A microbiota ORL

O termo ORL inclui três parte do corpo: ouvidos, nariz e garganta (que também inclui a boca). A microbiota ORL (otorrinolaringológica) é composta por três tipos diferentes de flora bacteriana: a microbiota oral, a microbiota auricular e a microbiota nasofaríngea.

ENT microbiota

Várias doenças podem resultar do seu desequilíbrio. 

  • A microbiota oral junta mais de 700 espécies bacterianas, que contribuem para a saúde oral (dentes, gengivas, língua, etc.) e, de uma forma geral, para a saúde como um todo. Uma alteração neste equilíbrio (disbiose), resultado de uma má higiene oral, de um défice imunitário ou de origem genética pode levar a infeções locais (cáries, periodontites, etc.) que podem evoluir ou causar doenças mais graves, como doenças cardiovasculares. Higiene e cuidados dentários continuam a ser o método mais efetivo de prevenção.
  • No canal auditivo, a composição da microbiota auricular é muito aproximada à da pele. Trabalhos recentes mostraram a presença inofensiva de Alloiococcus otitis e Corynebacterium otitidis, duas espécies bacterianas que até hoje só tinham sido associadas a infeções do ouvido médio.  Esta descoberta sugere que o canal auditivo funciona como um reservatório de infeções para o ouvido médio.
  • Ainda que próxima da microbiota oral, a microbiota nasofaríngea, que cobre a vias áreas e a faringe, é composta por germes muito diferentes.

Analisar a microbiota ORL pode levar a diagnósticos precoces de várias doenças que surgem por causa da (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) e pode ainda contribuir para o desenvolvimento da medicina personalizada com base em probióticos

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Microbiota

A microbiota pulmonar

Porque é que a microbiota pulmonar é tão importante para a saúde?     

Durante muito tempo, os investigadores pensavam que um pulmão saudável era um pulmão estéril1. Falso! A riqueza da microbiota pulmonar tornou-se uma realidade médica há apenas uma dezena de anos2. E, desde então, tem sido difícil revelar os seus segredos…

A microbiota ORL
Pulmonary Tract Microbiota

Resumo

  1. O que é a microbiota pulmonar?
  2. Porque é que a microbiota pulmonar tem um papel importante para a saúde?
  3. Quais são as doenças associadas a um desequilíbrio da microbiota pulmonar?
  4. Como pode cuidar da sua microbiota pulmonar?

O que é a microbiota pulmonar?

Ao contrário da sua irmã microbiota intestinal, a microbiota pulmonar só foi estudada muito recentemente. Este atraso é explicado, em parte, pela dificuldade em obter amostras e em aceder ao órgão, duas operações que exigem, muitas vezes, um método invasivo3. Além disso, o risco de contaminação das vias respiratórias superiores pelas bactérias constitui um desafio real4. A primeira identificação de uma flora pulmonar remonta a 20105 e, desde então, foram feitos poucos estudos para decifrar o papel das comunidades de microrganismos aí existentes3.  

No entanto, podemos resumir os conhecimentos sobre a composição da microbiota pulmonar em três pontos:

  • Uma baixa densidade de bactérias5
  • Uma forte biodiversidade. Em indivíduos saudáveis, as bactérias dominantes ao nível dos pulmões pertencem aos géneros Prevotella, Veillonella, Streptococcus, Neisseria, Fusobacterium e Haemophilus5. O seu equilíbrio está assente no ritmo entre as inspirações e as expirações6.
  • Uma grande abundância de bactérias consideradas "anaeróbias", ou seja, que se desenvolvem na ausência de oxigénio7. Trata-se de espécies bacterianas que pertencem aos géneros Fusobacterium, Porphyromonas, PrevotellaVeillonella7.

Além disso, as bactérias não são os únicos (sidenote: Microrganismos Organismos vivos que são demasiado pequenos para serem vistos a olho nu. Incluem as bactérias, os vírus, os fungos, as arqueias, os protozoários, etc., e são vulgarmente designados "micróbios". What is microbiology? Microbiology Society. ) que se desenvolvem ao nível da microbiota pulmonar de indivíduos saudáveis! Aí também existem fungos (espécies pertencentes aos géneros Eremothecium, Systenostrema e Malassezia e à família Davidiellaceae), bem como vírus (espécies pertencentes à família Anelloviridae, além de um número elevado de (sidenote: Bacteriófago Vírus que infeta as bactérias Scitable by Nature education_2014. Bacteriophage definition ) )2. Descobertas mais recentes detetaram a presença de (sidenote: Arqueia Tipo de microrganismos (diferentes das bactérias), que se encontram em todos os ambientes e também em meios extremos Archaea. Microbiology Society ) ao nível pulmonar. Por último, embora estes microrganismos façam parte da microbiota pulmonar8, atualmente está disponível um conjunto limitado de dados.

Porque é que a microbiota pulmonar tem um papel importante para a saúde?

A microbiota pulmonar tem um papel crucial para a preservação do equilíbrio da função pulmonar. São-lhe atribuídas 4 grandes funções:

  • Funciona como uma barreira contra os agentes patogénicos e ajuda a resistir às infeções respiratórias9, exatamente como a microbiota intestinal
  • Tem um papel defensivo ao participar ativamente na estimulação da (sidenote: Imunidade inata e adaptativa O corpo humano garante a sua proteção graças a 2 tipos de mecanismos de defesa: a imunidade inata e a imunidade adaptativa. A imunidade inata é a primeira linha de defesa contra os agentes infeciosos, sendo uma reação imediata. Por sua vez, a imunidade adaptativa intervém mais tarde, mas visa uma proteção duradoura Janeway CA Jr, Travers P, Walport M, et al. Immunobiology: The Immune System in Health and Disease. 5th edition. New York: Garland Science; 2001. Principles of innate and adaptive immunity. ) em caso de infeções10,11
  • Intervém no amadurecimento do sistema imunitário pulmonar a fim de permitir, entre outros, uma tolerância aos alergénios12
  • Influencia a morfologia dos pulmões, concretamente o número de alvéolos pulmonares, de acordo com estudos realizados em ratinhos13

Quais são as doenças associadas a um desequilíbrio da microbiota pulmonar?

Quando a composição da microbiota pulmonar está desequilibrada, surge uma disbiose, que pode estar associada a diferentes doenças. Até agora, os estudos científicos nem sempre permitiram determinar se a disbiose é a causa ou a consequência destas doenças.

Analisemos melhor determinadas perturbações associadas a uma disbiose pulmonar:

  • as infeções respiratórias de inverno, como a constipação, a gripe (mais frequentemente de origem viral) em que se verifica um desequilíbrio da imunidade pulmonar, bem como uma disbiose pulmonar e intestinal15
  • a asma16: uma doença crónica do sistema respiratório que afeta mais de 260 milhões de pessoas em todo o mundo17. Um desequilíbrio da microbiota pulmonar16, mas também intestinal18 e nasal19 está associado a esta patologia
  • a mucoviscidose, uma doença hereditária rara que afeta principalmente as vias respiratórias e o sistema digestivo20
  • a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC), caracterizada por um estreitamento progressivo e uma obstrução permanente das vias respiratórias e dos pulmões, provocando um desconforto respiratório16

"Eixo intestinos-pulmões"

Estas patologias realçam a comunicação bidirecional entre os intestinos e os pulmões, referida como "eixo intestinos-pulmões"15. A microbiota intestinal participa nas respostas imunológicas pulmonares, e as patologias pulmonares podem igualmente influenciar a composição da microbiota intestinal15. Com efeito, várias patologias respiratórias são, muitas vezes, acompanhadas de perturbações gastrointestinais21 e, por seu lado, a disbiose intestinal está, muitas vezes, associada a patologias pulmonares16. O envolvimento deste eixo nas patologias pulmonares constitui um domínio muito promissor22.

