Infertilidade: bactérias e vírus vaginais envolvidos

Cada tipo de infertilidade tem os seus próprios desequilíbrios em termos de microbiota vaginal. E quanto às suas próprias duplas de vírus e bactérias que poderiam desempenhar, juntas, um papel na disbiose... e talvez nas dificuldades em engravidar?

A microbiota vaginal
Photo LP: Infertilité : des bactéries et des virus vaginaux co-impliqués

A infertilidade, um assunto delicado que afeta mais de 15% dos casais em idade fértil, pode (também) encontrar a sua origem na nossa microbiota vaginal !

17,5% A infertilidade afeta cerca de 17,5% da população adulta, ou seja, uma em cada seis pessoas em todo o mundo. A sua prevalência varia pouco de uma região para outra ou em função da riqueza de um país. ²

48 milhões A infertilidade afeta 48 milhões de casais em todo o mundo. As causas, por vezes inexplicáveis, incluem fatores hormonais, genéticos ou ambientais que afetam tanto os homens como as mulheres. ³

A ideia, já evocada no que diz respeito à fertilização in vitro (FIV) ou à infertilidade em geral, é apoiada por um estudo 1 com 136 mulheres mexicanas diagnosticadas com infertilidade primária (nenhuma gravidez após 12 meses de tentativas) ou infertilidade secundária (dificuldade em engravidar novamente após uma primeira gravidez).

Os investigadores analisaram as amostras vaginais recolhidas destas mulheres para compreenderem melhor o que se passava realmente na sua microbiota e a sua relação com a fertilidade.

Quanto mais anos, menos lactobacilos

Em primeiro lugar, a idade se revelou ser um fator crucial. Quanto mais velha for a mulher, maior é a probabilidade de sofrer de infertilidade primária, enquanto a infertilidade secundária parece afetar mais as mulheres mais jovens. No entanto, há muito tempo sabe-se que a microbiota vaginal muda com a idade, quando as bactérias benéficas da vagina (os famosos Lactobacillus) perdem gradualmente a sua hegemonia e cedem terreno para as bactérias menos favoráveis. Para os investigadores, estas alterações podem explicar parcialmente o facto de ser mais difícil engravidar naturalmente (ou mesmo com assistência médica) depois dos quarenta anos de idade.

Duas infertilidades, duas microbiotas diferentes

Porém, acima de tudo, os investigadores mostram que as mulheres com infertilidade primária e as diagnosticadas com infertilidade secundária apresentam microbiotas vaginais diferentes.

  • Nas mulheres que sofrem de infertilidade primária, os Lactobacillus benéficos, embora ainda majoritários, perderam espaço para as bactérias menos benéficas para a nossa vagina, como a dupla Gardnerella vaginalis e Fannyhessea vagina, envolvidas nas (sidenote: Vaginose bacteriana A vaginose bacteriana (VB) é um tipo de inflamação vaginal causada por um desequilíbrio das espécies bacterianas que estão normalmente presentes na vagina. ) . Mas isso não é tudo: a presença de G. vaginalis parece estar fortemente associada à infeção pelo papilomavírus humano (HPV). Que bando de criminosos!
  • Nas mulheres que sofrem de infertilidade secundária, a flora também é perturbada, mas de uma forma diferente: a G. vaginalis anda frequentemente de mãos dadas com o vírus do herpes. Estas bactérias responsáveis por infeções sexualmente transmissíveis também estão presentes.

O que explica a importância, para os autores, de ter em conta não somente as bactérias patogénicas, mas também os vírus, pois estes parecem funcionar em conjunto, provocando um impacto cumulativo na infertilidade. No entanto, ainda há esperança: a microbiota vaginal deverá permitir uma melhor compreensão da infertilidade e conduzir a tratamentos mais personalizados.

A microbiota vaginal

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A entacapona e o intestino: um impacto oculto na assistência à doença de Parkinson

Cada comprimido que se prescreve faz mais do que aquilo que se pensa. A entacapona, um medicamento de confiança para a doença de Parkinson, não vai apenas a ajudar os pacientes, vai remodelar a sua microbiota intestinal. Com bactérias como a E. coli a prosperarem de novas formas, poderá este medicamento estar a alterar a sua própria eficácia?

É aqui, no labirinto do intestino humano, que o medicamento entacapona, destinado à luta contra a doença de Parkinson, tem travado uma guerra não propositada. Numa revelação que pode reformular toda a nossa compreensão das interações fármaco-microbiota, os investigadores descobriram o impacto imprevisto da entacapona nas comunidades bacterianas intestinais, com consequências que vão muito para além dos efeitos neurológicos pretendidos.

Entacapona: uma mestre do engano do ferro

A entacapona é há muito apregoada como uma ajuda essencial para os doentes que lutam contra a doença de Parkinson, prolongando a eficácia da levodopa ao inibir a sua degradação. No entanto, ao percorrer o tubo digestivo, este fármaco realiza uma proeza notável de engano molecular.  A entacapona liga-se ao ferro com uma eficácia espantosa, funcionando como um quelante que esgota o ferro disponível no ambiente intestinal.

O ferro, que é um nutriente fundamental tanto para os seres humanos como para os micróbios, torna-se subitamente escasso. As consequências desta escassez repercutem-se ao longo de toda a microbiota, fazendo com que algumas populações bacterianas careçam seletivamente de alimento enquanto outras proliferam.

Um estudo 1, publicado recentemente na Nature Microbiology, descobriu que bactérias como Escherichia coli prosperavam nessas condições, enquanto outras espécies, como Bacteroides uniformis e Clostridium sensu stricto, minguavam.

