Resistência aos antibióticos: descoberta de um milhão de péptidos antimicrobianos

O desenvolvimento da resistência aos antibióticos torna urgente a descoberta de novas moléculas antibióticas. O Machine Learning, por si só, identificou quase um milhão de potenciais péptidos antimicrobianos. ¹

Encontrar novos antibióticos para combater a resistência é um desafio urgente para a medicina e constitui um problema face ao qual o (sidenote: Machine Learning Tecnologia de inteligência artificial devida à qual os computadores “aprendam”, somente pelo processamento de um vasto leque de dados. ) pode dar um contributo importante. Como? Ao prever o repositório global de (sidenote: Péptidos antimicrobianos (AMPs) Os péptidos antimicrobianos (AMPs) são sequências curtas de aminoácidos largamente presentes nos mais diversos organismos, incluindo bactérias, plantas, anfíbios, insetos, peixes e mamíferos. Têm a capacidade de comprometer o crescimento microbiano, normalmente ao interferirem com a integridade da parede celular. Aprofundar: https://www.sciencedirect.com/topics/agricultural-and-biological-sciences/antim… ) disponíveis no planeta. Estes AMPs representam uma terapia promissora já utilizada clinicamente como antivirais (por exemplo, enfuvirtida) e são alvo de ensaios clínicos pelas suas propriedades imunomoduladoras no tratamento das infeções microbianas (leveduras e bactérias). As suas vantagens em relação aos antibióticos estão longe de ser negligenciáveis: por um lado, alguns têm um espetro de atividade reduzido, permitindo terapias mais direcionadas, e por outro lado, a resistência a muitos AMPs está a evoluir lentamente e não está ligada à resistência cruzada com outras classes de antibióticos amplamente utilizadas.

1,27 milhões As infeções resistentes aos antibióticos causam atualmente a morte de 1,27 milhões de pessoas por ano.¹

Quase 1 milhão de candidatos

Na prática, o Machine learning permitiu aos investigadores a previsão e catalogação dos AMPs candidatos (AMP-c) que são produzidos por todos os organismos terrestres, mediante a análise detalhada das bases de dados públicas mundiais (63.410 metagenomas e 87.920 genomas de bactérias ou de arqueobactérias). Os autores limitaram-se ao estudo de uma categoria particular de AMPs: os que são codificados pelos genes dos próprios organismos e que são compostos por menos de 100 aminoácidos. O resultado foi um catálogo (denominado AMPSphere) que contém 833.498 sequências de péptidos não redundantes.

A maioria destes AMP-c (91,5%) era previamente desconhecida. São provenientes de organismos que ocupam 72 habitats diferentes, divididos em 8 tipos principais (solo/plantas: 36,6%; água: 24,8%; intestino humano: 13%, etc.). Grande parte destes AMP-c são raros e específicos de determinado habitat. A maioria é proveniente do mundo microbiano, e 4 dos 5 géneros de bactérias que forneceram mais AMP-c à AMPSphere estão associados a um hospedeiro (3 dos quais – Prevotella, Faecalibacterium e CAG-110 – são habituais nos animais).

100 candidatos testados com êxito

Para confirmarem o poder antimicrobiano dos AMP-c, os investigadores sintetizaram 100 deles e testaram-nos contra bactérias patogénicas resistentes e bactérias comensais do sistema digestivo. In vitro, 79 demonstraram-se ativos contra agentes patogénicos ou comensais, incluindo 63 contra 11 agentes patogénicos que constituem problemas de saúde pública. Quatro péptidos revelaram-se eficazes (100% de células mortas após 24 h de incubação a 37°C) a concentrações muito baixas de cerca de 1 μmol/L, comparáveis à dos péptidos mais potentes descritos na literatura científica.

Resistência aos antibióticos: a microbiota em primeiro plano

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Quais os seus mecanismos de ação? O estudo dos péptidos ativos contra Acinetobacter baumannii ou Pseudomonas aeruginosa mostra que os mesmos causam uma permeabilização significativa da membrana externa dos referidos agentes patogénicos. 

A eficácia dos principais AMPs candidatos foi também confirmada in vivo em modelos murinos de abcesso (infeção por A. baumannii).

Estas experiências in vitro e in vivo demonstram a capacidade do Machine Learning para identificar AMPs funcionais a partir do microbioma global.

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Noticias Gastroenterologia Medicina geral

As suas bactérias intestinais podem ser a chave para controlar a fome

Descubra como as suas bactérias intestinais podem ser a arma secreta para controlar a fome e controlar o peso. Novos estudos revelam que as dietas ricas em probióticos, prebióticos e fibras podem remodelar o seu microbioma, aumentando as hormonas da saciedade e controlando os excessos alimentares. O futuro do controlo do peso pode estar no seu intestino!

A microbiota intestinal Obesidade Probióticos Prebióticos: o essencial para os compreender

A regulação do apetite é um processo complexo e multidimensional que desempenha um papel fundamental na manutenção da homeostase energética. A saciedade, distinta da fome e da saciação, é fundamental para esta regulação.

  • A fome representa a necessidade fisiológica de alimentos, tipicamente impulsionada por sinais do cérebro em resposta ao esgotamento de energia.
  • A saciação, por outro lado, marca a sensação de plenitude sentida durante uma refeição, assinalando o fim do ato de comer.
  • Em contrapartida, a saciedade refere-se à sensação prolongada de plenitude que suprime a ingestão de alimentos entre as refeições, influenciando assim o próximo momento em que se deseja ingerir alimentos.

Compreender os mecanismos subjacentes à saciedade é fundamental para os profissionais de saúde e para os indivíduos que se esforçam em combater a obesidade, a diabetes, e outros distúrbios metabólicos. Cada vez mais, investigações apontam para a microbiota intestinal como um regulador essencial da sinalização da saciedade, ligando o ambiente microbiano do intestino à função cerebral através do que é comummente designado como eixo intestino-cérebro. Evidências emergentes sugerem que as bactérias intestinais e os seus metabolitos, particularmente os ácidos gordos de cadeia curta ( (sidenote: AGCC Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (combustível) para as células do indivíduo. Interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Fontes:
Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25.
)
), são parte integrante da regulação da saciedade, influenciando a libertação de hormonas da saciedade e modulando o apetite. 1,2,3

Neste artigo, convidamo-lo a explorar o crescente conjunto de provas sobre o papel da microbiota intestinal na regulação da saciedade,centrando-nos nos metabolitos microbianos, na sua interação com o eixo intestino-cérebro e nas implicações para a prática clínica. Analisaremos a forma como as intervenções dietéticas destinadas a modificar a composição da microbiota intestinal, tais como a utilização de probióticos, prebióticos e dietas ricas em fibras, podem influenciar a saciedade e oferecer novas abordagens para o controlo da obesidade e das condições metabólicas relacionadas.