Como pode cuidar da sua microbiota pulmonar?

Agora já conhece o papel importante desempenhado pela microbiota pulmonar e o eixo intestinos-pulmões na sua saúde. Os investigadores compreenderam-no bem e atualmente trabalham no estudo de estratégias que visam evitar ou curar as infeções pulmonares23,24.

Em relação à prevenção das infeções respiratórias de inverno, a associação de probióticos com prebióticos apresentou resultados encorajadores25. No bebé, determinados probióticos permitem evitar as infeções de inverno desde os primeiros meses de vida26. Por último, alguns estudos realizados em estudantes revelaram o interesse dos probióticos em tratamento, para diminuir significativamente a duração dos sintomas27,28.
 

Todas as informações contidas neste artigo têm origem em fontes científicas autorizadas. Relembramos que estas informações não são exaustivas. Consulte a lista anexa dos estudos em que foram obtidas estas informações. 

Observatório Internacional de Microbiotas

Descubra os resultados de 2023
Fontes

Hufnagl K, Pali-Schöll I, Roth-Walter F, et al. Dysbiosis of the gut and lung microbiome has a role in asthma. Semin Immunopathol. 2020;42(1):75-93.

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Huffnagle GB, Dickson RP, Lukacs NW. The respiratory tract microbiome and lung inflammation: a two-way street. Mucosal Immunol. 2017 Mar;10(2):299-306.

Dickson RP, Erb-Downward JR, Freeman CM, et al. Bacterial Topography of the Healthy Human Lower Respiratory Tract. mBio. 2017 Feb 14;8(1):e02287-16.

Hilty M, Burke C, Pedro H, et al. Disordered microbial communities in asthmatic airways. PLoS One. 2010 Jan 5;5(1):e8578.

Mathieu E, Escribano-Vazquez U, Descamps D, et al. Paradigms of Lung Microbiota Functions in Health and Disease, Particularly, in Asthma. Front Physiol. 2018 Aug 21;9:1168.v

Lamoureux C, Guilloux CA, Beauruelle C, et al. Anaerobes in cystic fibrosis patients' airways. Crit Rev Microbiol. 2019 Feb;45(1):103-117. 

Koskinen K, Pausan MR, Perras AK, et al. First Insights into the Diverse Human Archaeome: Specific Detection of Archaea in the Gastrointestinal Tract, Lung, and Nose and on Skin. mBio. 2017 Nov 14;8(6):e00824-17.

Brown RL, Sequeira RP, Clarke TB. The microbiota protects against respiratory infection via GM-CSF signaling. Nat Commun. 2017 Nov 15;8(1):1512.

10 Karmarkar D, Rock KL. Microbiota signalling through MyD88 is necessary for a systemic neutrophilic inflammatory response. Immunology. 2013 Dec;140(4):483-92.

11 Pichon M, Lina B, Josset L. Impact of the Respiratory Microbiome on Host Responses to Respiratory Viral Infection. Vaccines (Basel). 2017 Nov 3;5(4):40.

12 Gollwitzer ES, Saglani S, Trompette A, et al. Lung microbiota promotes tolerance to allergens in neonates via PD-L1. Nat Med. 2014 Jun;20(6):642-7.

13 Yun Y, Srinivas G, Kuenzel S, et al. Environmentally determined differences in the murine lung microbiota and their relation to alveolar architecture. PLoS One. 2014 Dec 3;9(12):e113466.

14 Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232.

15 Dumas A, Bernard L, Poquet Y, et al. The role of the lung microbiota and the gut-lung axis in respiratory infectious diseases. Cell Microbiol. 2018 Dec;20(12):e12966.

16 Budden KF, Shukla SD, Rehman SF, et al. Functional effects of the microbiota in chronic respiratory disease. Lancet Respir Med. 2019 Oct;7(10):907-920.

17 World Health Organization. 2021. Asthma. World Health Organization, Geneva, Switzerland. https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/asthm

18 Abrahamsson TR, Jakobsson HE, Andersson AF, et al. Low gut microbiota diversity in early infancy precedes asthma at school age. Clin Exp Allergy. 2014 Jun;44(6):842-50.

19 Kang HM, Kang JH. Effects of nasopharyngeal microbiota in respiratory infections and allergies. Clin Exp Pediatr. 2021 Apr 15.

20 Hardouin P, Chiron R, Marchandin H, et al. Metaproteomics to Decipher CF Host-Microbiota Interactions: Overview, Challenges and Future Perspectives. Genes (Basel). 2021 Jun 9;12(6):892.

21 Sencio V, Machado MG, Trottein F. The lung-gut axis during viral respiratory infections: the impact of gut dysbiosis on secondary disease outcomes. Mucosal Immunol. 2021 Mar;14(2):296-304.

22 Budden KF, Gellatly SL, Wood DL, et al. Emerging pathogenic links between microbiota and the gut-lung axis. Nat Rev Microbiol. 2017 Jan;15(1):55-63.

23 Park MK, Ngo V, Kwon YM, et al. Lactobacillus plantarum DK119 as a probiotic confers protection against influenza virus by modulating innate immunity. PLoS One. 2013 Oct 4;8(10):e75368.

24 Belkacem N, Serafini N, Wheeler R, et al. Lactobacillus paracasei feeding improves immune control of influenza infection in mice. PLoS One. 2017 Sep 20;12(9):e0184976.

25 Pregliasco F, Anselmi G, Fonte L, et al. A new chance of preventing winter diseases by the administration of synbiotic formulations. J Clin Gastroenterol. 2008 Sep;42 Suppl 3 Pt 2:S224-33.

26 Rautava S, Salminen S, Isolauri E. Specific probiotics in reducing the risk of acute infections in infancy--a randomised, double-blind, placebo-controlled study. Br J Nutr. 2009 Jun;101(11):1722-6.

27 Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007.

28 Wang Y, Li X, Ge T, et al. Probiotics for prevention and treatment of respiratory tract infections in children: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Medicine (Baltimore). 2016 Aug;95(31):e4509.

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Microbiota

Diarreia do viajante

Aviso aos viajantes e globetrotters vítimas da temível "doença do turista"! Esta infeção, geralmente benigna, que afeta a microbiota intestinal1 chama-se, na realidade, diarreia do viajante. Muito frequentemente, poderá manifestar-se em 10 a 40% dos turistas2 que realizem passeios de 2 semanas, dependendo do país visitado e das características de cada viajante. Em viagens em regiões tropicais ou subtropicais, pode afetar até 60% dos viajantes!3 Diferente em múltiplos aspetos da gastroenterite, ambas causam diarreias.2

A microbiota intestinal Diarreia associada a antibióticos MICROREVELE #2: Zoom na microbiota intestinal
Travelers’ diarrhea

O que é a diarreia do viajante?