Essa mudança subtil, mas profunda, no equilíbrio microbiano pode ajudar a explicar por que é que os pacientes respondem de maneira diferente à terapia com a entacapona. A presença ou ausência de espécies bacterianas essenciais, muitas das quais desempenham um papel crucial no metabolismo dos medicamentos e na regulação da função imunitária, pode determinar se o medicamento atinge o efeito pretendido ou se contribui para efeitos secundários indesejados.

Um risco oculto: a entacapona e o surgimento de micróbios resistentes

Talvez a descoberta mais inesperada e preocupante deste estudo seja a seleção de estirpes bacterianas virulentas e resistentes aos antibióticos. A privação de ferro desencadeada pelo entacapona parece favorecer os micróbios equipados com adaptações genéticas que lhes permitem sobreviver nessas condições difíceis.

Entre eles encontram-se bactérias que possuem genes associados à resistência antimicrobiana (AMR), suscitando a possibilidade de que o uso prolongado de entacapona possa contribuir para um risco acrescido de infeções resistentes aos medicamentos. Esta revelação é particularmente significativa, dada a crescente crise global de resistência aos antimicrobianos. 

Se a entacapona estiver a promover indiretamente um ambiente em que as bactérias resistentes se desenvolvem, isso acrescenta uma nova dimensão de complexidade ao tratamento da doença de Parkinson e à saúde dos doentes. Deverão os médicos analisar a composição da microbiota antes de prescreverem a entacapona? Poderão terapias complementares, como a suplementação direcionada de ferro, atenuar estes efeitos? Estas são questões que exigem agora uma análise urgente.

Implicações para o tratamento: repensar os cuidados na doença de Parkinson

A interação complexa entre os medicamentos e a microbiota está apenas a começar a ser compreendida, mas este estudo assinala a necessidade de uma abordagem mais abrangente do tratamento da doença de Parkinson.

Uma intervenção promissora é definir o momento da suplementação com ferro. Uma vez que o ferro oral pode reduzir a absorção da entacapona, a administração de suplementos numa altura diferente do dia, ou mesmo o desenvolvimento de sistemas de administração direcionados para repor os níveis de ferro no intestino, poderão restaurar o equilíbrio microbiano sem interferir com a eficácia da medicação.

Além disso, abordagens de farmacoterapia de precisão poderão aperfeiçoar a terapêutica com entacapona, tendo em conta a composição única da microbiota de cada doente. Se certos perfis microbianos predizem um maior risco de disbiose, os médicos podem ajustar as dosagens dos medicamentos ou ponderar tratamentos alternativos.

Este estudo serve como um poderoso alerta para o facto de nenhum medicamento funcionar isoladamente. Para além dos seus efeitos no corpo humano, os medicamentos alteram o ecossistema da microbiota, por vezes de formas que só agora começamos a poder compreender. A entacapona, outrora vista apenas como um meio para o tratamento neurológico, pode, de facto, ser um ator-chave na modelação da microbiota intestinal, tanto para o bem como para o mal.

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Será que um medicamento para a doença de Parkinson pode mudar as nossas bactérias intestinais?

E se um comprimido destinado a ajudar os doentes de Parkinson também alterasse as bactérias do nosso intestino? Cientistas 1 descobriram que a entacapona pode estar a fazer exatamente isso, ajudando algumas bactérias a expandir-se enquanto expulsa outras. Será que isto pode afetar a eficácia do medicamento?

A microbiota intestinal Afeções neurológicas

Todos os dias, há milhões de pessoas que tomam medicamentos para tratar as suas doenças, pensando que esses medicamentos só têm efeito sobre a doença a que se destinam. Mas e se um comprimido destinado a tratar a doença de Parkinson estivesse também a alterar o delicado equilíbrio das bactérias no nosso intestino? Uma nova investigação revelou uma ligação surpreendente entre a entacapona, uma medicação corrente para o tratamento da doença de Parkinson, e alterações na microbiota intestinal - a comunidade das bactérias que vivem nos nossos intestinos.

8,5 milhões Em 2019, mais de 8,5 milhões de pessoas em todo o mundo sofriam da doença de Parkinson. ²

329.000 mortes Em 2019, a doença de Parkinson causou 329.000 mortes, correspondentes a um aumento de mais de 100% desde 2000. ²

Um medicamento que faz mais do que o pretendido

A entacapona é geralmente receitada para tratar os doentes de Parkinson, fazendo com que o seu medicamento principal, a levodopa, funcione durante mais tempo. Mas os cientistas descobriram que ele faz algo mais: liga-se ao ferro no intestino, impedindo as bactérias de acederem a este nutriente essencial. Este facto altera o equilíbrio natural da microbiota, promovendo a proliferação de determinadas bactérias, nomeadamente a Escherichia coli (E. coli).

Talvez já tenha ouvido falar da E. coli no contexto de intoxicações alimentares, mas, de facto, há muitos tipos de E. coli que vivem nos intestinos de forma inofensiva. Contudo, quando o seu número aumenta demasiado, podem causar problemas digestivos e até mesmo estar associados a problemas de saúde a longo prazo. O estudo aponta para o facto de as pessoas que tomam entacapona poderem sofrer efeitos indesejáveis na sua saúde intestinal, uma vez que a comunidade bacteriana é desestabilizada pelo impacto do medicamento na disponibilidade de ferro.