Qual é a diferença entre prebióticos, probióticos e pós-bióticos?

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Conversas entre o intestino e o cérebro: Como a microbiota molda os sinais de saciedade?

O eixo intestino-cérebro é uma rede intrincada que comunica sinais de saciedade entre o intestino e o cérebro. Esta interação é largamente influenciada pela microbiota intestinal, que regula o apetite através de hormonas como o peptídeo-1 semelhante ao glucagon (GLP-1), o peptídeo YY (PYY) e a colecistoquinina (CCK). Estas hormonas são produzidas por células especializadas no intestino chamadas células enteroendócrinas (EECs) em resposta à ingestão de alimentos.

O GLP-1, o PYY e a CCK desempenham um papel fundamental para informar o cérebro de que estamos saciados. Por exemplo:

  • O GLP-1 diminui a velocidade com a qual os alimentos passam pelo trato digestivo, dando ao organismo mais tempo para absorver os nutrientes, e ajuda a controlar os níveis de açúcar no sangue. 5
  • O PYY atua para reduzir o apetite após as refeições, sinalizando ao cérebro para parar de comer. 6
  • A CCK é libertado quando a gordura e a proteína são detetadas no intestino e ajuda a digerir os alimentos, ao mesmo tempo que nos dá o sentimento de saciedade. 7

Juntas, estas hormonas atuam no cérebro para reduzir a ingestão de alimentos e prolongar a sensação de saciedade, ajudando a manter um equilíbrio saudável no consumo de alimentos.

Uma das principais contribuições da microbiota é a produção de AGCC  - acetato, propionato e butirato - durante a fermentação da fibra. Os AGCC estimulam a libertação de GLP-1 e PYY, reforçando a sensação de saciedade e ajudando a controlar o apetite. 1 Além disso, os AGCC interagem com o nervo vago, que liga diretamente o intestino aos centros de fome do cérebro, aumentando os sinais de saciedade. 2

A saciedade, a fome, e a saciação

  • A saciedade refere-se à sensação prolongada de plenitude que suprime a vontade de comer entre as refeições
  • A fome é o impulso fisiológico para comer, desencadeado pela necessidade de energia do organismo e frequentemente assinalada por sinais hormonais e neurais
  • A saciação é a sensação de plenitude sentida durante uma refeição, que indica ao organismo que se deve parar de comer. 

O papel da microbiota vai além da sinalização: os AGCC também reduzem a inflamação no hipotálamo, preservando a integridade da regulação da saciedade e ajudando a prevenir distúrbios metabólicos relacionados com a obesidade. 2 Mas como os probióticos e as intervenções dietéticas específicas como os prebióticos, influenciam a microbiota intestinal para intensificar a saciedade? 

Eixo intestino-cérebro: Qual é o papel da microbiota?

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O papel dos probióticos na intensificação do aumento dos sinais de saciedade:

Estudos recentes demonstraram que certas bactérias podem produzir proteínas que enviam sinais ao nosso cérebro, dizendo-nos que estamos saciados. Um exemplo é uma proteína chamada ClpB, produzida por algumas bactérias como a Hafnia alvei. Esta proteína comporta-se de forma semelhante à alfa-MSH, uma hormona que ajuda a regular o apetite. Esta proteína estimula a libertação de PYY, uma hormona que promove a sensação de saciedade e reduz o apetite. 3

Estudos pré-clínicos demonstraram que a Hafnia alvei pode ajudar a reduzir a ingestão de alimentos e o aumento do peso corporal em modelos animais, amplificando esses sinais de saciedade. 3 Quando utilizada como suplemento probiótico, a Hafnia alvei pode aumentar a sensação de saciedade nos seres humanos, estimulando comportamentos alimentares saudáveis e contribuindo para o controlo do peso a longo prazo. 4 mbora mais investigações sejam necessárias, os primeiros resultados sugerem que os probióticos poderiam constituir um complemento às intervenções dietéticas destinadas a controlar o apetite e a reduzir o excesso de peso. 3

Incitar a saciedade: Como os prebióticos e as fibras alimentares modulam a microbiota

As intervenções dietéticas, particularmente as que envolvem prebióticos e fibras alimentares, oferecem uma forma direta de influenciar a microbiota intestinal e intensificar a saciedade. Os prebióticos são componentes alimentares não digeríveis que estimulam seletivamente o crescimento e a atividade de bactérias intestinais benéficas. Um excelente exemplo é a inulina, uma fibra que aumenta a produção de AGCC, nomeadamente o propionato e o butirato, que desempenham um papel fundamental na sinalização da saciedade. 2

Em estudos realizados no ser humano, o consumo de suplementos de éster de inulina-propionato (IPE) mostrou resultados promissores. Por exemplo, os indivíduos que consumiram IPE registaram uma diminuição do consumo de energia ad libitum, o que significa que reduziram naturalmente o seu consumo de alimentos sem esforço consciente. 2 Os AGCC produzidos pela fermentação das fibras, em particular o propionato, estimulam diretamente a libertação de GLP-1 e PYY, aumentando a sensação de saciedade. 1

Além disso, o amido resistente, outra fibra fermentável, demonstrou a sua capacidade de reduzir os níveis de glicose pós-prandial e influenciar as hormonas da saciedade. Um estudo mostrou que o consumo de suplementos de amido resistente durante seis semanas reduziu os níveis de leptina, uma hormona envolvida no equilíbrio energético a longo prazo, sinalizando uma melhor regulação do apetite. 1

Estes exemplos destacam como as dietas ricas em fibras podem modular a atividade microbiana intestinal para afetar positivamente a saciedade. Mas e os outros metabolitos microbianos além dos AGCC? Como influenciam a regulação central e periférica da fome?

Para além da fibra: o papel dos metabolitos neuroativos no controlo do apetite

Além dos AGCC, as bactérias intestinais produzem vários metabolitos neuroativos que desempenham um papel crucial na regulação do apetite e da saciedade através de vias centrais e periféricas . Entre estes, a serotonina, o ácido gama-aminobutírico (GABA) e a dopamina são neurotransmissores essenciais envolvidos na modulação da ingestão de alimentos e do equilíbrio energético. 2

90% da serotonina do organismo é produzida no intestino

Curiosamente, cerca de 90% da serotonina do organismo é produzida no intestino pelas células enterocromafins, influenciadas pelo ambiente microbiano. 3  Esta serotonina não apenas regula a motilidade intestinal como também interage com o nervo vago para sinalizar os centros de saciedade do cérebro, contribuindo para a supressão da fome após as refeições. 2

No caso do GABA, certas estirpes de Lactobacillus e Bifidobacterium podem produzir este neurotransmissor. O GABA afeta o hipotálamo, que é fundamental para a regulação da fome, modulando os circuitos neurais que controlam o comportamento alimentar. Estudos demonstraram que os ratos sem germes apresentam uma sinalização de GABA alterada, o que resulta num aumento do apetite, salientando o papel crítico do GABA derivado do intestino no controlo da fome. 3