Ao contrário da crença popular, a diarreia do viajante não está relacionada com alimentos exóticos mal digeridos por estômagos que não estão habituados. Trata-se de uma verdadeira infeção, que pode ser causada por uma bactéria (Escherichia coli, Salmonella, Shigella, Campylobacter), caso que é o mais frequente.2 Por vezes pode dever-se a um parasita (Giardia, Cryptosporidium, etc.), ou a um vírus (norovírus, rotavírus).2 O agente patogénico responsável pela diarreia só é encontrado em 40 a 60% dos viajantes sintomáticos.4 Os principais vetores dos germes em causa são os alimentos contaminados (em especial vegetais crus, carne ou peixe mal cozinhado, frutas com casca, etc.), bem como água contaminada.5 Pode também ser transmitida a outras pessoas através do contacto, quando não se cumprem as regras mínimas de higiene.5

40 a 60% O agente patogénico responsável pela diarreia só é encontrado em 40 a 60% dos viajantes sintomáticos

E a microbiota no meio disto tudo? 

Um dos papeis da microbiota intestinal é prevenir e limitar as invasões de agentes patogénicos intestinais.6 Embora a "doença do turista" seja frequente, não deixa por isso de ter consequências. De facto, a diarreia (qualquer que seja o agente patogénico) perturba, pelo menos temporariamente, o equilíbrio da microbiota intestinal, causando a (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) .1 Este desequilíbrio pode ter consequências a longo prazo, aumentando nomeadamente o risco de se vir a sofrer de síndrome do cólon irritável pós-infeciosa,7 a qual poderá manifestar-se em 3% a 17% dos pacientes.2 Muito recentemente, uma equipa de investigação demonstrou que viajantes suecos eram mais propensos a contrair uma infeção bacteriana por Campylobacter durante as suas viagens sempre que a sua microbiota intestinal era menos rica em microrganismos em comparação com as pessoas que não se infetavam nessas mesmas viagens.8 Outra equipa comprovou que a ocorrência de diarreia durante a viagem estava associada com uma maior proporção de uma bactéria específica (Prevotella copri) nos seus intestinos, antes e depois do regresso da viagem.9 Será que a composição da microbiota intestinal dos viajantes permitirá avaliar o risco de surgir diarreia durante a viagem? Como há ainda poucos estudos, isso está ainda por confirmar!

Quais são os sintomas da diarreia do viajante?

Os sintomas e a duração variam de acordo com a causa4 (bactéria, vírus ou parasita) e permanecem, em média, entre 4 e 5 dias sem tratamento2. Às defecações abundantes, pouco consistentes ou líquidas, (pelo menos 3 por dia),5 soma-se pelo menos um dos seguintes sintomas: febre, náuseas, vómitos, cólicas abdominais e uma necessidade premente se ir à casa de banho.2 O principal risco é o de desidratação provocada pelas fezes líquidas frequentes. As pessoas de risco são as mais suscetíveis de necessitarem de hospitalização (crianças, idosos ou doentes crónicos com o sistema imunitário enfraquecido).2

Ilustração diarreia do viajante:10

Ligeira

Diarreia tolerável, que não cria dificuldades de maior nem interfere nas atividades previstas.

Moderada

Diarreia que limita ou que interfere nas atividades previstas.

Grave

Diarreia debilitante implicando incapacidade total de realizar as atividades previstas. A disenteria, ou seja, uma diarreia acompanhada de sangue e/ou muco é considerada uma diarreia grave.

Persistente

Diarreia com duração superior a 2 semanas.

Como prevenir e tratar a diarreia do viajante?

A prevenção da diarreia do viajante baseia-se sobretudo na higiene: lavagem frequente das mãos e precauções alimentares.5 Não hesite em aconselhar-se com o seu médico ou farmacêutico antes de viajar. A reidratação é fundamental no tratamento da diarreia do viajante:5 água limpa (água engarrafada ou potável), tisanas e chás de ervas, para beber frequentemente e em pequenas quantidades. Recomenda-se a ingestão de alimentos ligeiramente doces e/ou salgados (os alimentos sólidos não são contraindicados).4 Em alguns casos, podem ser receitados antidiarreicos.10 Estes permitem reduzir o risco de desidratação. Também podem ser necessários antibióticos em alguns casos. No entanto, estes podem causar uma redução da diversidade da microbiota intestinal, a qual perde assim a sua força de barreira contra as espécies (sidenote: Agente patogénico Um agente patogénico é um microrganismo que provoca ou pode provocar uma doença. Pirofski LA, Casadevall A. Q and A: What is a pathogen? A question that begs the point. BMC Biol. 2012 Jan 31;10:6. ) , e provoca a seleção de bactérias resistentes aos antibióticos.11 É por isso que eles só são recomendados nos casos de diarreia grave e em alguns casos de diarreia moderada,10 sob a supervisão de um médico. Os probióticos poderão ser úteis numa perspetiva preventiva,12 e para limitar  a extensão e a duração dos sintomas.13,14

Este artigo recorre a fontes científicas homologadas, mas não substitui o aconselhamento médico. Em caso de sintomas, consulte o seu médico generalista.

Fontes

1 Youmans BP, Ajami NJ, Jiang ZD et al. Characterization of the human gut microbiome during travelers’ diarrhea. Gut Microbes. 2015;6(2):110-9. 

2 Steffen R, Hill DR, DuPont HL. Traveler's diarrhea: a clinical review. JAMA. 2015 Jan 6;313(1):71-80. 

3 Eckbo EJ, Yansouni CP, Pernica JM, et al. New Tools to Test Stool: Managing Travelers' Diarrhea in the Era of Molecular Diagnostics. Infect Dis Clin North Am. 2019 Mar;33(1):197-212.

4 Fedor A, Bojanowski I, Korzeniewski K. Gastrointestinal infections in returned travelers. Int Marit Health. 2019;70(4):244-251. 

5 World Health Organization. 2017. Diarrhoeal disease. World Health Organization, Geneva, Switzerland. http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs330/en/. Accessed 28 October 2017.

6 Riddle MS, Connor BA. The Traveling Microbiome. Curr Infect Dis Rep. 2016 Sep;18(9):29.

7 Beatty JK, Bhargava A, Buret AG. Post-infectious irritable bowel syndrome: mechanistic insights into chronic disturbances following enteric infection. World J Gastroenterol. 2014 Apr 14;20(14):3976-85. 

8 Kampmann C, Dicksved J, Engstrand L, et al. Composition of human faecal microbiota in resistance to Campylobacter infection. Clin Microbiol Infect. 2016 Jan;22(1):61.e1-61.e8.

9 Leo S, Lazarevic V, Gaïa N, et al. The intestinal microbiota predisposes to traveler's diarrhea and to the carriage of multidrug-resistant Enterobacteriaceae after traveling to tropical regions. Gut Microbes. 2019;10(5):631-641.

10 Riddle MS, Connor BA, Beeching NJ, et al. Guidelines for the prevention and treatment of travelers' diarrhea: a graded expert panel report. J Travel Med. 2017 Apr 1;24(suppl_1):S57-S74.