Doença de Parkinson: Definição

doença de Parkinson é uma doença degenerativa do cérebro que se encontra associada a perturbações motoras (movimentos lentos, tremores, rigidez e desequilíbrio) e a outras complicações, incluindo problemas cognitivos, problemas de saúde mental, perturbações do sono, dor e problemas sensoriais. 2

A disfunção gastrointestinal constitui também uma caraterística importante da doença, tendo sido observada disbiose intestinal nestes pacientes. Numerosos estudos demonstram que, através do eixo intestino-cérebro, a microbiota intestinal desempenhará um papel importante no risco e na progressão da doença. 3

Porque é que isto importa?

A microbiota intestinal não é apenas responsável pela digestão, desempenha também um papel importante na metabolização dos medicamentos. Algumas bactérias intestinais conseguem degradar os medicamentos antes mesmo de estes chegarem à corrente sanguínea, enquanto outras podem alterar a eficácia do tratamento. Tendo em conta que a entacapona afeta quais as bactérias que prosperam e quais as que têm dificuldades, a sua eficácia pode não ser a mesma para todos os doentes.

Isto significa que duas pessoas que tomam a mesma dose de entacapona podem responder de forma diferente ao medicamento. Uma delas pode ter excelentes resultados, enquanto outra pode apresentar uma menor eficácia do tratamento pelo facto de as suas bactérias intestinais estarem a interferir. A compreensão destas interações é fundamental para o aperfeiçoamento de futuros tratamentos, de modo a assegurar que os medicamentos funcionam conforme o pretendido sem perturbarem a saúde intestinal.

A prevalência da doença duplicou nos últimos 25 anos.

Os homens são mais afetados do que as mulheres. 2

Uma perspetiva de futuro

Posto isto, o que pode ser feito? Os cientistas acreditam que encontrar formas de equilibrar a microbiota pode ajudar os doentes de Parkinson a evitar estes potenciais problemas. Uma possibilidade consistirá em ajustar os níveis de ferro no intestino, eventualmente através de suplementos tomados separadamente da entacapona, para se evitar variações excessivas em bactérias como a E. coli.

Por agora, recomenda-se aos profissionais de saúde que tenham em conta a microbiota intestinal ao prescreverem a entacapona. Há necessidade de mais investigação para se perceber como se pode prevenir a ocorrência de tais alterações, mas este estudo abre a porta a uma abordagem mais personalizada da administração de medicamentos, em que os médicos poderão vir a adequar os tratamentos com base nas bactérias intestinais de cada pessoa.

A microbiota é um mundo vasto e complexo que existe dentro de nós e, à medida que vamos descobrindo mais sobre o seu papel, é possível constatarmos que cuidar da nossa saúde intestinal é tão importante como tratar a própria doença.

Eixo intestino-cérebro: Qual é o papel da microbiota?

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Rinite e asma: qual a participação da micobiota nasal?

Os jovens que sofrem de doenças respiratórias crónicas, como a asma e a rinite, apresentam alterações na micobiota nasal, de acordo com um novo estudo. Esta descoberta - inédita - poderá contribuir para a criação de tratamentos inovadores.

Embora a relação estreita entre as bactérias da microbiota otorrinolaringológica e as doenças respiratórias crónicas esteja atualmente bem documentada, pouco se sabe sobre o papel desempenhado pelos fungos nestas patologias. Há estudos que indicam que as comunidades fúngicas têm um papel na asma, mas poucos se dedicaram especificamente às comunidades presentes nas cavidades nasais. 

Investigadores da Universidade do Porto, em Portugal 1, decidiram aprofundar o assunto comparando as micobiotas nasais de pessoas com rinite alérgica e/ou asma com os de pessoas saudáveis. Para efetuarem esta comparação, recolheram amostras das narinas de 339 crianças e jovens adultos portugueses, repartidos por 4 grupos em função do seu estado de saúde:

  • rinite alérgica (47 pessoas)
  • rinite alérgica + asma (155)
  • asma (12)
  • sem doenças respiratórias – grupo de controlo (125)

Um ambiente fúngico significativamente diferente

Os cientistas determinaram em seguida a composição taxonómica, as interações, a diversidade funcional e as vias metabólicas dos fungos recorrendo a técnicas de sequenciação de última geração.

Resultados: verificou-se que todos os participantes apresentavam 14 géneros diferentes de fungos pertencentes a duas famílias, Ascomycota e Basidiomycota. Foram identificados, entre estes géneros, fungos como Aspergillus, Candida e Penicillium, conhecidos como alergénios ou agentes patogénicos oportunistas. Isto comprova, segundo os pesquisadores, que as cavidades nasais são um importante reservatório de agentes passíveis de causar rinite alérgica ou asma.

Foi igualmente constatado que, nos participantes que sofriam de doenças respiratórias, a micobiota nasal se encontrava significativamente alterada em comparação com o grupo de controlo, com comunidades fúngicas mais ricas e diversificadas. Em contrapartida, as diferenças entre os diferentes grupos de doentes eram mínimas. 

Acresce que as redes de interação fúngica se apresentaram também mais complexas e interligadas, especialmente nos casos de rinite conjuntamente com asma, o que aponta para a influência dos fungos no ambiente imunitário do nariz.

A amamentação retarda a maturação da microbiota nasal e é boa contra a asma

De acordo com um estudo 2 recente realizado com mais de 2000 crianças com idade inferior a um ano, a amamentação exclusiva durante mais de três meses favorece a maturação gradual da microbiota intestinal da criança e a das suas fossas nasais. Pensa-se que esta colonização lenta e gradual das membranas mucosas pelas bactérias protegerá os bebés das infeções respiratórias, reduzindo ainda o risco de asma. Por outro lado, pensa-se que o desmame prematuro propicia a aquisição precoce de certos microrganismos, como a Ruminococcus gnavus, cuja presença se encontra associada a um risco acrescido de asma. 

