Que tal se a solução para as infeções intestinais resistentes aos antibióticos estiver na nossa própria microbiota intestinal? Um recente estudo aponta para a utilização da flora comensal como forma de eliminar as enterobactérias resistentes aos antibióticos.
Todos os anos, durante a Semana Mundial de Sensibilização para a Resistência aos Antimicrobianos, a OMS alerta para o recurso excessivo a antibióticos, que propicia a colonização do intestino por agentes patogénicos resistentes. São visadas, em particular, as bactérias da família (sidenote:
Enterobacteriaceae
Enterobacteriaceae: família de bactérias Gram-negativas da ordem Enterobacterales, que inclui os géneros Escherichia e Klebsiella (dois agentes patogénicos altamente associados à resistência aos antibióticos), mas também Buttiauxella, Enterobacter, Gibbsiella, Salmonella e Shigella, entre outros.
Aprofundar:LPSN) como a Escherichia coli ou a Klebsiella pneumoniae, responsáveis por infeções graves, sobretudo a nível hospitalar e em pessoas que sofrem de doenças inflamatórias crónicas do intestino.
Para a prevenção destas resistências, parece surgir uma terapia alternativa: as bactérias comensais da microbiota intestinal. Contudo, embora o transplante de microbiota fecal pareça reduzir o número de enterobactérias patogénicas, os seus resultados são heterogéneos e suscitam problemas quanto à segurança.
Daí a alternativa apresentada num estudo publicado na Nature1 : identificar uma combinação de bactérias comensais específicas com capacidade de eliminar as Enterobacteriaceae e compreender o seu modo de ação.
1,27 milhões
Segundo a OMS, a resistência aos antimicrobianos (incluindo a resistência aos antibióticos) causou a morte de 1,27 milhões de pessoas em 2019 e contribuiu para 4,95 milhões de óbitos em todo o mundo. 2
Uma combinação vencedora de 18 estirpes
Através da análise de amostras de fezes de 5 dadores humanos saudáveis, os investigadores isolaram 124 estirpes bacterianas. Entre as combinações testadas, identificaram um grupo de 18 estirpes sinérgicas, designado F18-mix, capaz de reduzir significativamente a prevalência de Klebsiella pneumoniae e Escherichia coli em (sidenote:
Ratos axénicos o germ-free
Ratos axénicos o germ-free: ratos criados em ambiente estéril e sem microrganismos, utilizados na investigação da microbiota. Pode ser-lhes administrada uma microbiota por via oral para estudo em condições controladas.
).
Um aspeto positivo é que o F18-mix parece visar especificamente as Enterobacteriaceae e não afetar as outras bactérias comensais, preservando assim o equilíbrio ecológico do intestino e eliminando simultaneamente os agentes patogénicos.
A razão para a competição entre o F18-mix e as Enterobacteriaceae parece ser o acesso a fontes de carbono, em particular ao gluconato. Ao privar as Enterobacteriaceae deste açúcar essencial ao seu crescimento, o F18-mix impor-se-á, impedindo-as de proliferarem.
26 %
Um inquérito realizado pelo Observatório Internacional da Microbiota revela que apenas 26% da população sabe o que é a microbiota intestinal, um valor que tem vindo a aumentar, mas que mostra a falta de sensibilização para a importância da microbiota na saúde. 3
Rumo a uma futura terapia microbiótica?
Os investigadores testaram igualmente a eficácia do F18-mix num modelo de rato que recebeu microbiota de pacientes com doença de Crohn ou colite. Verificaram a existência não só de uma redução na prevalência de Enterobacteriaceae, mas também de um aumento da diversidade da microbiota. Nos ratinhos sensíveis à colite, o F18-mix foi mesmo eficaz na redução das pontuações histológicas da colite e dos biomarcadores de inflamação intestinal.
Portanto, este estudo abre caminho para o surgimento de tratamentos microbióticos seletivos destinados às infeções enterobacterianas. A flora comensal poderá constituir uma alternativa viável aos antibióticos, limitando-se assim a ocorrência de resistências. No entanto, estes resultados foram obtidos em condições controladas em modelos de ratinhos, sendo necessários ainda outros estudos para se comprovar a sua transponibilidade para o ser humano.
WAAW (Semana Mundial de Sensibilização para a Resistência aos Antimicrobianos)
A Semana Mundial de Sensibilização para a Resistência aos Antimicrobianos da OMS é um evento anual que decorre de 18 a 24 de novembro. Tem por objetivo informar os profissionais de saúde, os decisores e o público em geral sobre os riscos da resistência aos antimicrobianos associada à respetiva utilização excessiva ou inadequada. Pretende-se assim promover práticas responsáveis com vista a preservar a eficácia dos tratamentos e a melhorar a saúde mundial. O seu lema é “Antimicrobianos: usar com cuidado”.
E se, face à resistência aos antibióticos, a nossa microbiota intestinal se tornasse na nova cura? Um estudo recente 1 revela que um conjunto de bactérias intestinais “boas” pode ser o nosso melhor aliado contra as infeções resistentes.
As infeções intestinais resistentes aos antibióticos causadas pelo recurso prolongado a antibióticos ou pelas doenças inflamatórias crónicas do intestino ( (sidenote:
DICI
As doenças inflamatórias crónicas do intestino caracterizam-se por uma inflamação crónica do aparelho digestivo devido a uma disfunção do sistema imunitário. Nelas se incluem a doença de Crohn e a colite ulcerosa, que causam crises inflamatórias suscetíveis de requerer hospitalização em 15% dos casos. Não existe tratamento curativo. Em 2019, 4,9 milhões de pessoas sofriam de DICI em todo o mundo.