Além disso, a dopamina, que está envolvida nos mecanismos de recompensa alimentar, é também influenciada pela microbiota intestinal. Desequilíbrios nas vias dopaminérgicas podem levar a comportamentos de ingestão excessiva de alimentos e até mesmo a comportamentos de compulsão alimentar, ressaltando o papel potencial da microbiota na gestão da fome, mas também da dependência alimentar.1

Disbiose: Quando o desequilíbrio intestinal sabota a saciedade

A disbiose, o desequilíbrio ou a má adaptação da microbiota intestinal, surgiu como um fator crítico na perturbação dos sinais normais de saciedade. Em indivíduos com obesidade e distúrbios metabólicos, observa-se frequentemente uma disbiose, caracterizada por uma redução da diversidade microbiana e um crescimento excessivo de certas bactérias patogénicas. 3 Este desequilíbrio pode prejudicar a produção de metabolitos microbianos essenciais, nomeadamente os AGCC, indispensáveis à regulação das hormonas responsáveis pela saciedade, como o GLP-1 e o PYY. 1

Além disso, a disbiose compromete a barreira intestinal, aumentando a translocação de endotoxinas bacterianas como o lipopolissacárido (LPS) para a circulação. Níveis elevados de LPS estão associados a uma inflamação crónica de baixo grau, que perturba a sinalização da saciedade ao induzir uma neuroinflamação no hipotálamo, uma região cerebral essencial envolvida na regulação da fome. 2  Este estado inflamatório altera a capacidade do cérebro de responder adequadamente às hormonas da saciedade, contribuindo para a ingestão excessiva de alimentos e para a disfunção metabólica.

A investigação mostra que os indivíduos com microbiomas disbióticos apresentam frequentemente níveis elevados da hormona que estimula o apetite, a grelina, o que leva a uma sensação persistente de fome e à dificuldade em manter um equilíbrio energético saudável. 3 Estas perturbações ressaltam a importância de manter uma microbiota saudável e diversificada, não apenas para a saúde digestiva, mas também para a regulação adequada do apetite e o controlo metabólico a longo prazo.

Já ouviu falar de “disbiose”?

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Reabilitação da saciedade: Utilização de probióticos, prebióticos e dietas ricas em fibras para ganhos terapêuticos

O potencial terapêutico dos probióticos, prebióticos e dietas ricas em fibras na modulação da microbiota intestinal oferece uma ferramenta poderosa para intensificar a saciedade e controlar os distúrbios metabólicos. 8 Investigações mostram de forma consistente que as fibras alimentares, como a inulina, os fruto-oligossacáridos (FOS) e o amido resistente, funcionam como agentes críticos na estimulação da produção de AGCC - especificamente o butirato, propionato e o acetato - que influenciam diretamente a regulação da saciedade através do eixo intestino-cérebro9

As provas apontam para um futuro em que uma nutrição de precisão - intervenções dietéticas adaptadas com base no perfil do microbioma de um indivíduo - poderá ser uma estratégia terapêutica fundamental. 10 Ao visar a microbiota com probióticos, prebióticos e fibras específicos, os médicos podem restaurar o equilíbrio intestinal, aumentar a saciedade e ajudar os doentes a controlarem o seu apetite e a sua saúde metabólica de forma mais eficaz. À medida que a compreensão do papel da microbiota na saciedade se aprofunda, oferece um novo horizonte de terapias personalizadas que vão para além das abordagens tradicionais no tratamento da obesidade e das doenças metabólicas. 11

Fontes

1. Deehan EC, Mocanu V, Madsen KL. Effects of dietary fibre on metabolic health and obesity. Nat Rev Gastroenterol Hepatol. 2024;21(5):301-318.

2. Bastings JJAJ, Venema K, Blaak EE, et al. Influence of the gut microbiota on satiet signaling. Trends Endocrinol Metab. 2023;34(4):243-255.

3. Pizarroso NA, Fuciños P, Gonçalves C, et al. A Review on the Role of Food-Derived Bioactive Molecules and the Microbiota-Gut-Brain Axis in Satiety Regulation. Nutrients. 2021;13(2):632.

4. Déchelotte P, Breton J, Trotin-Picolo C, et al. The Probiotic Strain H. alvei HA4597® Improves Weight Loss in Overweight Subjects under Moderate Hypocaloric Diet: A Proof-of-Concept, Multicenter Randomized, Double-Blind Placebo-Controlled Study. Nutrients. 2021;13(6):1902.

5. Drucker DJ. Mechanisms of Action and Therapeutic Application of Glucagon-like Peptide-1. Cell Metab. 2018;27(4):740-756. 

6. Degen L, Oesch S, Casanova M, et al. Effect of peptide YY3-36 on food intake in humans. Gastroenterology. 2005;129(5):1430-1436.

7. Rehfeld JF. Cholecystokinin-From Local Gut Hormone to Ubiquitous Messenger. Front Endocrinol (Lausanne). 2017;8:47.

8. Mallappa RH, Rokana N, Duary RK, et al. Management of metabolic syndrome through probiotic and prebiotic interventions. Indian J Endocrinol Metab. 2012 Jan;16(1):20-7.

9. Chambers ES, Morrison DJ, Frost G. Control of appetite and energy intake by SCFA: what are the potential underlying mechanisms?. Proc Nutr Soc. 2015;74(3):328-336. 

10. Zmora, N., Suez, J. and Elinav, E. You are what you eat: diet, health and the gut microbiota. Nat Rev Gastroenterol Hepatol 16, 35–56 (2019).

11. Torres-Fuentes C, Schellekens H, Dinan TG, Cryan JF. A natural solution for obesity: bioactives for the prevention and treatment of weight gain. A review. Nutr Neurosci. 2015;18(2):49-65.

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Infeções do trato urinário: rumo a estratégias dietéticas e probióticas alternativas?

No tratamento das infeções do trato urinário, as estratégias preventivas, baseadas numa dieta alimentar equilibrada ou mesmo na utilização de probióticos, podem representar alternativas ao tratamento curativo com antibióticos. Embora eficazes a curto prazo, os antibióticos podem também conduzir a disbiose, novas infeções e resistência.

Mais de 80% das infeções do trato urinário são causadas pela (sidenote: Escherichia coli uropatogénica A E. coli possui frequentemente genes adicionais (em comparação com a E. coli comensal) que aumentam a sua virulência (flagelos, toxinas, polissacáridos de superfície etc.).. ) . Estas bactérias intestinais podem migrar do ânus, colonizar a uretra e depois subir até à bexiga. Estudos anteriores mostraram que as mulheres que sofrem de infeções do trato urinário têm uma maior abundância de E. coli no seu sistema digestivo e semelhanças entre as espécies intestinais e as que colonizam o trato urinário. 