Objetivos terapêuticos em vista

Um facto interessante é que, na micobiota das pessoas que sofrem tanto de asma como de rinite, houve três vias metabólicas especialmente abundantes. As mesmas são relativas à produção de ribonucleótido 5-aminoimidazol, ou AIR, um intermediário na biossíntese das purinas envolvido no metabolismo energético e na síntese do ADN. De acordo com os investigadores, o AIR poderá constituir futuramente um alvo terapêutico para o diagnóstico e tratamento das doenças respiratórias alérgicas. 
Mas antes de se poder pensar em novas terapias, será necessário efetuar mais investigação para se compreender melhor o papel desempenhado pelos fungos nas inflamações respiratórias. Tal deverá passar pela realização de estudos longitudinais, com várias amostras recolhidas ao longo do tempo, e por uma melhor ponderação das variáveis específicas dos doentes: gravidade da doença, tratamentos, etc. 

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Noticias Otorrinolaringologia Medicina geral

Rinite e asma: e se os fungos do nariz tivessem um papel a desempenhar?

Será que teremos um dia de ir à procura de fungos na microbiota do nariz para detetarmos e tratarmos a rinite alérgica ou a asma? É perfeitamente possível. Um estudo 1 acaba de mostrar que essas duas doenças respiratórias crónicas estão associadas a “micobiotas” muito específicas.

A microbiota ORL A microbiota pulmonar Problemas respiratórios

Formigueiro nasal, espirros, corrimento nasal e conjuntivite na rinite alérgica. Falta de ar, pieira, tosse e aperto no peito na asma.

Talvez já conheça estes sintomas caraterísticos das doenças respiratórias crónicas? Se sim, saiba que as populações de fungos microscópicos (a famosa “micobiota”) que se encontram no nariz das pessoas saudáveis são provavelmente muito diferentes das dos nossos familiares que sofrem destas doenças. Tal diferença poderá ser uma excelente notícia e proporcionar a esperança de um melhor diagnóstico e do desenvolvimento de novos tratamentos!

400 a 500 milhões de pessoas são afetadas pela rinite alérgica em todo o mundo ² ³

262 milhões de pessoas sofriam de asma em 2019 ⁴

Um mergulho no mundo misterioso dos fungos do nariz

Já se sabe há muito que uma disbiose da microbiota, nomeadamente da microbiota otorrinolaringológica (ouvidos, nariz e garganta), desempenha um papel na ocorrência e na progressão de doenças respiratórias, como a rinite alérgica – "febre dos fenos" – e a asma. A componente bacteriana da mesma tem sido alvo de inúmeros estudos. Mas e quanto à componente fúngica, aos fungos que também fazem parte da microbiota?

Para responder a esta questão, a equipa liderada pelo Dr. Luís Delgado, imunologista da Universidade do Porto (Portugal), recrutou 339 crianças e jovens adultos, 125 dos quais saudáveis e 214 que sofriam de rinite, de asma ou de ambas. Em seguida, os cientistas recolheram amostras da microbiota nasal de todos os participantes para analisarem especificamente a natureza e a organização das comunidades fúngicas.

Problemas respiratórios

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Em primeiro lugar, os resultados demonstram que a micobiota dos participantes que sofriam de doenças respiratórias é muito diferente e, em especial, mais rica e diversificada do que a das pessoas saudáveis.

Entre os géneros comuns a todos os participantes, doentes ou não, os investigadores encontraram determinados fungos conhecidos por serem agentes patogénicos oportunistas: Aspergillus, Candida e outros... Para os investigadores, isto poderá ser a prova de que as fossas nasais constituem igualmente um reservatório de fungos potencialmente nocivos que promovem a rinite ou a asma, tal como acontece com as bactérias.

455.000 pessoas morreram devido à asma em 2019 ⁴

70% das crianças cujos pais sofrem de rinite alérgica também padecem da mesma ⁵

1 pessoa em cada 4 é afetada pela rinite alérgica nos países desenvolvidos ⁶ (em França, 4 vezes mais do que há 30 anos) ⁵

Opções de tratamento em perspetiva

Nas pessoas afetadas tanto pela rinite como pela asma e, por conseguinte, particularmente sujeitas à inflamação, as redes fúngicas revelaram-se mais interligadas do que as dos participantes que sofriam apenas de rinite ou que não tinham problemas de saúde, o que indica que os fungos são muito provavelmente sensíveis ao ao estado imunitário.

Rinite alérgica e asma, duas doenças relacionadas

  • A asma é mais frequente em pessoas com outras doenças alérgicas, como a rinite ou o eczema. 7
  • Três quartos dos asmáticos também sofrem de rinite alérgica. 8

Embora este trabalho ajudou a equipa do Dr. Delgado a identificar potenciais alvos para futuras ferramentas de diagnóstico ou de tratamento, há uma questão crucial que persiste: a presença de uma população específica de fungos é resultante da inflamação da mucosa nasal ou é a sua causa? Para responder a esta questão, serão necessários outros estudos mais exaustivos e que tomem mais em consideração o perfil dos doentes. Não obstante, este trabalho inicial constitui um passo decisivo na direção certa.

The ENT microbiota

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Endometriose: a dieta e a microbiota influenciam a doença

Um modelo de ratinho evidencia uma ligação entre a alimentação, a saúde intestinal e a endometriose: a dieta ocidental duplica a dimensão das lesões, modifica o metabolismo e a imunidade e altera a microbiota intestinal dos roedores.