Aprofundar:Inserm)) são uma ameaça cada vez mais frequente, sobretudo nos hospitais. As principais culpadas são (sidenote:
Bactérias patogénicas
Tipos de bactérias que podem causar doenças infeciosas. A OMS identificou 15 famílias de bactérias resistentes aos antibióticos que representam atualmente uma ameaça para a saúde humana, classificadas de acordo com o seu grau de prioridade:
• Prioridade crítica: é o caso, por exemplo, do Mycobacterium tuberculosis, que causa a tuberculose, e também da família Enterobacteriaceae (incluindo a Escherichia coli e a Klebsiella pneumoniae), na origem de muitas infeções hospitalares.
• Prioridade alta: inclui outras bactérias da família Enterobacteriaceae, em particular a Salmonella typhi (febre tifoide) e a Shigella (shigelose), cujo ressurgimento é um problema nos países de baixa renda, bem como o Staphylococcusaureus, que levanta sérios problemas nos estabelecimentos de saúde.
• Prioridade média: aqui se encontram os estreptococos, que causam infeções especialmente perigosas nas pessoas vulneráveis (recém-nascidos e idosos).
Aprofundar:WHO) do trato digestivo como a Escherichia coli ou a Klebsiella pneumoniae. Face a estas resistências, alguns investigadores exploram agora uma abordagem surpreendente que consiste em utilizar as bactérias “boas” do nosso intestino para eliminar as más. E identificaram recentemente um grupo especialmente eficaz destas bactérias benéficas que poderá constituir uma alternativa natural aos antibióticos.
1,27 milhões
Segundo a OMS, a resistência aos antimicrobianos (incluindo a resistência aos antibióticos) causou a morte de 1,27 milhões de pessoas em 2019 e contribuiu para 4,95 milhões de óbitos em todo o mundo. 2
Uma combinação vencedora: o poder das bactérias boas
Os cientistas desenvolveram uma mistura de 18 estirpes de (sidenote:
Bactérias comensais
Tipos de bactérias que coexistem pacificamente com seu hospedeiro, particularmente no intestino. Podem ter efeitos benéficos para o organismo, reforçando o sistema imunitário, auxiliando a digestão ou combatendo os agentes patogénicos.
), designada F18-mix, a partir de amostras da microbiota intestinal de pessoas saudáveis. Esta mistura foi testada em ratos e revelou uma eficácia notável na redução da presença de Escherichia coli e Klebsiella pneumoniae no intestino, salvaguardando também as bactérias benéficas da flora intestinal.
26 %
Um inquérito realizado pelo Observatório Internacional da Microbiota revela que apenas 26% da população sabe o que é a microbiota intestinal, um valor que tem vindo a aumentar, mas que mostra a falta de sensibilização para a importância da microbiota na saúde. 3
Qual o segredo? Para eliminarem as suas adversárias, as bactérias do F18-mix competem com as bactérias patogénicas para se alimentarem de determinados açúcares presentes no intestino, como o gluconato. Ao apoderarem-se deles, privam as bactérias nocivas desses recursos e impedem-nas de colonizar o intestino.
Antibióticos: várias táticas para combater as bactérias
Os antibióticos são mais ou menos como soldados que são enviados para a guerra para combaterem as bactérias responsáveis pelas infeções. Para tal, podem matar diretamente as bactérias ou impedir a sua multiplicação. Usam várias táticas, dependendo do alvo:
A parede bacteriana: certos antibióticos impedem a construção desta armadura protetora e, sem esta proteção, as bactérias rebentam e morrem.
A membrana celular: certos antibióticos provocam derrames nesta estrutura que envolve a bactéria. A perda da borda da bactéria leva à destruição desta.
A síntese de proteínas: alguns antibióticos bloqueiam a produção de proteínas, que são os elementos necessários para o funcionamento das bactérias. Isto equivale a desativar a sua "fábrica interna"
A síntese do ADN: é a criação de ADN que permite às bactérias reproduzirem-se. Alguns antibióticos bloqueiam a produção de ADN, impedindo que as bactérias se multipliquem.
O metabolismo bacteriano: há antibióticos que bloqueiam reações químicas essenciais para o desenvolvimento de bactérias.
Mas convém lembrar que o inimigo único dos antibióticos são as bactérias, eles não entram em guerra com os vírus, por exemplo. Portanto, devem ser utilizados com prudência, caso contrário, as bactérias acabarão por aprender os seus truques e tornar-se-ão resistentes... e então serão elas a vencer! 4
O F18-mix não se limita a repelir as bactérias patogénicas resistentes aos antibióticos: os investigadores demonstraram que, em ratos com doenças inflamatórias intestinais, como a colite ou a doença de Crohn, também ajuda a reduzir os sintomas clínicos da doença e a atenuar a inflamação.
Embora estes resultados sejam encorajadores, a investigação ainda se encontra numa fase experimental. Uma vez que os testes foram efetuados em ratos, serão necessários mais estudos para se confirmar a eficácia do tratamento em seres humanos. Mas as bactérias resistentes têm motivos para se preocupar: a microbiota pode muito bem mudar as regras do jogo e revolucionar os nossos futuros tratamentos.
WAAW (Semana Mundial de Sensibilização para a Resistência aos Antimicrobianos)
A Semana Mundial de Sensibilização para a Resistência aos Antimicrobianos da OMS é um evento anual que decorre de 18 a 24 de novembro. Tem por objetivo informar os profissionais de saúde, os decisores e o público em geral sobre os riscos da resistência aos antimicrobianos associada à respetiva utilização excessiva ou inadequada. Pretende-se assim promover práticas responsáveis com vista a preservar a eficácia dos tratamentos e a melhorar a saúde mundial. O seu lema é “Antimicrobianos: usar com cuidado”.
As pessoas seropositivas cujo sistema imunitário se encontra enfraquecido apresentam grande abundância de vírus na sua microbiota intestinal. Alguns poderão ser usados para se prever a eficácia dos tratamentos e rastrear a recuperação da imunidade. 1
O tubo digestivo é o principal local de replicação do vírus da imunodeficiência humana (VIH) responsável pela SIDA. A presença do VIH encontra-se associada a uma inflamação da mucosa intestinal e a um desequilíbrio das bactérias da microbiota ( (sidenote:
Disbiose
A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano.
Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232.)), o que poderá influenciar a progressão da doença.
39 milhões
de pessoas em todo o mundo viviam com o VIH em 2022. ²
2/3
das pessoas afetadas pelo VIH vivem em África (25,6 milhões). ²
Para responder a esta interrogação, uma equipa de investigadores mexicanos analisou o “viroma” (a componente viral da microbiota) das fezes de 92 pessoas que vivem com o VIH, em diferentes fases da infeção, mas sem tratamento, e comparou-o com o de 53 pessoas saudáveis. 1
1,3 milhões
de pessoas contraíram o vírus em 2022. ²
630.000
pessoas morreram de SIDA em 2022. ²
Seguidamente, a equipa selecionou de entre os indivíduos seropositivos 14 que sofriam de imunodeficiência, ou seja, com níveis baixos de linfócitos T CD4, as células onde o VIH se multiplica.
Foram colhidas amostras de fezes e de sangue provenientes destes 14 antes e 4 vezes durante o tratamento antirretroviral. Objetivo: estudar as alterações na imunidade e na microbiota intestinal durante os dois primeiros anos de terapia.
SIDA: o que precisa de saber
A SIDA é uma doença causada pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH), que se transmite por via sexual e sanguínea ou de mãe para filho.
Antes de se tornar ativa, a SIDA é precedida por uma fase de “latência”, sem sintomas, que dura em média 7 anos. No decurso desta, o vírus multiplica-se nos linfócitos T CD4 e ataca gradualmente o sistema imunitário. Quando a contagem de linfócitos CD4 se torna demasiado baixa, o organismo deixa de se poder proteger contra as infeções mais habituais. É esta situação o que se designa por SIDA (Síndrome de Imunodeficiência Adquirida).
O tratamento antirretroviral bloqueia a multiplicação do vírus, permite a recuperação do sistema imunitário e impede a transmissão a outras pessoas. No entanto, não cura a infeção.
Proliferação acentuada de determinadas espécies de vírus
Resultados: nas pessoas mais afetadas pela doença, apresentando imunodeficiência grave (contagem de células T CD4 < 350), detetaram-se três espécies de vírus em quantidades muito elevadas na microbiota: Anelloviridae (anelovírus), Adenoviridae e Papillomaviridae. Constata-se que os anelovírus são particularmente afetados pelo tratamento antirretroviral, uma vez que os seus marcadores diminuem significativamente após 24 meses de tratamento.
Significativamente, a presença de anelovírus no início do tratamento está associada a uma pior recuperação da imunidade e a uma menor contagem de células T CD4, portanto, uma menor eficácia do tratamento.
Para os cientistas, este estudo constitui um passo importante. Não só proporciona uma melhor compreensão do viroma, uma fração da microbiota intestinal que tem sido pouco estudada e bem menos compreendida do que a parte bacteriana, como também permite uma melhor perceção da participação dos vírus da microbiota na infeção pelo VIH.
Existem três meios de proteção contra o VIH:
• Os preservativos masculinos e femininos,
• A PrEP (profilaxia pré-exposição), destinada a ser administrada antes de uma relação de alto risco
• E a profilaxia pós-exposição, a adotar nas 48 horas seguintes ao comportamento de risco. 2
Rumo a um melhor acompanhamento dos doentes
Os seus resultados revelam a possibilidade de, um dia, se poderem utilizar os anelovírus como marcadores para se prever a eficácia do tratamento e monitorizar a recuperação imunitária das pessoas afetadas pelo VIH. Boas notícias numa altura em que a luta contra a SIDA continua a constituir um importante problema de saúde pública.
De acordo com um novo estudo 1, a componente viral da microbiota intestinal poderá estar relacionada com a progressão da infeção pelo VIH. Determinados vírus poderão até servir como marcadores para se rastrear a recuperação da imunidade e prever a eficácia dos tratamentos.
Depleção maciça dos linfócitos T CD4, inflamação, disbiose bacteriana, rutura da barreira epitelial, translocação microbiana, etc., os impactos do VIH no trato gastrointestinal estão já bem documentados.
Embora nenhuma investigação tenha ainda conseguido identificar uma assinatura da disbiose bacteriana associada ao VIH, sabe-se que a enteropatia intervém na ativação crónica da infeção e na evolução da imunodeficiência.
39 milhões
Em 2023, 39 milhões de pessoas foram afectadas pelo VIH. ²
Obter uma melhor compreensão do papel dos vírus da microbiota intestinal na infeção pelo VIH
Até que ponto a componente viral da microbiota intestinal, menos conhecida que a componente bacteriana, desempenha um papel neste processo? Para o descobrir, cientistas mexicanos investigaram se o “viroma” se encontrava associado à infeção pelo VIH e à imunodeficiência. 1
Começaram por comparar a contagem de linfócitos T CD4, bem como o bacterioma intestinal e o viroma intestinal (ARN e ADN virais) de 92 seropositivos não tratados com os de 52 pessoas saudáveis em situação de risco.
Com o objetivo de aprofundarem a compreensão da associação entre a composição do microbioma intestinal, a imunodeficiência relacionada com o VIH e a recuperação imunitária, acompanharam 14 pessoas seropositivas submetidas a terapia antirretroviral (TARV) ao longo de dois anos. Foram recolhidas amostras de sangue e de fezes na linha de base (antes da TARV) e 2, 6, 12 e 24 meses após o início do tratamento.
De acordo com os resultados, existe de facto uma redução da diversidade bacteriana alfa na população seropositiva, com um aumento de Enterococcus, Streptococcus e Coprococcus nos indivíduos em fase avançada da infeção. No entanto, não foi possível identificar quaisquer assinaturas marcantes.