Para avaliar a disbiose e outros potenciais fatores de risco em mulheres com antecedentes de cistite, investigadores inscreveram 753 mulheres voluntárias com idades compreendidas entre os 18 e os 45 anos, diagnosticadas com infeção do trato urinário nos últimos cinco anos e que gozavam de boa saúde. 1

Com exceção de um pico nas mulheres jovens com idades compreendidas entre os 14 e os 24 anos, a prevalência de infeções do trato urinário aumenta com a idade. A prevalência nas mulheres com mais de 65 anos é de cerca de 20%, em comparação com cerca de 11% na população em geral. 2

Entre 50% e 60% das mulheres adultas terão pelo menos uma infeção do trato urinário durante a sua vida e quase 10% das mulheres com menopausa reportam ter tido uma infeção do trato urinário no ano anterior. 2

Optar por uma alimentação mais saudável

Quase ¾ das mulheres estudadas (71%) apresentavam uma disbiose intestinal, que estava associada não apenas à (sidenote: Infeção recorrente do trato urinário Uma infeção recorrente do trato urinário é definida como à ocorrência de ⩾2 episódios sintomáticos em 6 meses ou ⩾3 episódios sintomáticos em 12 meses. ) das suas infeções urinárias, mas também à presença de resistências múltiplas aos antibióticos na sua flora.

Uma outra particularidade da população estudada é a sua alimentação, seja no que diz respeito a bebidas (menos de 1 litro de água por dia, consumo de sumos açucarados etc.), a alimentos (produtos salgados ultra-processados, dietas hipercalóricas ricas em açúcares adicionados e em gorduras saturadas etc.) ou a suplementos alimentares destinados a prevenir as infeções urinárias.

Mais de 80% das infeções do trato urinário são causadas pela Escherichia coli uropatogénica. ¹

150 milhões As infeções do trato urinário estão entre as doenças bacterianas mais comuns, afetando anualmente 150 milhões de pessoas em todo o mundo. ¹

Para os investigadores, estas observações confirmam a relação entre a alimentação e a composição da microbiota intestinal. A este respeito, referem-se a estudos anteriores que demonstraram que apenas 12% da variação estrutural da microbiota intestinal pode ser atribuída a alterações genéticas, enquanto 57% pode ser explicada por alterações na alimentação. 

A microbiota como uma nova estratégia terapêutica

Embora o tratamento padrão das infeções do trato urinário se baseie na utilização de antibióticos, estes perturbam a microbiota intestinal (disbiose) a longo prazo favorecendo os microrganismos multirresistentes. O que explica a importância, segundo os autores, das escolhas terapêuticas alternativas e complementares.

E os investigadores recordam os efeitos benéficos dos probióticos, em particular do Lactobacillus spp. que reduz a aderência, o crescimento e a colonização de bactérias uropatogénicas como a E. coli: a L. salivarius, com sua libertação entérica, atinge e protege a microbiota urinária e vaginal. Um probiótico composto por duas estirpes de Lactobacilos e extrato de arando reduz significativamente o número de infeções do trato urinário recorrentes em mulheres jovens na pré-menopausa, em comparação com um produto placebo. 

Com uma grande vantagem em relação aos antibióticos, pois a administração de lactobacilos não favorece o surgimento de resistências.

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Noticias Gastroenterologia

Xpeer: Microbiota na saúde íntima da mulher ao longo da vida

Ginecologistas, parteiras e farmacêuticos recebem formação gratuita sobre “Microbiota na saúde íntima da mulher ao longo da vida” da Professora Alessandra Graziottin neste curso.

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Sinopse do curso:

Esse curso credenciado tem como objetivo instruir ginecologistas, parteiras e farmacêuticos sobre a importância da microbiota, especialmente a microbiota vaginal, para a saúde íntima. Liderados por uma especialista renomada, a Dra. Graziottin, durante todo o curso os participantes obterão uma compreensão abrangente de como a microbiota afeta a saúde íntima ao longo da vida. Primeiro, abordaremos as percepções básicas sobre o microbioma intestinal antes de nos aprofundarmos na microbiota vaginal em diferentes estágios da vida, incluindo o potencial de uma placenta estéril, a microbiota neonatal e as mudanças durante a infância, a puberdade, os anos férteis e a menopausa. Não perca as recomendações práticas, os equívocos comuns e o resumo das principais conclusões que lhe proporcionarão o conhecimento e as habilidades necessárias em sua prática clínica.

Inscreva-se agora!

Esta atividade conta com o apoio financeiro irrestrito da Biocodex.

Quem é a Alessandra Graziottin?

Alessandra Graziottin, MD é uma ginecologista, oncologista, sexóloga e psicoterapeuta italiana. Ela é diretora do Centro de Ginecologia e Sexologia Médica do Hospital San Raffaele Resnati, em Milão.

  • Em 2008, fundou a Fundação Alessandra Graziottin para o tratamento da dor em mulheres Onlus, da qual é presidente.
  • Atualmente, é professora consultora do Mestrado Avançado em Andrologia e Medicina Sexual da Universidade de Firenze.
  • Também foi professora consultora no Mestrado Avançado em Sexologia Clínica da Universidade de Pisa e professora no Curso de Mestrado em Medicina Sexual para Estudantes de Psicologia da Universidade de Veneza e da Universidade Salesiana (UPS) de Roma.

Ela é uma ginecologista renomada, tendo publicado 22 livros científicos e 7 livros populares (como autora, coautora ou editora), mais de 90 capítulos de livros científicos, 8 manuais educacionais para mulheres e mais de 400 artigos científicos sobre vários aspectos da ginecologia e sexologia médica.

Declaração de Conflitos de Interesse: A autora declara ter recebido honorários da Astellas, Fagron, Mammowave, Mylan, Named, Techdow, Uriach; ter participado como palestrante em eventos patrocinados pela Astellas, Biofemme, Bromatech, Lolipharma, Named, Techdow, Uriach; e fazer parte de conselhos consultivos da Astellas, Mylan, Techdow, Uriach.

A respeito da Xpeer

Xpeer Medical Education é a primeira aplicação de formação clínica acreditada do mercado, com cativantes vídeos de microaprendizagem de apenas 5 minutos.

Com um poderoso algoritmo para personalização da experiência do utilizador e dos conteúdos, inspirado no das mais populares plataformas de vídeo em streaming, oferece uma experiência totalmente renovada para a formação contínua e o desenvolvimento profissional dos profissionais de saúde.

Credenciada pela União Europeia de Médicos Especialistas, oferece componentes de formação clínica de elevada qualidade científica. Na Xpeer poderá encontrar este programa sobre a Microbiota e 500 horas de formação clínica de 2021 na sua especialidade, tecnologias, e competências profissionais e pessoais.