“Que a tua alimentação seja o teu primeiro remédio”: este adágio, frequentemente atribuído a Hipócrates, poderá também aplicar-se às doentes com endometriose, que representam 10% das mulheres em idade fértil.

De facto, uma dieta menos inflamatória (rica em frutas e legumes, parca em gorduras, etc.) é preconizada por alguns para a redução das dores associadas à endometriose. Pelo contrário, será que uma dieta ocidental, pobre em fibras e rica em gorduras, é suscetível de agravar a doença? Sim, revela uma equipa de investigadores 1 que utilizou um modelo de rato.

10% 10% A endometriose afeta cerca de 10% das mulheres e raparigas em idade fértil em todo o mundo, ou seja, 190 milhões de pessoas. ²

Lesões duas vezes maiores

Ratinhos jovens com 8 semanas de idade foram alimentados ao longo de 4 semanas com uma dieta de controlo (17% de gordura) ou com uma dieta que imitava a dieta ocidental (45% de gordura, baixo teor em fibras). Foi-lhes induzida cirurgicamente endometriose e o desenvolvimento das lesões foi monitorizado por ultrassons durante 7 semanas antes de os ratinhos serem sacrificados para análise das lesões.

Resultado? Os ratinhos que receberam a dieta ocidental desenvolveram lesões duas vezes maiores do que as dos pertencentes ao grupo de controlo. Além disso, essas lesões apresentaram mais fibrose e proliferação celular. 

Alterações metabólicas e imunitárias

Paralelamente, observaram-se alterações metabólicas e imunitárias. Assim, a dieta ocidental:

  • exacerba a atividade dos macrófagos nas lesões; 
  • ativa a via da leptina, associada à migração e invasão celular e conhecida pela sua influência no metabolismo da glicose; e 
  • aumenta a oxidação da glicose, que contribui para o agravamento das lesões.

Daí a hipótese “metabólica” dos autores de que a endometriose alterará a função de barreira intestinal, permitindo a transferência de metabolitos bacterianos tóxicos para a circulação. Isto provocará uma inflamação de grau reduzido e gerará um círculo vicioso: a leptina poderá estimular a invasão das células endometriais, a sua implantação e o seu crescimento, alimentado por um aumento do metabolismo da glicose.

Depleção de A. muciniphila

O estudo da microbiota intestinal dos ratinhos revela igualmente que a indução da endometriose modifica a composição dessa microbiota, independentemente da composição da dieta.

Nos ratinhos submetidos a dieta ocidental, a indução de endometriose reduziu ou até eliminou a população de Akkermansia muciniphila, frequentemente considerada como anti-inflamatória. É possível que esta depleção esteja associada ao aumento da atividade dos macrófagos observada nas lesões.

Naturalmente, estes resultados iniciais são limitados ao ratinho. É essencial a continuação de uma investigação aprofundada para se esclarecer a complexa interação entre a microbiota intestinal e a endometriose, estabelecer dietas ideais para as pacientes com endometriose e avaliar os efeitos de uma alimentação mais saudável.

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Artigo Gastroenterologia

Alimentação e endometriose: quando é que a microbiota intestinal intervém?

E se uma dieta com demasiadas gorduras e falta de fibras agravasse a endometriose? É o que aponta um estudo recente realizado em ratinhos, que indica igualmente a existência de um efeito de proteção da bactéria intestinal A. muciniphila. 1

A microbiota intestinal A microbiota vaginal Saúde feminina Dieta: Impacto na Microbiota Intestinal

A endometriose ocorre quando tecido semelhante ao que reveste o útero - e que é eliminado durante a menstruação - começa a colonizar locais onde não deveria estar (como os ovários, o peritoneu, etc.). Resultado: dores, menstruações complicadas, problemas digestivos e, eventualmente, infertilidade. Cerca de 10% das mulheres em idade fértil são afetadas.

Já se sabe que a alimentação pode desempenhar um papel na inflamação: uma dieta equilibrada parece ajudar a reduzir a dor. Uma equipa de investigadores decidiu averiguar os resultados do seu oposto: uma dieta tipicamente ocidental, rica em gorduras e pobre em fibras. Para isso, utilizaram cobaias... ou melhor, ratinhos.

10% A endometriose afeta cerca de 10% das mulheres e raparigas em idade fértil em todo o mundo, ou seja, 190 milhões de pessoas. ²

Dieta ocidental = lesões 2 vezes maiores

Durante 4 semanas, os ratinhos foram alimentados com uma dieta “normal” para roedores (17% de gorduras) ou com uma dieta do tipo “fast-food” (45% de gorduras, baixo teor em fibra). Seguidamente, foi induzida cirurgicamente endometriose e a evolução das lesões foi acompanhada durante 7 semanas. Veredicto? Os ratinhos que receberam a dieta ocidental desenvolveram lesões duas vezes maiores do que as dos outros. E não apenas maiores: também mais fibrosas e cheios de células em processo de proliferação máxima.

Metabolismo e imunidade: quando as situações ficam fora de controlo

Porquê tal efeito? A dieta de fast food parece perturbar o metabolismo e a imunidade:

  • reforça a atividade dos macrófagos (células imunitárias que, neste caso, parecem funcionar mais como pirómanos do que como bombeiros);
  • ativa a leptina, uma hormona que intervém no crescimento das lesões e no metabolismo da glicose;
  • acelera a oxidação da glicose, combustível das lesões.

E a microbiota no meio disto tudo?