Em comparação com os voluntários seronegativos, as pessoas com imunodeficiência grave (contagem de CD4 < 350) apresentaram alterações drásticas na composição do seu viroma intestinal:
Aumento das sequências de Anelloviridae (anelovírus), Adenoviridae e Papillomaviridae
Redução dos vírus vegetais do género Tobamovirus
Não foram detetados Anelloviridae nos indivíduos seronegativos para o VIH.
Os investigadores pensam que esta propagação dos vírus poderá contribuir para a patogénese da SIDA, danificando a barreira intestinal e fomentando a inflamação.
Por outro lado, os dados revelam uma associação notável entre a imunodeficiência associada ao VIH e a deteção de sequências de Anelloviridae, que se encontravam completamente ausentes nos 53 voluntários seronegativos. Nas pessoas altamente imunocomprometidas, a abundância dos anelovírus diminui gradualmente no decurso da TARV.
Papilomavírus: efeitos potencializadores da infeção pelo VIH?
Neste estudo, os investigadores constataram uma multiplicação das sequências de Papillomaviridae (HPV) na microbiota das pessoas infetadas pelo VIH com imunodeficiência avançada (SIDA).
De acordo com estudos efetuados, estes vírus encontram-se geralmente presentes em grande quantidade nos homens homossexuais, independentemente de serem portadores ou não do VIH, mas que as pessoas seropositivas apresentam ainda maior quantidade destes vírus, sobretudo aos níveis oral e anal.
Esta proliferação poderá estar relacionada com a maior prevalência do HPV nestes doentes, que, por conseguinte, apresentam maior risco de tumor quanto mais baixa for a sua contagem de CD4.
Instrumento de previsão?
Outra descoberta foi que a deteção de anelovírus antes do tratamento constituía um indicador de previsão independente de uma má recuperação imunitária.
Apesar das suas limitações (maioria do sexo masculino, fatores dietéticos totalmente ignorados, etc.), este estudo sugere que a deteção de sequências de anelovírus nas fezes pode ser utilizada para prever e monitorizar a recuperação imunitária durante a TARV.
Trata-se de mais um avanço no conhecimento da microbiota intestinal, mas sobretudo de um pequeno passo em frente na luta contra o VIH, um vírus que, em 2023, segundo a OMS, terá afetado 39 milhões de pessoas e causado 630.000 mortes. 2
Uma nova investigação revela como as alterações nas bactérias vaginais durante a gravidez influenciam a persistência do Streptococcus do Grupo B, um agente patogénico oculto, mas perigoso. Os cientistas descobrem desequilíbrios microbianos que podem alterar as abordagens aos cuidados pré-natais e à segurança neonatal.
O (sidenote:
Streptococcus do grupo B (GBS)
Bactéria que se encontra habitualmente no trato gastrointestinal e vaginal dos adultos e que pode causar infeções graves nos recém-nascidos se for transmitida durante o parto.
), uma bactéria que reside frequentemente de forma silenciosa no corpo humano, pode tornar-se uma ameaça significativa durante a gravidez. A sua colonização assintomática em até 40% das mulheres grávidas pode levar a complicações neonatais como sépsis, pneumonia e meningite se for transmitida durante o parto. Uma nova investigação, liderada por Toby Maidment da Universidade de Tecnologia de Queensland, explorou a interação entre a (sidenote:
Microbiota vaginal
Comunidade de microrganismos que residem no ambiente vaginal, dominada principalmente por espécies de Lactobacillus, crucial para a manutenção da saúde reprodutiva.
) e a colonização por GBS ao longo do tempo, fornecendo conhecimentos inovadores sobre a dinâmica microbiana. 1
Mudanças microbianas e colonização persistente
Usando dados de 93 mulheres grávidas, foram rastreadas mudanças microbianas às 24 e 36 semanas de gestação, oferecendo novas pistas sobre a colonização persistente e transitória do GBS. Uma das descobertas mais importantes é o papel contrastante do (sidenote:
Lactobacillus crispatus
Bactéria benéfica da microbiota vaginal que produz ácido lático, mantendo um pH baixo para evitar a colonização por agentes patogénicos e infeções.
)e do (sidenote:
Lactobacillus iners
Bactéria vaginal menos protetora que produz apenas ácido L-lático, frequentemente associada a desequilíbrios microbianos e vulnerabilidade a infeções oportunistas.
). Em mulheres persistentemente colonizadas por GBS, o L. crispatus, um defensor essencial contra agentes patogénicos, foi significativamente reduzido. Em vez disso, o L. iners, uma espécie menos eficaz na manutenção da acidez vaginal e do equilíbrio microbiano, era mais abundante. Este desequilíbrio pode criar um ambiente que favorece o desenvolvimento do GBS.
Curiosamente, a colonização transitória por GBS (detetada apenas às 24 semanas) estava associada a comunidades microbianas mais diversificadas, dominadas por espécies como o Gardnerella vaginalis. Às 36 semanas, esta diversidade diminuiu e o L. crispatus e o L. iners tornaram-se dominantes, correlacionando-se com a resolução da presença do GBS. Isto indica uma interação dinâmica na qual a microbiota vaginal pode mudar naturalmente para um estado protetor, embora nem sempre de forma eficaz em casos persistentes.
Um olhar mais atento à dinâmica do GBS
A colonização persistente do GBS envolveu frequentemente o mesmo serótipo bacteriano em ambos os momentos, sugerindo mecanismos de colonização estáveis. Além disso, em mulheres persistentemente positivas para o GBS, foi observada uma redução média de 11% na abundância de GBS à medida que a gravidez progredia, o que está de acordo com as alterações hormonais que aumentam os lactobacilos. No entanto, apesar deste declínio, a presença de L. iners continuou a desafiar a resiliência do ambiente vaginal
O desenho longitudinal do estudo - acompanhando as mudanças ao longo do tempo em vez de um único instantâneo - revelou que as colonizações transitórias e persistentes diferem significativamente nos seus fundamentos microbianos. Também enfatiza a importância de abordar o papel do L. iners na colonização por GBS, uma vez que a sua presença pode indicar um ambiente vaginal menos protetor em comparação com o L. crispatus ou outras espécies de Lactobacillus.