Mais informações sobre as acreditações:

A aplicação Xpeer é credenciada pelo European Accreditation Council for Continuing Medical Education (EACCME®) e atribui créditos ECMEC oficialmente reconhecidos em 26 países.

Os participantes do módulo obtêm 1 crédito FMF Europeu (ECMEC) por cada hora de formação (60 minutos úteis de e-learning, excluindo as introduções...). Este crédito é atribuído após a conclusão do módulo e a avaliação correspondente validada pelos participantes.

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Artigo Ginecologia

As bactérias intestinais transformam as hormonas do stress em progestinas: uma função inesperada para o hidrogénio gasoso

Uma equipa de investigadores descobriu que as bactérias intestinais podem transformar as hormonas do stress em hormonas progestinas, tudo isto alimentado pelo hidrogénio gasoso! Esta descoberta inesperada pode revolucionar a forma como encaramos a saúde intestinal, a gravidez e até mesmo o bem-estar mental.

Através de uma descoberta inédita, os investigadores descobriram que certas bactérias intestinais podem converter as hormonas relacionadas com o stress em hormonas progestinas, tudo com a ajuda de hidrogénio gasoso. Esta investigação, liderada por Megan McCurry 1 e pela sua equipa, revela como os micróbios intestinais, especificamente Gordonibacter pamelaeae e Eggerthella lenta, metabolizam os glucocorticoides – hormonas produzidas pelo organismo em resposta ao stress – em progestinas, que desempenham um papel crucial na gravidez e na função cerebral. As conclusões, publicadas na revista Cell, abrem novas perspetivas para a compreensão do modo como a microbiota intestinal influencia a saúde das mulheres, especialmente durante a gravidez.

O papel inesperado do hidrogénio gasoso

Uma das descobertas mais surpreendentes deste estudo é o papel que o hidrogénio gasoso desempenha no metabolismo das bactérias intestinais. Tradicionalmente visto como um subproduto da digestão, o hidrogénio gasoso é agora considerado um dos principais fatores responsáveis pelo aumento da capacidade das bactérias para converter os glucocorticoides em progestinas. A investigação demonstrou que a produção de hidrogénio gasoso por bactérias intestinais como a E. coli cria um ambiente que promove esta transformação dos esteroides. Quando estas bactérias são cultivadas conjuntamente, produzem muito mais hidrogénio, o que facilita o processo de conversão.

Esta descoberta de que o hidrogénio pode impulsionar importantes modificações hormonais realça um aspeto inteiramente novo da função da microbiota intestinal. Até agora, o papel do hidrogénio no metabolismo intestinal era sobretudo associado à produção de gás e à fermentação, mas este estudo revela a sua influência crítica no metabolismo secundário, particularmente no processamento das hormonas esteroides.

Produção bacteriana de progestina: uma potencial relação com a gravidez e a saúde mental

A investigação revela também que a conversão das hormonas do stress em progestinas por parte das bactérias intestinais tem relevância fisiológica, especialmente durante a gravidez. O estudo constatou que os níveis de progestinas bacterianas eram significativamente mais elevados nas fezes das mulheres grávidas em comparação com as mulheres não grávidas. Uma dessas progestinas, a alopregnanolona, já se encontra aprovada pela FDA como tratamento para a depressão pós-parto, o que aponta para um potencial impacto deste processo bacteriano na saúde mental materna.

Verificou-se que a ordem de grandeza dos níveis de progestina nas fezes era duas vezes mais elevada nas grávidas do que nas não grávidas.

Esta ligação entre a produção de hormonas bacterianas e a gravidez é decisiva, uma vez que as progestinas não só regulam a gravidez como também atuam como neuroesteroides que condicionam a função cerebral. O estudo sugere que estas transformações bacterianas poderem influenciar não só os resultados da gravidez, mas também patologias pós-parto como a depressão e a ansiedade.

Micróbios intestinais: novos protagonistas do sistema endócrino?

Para além da gravidez, as implicações destes resultados estendem-se a domínios mais vastos da saúde. Se as bactérias intestinais podem transformar as hormonas do stress em compostos bioativos que afetam o cérebro e os sistemas reprodutivos, isso suscita possibilidades interessantes para a compreensão do impacto da saúde intestinal na regulação hormonal global. A descoberta aponta para o facto de a microbiota intestinal funcionar quase como um órgão endócrino adicional, capaz de influenciar o equilíbrio hormonal e a saúde mental.

O reconhecimento do papel desempenhado pela microbiota na regulação hormonal pode abrir caminho a tratamentos inovadores que visem as bactérias intestinais. Futuramente, as terapias microbianas poderão ajudar a tratar doenças relacionadas com desequilíbrios hormonais, como a síndrome dos ovários poliquísticos (SOP), as perturbações do humor ou mesmo problemas de fertilidade.

Conclusão

Em resumo, esta investigação revela que as bactérias intestinais, quando auxiliadas pelo hidrogénio gasoso, podem converter as hormonas relacionadas com o stress em hormonas da gravidez, com profundos efeitos potenciais na saúde feminina. Estes resultados não só alteram a nossa compreensão sobre a microbiota intestinal, como também abrem novas vias para intervenções clínicas em problemas de saúde relacionados com as hormonas.

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Microbiota do bebé: pai, é a tua vez!

As mulheres estão sempre a repetir: os pais têm um papel importantíssimo a desempenhar em relação aos filhos. A ciência 1 acaba de demonstrar que isso também se aplica à microbiota dos bebés: as mães transmitem parte da sua flora durante o parto, enquanto os pais lhes dão a outra parte. Essa transferência é ainda mais importante quando a criança nasce por cesariana e a flora materna se encontra ausente.

A microbiota intestinal A microbiota ORL A microbiota vaginal Asma e microbiota Probióticos Obesidade

Esta é uma das desvantagens da cesariana: como o bebé não nasce por via vaginal, não tem tempo para provar (no sentido literal da palavra!) as bactérias vaginais e fecais da mãe. Embora esta “refeição” possa não parecer muito apetitosa à primeira vista, ela é, no entanto, essencial para o desenvolvimento da criança e da sua microbiota! Pensa-se mesmo que o aumento da incidência de doenças autoimunes, da asma e obesidade nas crianças nascidas por cesariana pode dever-se a este facto: privados deste manjar de reis, os recém-nascidos extraídos do ventre da mãe “a bisturi” não terão recebido todas as bactérias benéficas necessárias ao seu desenvolvimento imunitário e neurológico. Trata-se de um problema grave se pensarmos que uma em cada quatro crianças nasce por cesariana. 

A solução: os pais!

Consequentemente, a investigação procurou soluções, nomeadamente a transferência da flora vaginal da mãe para a criança: nos dois minutos subsequentes ao nascimento, a boca, o rosto e o corpo do recém-nascido eram esfregados com uma gaze previamente colocada na vagina materna. Mas os resultados não estiveram à altura das expectativas.

