exercendo um potencial efeito preventivo e protetor contra a asma nos seus jovens companheiros humanos.

A microbiota pulmonar Asma e microbiota
Actu GP : Influence du chien sur le microbiote de la poussière en prévention de l’asthme : un coup de maitre ?

Todos os donos de cães o sabem: os seus patudos colocam à prova a paciência dos fanáticos de casas impecavelmente limpas, largando pelos um pouco por todo o lado. O Bóbi traz para o lar, dos seus passeios pelo exterior, múltiplos microrganismos. A presença destes modifica a microbiota do pó das nossas habitações... O que poderá explicar o “efeito cão” na proteção contra a asma.

Influência do Bóbi sobre a microbiota do pó…

Assim, investigadores passaram a pente fino o pó de 182 lares finlandeses (incluindo 56 com cão) e de 284 residências urbanas da Alemanha (18 com cão). Os resultados são claros: a presença do Bóbi corresponde a uma sobreabundância de certas bactérias e a uma maior variedade destas no pó doméstico das casas. Há sete géneros bacterianos que se revelam muito mais presentes nos lares onde vive um cão. Por outro lado, o impacto da presença de caninos manifesta-se mais limitado face aos fungos microscópicos do pó: há apenas uma levedura, normalmente também existente na água e na terra, que reforça a sua presença nessas casas.

...e o risco de asma?

Pelo contrário, as bactérias tipicamente associadas ao ser humano sofrem uma redução de um terço quando se tem um companheiro canino a viver em casa. E ainda bem! De facto, uma grande abundância de micróbios associados com o homem significa, potencialmente, mais agentes patogénicos humanos e riscos acrescidos de se desenvolver asma. Assim, de acordo com os investigadores, essa redução relativa de bactérias "humanas" e/ou o aumento das bactérias "caninas" poderão explicar a redução do risco de infeções respiratórias e de asma nas crianças que crescem com um ou mais animais de estimação. Mais um argumento para aqueles que sonham em adotar um companheiro de 4 patas e... facilitar um pouco no que respeita às limpezas?

Recomendado pela nossa comunidade

"Bom para a saúde de todos!" - Comentário traduzido de Donna Wheelock

"É definitivamente benéfico para a minha saúde..." Comentário traduzido de Fred Bauer

"Certíssimo." Comentário traduzido de Mariellen Smith

"Concordo" - Comentário traduzido de Janet Pearce

(Da My health, my microbiota)

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Depressão geriátrica: a microbiota intestinal envolvida na remissão?

A flora microbiana intestinal, já inculpada de envolvimento no funcionamento neuropsiquiátrico por estudos anteriores, poderá permitir prever a resposta ao tratamento da depressão geriátrica, inclusivamente por placebo. E a sua futura, ou não, remissão.

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Verdadeiro problema de saúde pública, a depressão geriátrica poderá afetar até 25% dos idosos, com taxas de remissão mais reduzidas e maiores taxas de recaída do que nos adultos mais jovens. Daí a busca de biomarcadores que permitam prever a resposta aos antidepressivos. Essa busca, até agora sem sucesso, encontra-se atualmente num ponto de viragem: como as interações cérebro-intestino-microbiota modulam as perturbações do estado de espírito e a disbiose intestinal se manifesta para o final da vida, investigadores emitiram a hipótese de a microbiota intestinal permitir prever a resposta ao tratamento antidepressivo na depressão geriátrica. A análise secundária de um ensaio aleatório controlado (12 semanas com Levomilnaciprano (LVM) vs. placebo), realizado na Califórnia com idosos com distúrbio depressivo maior, parece dar-lhes razão.

Géneros bacterianos capazes de prever a remissão

Na impossibilidade de observar as diferenças na taxas de remissão entre os grupos com LVM e com placebo, a análise juntou 4 pacientes tratados e 8 do grupo de controlo. Destes 12 idosos, 5 venceram a depressão (avaliação ≤ 6 na escala de Hamilton): eram mais jovens que a média (67 vs. 74 anos), todos do sexo masculino, mas a sua microbiota intestinal antes do tratamento não apresentava qualquer diferença em termos de diversidade α ou β. Por outro lado, possuía 9 géneros bacterianos que poderão permitir prever com precisão a remissão: uma microbiota enriquecida em Faecalibacterium, e, em menor medida, em Agathobacter e Roseburia será o prenúncio, portanto, do triunfo sobre a depressão.

A microbiota intestinal evolui em caso de remissão

O estudo demonstrou também que a microbiota intestinal dos doentes em remissão (mas não a dos pacientes que permaneceram deprimidos) modifica-se durante a respetiva ultrapassagem do distúrbio depressivo. Assim, os investigadores observaram um aumento de determinados táxons, nomeadamente Flavonifractor e DTU089. De acordo com os autores, o aumento da presença destas bactérias, que não têm efeitos antidepressivos conhecidos, poderá resultar do fim do estado depressivo (alimentação melhorada, aumento da atividade física, recuperação do sono, menos stress, etc.).

Para breve: uma medicina personalizada para o tratamento da depressão geriátrica?


A relação entre a microbiota intestinal e a depressão durante o envelhecimento permanece, no entanto, pouco compreendida: será que o lento declínio do sistema imunitário (imunossenescência) provoca um aumento gradual da inflamação crónica? Será que esse aumento faz alterar a microbiota intestinal (perda de diversidade)? Ainda que permaneçam todas essas perguntas, este estudo mostra pela primeira vez o papel da microbiota intestinal na previsão da resposta ao tratamento da depressão geriátrica, e inclusivamente o efeito placebo. Embora estes resultados devam ser confirmados por estudos prospetivos de maior envergadura, eles poderão abrir caminho para uma medicina personalizada, capaz de escolher o antidepressivo certo de acordo com a microbiota e a eficácia por ela prevista, ou até mesmo de tratar a depressão mediante o reforço de determinados táxons benéficos.

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"Obrigado, bom trabalho!!!"  -@thinhhoang_tk (Da Biocodex Microbiota Institute no X)

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