Antes que seja demasiado tarde!
Esta investigação apresenta um caso convincente de abordagens personalizadas para a gestão do GBS na gravidez. Enquanto o L. crispatus surge como um ator essencial na saúde vaginal, o L. iners parece menos capaz de oferecer proteção contra agentes patogénicos oportunistas. A compreensão destas dinâmicas pode abrir caminho a intervenções, tais como o uso de probióticos destinados a aumentar a dominância de L. crispatus ou outras estratégias para reforçar as defesas vaginais.
No futuro, a análise do perfil microbiano pode tornar-se uma pedra angular das estratégias obstétricas personalizadas, reduzindo potencialmente os riscos associados ao GBS e melhorando os resultados neonatais.
Uma nova investigação revela uma reviravolta chocante: as mais ínfimas alterações nas bactérias vaginais durante a gravidez podem decidir se um micróbio inofensivo se torna mortal para os recém-nascidos, reformulando o que sabemos sobre a proteção dos bebés antes mesmo de nascerem.
(sidenote:
Streptococcus do grupo B (GBS)
Bactéria que se encontra habitualmente no trato gastrointestinal e vaginal dos adultos e que pode causar infeções graves nos recém-nascidos se for transmitida durante o parto.
), uma bactéria que vive tranquilamente no corpo de muitas mulheres, pode tornar-se mortal durante a gravidez. Encontrado em cerca de 40% das mulheres grávidas, o GBS é normalmente inofensivo. Mas se for transmitido durante o parto, pode causar complicações potencialmente fatais como sépsis, pneumonia e meningite nos recém-nascidos. Uma investigação inovadora 1 conduzida por Toby Maidment na Universidade de Tecnologia de Queensland revela como o delicado equilíbrio das bactérias vaginais influencia o comportamento do GBS durante a gravidez. Os resultados podem mudar a forma como pensamos relacionada aos cuidados pré-natais.
Num estudo que envolveu 93 mulheres grávidas, os investigadores rastrearam as bactérias vaginais às 24 e 36 semanas de gravidez para ver como as comunidades microbianas interagem com o GBS. Uma das descobertas mais surpreendentes foi o papel de dois tipos de bactérias: (sidenote:
Lactobacillus crispatus
Bactéria benéfica da microbiota vaginal que produz ácido lático, mantendo um pH baixo para evitar a colonização por agentes patogénicos e infeções.
)e (sidenote:
Lactobacillus iners
Bactéria vaginal menos protetora que produz apenas ácido L-lático, frequentemente associada a desequilíbrios microbianos e vulnerabilidade a infeções oportunistas.
). Em mulheres persistentemente colonizadas pelo GBS, o L. Crispatus - uma espécie protetora que mantém a acidez vaginal - foi significativamente reduzido. Em vez disso, o L. iners, que é menos eficaz em manter as bactérias nocivas afastadas, assumiu o controlo. Este desequilíbrio parece ter dado ao GBS a oportunidade de se manter e prosperar.
Entretanto, as mulheres com apenas uma colonização transitória por GBS apresentaram uma comunidade microbiana mais diversificada às 24 semanas, com bactérias como a Gardnerella vaginalis. Por volta das 36 semanas, esta diversidade diminuiu, e o L. crispatus e o L. iners tornaram-se dominantes, correlacionando-se com o desaparecimento do GBS. Isto sugere que, em alguns casos, (sidenote:
Microbiota vaginal
Comunidade de microrganismos que residem no ambiente vaginal, dominada principalmente por espécies de Lactobacillus, crucial para a manutenção da saúde reprodutiva.
) pode mudar naturalmente para um estado mais saudável - embora nem sempre funcione quando o GBS é persistente.
Os casos persistentes de GBS envolviam frequentemente a mesma estirpe bacteriana que se mantinha em ambos os períodos, indicando uma colonização estável. Curiosamente, os níveis de GBS nestes casos diminuíram cerca de 11% à medida que a gravidez avançava, provavelmente devido a alterações hormonais que aumentam os lactobacilos protetores. No entanto, apesar deste declínio, a persistência de L. iners continuou a desafiar a capacidade do microbioma de se defender eficazmente contra o GBS.
Este estudo destaca-se pelo acompanhamento feito a estas alterações ao longo do tempo, mostrando que as colonizações transitórias e persistentes de GBS apresentam dinâmicas microbianas distintas. Enquanto o L. crispatus surge como um herói na prevenção do GBS, o L. iners , menos eficaz, realça a razão pela qual algumas mulheres continuam vulneráveis.
O futuro dos cuidados pré-natais
Esta investigação abre a porta a intervenções personalizadas para a gestão do GBS. Os probióticos que promovem a dominância de L. crispatus ou as estratégias para reduzir o L. iners podem oferecer novas formas de proteger as mães e os bebés. Com a criação de perfis microbianos a tornar-se mais acessível, poderemos em breve ver abordagens direcionadas para reduzir os riscos de GBS e melhorar os resultados neonatais.
Compreender as batalhas microbianas silenciosas no interior do microbioma vaginal é mais do que uma mera curiosidade científica - é uma questão de vida e de saúde para as pessoas mais vulneráveis. Este estudo mostra como até os organismos mais pequenos podem exercer um grande impacto.
Um estudo piloto 1 numa menina com neuroblastoma revela que o transplante oral da microbiota oral da progenitora pode prevenir eficazmente a mucosite induzida pela quimioterapia.