1/4 Atualmente, os partos por cesariana representam mais de um quarto dos nascimentos em todo o mundo. ¹

60% das mulheres desconhecem que o método do parto pode ter impacto na microbiota intestinal dos recém-nascidos. ²

Felizmente, um estudo publicado em meados de 2024 sugere uma solução muito mais simples: os pais! De facto, embora a mãe seja a principal responsável pela flora intestinal nos primeiros dias do bebé, o pai (e todos os que rodeiam o bebé!) também desempenha um papel importante. E isso cada vez mais, à medida que os meses passam.

Por alturas do primeiro aniversário da criança, o pai já contribui tanto como a mãe! Com uma grande vantagem: enquanto as dádivas bacterianas maternas dependem do tipo de parto, o pai constitui uma fonte estável. Outra vantagem é o facto de as bactérias paternas e maternas serem diferentes: duas fontes complementares que permitem a formação de uma microbiota robusta para o recém-nascido!

Transferência de microbiota fecal e probióticos

Mas o trabalho da equipa não se fica por aqui: eles propõem dois pequenos reforços adicionais para a flora intestinal dos recém-nascidos. Acabou-se o tempo da gaze impregnada com a microbiota vaginal das mães: um transplante da flora fecal materna parece ser muito mais eficaz para garantir que a criança nascida por cesariana construa rapidamente uma flora intestinal saudável, capaz de resistir ao ataque dos agentes patogénicos.

E como a natureza é generosa, trata-se sobretudo de uma transmissão de bactérias capazes de decompor os açúcares do leite materno. Todas estas estirpes poderão ser desenvolvidas em futuros probióticos para reforçar a flora destes bebés de tenra idade.

Microbiota intestinal: a aliada do nosso sistema imunitário

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Dengue e Zika: proteger os mosquitos para proteger os seres humanos

Inoculação de bactérias Rosenbergiella-YN46 no sistema digestivo dos mosquitos: uma estratégia de controlo biológico exequível e sustentável para reduzir a transmissão e a prevalência de flavivírus na natureza?

Zika, dengue, vírus do Nilo Ocidental, vírus da febre amarela: os flavivírus transmitidos por mosquitos causam infeções virais potencialmente mortais nos seres humanos. A situação é tanto mais preocupante quanto as alterações climáticas e fenómenos como o El Niño potenciam estas (sidenote: Doença transmitida por vetores Doença em que o agente patogénico é transmitido a um hospedeiro (humano ou animal) através da picada de um vetor, o qual pode ser de diferentes espécies (mosquitos, moscas, carraças, pulgas, etc.).  As doenças transmitidas por vetores são responsáveis por cerca de 17% de todas as doenças infeciosas a nível mundial, e a OMS estima que 80% da população mundial se encontra em risco de contrair pelo menos uma doença transmitida por vetores.  Aprofundar: https://www.pasteur.fr/fr/innovation/toute-actualite/actualites-innovation/comb… ) ... enquanto que as campanhas de controlo biológico das populações e de luta contra os mosquitos mostram efeitos limitados.

Que tal optar-se por uma estratégia completamente diferente? Nomeadamente, modificar a microbiota intestinal dos mosquitos para evitar a sua própria infeção e, consequentemente, a transmissão do vírus aos mamíferos, inclusive aos seres humanos.

Um aumento de dez vezes nos casos em todo o mundo

A Organização Mundial de Saúde (OMS) 1 apurou que entre 2000 e 2019 o número de casos de dengue registados em todo o mundo aumentou dez vezes, passando de 500.000 para 5,2 milhões.

Após um ligeiro recuo durante a pandemia de COVID-19, observou-se um recrudescimento dos casos de dengue a nível mundial em 2023.

Uma bactéria para proteger os mosquitos... e os seres humanos

Neste estudo, investigadores chineses 2 isolaram 55 bactérias que vivem no sistema digestivo de fêmeas do mosquito Aedes albopictus, o principal vetor da febre de Dengue, a partir de insetos capturados no sul da província chinesa do Yunnan. Entre as bactérias identificadas destaca-se a Rosenbergiella YN46 (assim designada por ter sido identificada em Yunnan) que, inoculada numa dose de 1,6 x 103 UFC (unidades formadoras de colónias), protege o A. albopictus dos (sidenote: Flavivirus género de vírus que inclui mais de 70 membros, vários dos quais são considerados importantes agentes patogénicos para o ser humano. Transmitidos pela picada de mosquitos infetados, os Flavivírus causam um amplo espetro de doenças que se podem classificar em duas categorias: 
- doenças sistémicas hemorrágicas (vírus do dengue e da febre amarela), 
- e complicações neurológicas (vírus do Nilo ocidental, zika)
Aprofundar: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34696709/ )
, e fá-lo de forma continuada.

Mas como é que esta bactéria intestinal, presente no néctar das flores, permite que os mosquitos A. albopictus e Aedes aegypti resistam à infeção pelos vírus da dengue e do zika? Através da secreção de glicose desidrogenase, que converte a glicose em ácido glucónico, acidificando rapidamente o lúmen intestinal do mosquito (pH < 6,5 após uma refeição de sangue). Assim, este ambiente ácido modifica irreversivelmente o invólucro proteico dos viriões dos flavivírus, impedindo-os de entrar nas células epiteliais intestinais do mosquito.

390 milhões Com cerca de 390 milhões de infeções por ano, o vírus da dengue é o flavivírus transmitido por mosquitos mais difundido no mundo. ²

223.000 O vírus Zika foi responsável por mais de 223.000 casos confirmados nas Ilhas do Pacífico e nas Américas entre 2015 e 2017. ²

Uma estratégia eficaz em larga escala?

Mas o trabalho destes investigadores não se ficou apenas por aí. Ao constatarem uma prevalência variável da febre de Dengue no Yunnan, decidiram verificar se este fenómeno coincidia com uma presença desigual da bactéria. E, de facto, a prevalência de Rosenbergiella YN46 na microbiota intestinal dos insetos varia muito de uma prefeitura para outra: revelou ser mais prevalente nos sistemas digestivos dos mosquitos das prefeituras de Wenshan (91,7%) e Pu’er (52,9%), onde apenas foram notificados alguns casos isolados de febre de Dengue e, em contrapartida, rara nos mosquitos das prefeituras de Xishuangbanna (6,7%) e Lincang (0%), onde a febre de Dengue é endémica. 

Ensaios complementares de semi-campo permitiram alimentar a esperança de um possível (sidenote: controlo biológico é uma forma eficaz e amiga do ambiente de reduzir ou mitigar as pragas e os seus efeitos através da utilização de inimigos naturais. Aprofundar: https://www.sciencedirect.com/journal/biological-control ) : água açucarada com a bactéria é o suficiente para contaminar os insetos e para a bactéria se transmitir eficazmente de forma (sidenote: Transmissão transestadial O vetor (neste caso, o mosquito) conserva um agente (aqui, o flavivírus) no seu organismo quando passa de um estádio de desenvolvimento para outro (neste caso, do estádio de larva aquática para o de adulto alado). Aprofundar: Źródło ) e ao longo de gerações de mosquitos (nos mosquitos, a microbiota intestinal é transmitida pelas fêmeas aos seus descendentes e adquirida através da alimentação das larvas e depois dos adultos).