11 McDonald LC. Effects of short- and long-course antibiotics on the lower intestinal microbiome as they relate to traveller's diarrhea. J Travel Med. 2017 Apr 1;24(suppl_1):S35-S38.

12 McFarland LV. Systematic review and meta-analysis of Saccharomyces boulardii in adult patients. World J Gastroenterol. 2010 May 14;16(18):2202-22. 

13 Dinleyici EC, Eren M, Ozen M, et al. Effectiveness and safety of Saccharomyces boulardii for acute infectious diarrhea. Expert Opin Biol Ther. 2012 Apr;12(4):395-410.

14 Allen SJ, Martinez EG, Gregorio GV, et al. Probiotics for treating acute infectious diarrhoea. Cochrane Database Syst Rev. 2010 Nov 10;2010(11):CD003048. 

15 Pirofski LA, Casadevall A. Q and A: What is a pathogen? A question that begs the point. BMC Biol. 2012 Jan 31;10:6. 

BMI 21.20
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Doença

Candidíase

70 a 75% das mulheres sofrem episódios de candidíase vaginal pelo menos uma vez na vida1. Prurido e corrimento vaginal anormal... Os sintomas podem ser particularmente incómodos no dia a dia. E se que essa infeção fosse promovida pelo desequilíbrio da sua microbiota vaginal?2

A microbiota vaginal
Vaginal microbiota

O que é a candidíase vaginal?

A candidíase vaginal é uma infeção da vulva e da vagina, provocada por um fungo do tipo levedura – Candida albicans na maioria dos casos3. Esta infeção é considerada a segunda mais vulgar entre as doenças infeciosas vaginais, a seguir à vaginose bacteriana1. É importante consultar um médico para confirmar o diagnóstico, porque os seus sintomas não são muito específicos; a maioria das manifestações clínicas mais vulgares desta infeção são os corrimentos vaginais anormais (leucorreia), o prurido genital e a sensação de queimadura acompanhada de dores ou irritações vaginais, que podem conduzir a (sidenote: Dispareunia Dor genital recorrente ou persistente que se manifesta durante as relações sexuais. ) ou a (sidenote: Disúria Termo utilizado para descrever uma micção (ação de urinar) dolorosa, muitas vezes descrita pelo doente como uma sensação de queimadura, formigueiro ou prurido ) 1.

42% Menos de 1 em cada 2 mulheres afirmam que o seu médico lhes explicou como manter uma microbiota vaginal equilibrada ou a importância de manter o melhor equilíbrio possível da sua microbiota vaginal

A microbiota vaginal está implicada?

A microbiota vaginal de cada mulher, que é única e diferente das outras microbiotas, apresenta reduzida diversidade quando bem equilibrada4: as espécies do género (sidenote: Lactobacilos Bactérias em forma de bastonete cuja característica principal é a de produzirem ácido láctico. É por essa razão que se fala em “bactérias do ácido láctico”. 
Estas bactérias estão presentes no ser humano ao nível das microbiotas oral, vaginal e intestinal, mas também nas plantas ou nos animais. Podem ser consumidas nos produtos fermentados: em produtos lácteos, como o iogurte e alguns queijos, e também em outros tipos de alimentos fermentados – picles, chucrute, etc..
Os lactobacilos são também consumidos em produtos que contêm probióticos, com algumas espécies a serem conhecidas pelas suas propriedades benéficas.   W. H. Holzapfel et B. J. Wood, The Genera of Lactic Acid Bacteria, 2, Springer-Verlag, 1st ed. 1995 (2012), 411 p. « The genus Lactobacillus par W. P. Hammes, R. F. Vogel Tannock GW. A special fondness for lactobacilli. Appl Environ Microbiol. 2004 Jun;70(6):3189-94. Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007.
)
são predominantes, mas também há leveduras (Candida albicans) em quantidades mais reduzidas.5 

Ao longo dos vários episódios da vida de uma mulher, o ecossistema vaginal evolui6. Esse desenvolvimento é normal e é influenciado pelo ciclo menstrual, a puberdade e a menopausa, e pela atividade sexual, a contraceção, a higiene íntima e as gravidezes.7,8,9

Quando o ecossistema vaginal é desequilibrado (por um tratamento com antibióticos, irrigações vaginais, stress, tabagismo, etc. )2,6, acontece o que se designa por (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) : os Lactobacillus deixam de ser predominantes, e algumas (sidenote: Infeção oportunista Infeção causada por um microrganismo normalmente não patogénico, mas que o pode tornar-se quando o seu anfitrião se encontra em desequilíbrio (há múltiplos fatores que podem causar esse desequilíbrio: enfraquecimento do sistema imunitário, doença, idade, certas drogas, etc.). ) têm a possibilidade de proliferar. É o que sucede no caso da candidíase: as Candida – que são leveduras normalmente presentes na vagina e nos intestinos5 – aumentam de forma anormal e tornam-se agentes patogénicos em determinadas condições. Por exemplo, estima-se que após um tratamento com antibióticos, 10 a 30% das mulheres sofram de candidíase vulvovaginal10.

10 a 30% das mulheres sofram de candidíase vulvovaginal após um tratamento com antibióticos

Existem outros fatores de risco que podem aumentar o risco de se desencadear uma infeção1: a toma de  corticosteroides, a gravidez, as doenças que implicam diminuição da resposta imunitária, a diabetes mal controlada, mas também os contracetivos orais, a utilização de dispositivo intrauterino, etc.. Há muitos fatores que têm sido identificados, sem que os respetivos mecanismos estejam inteiramente compreendidos11

Antifúngicos e probióticos

O tratamento tradicional da candidíase vaginal é uma terapêutica antifúngica, mediante administração local ou por via oral11. No entanto, podem ocorrer recidivas, e há novas abordagens terapêuticas a serem avaliadas11. Trabalhos recentes sugerem que probióticos tomados por via oral ou de aplicação tópica (cápsulas ou óvulos) poderão reequilibrar a microflora vaginal e reduzir a frequência da recorrência das infeções por Candida.12,13

Para se reduzir o risco de infeção, é recomendado que se cumpram algumas práticas de higiene pessoal. São gestos a adotar diariamente para cuidar da sua microbiota vaginal.

Este artigo recorre a fontes científicas homologadas. Em caso de sintomas, não hesite em consultar o seu médico generalista ou o seu ginecologista.

Fontes:

1 Gonçalves B, Ferreira C, Alves CT, et al. Vulvovaginal candidiasis: Epidemiology, microbiology and risk factors. Crit Rev Microbiol. 2016 Nov;42(6):905-27. 

2 Riepl M. Compounding to Prevent and Treat Dysbiosis of the Human Vaginal Microbiome. Int J Pharm Compd. 2018 Nov-Dec;22(6):456-465.

3 Ceccarani C, Foschi C, Parolin C, et al. Diversity of vaginal microbiome and metabolome during genital infections. Sci Rep. 2019 Oct 1;9(1):14095.

4 Gupta S, Kakkar V, Bhushan I. et al. Crosstalk between Vaginal Microbiome and Female Health: A review. Microb Pathog. 2019 Aug 23;136:103696.