Efeito secundário habitual da quimioterapia ou da radioterapia, a (sidenote:
Mucosite oral
Inflamação aguda e dolorosa da mucosa oral, frequentemente induzida por tratamentos oncológicos como a quimioterapia e a radioterapia. Manifesta-se através de rubor, dor e ulceração, e pode ser acompanhada de sensação de boca seca, alterações do paladar e dificuldade na ingestão de alimentos. Pode ter como consequência a subnutrição, a desidratação e a redução da qualidade de vida. O tratamento é sintomático e visa aliviar a dor, promover a cicatrização e prevenir a infeção.
Aprofundar:Cleveland Clinic) caracteriza-se por uma inflamação das mucosas oral e gastrointestinal.
Daí resulta uma deterioração da qualidade de vida dos doentes, uma pior adesão aos tratamentos, dificuldades na alimentação e complicações que são ainda mais graves quando o paciente se encontra fragilizado. Tendo em conta que os tratamentos atuais se limitam a aliviar os sintomas, a modulação da microbiota oral surge como uma nova abordagem promissora.
Na sequência de trabalhos que apontam para uma ligação entre a microbiota oral e o surgimento da mucosite induzida pela quimioterapia, a publicação, no final de 2024, de um caso clínico pediátrico permite reforçar estas esperanças.
A mucosite oral é diagnosticada em mais de 70% dos doentes após o transplante de células hematopoiéticas e em 40% dos doentes que recebem quimioterapia em dose standard.
Tomada de decisão e protocolo de transplante
A história diz respeito a uma menina russa de 6 meses, a quem foi diagnosticado, aos 4 meses de idade, um neuroblastoma retroperitoneal com múltiplas metástases. Foi tratada através de quimioterapia, que rapidamente se complicou devido a vários efeitos secundários, nomeadamente uma mucosite oral grave, uma rápida perda de peso e uma infeção por C. difficile.
Os médicos resolveram efetuar um transplante oral da microbiota bucal da saudável mãe de 33 anos. O protocolo de colheita da dadora foi escalonado ao longo do dia (9 amostras de 1,5 ml), fora das refeições e da escovagem dos dentes.
Durante cada um dos 3 ciclos de quimioterapia seguintes (cuja posologia foi reduzida), a bebé recebeu na boca a saliva da mãe (13,5 ml/dia, durante 10 dias) cerca de trinta minutos depois de ser amamentada.
Após 6 ciclos de quimioterapia, a doente foi submetida a uma ressecção completa do seu tumor retroperitoneal e a uma adrenalectomia do lado direito, seguida de quimioterapia de dose elevada com transplante autólogo de células hematopoiéticas (auto-HCT). Foi efetuada ainda uma última transferência oral de saliva materna antes do transplante.
Efeitos na mucosite
O transplante de microbiota oral preveniu eficazmente o aparecimento da mucosite após os 3 novos ciclos de quimioterapia; apenas se desenvolveu uma mucosite oral de grau 1 após o auto-HCT. Por toda a boca, a abundância de bactérias das famílias Staphyloccaceae, Micrococcaceae e Xanthomonadaceae registou uma diminuição. Em contrapartida, verificou-se um aumento da ocorrência relativa de Streptococcaceae e de alguns outros taxa bacterianos.
Portanto, o transplante de saliva materna nesta paciente parece ter prevenido um novo episódio de mucosite grave e ter sido acompanhado por uma alteração na composição da microbiota oral. Não foi observado qualquer efeito adverso relacionado com a transferência salivar. Como é óbvio, tratou-se apenas de um único caso.
Mas este estudo clínico piloto abre caminho para possíveis transplantes de microbiota oral no sentido de reduzir o risco de mucosite durante a quimioterapia. Ou, no mínimo, vem realçar a possibilidade, a segurança e a eficácia do transplante oral de microbiota de um dador saudável para um doente com neuroblastoma a fim de prevenir a mucosite oral induzida pela quimioterapia.
Após a menopausa, o primado dos lactobacilos e a baixa diversidade alfa serão acompanhados de uma menor inflamação vaginal, conforme já foi referido para as mulheres na pré-menopausa. Embora menos presentes, os lactobacilos continuarão, portanto, a exercer os seus efeitos benéficos.
É sabido que nas mulheres pré-menopáusicas, o aumento da diversidade da microbiota vaginal e a perda da hegemonia dos lactobacilos estão associados a uma maior inflamação das mucosas. O resultado é um maior risco de displasia e de infeções do colo do útero.
Será que esta ligação entre a microbiota vaginal e a inflamação também existe após a menopausa - um período até agora pouco documentado, apesar de sabermos que a microbiota vaginal tende a diversificar-se e a ser menos dominada por lactobacilos quando o período reprodutivo da mulher termina?
Um estudo norte-americano 1 que incluiu 119 mulheres na pós-menopausa (idade média de 61 anos aquando da inclusão) submetidas a tratamento para desconforto vulvovaginal moderado a grave (irritação, secura, etc.) examinou esta questão.
Estas mulheres, que foram seguidas durante 12 semanas, foram divididas em 3 grupos de acordo com o tratamento que receberam para controlar os seus sintomas:
comprimido de estradiol e gel hidratante placebo
comprimido de placebo e gel hidratante
placebo duplo
No início do estudo, 29,5% das participantes apresentavam uma microbiota vaginal dominada por lactobacilos.
As mulheres brancas eram menos propensas a possuir essa flora protetora. Na globalidade, a reduzida predominância de Lactobacillus e a diminuição da diversidade alfa nos fluidos vaginais surgiam associadas a concentrações mais reduzidas de marcadores imunitários inflamatórios: a perda da predominância de Lactobacillus relacionava-se com concentrações mais elevadas de (sidenote:
Citoquina
Pequena proteína que participa nas comunicações entre as células, em particular no sistema imunitário.
Cytokines: Introduction_British Society for Immunology), pró-inflamatórias, conforme o observado em estudos anteriores em mulheres pré-menopáusicas.