O estudo revela igualmente que a endometriose altera a flora intestinal dos ratinhos, independentemente da sua alimentação. Mas nos ratinhos submetidos a dieta ocidental, uma bactéria em particular, a Akkermansia muciniphila, conhecida pelos seus efeitos anti-inflamatórios, desapareceu parcialmente quando foi induzida a endometriose. Isto parece indicar que a doença desequilibrará a microbiota intestinal ao eliminar as bactérias protetoras.

E agora?

Estes resultados são ainda preliminares, uma vez que foram obtidos em ratinhos e não em seres humanos. Mas eles confirmam várias coisas: A dieta tem um impacto determinante na endometriose, e uma alimentação mais saudável pode atenuar a dor e a progressão da doença. A microbiota intestinal desempenha igualmente um papel fundamental na fisiopatologia da endometriose, e certas bactérias, como a Akkermansia muciniphila, poderão ter um efeito protetor.

Esta descoberta abre caminho para novas abordagens terapêuticas baseadas na modulação da microbiota. Então, sem dizer definitivamente adeus às batatas fritas, que tal adicionar alguns legumes às suas refeições para fazer uns mimos às suas melhores bactérias?

Endometriose e microbiota: existe uma ligação?

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Microbiota intestinal e distúrbios do sono: rumo a uma abordagem terapêutica baseada na modulação microbiana?

Investigações mostram que a microbiota intestinal influencia o sono ao modular a produção de butirato, um metabolito que afeta a atividade neuronal no hipotálamo. Será que esta descoberta abrirá caminhos para os tratamentos baseados no equilíbrio bacteriano?

O ditado "quem dorme janta" não está errado ao insinuar uma ligação entre o sistema digestivo e o cérebro: de facto, parece haver uma relação bidirecional entre o sono e a microbiota, envolvendo o eixo intestino-cérebro. Por quais mecanismos a microbiota intestinal afeta o sono? Uma equipa de investigadores tentou responder a esta pergunta. 1 

O papel da microbiota e do butirato nos ratos

Primeira etapa: os investigadores estudaram o sono de ratinhos cuja microbiota intestinal não continha agentes patogénicos e de ratos que não tinham microbiota intestinal.

Resultado: a ausência de microbiota intestinal altera a arquitetura do ciclo sono-vigília durante as fases de luz e escuridão. Por outro lado, os autores já tinham demonstrado que a privação de sono estava associada a uma redução dos níveis de butirato (fecal e hipotalâmico) em ratos cuja microbiota não tinha agentes patogénicos, mas não nos ratos sem microbiota.

Próxima etapa: os investigadores demonstraram que o butirato produzido pelas bactérias intestinais pode modular a função neuronal e promover o sono dos roedores. Como? Ao inibir a atividade neuronal da (sidenote: Orexina Neurotransmissor que regula uma grande variedade de funções biológicas, incluindo o ciclo sono-vigília, o processamento da recompensa e do stress, o estado de alerta e o funcionamento cognitivo. As alterações dos níveis centrais e periféricos de orexina estão associadas a patologias como a narcolepsia, a anorexia nervosa, o declínio cognitivo relacionado com a idade e as doenças neurodegenerativas Aprofundar: Toor B, Ray LB, Pozzobon A et al. Sleep, Orexin and Cognition. Front Neurol Neu… )  na região hipotalâmica lateral em ratos.

40% A insónia é frequentemente uma doença crónica, com uma taxa de persistência de 40% num período de 5 anos. ²

10-20% Cerca de 10% da população adulta sofre de um distúrbio do sono e outros 20% apresentam sintomas ocasionais de insónia. ²

Insónia As mulheres, os idosos e as pessoas em situações socioeconómicas precárias são mais vulneráveis à insónia. ²

Resultados confirmados em humanos

Uma vez que a ausência de microbiota intestinal pode influenciar o comportamento do sono através de uma via metabólica, faltava confirmar que os pacientes com insónia possuem uma disbiose intestinal e alterações no metabolismo microbiano do butirato. Isto foi obtido numa nova fase do estudo, através de amostras de fezes de pacientes com insónia e de pacientes saudáveis: observou-se uma (sidenote: Diversidade alfa Número de espécies coexistentes num determinado meio )  mais baixa e uma redução significativa de 39 bactérias produtoras de butirato nos insones. Isto explica os níveis mais baixos de butirato no soro nos indivíduos que dormem mal.

Transplante de flora... e de sono

Por fim, numa tentativa de demonstrar uma relação de causa e efeito, a flora digestiva de um paciente com insónia foi transplantada em ratinhos sem flora. Este transplante reduz o butirato sanguíneo, ativa os neurónios do hipotálamo lateral e, por sua vez, torna os roedores insones. A administração oral de butirato de sódio melhorou o sono destes roedores. 

Este trabalho mostra um papel causal do eixo microbiota intestinal-cérebro na modulação do sono. O envolvimento das vias metabólicas microbianas na qualidade do sono sugere potenciais estratégias terapêuticas - através de probióticos ou butirato - para o tratamento de distúrbios como a insónia.

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Noticias Gastroenterologia

O segredo de uma boa noite de sono está nos seus intestinos!

E se a chave para um sono reparador estivesse escondida nos nossos intestinos? Para ter uma boa noite de sono, já não basta contar carneirinhos, deve-se também vigiar as nossas bactérias intestinais para garantir que temos a microbiota certa para uma boa noite de sono.