5 d'Enfert C, Kaune AK, Alaban LR, et al. The impact of the Fungus-Host-Microbiota interplay upon Candida albicans infections: current knowledge and new perspectives. FEMS Microbiol Rev. 2020 Nov 24:fuaa060. 

6 Amabebe E, Anumba DOC. The Vaginal Microenvironment: The Physiologic Role of Lactobacilli. Front Med (Lausanne). 2018 Jun 13;5:181.

7 Gupta P, Singh MP, Goyal K. Diversity of Vaginal Microbiome in Pregnancy: Deciphering the Obscurity. Front Public Health. 2020 Jul 24;8:326.

8 Greenbaum S, Greenbaum G, Moran-Gilad J, Weintraub AY. Ecological dynamics of the vaginal microbiome in relation to health and disease. Am J Obstet Gynecol. 2019 Apr;220(4):324-335.

9 Lewis FM, Bernstein KT, Aral SO. Vaginal Microbiome and Its Relationship to Behavior, Sexual Health, and Sexually Transmitted Diseases. Obstet Gynecol. 2017;129(4):643-654.

10  Shukla A, Sobel JD. Vulvovaginitis Caused by Candida Species Following Antibiotic Exposure. Curr Infect Dis Rep. 2019 Nov 9;21(11):44.

11 de Cássia Orlandi Sardi, J, Silva, D.R, et al. Vulvovaginal Candidiasis: Epidemiology and Risk Factors, Pathogenesis, Resistance, and New Therapeutic Options. Curr Fungal Infect Rep 15, 32–40 (2021). 

12 Strus M, Chmielarczyk A, Kochan P, et al. Studies on the effects of probiotic Lactobacillus mixture given orally on vaginal and rectal colonization and on parameters of vaginal health in women with intermediate vaginal flora. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2012 Aug;163(2):210-5. 

13 Vujic G, Jajac Knez A, Despot Stefanovic V, et al. Efficacy of orally applied probiotic capsules for bacterial vaginosis and other vaginal infections: a double-blind, randomized, placebo-controlled study. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2013 May;168(1):75-9. 

14 Chen Y, Bruning E, Rubino J, et al. Role of female intimate hygiene in vulvovaginal health: Global hygiene practices and product usage. Womens Health (Lond). 2017 Dec;13(3):58-67.

15 Hill DA, Taylor CA. Dyspareunia in Women. Am Fam Physician. 2021 May 15;103(10):597-604.

 

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Doença

Vaginose bacteriana - um desequilíbrio na microbiota vaginal

Patologia ginecológica que é a mais frequente nas mulheres em idade fértil, a vaginose bacteriana afeta entre 23% e 29% da população feminina mundial1 . Com esta patologia, é tudo ou nada: tanto pode passar completamente despercebida... como alterar significativamente a vida das mulheres. Embora a causa permaneça até hoje desconhecida, a pista do desequilíbrio da microbiota vaginal parece confirmar-se2 .

  • 1Peebles K, Velloza J, Balkus JE, et al. High Global Burden and Costs of Bacterial Vaginosis: A Systematic Review and Meta-Analysis. Sex Transm Dis. 2019 May;46(5):304-311.
  • 2Chen X, Lu Y, Chen T, et al. The Female Vaginal Microbiome in Health and Bacterial Vaginosis. Front Cell Infect Microbiol. 2021 Apr 7;11:631972.
A microbiota vaginal A prevenção da vaginose bacteriana pode depender do que come Vaginose bacteriana: pode ser provocada pelo homem? Vaginose bacteriana: poderá haver em breve um transplante de microbiota vaginal?
Is bacterial vaginosis a disease?

O que é a vaginose bacteriana?

A vaginose bacteriana é uma doença perniciosa e difícil de detetar. Já sabia? 50% das mulheres são  assintomáticas, outras sofrem de irritações locais ou de corrimento vaginal com odor fétido1 .

Na prática, os médicos usam a classificação de Amsel2 para diagnosticar a vaginose bacteriana. Este método baseia-se na presença de pelo menos três dos seguintes critérios:

  • Corrimento vaginal fino e homogéneo
  • pH vaginal superior a 4,5
  • Odor de amina (que, de facto, corresponde ao cheiro a peixe) após análise específica realizada em esfregaço vaginal
  • Corrimento vaginal identificado na sequência de exame microscópico: presença de células de tecido vaginal às quais aderem múltiplas bactérias

Há muitos fatores de risco associados a esta doença: a idade, o ciclo menstrual, a gravidez, o historial sexual, e também as irrigações vaginais e o tabagismo1 . A disbiose vaginal induzida por tratamentos com antibióticos pode também contribuir para o desenvolvimento posterior de vaginose bacteriana, no que constitui um verdadeiro círculo vicioso, uma vez que esses mesmos antibióticos podem ser utilizados para tratar infeção1 .

Por fim, as mulheres com vaginose bacteriana têm uma maior probabilidade de virem a contrair infeções sexualmente transmissíveis (ISTs): herpes, papilomas humanos (HPV) ou SIDA, e também infeções bacterianas3 4 .

  • a b c
    Coudray MS, Madhivanan P. Bacterial vaginosis-A brief synopsis of the literature. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2019 Dec 24;245:143-148
  • 2Onderdonk AB, Delaney ML, Fichorova RN. The Human Microbiome during Bacterial Vaginosis. Clin Microbiol Rev. 2016 Apr;29(2):223-38.
  • 3Lewis FM, Bernstein KT, Aral SO. Vaginal Microbiome and Its Relationship to Behavior, Sexual Health, and Sexually Transmitted Diseases. Obstet Gynecol. 2017;129(4):643-654.
  • 4Torcia MG. Interplay among Vaginal Microbiome, Immune Response and Sexually Transmitted Viral Infections. Int J Mol Sci. 2019;20(2):266.

50% das mulheres são  assintomáticas, outras sofrem de irritações locais ou de corrimento vaginal com odor fétido

Existe alguma relação com a microbiota vaginal?

A vaginose bacteriana é associada a um desequilíbrio da microbiota vaginal1 , que é o que designamos de (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) . Mas regressemos ao básico: a microbiota vaginal é dominada por várias espécies de bactérias, os (sidenote: Lactobacilos Bactérias em forma de bastonete cuja característica principal é a de produzirem ácido láctico. É por essa razão que se fala em “bactérias do ácido láctico”. 
Estas bactérias estão presentes no ser humano ao nível das microbiotas oral, vaginal e intestinal, mas também nas plantas ou nos animais. Podem ser consumidas nos produtos fermentados: em produtos lácteos, como o iogurte e alguns queijos, e também em outros tipos de alimentos fermentados – picles, chucrute, etc..
Os lactobacilos são também consumidos em produtos que contêm probióticos, com algumas espécies a serem conhecidas pelas suas propriedades benéficas.   W. H. Holzapfel et B. J. Wood, The Genera of Lactic Acid Bacteria, 2, Springer-Verlag, 1st ed. 1995 (2012), 411 p. « The genus Lactobacillus par W. P. Hammes, R. F. Vogel Tannock GW. A special fondness for lactobacilli. Appl Environ Microbiol. 2004 Jun;70(6):3189-94. Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007.
)
. Essas bactérias permitem que se mantenha um pH ácido no seio da microbiota vaginal, o que previne a proliferação de bactérias patogénicas2 . Estão também presentes leveduras (Candida albicans), porém em menor quantidade3