Consequentemente, a introdução da bactéria Rosenbergiella YN46 no habitat aquático das larvas ou a importação de adultos já portadores da bactéria poderá limitar a transmissão da febre de Dengue nas zonas endémicas.

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Menopausa: será o desequilíbrio da microbiota vaginal a promover a inflamação

Um estudo efetuado em mulheres pós-menopáusicas sugere que poderá um dia ser possível reduzir a inflamação da mucosa vaginal através da regulação da microbiota vaginal. Disso resultará uma possível redução dos riscos de infeção e de cancro do colo do útero.

A microbiota vaginal

Na menopausa, a microbiota vaginal pode desempenhar um papel fundamental na saúde ginecológica das mulheres. 

Em circunstâncias normais, certas bactérias lácticas denominadas Lactobacillus, presentes de forma abundante na flora vaginal, acidificam o ambiente da vagina, contribuindo assim para o equilíbrio da microbiota. 

45 a 55 anos é a idade em que começa a transição menopáusica para a maioria das mulheres ¹

87% das mulheres apresentam pelo menos 1 sintoma para além da cessação do período menstrual ²

20 a 25% sofrem de perturbações graves com impacto na sua qualidade de vida ²

Como a menopausa altera a microbiota vaginal 

Durante a pré-menopausa (período que antecede o desaparecimento definitivo da menstruação, ver caixa), a diminuição dos níveis de estrogénios leva a uma redução do teor de glicogénio das células da mucosa, o qual constitui o alimento preferido dos Lactobacillus

Menos bem alimentados, estes últimos tornar-se-ão menos abundantes e perderão a sua posição dominante na flora, o que pode conduzir a desequilíbrios na microbiota vaginal ( (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ). A diminuição das hormonas sexuais está igualmente associada a um aumento prejudicial da diversidade microbiana. 

55% das mulheres estão conscientes de que, desde a infância até à menopausa, a microbiota vaginal da mulher não permanece a mesma.

Problema: vários estudos têm demonstrado que a perda da predominância dos Lactobacillus e o aumento da diversidade bacteriana estão associados à inflamação da mucosa vaginal. Por outro lado, essa inflamação aumenta o risco de infeções, nomeadamente de ISTs ((infeções sexualmente transmissíveis), mas também de lesões pré-cancerosas do colo do útero.

Embora a ligação entre as alterações da microbiota vaginal e a inflamação tenha sido demonstrada nas mulheres em pré-menopausa, até à data não existiam estudos para determinar se esta ligação persiste na pós-menopausa (ver caixa).

Menopausa, pré-menopausa, pós-menopausa ou perimenopausa: quais as diferenças?

A transição menopáusica, que se caracteriza pelo declínio progressivo das hormonas sexuais femininas, decorre ao longo de vários anos.

  • A pré-menopausa (ou perimenopausa) é o período crucial antes da menopausa. Precede o fim dos períodos menstruais, altura em que surgem os famosos sintomas da menopausa (afrontamentos, secura vaginal, problemas de sono, etc.). Dura em média 4 anos (de 2 a 8 anos).
  • A menopausa corresponde à cessação definitiva das menstruações. Ocorre geralmente entre os 45 e os 55 anos.
  • A pós-menopausa é o período após a menopausa. Ocorre cerca de um ano após a menopausa.

Modular a microbiota vaginal para manter a saúde?

Com vista a aprofundar este assunto, uma equipa de investigadores americanos utilizou os dados de 119 mulheres pós-menopáusicas (com uma média de idades de 61 anos) que tinham participado num ensaio clínico que comparava os efeitos dos estrogénios e de um creme hidratante na flora vaginal. 

Foram analisadas as populações bacterianas e os marcadores de inflamação (citocinas) nas secreções vaginais das voluntárias para apurar a relação entre estes dois parâmetros. 3

Resultado: as mulheres cuja microbiota vaginal era mais diversificada ou mais pobre em Lactobacillus foram as que apresentaram as concentrações mais elevadas de citocinas. Estas duas caraterísticas da microbiota vaginal estão, portanto, associadas à inflamação, como acontece nas mulheres na pré-menopausa.

A microbiota vaginal

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O interessante nestes resultados é que eles deixam entrever que, um dia, através da regulação da microbiota vaginal das mulheres após a menopausa, será possível limitar a inflamação da mucosa vaginal e, assim, atuar preventivamente para lhes preservar a saúde.

O que é a síndrome geniturinária da menopausa (SGM)?

Este termo, que substitui desde 2014 o de “atrofia vulvovaginal” ou o de “secura vaginal”, demasiado restritivo, identifica determinados sintomas da menopausa ligados à diminuição dos níveis de estrogénios que ocorre na menopausa 4 :

  • Sintomas genitais: secura, ardor e irritação;
  • Sintomas sexuais: ausência de lubrificação, desconforto e dor;
  • Sintomas urinários: urgência urinária, infeções recorrentes do trato urinário, dor, desconforto e sensação de ardor ao urinar (disúria)

De acordo com uma meta-análise publicada em 2022 5, a SGM afetará

  • mais da metade das mulheres na pós-menopausa (55,1%), 
  • um terço das mulheres na perimenopausa (31,9%) 
  • 1 em cada 5 mulheres na pré-menopausa (19,2%).
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Uma ligação entre as dores pós-operatórias, o cancro da mama e a microbiota intestinal?

Pela primeira vez, uma equipa identificou bactérias intestinais associadas à presença ou à ausência de dor pós-cirúrgica persistente vários meses após a cirurgia do cancro da mama.

A microbiota intestinal Probióticos Prebióticos: o essencial para os compreender

Em cirurgia, fala-se de dor pós-cirúrgica persistente (ou PPSP) quando a dor permanece de forma significativa durante pelo menos 3 meses após a operação.

Trata-se de uma doença que afeta milhões de doentes em todo o mundo e que a ciência ainda não conseguiu resolver, apesar de sabermos que certos fatores a predispõem (tipo de cirurgia, intensidade da dor antes da operação, atitude do doente face à dor, fatores genéticos).