A microbiota intestinal Probióticos

O ditado "quem dorme janta" não é tão louco quanto parece. A sua barriga parece ter algo a dizer sobre o seu sono... Como? Através da microbiota intestinal, este famoso conjunto de bactérias que reside nos nossos intestinos. E para o provar, os investigadores realizaram uma série de experiências surpreendentes. 1

3 a 5 Uma boa noite de sono consiste em pelo menos 3 a 5 ciclos de sono de 90 minutos. ²

10-20% Cerca de 10% da população adulta sofre de um distúrbio do sono e outros 20% apresentam sintomas ocasionais de insónia. ³

40% A insónia é frequentemente uma doença crónica, com uma taxa de persistência de 40% num período de 5 anos. ³

Sem microbiota, os ratos não dormem bem

Em primeiro lugar, estes cientistas analisaram ratinhos: alguns tinham uma microbiota intestinal "saudável" outros não tinham nenhuma microbiota intestinal (intestino estéril). O resultado? Os ratos sem microbiota tinham um padrão de sono completamente diferente. O ciclo dia-noite foi interrompido, como se se tivessem esquecido de ajustar o seu relógio biológico interno. Mas o que esta microbiota faz exatamente no nosso sono?

Bem, é aí que entra um metabolito, o butirato, produzido pelas nossas bactérias intestinais. Este pequeno "mensageiro" químico parece ter um impacto direto no nosso cérebro e, em particular, numa zona essencial para o sono: o hipotálamo lateral, que gere a nossa vigilância. O butirato favorece o sono modificando a atividade de certos neurónios.

Eixo intestino-cérebro: Qual é o papel da microbiota?

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E quanto aos homens?

Para ir mais longe, os investigadores quiseram verificar se os seres humanos que sofrem de insónias tinham uma flora intestinal diferente da dos que dormiam bem. O veredito: as pessoas com insónias têm um desequilíbrio da sua microbiota e, em particular, uma redução das bactérias que produzem butirato. Resultado: menos butirato, menos sono reparador. A observação em ratos foi, portanto, confirmada no ser humano.

Mas a história não termina aqui. Os investigadores chegaram até a transplantar a flora intestinal de uma pessoa com insónias nos ratinhos. E adivinha o que aconteceu? Estes ratos desenvolveram distúrbios do sono semelhantes aos dos humanos com insónias. Felizmente, a administração de butirato de sódio a estes ratinhos foi suficiente para fazer com que dormissem de novo.

Tudo isto abre caminho para novas vias terapêuticas para as pessoas que sofrem de insónia. Talvez um dia, para além de um bom chá de ervas, seja-nos receitado um curso de probióticos para nos ajudar a dormir. Em todo o caso, uma coisa é certa: parece que, se quiser dormir bem, terá de mimar também a sua microbiota!

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Diversidade ou função: O que define uma microbiota saudável

Dentro de nós existe uma comunidade microbiana complexa, o microbioma intestinal, que exerce um grande impacto na nossa saúde. É um lugar onde ocorrem processos metabólicos essenciais influenciados pela alimentação, idade e ambiente. O foco não é apenas a variedade de micróbios, mas as funções essenciais que desempenham juntos. Considerando que um estado saudável é um equilíbrio dinâmico entre nós e estes micróbios, o que define um microbioma saudável?

Encontramo-nos numa era de exploração sem precedentes do mundo microscópico que existe dentro de nós: o microbioma intestinal. Uma recente e meticulosa análise científica 1 ançou luz sobre este complexo ecossistema, revelando as maravilhas e os mistérios das nossas comunidades microbianas internas.

Este artigo desafia a visão simplista da "disbiose", salientando que este termo, frequentemente utilizado para descrever um intestino desequilibrado, carece da precisão necessária para uma compreensão correta.

Coloca também uma questão fundamental: o que constitui verdadeiramente um microbioma "saudável"?

O que define um microbioma saudável?

A definição de um microbioma intestinal "saudável" é complexa, e vai além da simples ausência de doença.

Envolve a avaliação da estrutura, função e composição microbiana do intestino. Embora se pensasse que uma elevada diversidade de espécies microbianas fosse o principal marcador de um intestino saudável, agora entende-se que a (sidenote: Diversidade funcional Descreve a gama de atividades metabólicas realizadas pela microbiota intestinal. Trata-se de um indicador mais importante da saúde intestinal do que a simples diversidade taxonómica, pois diferentes composições microbianas podem desempenhar funções metabólicas semelhantes. A avaliação da diversidade funcional pode fornecer uma previsão mais exata dos estados fisiológicos do que apenas a diversidade composicional. ) , ta gama de atividades metabólicas que o microbioma realiza, é mais importante. Isto significa que diferentes composições microbianas podem desempenhar funções metabólicas semelhantes.

  • (sidenote: Especificidade da estirpe Este facto evidencia que diferentes estirpes da mesma espécie bacteriana podem ter efeitos muito diferentes no hospedeiro. Por exemplo, algumas estirpes de E. coli são patogénicas, enquanto outras, como a E. coli Nissle 1917, são benéficas. A compreensão dos efeitos específicos de cada estirpe é essencial para o desenvolvimento de terapias direcionadas e para a interpretação da investigação sobre o microbioma intestinal. )  também é vital: Diferentes estirpes da mesma espécie podem ter efeitos muito diferentes. Por exemplo, algumas estirpes de E. coli são patogénicas, enquanto outras, como a E. coli Nissle 1917, são benéficas.

  • Metabolitos como  (sidenote: Ácidos Gordos de Cadeia Curta (AGCC) Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (carburante) das células do indivíduo, interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25. ) , ácidos biliares (BAs) e metabolitos de triptofano são indicadores-chave de um microbioma funcional. Os AGCCs, como o butirato, são essenciais para a energia dos colonócitos e para a modulação imunitária.