Quando há vaginose bacteriana, esta flora microbiana é substituída por uma flora  polimicrobiana que integra múltiplas bactérias (Gardnerella, Atopobium, Prevotella, Mobiluncus, etc.)1 . Isto provoca o aumento do pH da microbiota vaginal (que normalmente é muito ácido),  atribuído principalmente à diminuição da flora predominante de Lactobacillus4 . Mas isso não é assim tão simples! A mera presença de certas espécies dessa flora polimicrobiana não parece causar infeções, ou seja, uma mulher não vai necessariamente apresentar sintomas se tiver na vagina espécies como Atopobium, ou Prevotella... De facto, a espécie Gardnerella vaginalis está presente em 90% das pacientes sintomáticas e em 45% das mulheres saudáveis5 . Esta bactéria foi por muito tempo considerada como o principal agente patogénico da vaginose bacteriana, antes de novas linhas de investigação terem revelado que a vagina pode ser colonizada por ela sem que surja infeção6 . A investigação continua, no sentido de identificar mais precisamente as causas desta infeção, que continuam ainda por determinar7 .

  • a b
    Chen X, Lu Y, Chen T, et al. The Female Vaginal Microbiome in Health and Bacterial Vaginosis. Front Cell Infect Microbiol. 2021 Apr 7;11:631972.
  • 2Greenbaum S, Greenbaum G, Moran-Gilad J, et al. Ecological dynamics of the vaginal microbiome in relation to health and disease. Am J Obstet Gynecol. 2019 Apr;220(4):324-335.
  • 3d'Enfert C, Kaune AK, Alaban LR, et al. The impact of the Fungus-Host-Microbiota interplay upon Candida albicans infections: current knowledge and new perspectives. FEMS Microbiol Rev. 2020 Nov 24:fuaa060.
  • 4Aldunate M, Srbinovski D, Hearps AC, et al. Antimicrobial and immune modulatory effects of lactic acid and short chain fatty acids produced by vaginal microbiota associated with eubiosis and bacterial vaginosis. Front Physiol. 2015 Jun 2;6:164.
  • 5Onderdonk AB, Delaney ML, Fichorova RN. The Human Microbiome during Bacterial Vaginosis. Clin Microbiol Rev. 2016 Apr;29(2):223-38.
  • 6Muzny CA, Taylor CM, Swords WE, et al. An Updated Conceptual Model on the Pathogenesis of Bacterial Vaginosis. J Infect Dis. 2019 Sep 26;220(9):1399-1405.
  • 7Coudray MS, Madhivanan P. Bacterial vaginosis-A brief synopsis of the literature. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2019 Dec 24;245:143-148

35% Apenas 1 em cada 3 mulheres sabe que a vaginose bacteriana está associada a um desequilíbrio da microbiota vaginal

69% Quase 7 em cada 10 mulheres sabem que os antibióticos podem alterar a microbiota vaginal.

Vaginose bacteriana: como evitá-la?

O tratamento é exclusivamente aconselhado às mulheres com sintomas. As mais recentes recomendações médicas estabelecem que sejam receitados antibióticos por via oral ou vaginal1 .  No entanto, embora estes possam ajudar a aliviar os sintomas, é infelizmente muito vulgar as pacientes terem recaídas2 .

Contudo, existem várias formas de reduzir as suas hipóteses de sofrer de vaginose! Evite determinados fatores de risco, como as irrigações vaginais, o tabagismo3 , etc.. E, para restaurar o equilíbrio da microbiota vaginal, a administração de probióticos por via vaginal ou oral4 5 , pode ser recomendada para o tratamento ou a prevenção de recaídas da doença.

  • 1Chen X, Lu Y, Chen T, et al. The Female Vaginal Microbiome in Health and Bacterial Vaginosis. Front Cell Infect Microbiol. 2021 Apr 7;11:631972.
  • 2Bradshaw CS, Brotman RM. Making inroads into improving treatment of bacterial vaginosis - striving for long-term cure. BMC Infect Dis. 2015 Jul 29;15:292.
  • 3Coudray MS, Madhivanan P. Bacterial vaginosis-A brief synopsis of the literature. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 2019 Dec 24;245:143-148
  • 4López-Moreno A, Aguilera M. Vaginal Probiotics for Reproductive Health and Related Dysbiosis: Systematic Review and Meta-Analysis. J Clin Med. 2021 Apr 2;10(7):1461.
  • 5Koirala R, Gargari G, Arioli S, et al. Effect of oral consumption of capsules containing Lactobacillus paracasei LPC-S01 on the vaginal microbiota of healthy adult women: a randomized, placebo-controlled, double-blind crossover study. FEMS Microbiol Ecol. 2020 Jun 1;96(6):fiaa084.

Este artigo recorre a fontes científicas homologadas. Em caso de sintomas, não hesite em consultar o seu médico generalista ou o seu ginecologista.

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Cólica do lactente

"Os gritos do meu recém-nascido? São o som mais angustiante que já ouvi ",1 confessam muitos pais, impotentes ao tentarem acalmar o choro inexplicável do seu bebé, e que chegam desesperados ao consultório do seu pediatra.  Os sintomas são muitas vezes difíceis de identificar e podem representar uma dura prova para os pais... por isso é necessário saber reconhecê-los... e compreendê-los! E se a chave estiver na microbiota intestinal do seu bebé?

A microbiota intestinal
Infantile colic

O que é a cólica infantil?

A cólica infantil caracteriza-se por choro excessivo e de causa desconhecida em crianças geralmente saudáveis. As possíveis causas dessas cólicas poderão ser indagadas entre as perturbações gastrointestinais2 (imaturidade do trato gastrointestinal, alergia ou intolerância ao leite de vaca, refluxo dos bebés3), mas há outras causas não relacionadas com o sistema gastrointestinal3 que também são estudadas, como o stress parental4 ou o tabagismo materno.2

As cólicas são vulgares nos bebés, mas os seus sintomas, a começar pelo choro contínuo da criança, podem ser uma fonte de preocupação para os pais.

Já sabia?

A palavra "cólica" vem do grego "κoλικóς, kolikos", referente ao cólon. No entanto, apesar de anos de investigação, a causa permanece desconhecida e nada permite afirmar com certezas que os intestinos (e portanto o cólon) do lactente têm qualquer culpa.5

Quais são os sintomas da cólica infantil?

A criança chora muito, mantém-se inconsolável, faz caretas e pode apresentar o rosto avermelhado. Mantém os punhos cerrados e pode ter gases.5 Para diagnosticar a cólica infantil, os pediatras usaram durante muito tempo a "regra dos 3", introduzida em 1954.6 Esses critérios foram ajustados posteriormente, e uma associação internacional estabeleceu uma nova definição com os seguintes critérios: “períodos prolongados e recorrentes de agitação, irritabilidade ou choro infantil, comunicados pelos pais, que ocorrem sem causas óbvias e não podem ser evitados ou solucionados pelos profissionais de saúde, sem atrasos no crescimento do lactente, febre ou problemas de saúde".7

E a microbiota intestinal do lactente no meio disto tudo?