No entanto, está a surgir uma nova hipótese na qual talvez não se tenha pensado inicialmente: a da microbiota... intestinal com seu famoso (sidenote: Eixo intestino-cérebro Rede de comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro que permite a comunicação entre o intestino e o cérebro através de três vias diferentes: 
1. a via neuronal (os neurónios), principalmente através do nervo vago e do sistema nervoso entérico;
2. a via endócrina, através da secreção de hormonas como o cortisol, a adrenalina e a serotonina;
3. a via do sistema imunitário, através da modulação das citocinas.
O eixo intestino-cérebro atua no nosso comportamento, nossa cognição (memória), nossas emoções, nosso humor, nossos desejos, nossa perceção... e nossa dor, entre outras coisas.
)
.

Assim, a manipulação da microbiota intestinal com probióticos ou prebióticos antes da cirurgia poderia reduzir a incidência da PSPP. Pelo menos era o que havia sugerido um estudo preliminar, que mostrava que certas bactérias do trato digestivo estavam associadas à dor após uma cirurgia de fratura do pulso. E que parece ter sido confirmado por um estudo irlandês, desta vez sobre mulheres operadas de cancro da mama.

2,3 milhões Em 2022, 2,3 milhões de mulheres foram diagnosticadas com cancro da mama em todo o mundo e 670 000 morreram desta doença ²

Primeira causa Em 2022, em 157 de 185 países, o cancro da mama foi a principal causa de cancro nas mulheres ²

99 % Cerca de 99% dos cancros da mama ocorrem nas mulheres, e de 0,5 a 1% nos homens ²

Bactérias intestinais associadas à presença ou à ausência de dor 

Três meses após a operação, metade das mulheres reportou sentir dores persistentes, enquanto a outra metade não foi particularmente afetada. Esta diferença estava relacionada com a diversidade da sua microbiota intestinal: as pacientes que relataram dores fortes 1 hora e 3 meses após a operação tinham uma flora intestinal menos diversificada, em comparação com as mulheres que sofreram poucas dores. 

Mais importante ainda, certas bactérias pareciam estar associadas à presença ou à ausência de dor pós-cirúrgica persistente após a cirurgia do cancro da mama: as mulheres que não relataram dor 3 meses após a cirurgia tinham em seus intestinos mais bactérias conhecidas pelos seus efeitos benéficos (Bifidobacterium longum e Faecalibacterium prausnitzii), enquanto as mulheres que sofriam de PSPP hospedavam mais Megamonas hypermegale, Bacteroides pectinophilus, Ruminococcus bromii e Roseburia hominis.

É uma grande descoberta! Mas mesmo assim, deve-se ter cautela: trata-se apenas de associações e não de relações de causalidade. Nesta fase, ainda não é possível dizer se uma determinada bactéria induz ou reduz a dor...

Microbiota and breast cancer

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Dores pós-operatórias: uma questão de microbiota intestinal?

Embora estudos anteriores tenham relacionado a diversidade e a composição da microbiota intestinal com dores pós-operatórias após uma cirurgia de pulso, uma equipa identificou pela primeira vez bactérias associadas à presença ou ausência de dor pós-cirúrgica persistente após uma cirurgia de cancro da mama.

A dor pós-cirúrgica persistente (ou  (sidenote: Dor pós-cirúrgica persistente (DPP) Dor que continua após a cirurgia de forma significativa durante pelo menos três meses e que não está relacionada com condições dolorosas pré-existentes. ) ) é tão comum como subestimada: afeta milhões de pacientes em todo o mundo. Os fatores predisponentes incluem o tipo de cirurgia. Por exemplo, no caso do cancro da mama, 80% das mulheres cuja cirurgia inclui a remoção dos gânglios linfáticos axilares sofrem de PPSP. 

Estudos anteriores implicaram a microbiota intestinal na dor pós-operatória. No entanto, os mecanismos permanecem pouco claros: a disbiose intestinal poderia induzir um desequilíbrio na produção de metabolitos microbianos e desempenhar um papel no desenvolvimento de PPSP através do (sidenote: Eixo intestino-cérebro Rede de comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro que permite a comunicação entre o intestino e o cérebro através de três vias diferentes: 
1. a via neuronal (os neurónios), principalmente através do nervo vago e do sistema nervoso entérico;
2. a via endócrina, através da secreção de hormonas como o cortisol, a adrenalina e a serotonina;
3. a via do sistema imunitário, através da modulação das citocinas.
O eixo intestino-cérebro atua no nosso comportamento, nossa cognição (memória), nossas emoções, nosso humor, nossos desejos, nossa perceção... e nossa dor, entre outras coisas.
)
.

Para saber mais, investigadores irlandeses da Universidade de Cork 1 realizaram um estudo observacional prospetivo de pacientes adultos submetidos à uma cirurgia de cancro da mama (excluindo a desobstrução axilar ou a cirurgia de reconstrução, que são muito dolorosas). O seu objetivo era determinar se a composição da microbiota intestinal estava associada à incidência e extensão da PPSP nesta coorte de pacientes.

2,3 milhões Em 2022, 2,3 milhões de mulheres foram diagnosticadas com cancro da mama em todo o mundo e 670 000 morreram desta doença ²

Principal causa de cancro Em 157 dos 185 países, o cancro da mama foi a principal causa de cancro nas mulheres em 2022 ²

Cerca de 99% dos cancros da mama ocorrem nas mulheres, e de 0,5 a 1% nos homens ²

Menor diversidade alfa

12 semanas após a operação, 21 pacientes (51,2%) não reportaram dor e 20 outros (48,8%) reportaram dor persistente. Esta diferença parece estar relacionada com a diversidade da microbiota intestinal dos pacientes: observou-se uma menor (sidenote: Diversidade alfa Número de espécies coexistentes num determinado meio ) (3 medidas: riqueza, índice de Shannon e índice de Simpson) nos pacientes que reportaram dor intensa 1 hora após a operação e 12 semanas depois, em comparação com os que reportaram dor ligeira. No entanto, não se registou qualquer diferença na (sidenote: Diversidade beta Taxa de variação na composição em espécies, calculada comparando o número de táxons únicos em cada ecossistema ) .

Bactérias associadas à presença ou ausência de dor

Acima de tudo, a equipa encontrou diferenças marcantes na composição da microbiota intestinal em função da dor, com uma maior presença de:

  • Bifidobacterium longum e Faecalibacterium prausnitzii em mulheres que não reportaram dor 12 semanas após a operação,
  • Megamonas hypermegale, Bacteroides pectinophilus, Ruminococcus bromii e Roseburia hominis em mulheres com PSPP.

Estes resultados parecem apoiar os resultados de estudos anteriores: redução da abundância relativa de Faecalibacterium prausnitzii em pacientes que sofrem de fibromialgia; redução da dor pela administração de Bifidobacterium longum num modelo de rato que sofre de artrite. Há, no entanto, uma exceção : a Roseburia hominis reduzia a hipersensibilidade visceral em ratos, enquanto que neste estudo foi associada à presença de PPSP.

Embora estas relações entre a microbiota e a PSPP sejam inéditas, os autores lançam um aviso: trata-se apenas de correlações e não de relações de causalidade.

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