  • Os BAs, produzidos no fígado e modificados pelas bactérias intestinais, são cruciais para a digestão e sinalização das gorduras e a ação antimicrobiana.

  • Outros indicadores incluem a produção de gás (hidrogénio, metano, sulfureto de hidrogénio), o pH intestinal e marcadores inflamatórios (calprotectina, lactoferrina).

  • Por fim, a (sidenote: Resiliência Trata-se da capacidade que a microbiota intestinal possui de manter uma composição estável ao longo do tempo e de resistir a distúrbios como os antibióticos ou as mudanças alimentares. Uma microbiota resiliente pode recuperar-se rapidamente de perturbações, reduzindo o risco de problemas de saúde a longo prazo. ) , ou a capacidade que a microbiota intestinal possui de resistir a distúrbios, é um marcador crucial de um intestino saudável.

A camada de muco é também um componente essencial para um intestino saudável.

Esta camada, composta principalmente por água, eletrólitos, lípidos e mucinas, atua como uma barreira física, impedindo que as bactérias entrem em contacto direto com as células epiteliais intestinais.

Um intestino saudável é caracterizado por uma espessura de muco adequada que não é facilmente penetrável pelas bactérias. A renovação da (sidenote: Camada de muco Trata-se de uma barreira complexa e dinâmica que reveste o intestino, composta principalmente por água, eletrólitos, lípidos e mucinas. Separa fisicamente as bactérias do epitélio intestinal, impedindo o contacto direto e mantendo a integridade da barreira intestinal. A espessura e a renovação da camada de muco são cruciais para um intestino saudável. ) , que envolve a síntese, a secreção e a degradação, é um processo finamente ajustado, crucial para manter uma função de barreira adequada.

Fatores como os prebióticos, tais como os fruto-oligossacáridos (FOS) e a 2′-fucosilactose (2′FL), podem influenciar a produção, a composição e a degradação do muco, melhorando a integridade da barreira intestinal e contribuindo para a proteção contra distúrbios metabólicos.

A perturbação da camada de muco, como acontece com alguns emulsionantes alimentares, pode levar a um aumento da permeabilidade intestinal e da inflamação.

90-95% O muco é constituído predominantemente por vários componentes, incluindo 90-95% de água, eletrólitos, lípidos (1-2%), proteínas e outras substâncias. ¹

45% aproximadamente 45% das espécies bacterianas são semelhantes entre dois indivíduos. A sua microbiota partilha 82% de vias metabólicas comuns. ¹

O eixo intestino-fígado: uma via de sentido duplo

O intestino e o fígado interagem estreitamente através do eixo bidirecional intestino-fígado. O fígado, como local primário de desintoxicação e regulação metabólica, processa e neutraliza uma variedade de toxinas ambientais, medicamentos e subprodutos metabólicos provenientes do intestino.

O fígado produz BAs que são essenciais para a digestão de gorduras e também influenciam a composição e a função do microbioma intestinal. As bactérias intestinais metabolizam os BAs primários em BAs secundários, que têm diferentes funções, e algumas estão, inclusive, associadas à longevidade.

Embora o fígado esteja exposto a antigénios bacterianos derivados do intestino, normalmente não produz citocinas pró-inflamatórias. No entanto, os fígados saudáveis produzem moléculas anti-inflamatórias, como o antagonista do recetor da IL-1 (IL-1Ra), para atenuar a inflamação, bem como macrófagos imunossupressores específicos, que dependem da microbiota intestinal para controlar inflamações excessivas.

Fatores que moldam o ecossistema microbiano

O microbioma intestinal é dinâmico, influenciado pela idade, pelo modo de parto, pela alimentação e pelo estilo de vida.

  • A idade e o modo de parto no momento do nascimento são críticos. Os bebés nascidos por via vaginal tendem a ter uma microbiota intestinal mais diversificada e equilibrada, tal como os bebés amamentados, que têm uma maior presença de bactérias benéficas como a Bifidobacterium spp

  • A alimentação é fundamental. As fibras alimentares, os prebióticos, os polifenóis e os oligossacáridos do leite humano (HMO) promovem os micróbios benéficos. Em contrapartida, as gorduras saturadas, os adoçantes artificiais e os emulsionantes podem perturbar o equilíbrio microbiano e prejudicar a função de barreira intestinal.

  • Os emulsionantes comuns, como a carboximetilcelulose (CMC) e o polissorbato 80 (P80), perturbam a camada protetora de muco do intestino, levando a um aumento da permeabilidade intestinal e a inflamações.

  • Os lípidos bioativos exercem também um papel crucial e bidirecional. Os lípidos do hospedeiro influenciam a microbiota intestinal e os micróbios intestinais produzem lípidos (por exemplo, AGCCs, BAs secundários e outras moléculas de sinalização) que exercem um impacto na regulação imunitária e na saúde metabólica.

Um microbioma intestinal saudável: mais do que apenas bactérias

Os desafios na definição de um microbioma intestinal "saudável" universalmente aceite tornam-se cada vez mais claros. A imensa variabilidade individual do microbioma intestinal, influenciada pela genética, alimentação, ambiente e estilo de vida, bem como a sua natureza dinâmica, dificulta o estabelecimento de normas universais.

A interação entre a microbiota intestinal, o sistema imunitário e os processos metabólicos representa um desafio multifacetado. Os estudos longitudinais são essenciais para compreender plenamente as alterações dinâmicas do microbioma intestinal e os impactos que exercem a longo prazo na saúde. Esta área complexa de investigação exige uma abordagem multidisciplinar, integrando a microbiologia, a genómica, a bioinformática, a investigação clínica e a medicina personalizada.  

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