Foi recentemente confirmada uma relação entre a cólica infantil e a microbiota intestinal – que também é designada flora intestinal.8 Estudos científicos revelaram, efetivamente, que a microbiota intestinal das crianças em causa diferia da dos outros bebés:9

Este desequilíbrio da microbiota intestinal, a que se chama " (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ", parece estar fortemente associado com as cólicas: uma das hipóteses é que a alteração da composição da microbiota intestinal poderá modificar a motilidade intestinal (a forma como os alimentos se deslocam no aparelho digestivo), o que gerará um excesso de produção de gases. 

Inflamação intestinal: sigam a calprotectina!

Há uma proteína (a calprotectina), que permite identificar a inflamação intestinal. Pode ser encontrada em grandes quantidades nos bebés que sofrem de cólicas.  Essa proteína está associada a uma diversidade reduzida da microbiota intestinal.9

Aliviar os bebés... e os pais?

Consultar o seu médico continua a ser o principal meio de diagnosticar a cólica infantil e tranquilizar os pais. Não existe um tratamento propriamente dito10 contra as cólicas, apenas práticas quotidianas simples que podem ajudar a aliviar os sintomas.  Entre estas, destacam-se a amamentação, o colo ou o reequilíbrio da microbiota intestinal da criança, em particular através de probióticos.5 Esta pista também parece promissora, uma vez que a ingestão de bactérias "boas" pode reduzir a inflamação intestinal6 e ajudar a reduzir os períodos diários de choro após alguns meses de utilização.11 Os probióticos também podem ser usados como prevenção para manterem um bom equilíbrio intestinal.5

Este artigo recorre a fontes científicas homologadas, mas não substitui o aconselhamento médico. Em caso de sintomas, não hesite em consultar o seu médico generalista ou o pediatra dos seus filhos.

Fontes

1 Groopman J. The Colic Conundrum. The crying that doctors can’t stop. Annals of Medicine, Sept 17, 2007 Issue. https://www.newyorker.com/magazine/2007/09/17/the-colic-conundrum

2 konieczna-Żydecka K, Janda K, Kaczmarczyk M, et al. The Effect of Probiotics on Symptoms, Gut Microbiota and Inflammatory Markers in Infantile Colic: A Systematic Review, Meta-Analysis and Meta-Regression of Randomized Controlled Trials. J Clin Med. 2020 Apr 2;9(4):999.

3 Gupta SK. Is colic a gastrointestinal disorder? Curr Opin Pediatr. 2002 Oct;14(5):588-92. 

4 van den Berg MP, van der Ende J, Crijnen AA, et al. Paternal depressive symptoms during pregnancy are related to excessive infant crying. Pediatrics. 2009 Jul;124(1):e96-103. 

Indrio F, Dargenio VN, Giordano P, et al. Preventing and Treating Colic. Adv Exp Med Biol. 2019;1125:49–56.

WESSEL MA, COBB JC, JACKSON EB, et al. Paroxysmal fussing in infancy, sometimes called colic. Pediatrics. 1954 Nov;14(5):421-35. 

Zeevenhooven J, Koppen IJ, Benninga MA. The New Rome IV Criteria for Functional Gastrointestinal Disorders in Infants and Toddlers. Pediatr Gastroenterol Hepatol Nutr. 2017 Mar;20(1):1-13. 

8 Verduci E, Arrizza C, Riva E, et al. Microbiota and infantile colic: what’s new? Int J Probiotics Prebiotics. 2013; 8(1):25–28

Rhoads JM, Collins J, Fatheree NY, et al. Infant Colic Represents Gut Inflammation and Dysbiosis. J Pediatr. 2018 Dec;203:55-61.e3. 

10 Daelemans S, Peeters L, Hauser B, et al. Recent advances in understanding and managing infantile colic. F1000Res. 2018 Sep 7;7:F1000 Faculty Rev-1426. 

11 Sung V, D'Amico F, Cabana MD, et alLactobacillus reuteri to Treat Infant Colic: A Meta-analysis. Pediatrics. 2018 Jan;141(1):e20171811. 

12 O'Callaghan A, van Sinderen D. Bifidobacteria and Their Role as Members of the Human Gut Microbiota. Front Microbiol. 2016 Jun 15;7:925.

13 Ruiz L, Delgado S, Ruas-Madiedo P, et al. Bifidobacteria and Their Molecular Communication with the Immune System. Front Microbiol. 2017 Dec 4;8:2345.

14 W. H. Holzapfel et B. J. Wood, The Genera of Lactic Acid Bacteria2, Springer-Verlag, 1st ed. 1995 (2012), 411 p. « The genus Lactobacillus par W. P. Hammes, R. F. Vogel 

15 Tannock GW. A special fondness for lactobacilli. Appl Environ Microbiol. 2004 Jun;70(6):3189-94.

16 Smith TJ, Rigassio-Radler D, Denmark R, et al. Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG® and Bifidobacterium animalis ssp. lactis BB-12® on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr. 2013 Jun;109(11):1999-2007.

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Clostridioides difficile: marcadores da microbiota intestinal preditivos do risco de infeção

Um estudo realizado em seis países europeus permitiu destacar marcadores da microbiota intestinal preditivos de diarreias associadas a antibióticos e ao Clostridioides difficile. 

A microbiota intestinal Transplante fecal e infeções recorrentes de Clostridium difficile: os bacteriófagos não estão necessariamente nos dadores O metaboloma pode ser usado para melhorar o diagnóstico das infeções por <em>C. difficile<em>? Antibióticos e microbiota intestinal: quais são os impactos a longo prazo?

A disbiose produzida pela toma de antibióticos pode conduzir à infeção por Clostridioides difficile. Este agente patogénico está associado a morbilidade e mortalidade significativas, bem como a custos de saúde consideráveis a nível mundial. A identificação de marcadores desta infeção poderia contribuir para orientar o tratamento e reduzir o peso da infeção.

Mais de 1000 pacientes recrutados vindos de 34 hospitais europeus

Neste estudo multicêntrico, observacional e prospetivo, a microbiota intestinal dos pacientes hospitalizados, com idade superior a 50 anos, foi analisada (sequenciação do RNAr 16S, combinado com uma técnica de oligotipagem para identificar o C. difficile) no dia anterior à antibioticoterapia, com o objetivo de identificar os marcadores microbianos preditivos de diarreia associada a antibióticos (DAA) e a infeção por C. difficile (ICD). Da mesma forma, uma análise longitudinal foi realizada para avaliar o impacto de (sidenote: Penicilina + inibidor da beta lactamase, outras classes dos beta lactâmicos, Fluoroquinolonas )  na microbiota intestinal.

Marcadores preditivos de ICD

135 pacientes declararam uma diarreia no intervalo de 90 dias após o tratamento, dos quais 15 ICD. Os investigadores constataram que a diversidade da microbiota no D1, antes de qualquer antibioticoterapia, era reduzida nos pacientes que desenvolveram uma ICD em relação aos que desenvolveram uma DAA ou em relação aos pacientes sem diarreia. A composição da microbiota intestinal era também diferente: foram observadas uma presença mais abundante de Enterococcus e uma redução das Blautia, Ruminococcus, Porphyromonas, Bifidobacteria, Odoribacter, Prevotella e Ezakiella spp. em relação aos pacientes não ICD. Ruminococcus, Ezakiella e Odoribacter spp ., 5 dias antes do desenvolvimento de uma CDI nesta coorte. Estes marcadores preditivos foram comparados com os de uma coorte canadiana de pacientes idosos que desenvolveram uma ICD. Da mesma maneira, a diversidade intestinal era reduzida, observou-se um aumento do Enterococcus e uma diminuição dos Ruminococcus, Ezakiella e Odoribacter spp, 5 dias antes do desenvolvimento da infeção.