21 anos
A nível mundial, uma mulher com 60 anos em 2019 tinha, em média, uma esperança de vida de mais de 21 anos.
26%
A nível mundial, a população de mulheres na menopausa está a aumentar. Em 2021, as mulheres com mais de 50 anos representavam 26% de todas as mulheres e raparigas em todo o mundo, em comparação com 22% uma década antes.
Proteção imunitária duradoura dos lactobacilos
Trata-se, portanto, de um fenómeno idêntico ao já assinalado nas mulheres em idade fértil. Assim, após a menopausa, os lactobacilos poderão continuar a desempenhar um papel protetor, com efeitos benéficos para a imunidade da mucosa vaginal, contribuindo para – ou pelo menos estando associados a – menos inflamação local.
Pelo contrário, um aumento da diversidade alfa da microbiota vaginal estará associado a citocinas pró-inflamatórias.
Estes resultados sugerem que uma diversidade reduzida e uma elevada predominância de lactobacilos se mantêm e continuam a ser benéficas para a saúde vaginal. Por outras palavras, a predominância de lactobacilos, mesmo que não seja “normal” após a menopausa, poderá representar um microambiente favorável, associado a um nível inflamatório mais baixo.
E se o segredo para controlar a inflamação vaginal estiver no microbioma? Uma nova investigação revela que o Lactobacillus crispatus produz compostos de β-carbolina que suprimem seletivamente a inflamação, preservando a imunidade, abrindo portas para novas terapias.
Um microbioma vaginal saudável, geralmente dominado por espécies de (sidenote:
Lactobacillus
Grupo de bactérias benéficas normalmente encontrado no microbioma vaginal. Produzem ácido lático, ajudando a manter um pH baixo para proteger contra infeções.
), é fundamental para a saúde ginecológica. No entanto, os mecanismos através dos quais estes micróbios modulam a inflamação têm escapado há muito tempo aos investigadores. Um novo estudo 1 conduzido por Virginia J. Glick publicado na revista Cell Host & Microbe, revela que certas estirpes de Lactobacillus crispatus produzem alcalóides β-carbolina - pequenas moléculas que apresentam propriedades anti-inflamatórias específicas.
Esta descoberta oferece uma nova perspetiva sobre a forma como estas bactérias contribuem para a homeostase imunitária e prepara o terreno para potenciais aplicações terapêuticas.
77%
A perlolirina BC6 reduziu os sinais inflamatórios em 77% e restabeleceu a atividade normal das células imunitárias.
β-carbolinas: Imunomoduladores de precisão
O estudo identificou compostos de β-carbolina, incluindo a (sidenote:
Perlolirina (BC6)
Potente composto de β-carbolina identificado no Lactobacillus crispatus que reduz a inflamação preservando a defesa imunitária.
), como potentes supressores da sinalização inflamatória. Utilizando um sistema de duplo relator em células THP1 derivadas de monócitos humanos, os investigadores demonstraram que as β-carbolinas derivadas do L. crispatusinibiam as vias NF-kB e do (sidenote:
Sinalização do interferão (IFN)
Via imunitária fundamental que combate as infeções, mas que pode provocar inflamação quando estiver hiperativa.
) de tipo I (IFNAR). Estas moléculas suprimiram exclusivamente a produção de citocinas pró-inflamatórias nas células imunitárias, deixando intactas as respostas antivirais nas células barreira e epiteliais - um nível de seletividade raro entre os agentes anti-inflamatórios.
Nomeadamente, esta é a primeira vez que a β-carbolina, anteriormente associada a plantas e micróbios do solo, foi identificada como um produto de estirpes de Lactobacillus vaginais. Esta descoberta enfatiza uma nova dimensão nas interações microbiota-hospedeiro. Além disso, as amostras de lavagem cervicovaginal de indivíduos com microbiomas vaginais saudáveis (baixos (sidenote:
Escore de Nugent
Sistema de pontuação diagnóstico utilizado para avaliar vaginoses bacterianas com base na presença e nas proporções de certas bactérias numa amostra vaginal com coloração de Gram.
)) foram significativamente enriquecidas com β-carbolina em comparação com os indivíduos com (sidenote:
Vaginose bacteriana
A vaginose bacteriana (VB) é um tipo de inflamação vaginal causada por um desequilíbrio das espécies bacterianas que estão normalmente presentes na vagina.
) (elevados escores de Nugent), sublinhando o seu potencial como biomarcadores para a saúde do microbioma.
Para explorar a relevância clínica destes compostos, os investigadores aplicaram o BC6 topicamente num modelo de ratinho com inflamação vaginal induzida pelo vírus herpes simplex-2 (HSV-2). Os resultados foram impressionantes:
O BC6 reduziu significativamente a inflamação,
atenuou as citocinas pró-inflamatórias, como a IL-1β e a IL-18,
e melhorou os resultados da doença sem afetar os títulos virais
O tratamento manteve as populações de células imunitárias inatas, ao mesmo tempo que diminuía a sinalização inflamatória que provocava danos nos tecidos.
Ainda mais intrigante, alguns ratinhos previamente tratados com sobrenadante de L. crispatus permaneceram assintomáticos apesar das cargas virais semelhantes às dos controlos não tratados. Isto sugere que estes compostos exercem um papel no aumento da tolerância à doença - um conceito que está a ganhar força na investigação imunológica.
O que isto significa para a prática clínica?
Os resultados oferecem várias perspetivas cruciais. Em primeiro lugar, o estudo destaca o papel funcional do Lactobacillus crispatus na modulação imunitária, indo além da sua produção de ácido lático. Em segundo lugar, ele destaca a especificidade da β-carbolina para suprimir as vias inflamatórias nas células imunitárias sem prejudicar as defesas de barreira, proporcionando uma abordagem direcionada para a gestão da inflamação vaginal.