Disbiose intestinal antibiótico dependente

Os autores descobriram que os antibióticos induziam a uma disbiose intestinal classe dependente, 6 dias após o início do tratamento. A microbiota intestinal dos pacientes com beta lactâmicos (outra classe que não a penicilina) foi a mais desequilibrada. Todos os beta lactâmicos (associados ou não a um inibidor da beta lactamase) aumentavam a abundância do Enterococcus. O tratamento com penicilina associada a um inibitor da beta lactamase estava igualmente associado a uma redução das bactérias da família das Clostridiales incertae sedis XI conhecida por estar associada a uma diminuição do risco de ICD. Outras classes de beta lactâmicos induziam uma redução das bactérias pertencentes à família Lachnospiraceae, que compreendem as espécies produtoras de butirato, conhecidas pelos seus efeitos benéficos para a saúde. De um modo geral, todas as classes de antibióticos estudadas modificaram consideravelmente a composição da microbiota intestinal e estão bem documentadas como antibióticos de alto risco em desenvolver uma ICD.

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Noticias Gastroenterologia

Qual o impacto dos contracetivos nas nossas microbiotas? É o dobro ou nada!

Será que as hormonas dos contracetivos femininos maltratam as microbiotas? Tudo depende de qual delas, responde a ciência: a microbiota vaginal, dominada por lactobacilos, parece ser protegida, contrariamente à microbiota intestinal, que poderá ser ligeiramente afetada. 

Qualquer mulher o sabe: as flutuações hormonais do ciclo menstrual afetam, entre outras coisas, a flora vaginal e o trânsito intestinal. Então, será que os contracetivos femininos, designadamente os que atuam a nível hormonal, podem alterar para o bem ou para o mal a dinâmica das microbiotas vaginal e intestinal?

Os contracetivos orais mimam a flora vaginal...

A microbiota vaginal possui uma característica que a torna extremamente singular: a sua boa saúde assenta numa diversidade bastante baixa, com predominância de umas bactérias em forma de bastonete, os lactobacilos, enquanto as outras microbiotas (como a intestinal) se consideram equilibradas quando, inversamente, possuem muita diversidade. Essa supremacia dos lactobacilos protege a vagina contra as infeções ao libertar, entre outras substâncias, ácido láctico que inibe a proliferação de microrganismos patogénicos. No entanto, pode acontecer que a referida flora dominante de lactobacilos fique desequilibrada ( (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ) e seja substituída por outros tipos de bactérias, o que pode resultar em vaginose bacteriana. Porém, os contracetivos hormonais (orais ou vaginais) parecem reduzir o risco de se contrair esta doença1. Como? Ao mimarem os lactobacilos! Com efeito, os estrogénios fornecidos por esses contracetivos induzem a deposição nas paredes vaginais de quantidades significativas de glicogénio, o alimento preferido dos lactobacilos, que por isso se multiplicam e produzem mais ácido láctico. E quanto às outras formas de contraceção? Os estudos são ainda limitados, mas o anel vaginal não parece provocar alterações substanciais na flora vaginal, tal como o DIU (de cobre ou hormonal), que não manifesta qualquer efeito1.

… mas perturbam ligeiramente a microbiota intestinal

Contrariamente à microbiota vaginal, uma flora intestinal saudável deve ser diversificada. Mas a pílula mantém artificialmente níveis constantes de estrogénio e de progesterona em circulação, o que parece perturbar a microbiota intestinal. Assim, de acordo com um estudo recente realizado com 16 mulheres saudáveis em pré-menopausa2, estes contracetivos orais parecem gerar uma ligeira diminuição na riqueza da microbiota intestinal e uma alteração na abundância de vários géneros de bactérias. No entanto, é por enquanto impossível saber se as hormonas da pílula interagem diretamente com as bactérias intestinais ou se essa interação é indireta, ao afetarem outros processos fisiológicos que, por sua vez, têm efeitos nas bactérias intestinais. De qualquer forma, estes primeiros resultados evidenciam que a pílula poderá ter repercussões para a saúde das mulheres. Daí a necessidade de uma análise mais detalhada, no sentido de se obter uma perspetiva mais completa do impacto desses medicamentos na microbiota intestinal.

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Noticias

Modular a microbiota intestinal para combater melhor a malnutrição infantil

Muito antes do aparecimento da genética, as técnicas analíticas mais tradicionais já revelavam que as comunidades bacterianas intestinais eram diferentes em crianças gravemente subnutridas. E se o restabelecer das boas bactérias intestinais pudesse atuar no crescimento destas crianças?

A microbiota intestinal Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal

Atraso no crescimento, sequelas a longo prazo no metabolismo, a imunidade e o desenvolvimento cognitivo... a malnutrição das crianças continua a ser um problema de saúde pública mundial com soluções terapêuticas e alimentares que continuam, ainda hoje, incompletas ou mesmo insuficientes. Os investigadores perceberam que a microbiota intestinal destas crianças apresenta defeitos de maturação, com colónias microbianas que parecer ser menos desenvolvidas do que as de uma criança saudável. O objetivo deste estudo, que vai para além do que é feito habitualmente, é concentrar-se na microbiota intestinal procurando comparar um complemento alimentar dirigido diretamente à microbiota intestinal (MDCF-2) com um complemento alimentar pronto para utilização já existente (RUSF) em termos de melhoria do crescimento de 118 crianças que sofrem de malnutrição no Bangladesh.

As crianças crescem e ganham peso mais rapidamente

Apesar do RUSF ser mais calórico, as crianças que receberam MDCF-2 mostraram um maior ganho de peso e cresceram mais rapidamente. Além disso, as crianças que receberam o MDCF-2 apresentavam níveis mais elevados de proteínas associadas ao crescimento ósseo e ao desenvolvimento neurológico. Outro resultado encorajador: foram identificados 21 tipos de bactérias positivamente relacionadas com alterações no crescimento.

Uma esperança para milhões de crianças?

Hoje em dia, mais de 30 milhões de crianças com menos de 5 anos continuam a sofrer de malnutrição em todo o mundo. Este estudo sugere que o crescimento saudável das crianças está inexoravelmente ligado ao desenvolvimento ideal das suas colónias intestinais após o nascimento. Estudos em maior escala e em zonas geográficas mais variadas deveriam permitir confirmar os benefícios de uma terapia nutricional dirigida à microbiota intestinal em relação às estratégias clássicas. A confirmação destas promessas terapêuticas marcaria um sucesso importante no combate às consequências da malnutrição infantil.

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Fontes:

Chen RY, Mostafa I, Hibberd MC, et al. A Microbiota-Directed Food Intervention for Undernourished Children. N Engl J Med. 2021;384(16):1517-1528. 

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