Esta investigação abre também o caminho para terapias baseadas em microbiomas, nomeadamente no tratamento de doenças inflamatórias como a vaginose bacteriana e a vaginite. As aplicações tópicas de β-carbolina, como a perlolirina, poderiam oferecer uma alternativa natural e precisa aos medicamentos anti-inflamatórios de largo espetro, minimizando os efeitos secundários e preservando as funções imunitárias.
Como centro de referência para a divulgação de informações científicas e interveniente fundamental na formação e instrução dos profissionais de saúde e do público em geral sobre a importância da microbiota humana, o Biocodex Microbiota Institute participa, pelo quinto ano consecutivo, na Semana Mundial de Sensibilização para a Resistência aos Antimicrobianos (WAAW), organizada pela OMS de 18 a 24 de novembro. Para esta edição de 2024, a novidade é o lançamento do primeiro “Mural de sensibilização para a resistência aos antibióticos”, densenvolvido por especialistas do Instituto. O objetivo es apresentar os problemas e desafios associados à resistência aos antibióticos de forma divertida e colaborativa para que os doentes tomem consciência e, em última análise, alterem os seus comportamentos.
Uma semana global para alertar sobre os perigos da resistência a antibióticos
A resistência aos antibióticos é uma das maiores ameaças à saúde pública global. De acordo com a OMS, se não forem tomadas medidas urgentes, essa problemática poderá causar mais de 10 milhões de óbitos por ano até 2050.
A utilização excessiva e inadequada de antibióticos – que, quando utilizados corretamente, constituem um grande avanço da medicina – contribui para este fenómeno ao fomentar o aparecimento de bactérias resistentes, o que coloca em risco milhões de vidas. Apesar dessa realidade alarmante, apenas 31% dos franceses consideram estar ao corrente do impacto negativo dos antibióticos na sua microbiota, segundo o Observatório Internacional das Microbiotas, inquérito realizado em 2024 pela Ipsos para o Biocodex Microbiota Institute. Pelo segundo ano consecutivo, o Biocodex Microbiota Institute encomendou à Ipsos a realização de um grande inquérito internacional envolvendo 7.500 pessoas em 11 países, a fim de compreender melhor o nível de conhecimentos e as atitudes das pessoas em relação à sua microbiota.
Mural de sensibilização para a resistência aos antibióticos: uma abordagem inovadora para engajar pacientes
Desde há cinco anos, o Biocodex Microbiota Institute tem participado ativamente nesta campanha de sensibilização mundial, com diversas iniciativas que promovem a utilização racional dos antibióticos e sensibilizam o público em geral e os profissionais de saúde para o seu impacto na microbiota. Para esta edição de 2024, as equipas do Biocodex Microbiota Institute, em parceria com a Querceo*, conceberam o primeiro “mural de sensibilização para a resistência aos antibióticos.
“O formato escolhido para esta iniciativa es inovador, divertido e colaborativo, permitindo envolver um público diversificado, desde os doentes e profissionais de saúde até aos colaboradores da Biocodex”, explica Olivier Valcke, Diretor do Biocodex Microbiota Institute. “O objetivo deste mural é claro: mobilizar o maior número possível de pessoas para a sensibilização para a resistência aos antibióticos. Através da combinação de jogos de cartas, questionários e, sobretudo, da inteligência coletiva relativamente às soluções a implementar, este mural – o primeiro do género – pretende popularizar as questões relacionadas com a resistência aos antibióticos, ilustrando simultaneamente o papel central desempenhado pela microbiota na saúde humana.”
Olivier Valcke, Diretor do Biocodex Microbiota Institute
Formar 1.700 “Muralistas Biocodex” para liderarem uma comunidade de embaixadores de referência
A campanha arrancou a 14 de novembro com a realização de uma conferência científica intitulada “Resistência aos antibióticos: a microbiota no centro de uma pandemia silenciosa”, com a participação de Vanessa Carter, uma doente que sobreviveu à resistência aos antibióticos e que faz parte do grupo de trabalho da OMS sobre sobre o tema, e do Professor Etienne Ruppé, especialista em resistência aos antibióticos e bacteriologista no hospital Bichat-Claude Bernard, em Paris.
No âmbito desta semana de sensibilização, a Biocodex está também a mobilizar os seus 1.700 colaboradores para participarem na iniciativa. Serão organizados workshops participativos ao longo da semana de 18 a 24 de novembro, com vista a formar os colaboradores quanto à conceção do mural de sensibilização para a resistência aos antibióticos. Estes seminários constituem uma oportunidade de debate e cocriação para fortalecer a sensibilização coletiva sobre o uso responsável dos antibióticos.
Para Catherine Perret, vice-presidente de Recursos Humanos da Biocodex, “a formação dos nossos 1.700 colaboradores na conceção deste mural é un passo fundamental para reforçar o compromiso de todos na luta contra a resistência aos antibióticos. Com essa ação, nossos colaboradores tornar-se-ão embaixadores ativos desta causa, ajudando a divulgar a importância do uso racional de antibióticos.”
O Biocodex Microbiota Institute
O Biocodex Microbiota Institute é um centro de conhecimento internacional dedicado à microbiota humana. Disponível em 7 línguas, o Instituto dirige-se tanto aos profissionais de saúde como ao público em geral, com o objetivo de sensibilizar para o papel vital desempenhado na nossa saúde por este órgão. A principal missão do Biocodex Microbiota Institute é de natureza educativa: difundir junto de todos a importância da microbiota.
A Querceo é uma empresa de consultoria que apoia as organizações na sua transição ecológica utilizando uma abordagem colaborativa e sistémica. Graças à criação e difusão de workshops de sensibilização como o Mural da Biodiversidade, o Mural One Health ou ainda o workshop SiNergie, a Querceo ajuda as organizações a tomarem a iniciativa, permitindo que cada elemento compreenda e assuma a sua responsabilidade pelos grandes desafios do futuro.