A terapia antibiótica profilática no peri-parto diminui os níveis de bifidobacterium no leite materno

A antibioterapia preventiva no peri-parto altera a composição bacteriana do leite materno. Os níveis de Bifidobacterium, bactérias benéficas para o desenvolvimento de recém-nascidos, são significativamente reduzidos nos primeiros dias após o parto.

A microbiota intestinal Microbiota, amamentação e puberdade precoce Transplantes fecais para restaurar a microbiota dos bebés nascidos por cesariana? Microbiota dos recém-nascidos: a amamentação conta
Actu PRO : Une antibiothérapie prophylactique péri-partum appauvrit le lait maternel en Bifidobacterium

A antibioterapia profilática é necessária para reduzir os riscos de infeção peri-parto, que são a causa de 10% das mortes maternas e estão associadas à morte de quase 1 milhão de recém-nascidos por ano, segundo a (sidenote: WHO recommendations for prevention and treatment of maternal peripartum infections- 2015 ) . No entanto, estes tratamentos estão associados a eventos adversos, incluindo alterações na microbiota materna que provavelmente irão afetar a colonização precoce da criança. Isto levou uma equipa brasileira a estudar as alterações nas populações bacterianas do leite materno, concentrando-se nas bactérias do género Bifidobacterium. Os principais representantes deste género (B. breve, B. adolescentis, B. bifidum, B. longum, e B. dentium no leite materno) são conhecidos pelos seus benefícios para o homem, principalmente pela produção de ácidos gordos de cadeia curta.

Diminuição significativa em Bifidobacterium ao 7º dia

Os investigadores compararam amostras de leite de 55 mulheres que deram à luz por parto vaginal: 21 foram tratadas preventivamente com antibióticos de largo espetro (cefazolina, penicilina ou clindamicina) e 34 mulheres não foram tratadas. Foram determinadas a concentração bacteriana total, bem como a contagem detalhada de Bifidobacterium, por qPCR em amostras colhidas nos dias 7±3 e 30±4. Os resultados não apresentaram diferenças significativas relativamente ao número total de bactérias entre os grupos de estudo. Uma explicação para este achado poderá ser a recolonização por bactérias resistentes aos antibióticos usados no estudo. Pelo contrário, foi observada uma diminuição significativa dos níveis de Bifidobacterium no leite de mulheres tratadas profilaticamente. Esta disbiose encontra-se no seu auge no dia 7±3, mas volta ao normal com o passar do tempo e é impercetível passado um mês.

Aclamados como um dos maiores avanços médicos do século XX, os antibióticos têm salvo milhões de vidas. Mas também têm impacto na nossa microbiota ao induzirem uma disbiose. Analisemos este seu papel ambivalente.

O papel ambivalente dos antibióticos

Ao destruírem as bactérias responsáveis pelas infeções, também têm impacto na m…

Melhoria gradual da disbiose: hipóteses

Os investigadores sugerem uma provável recolonização da microbiota intestinal, através da via entero-mamária endógena com envolvimento de células dendríticas maternas capazes de capturar bactérias comensais no lúmen. Outra hipótese: os oligossacarídeos presentes no leite materno podem servir como substrato e promover o crescimento de Bifidobacterium. Tudo o que podemos dizer com certeza é que, se a mãe está a amamentar, a antibioterapia profilática peri-parto reduz o aporte de bactérias benéficas à criança. Esta observação inicial exige que detalhemos o impacto desse déficit temporário no desenvolvimento da microbiota intestinal do recém-nascido e de funções corelacionadas, especialmente funções imunológicas e inflamatórias.

O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência aos antimicrobianos a nível global. 

Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizarem cuidadosamente os antimicrobianos, a fim de evitar o surgimento de uma maior resistência aos antimicrobianos.

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Colite ulcerosa: um protocolo de transplante fecal inovador

A preservação de bactérias anaeróbias em transplantes fecais pode conduzir a um tratamento menos intensivo, mas tão eficiente quanto os métodos standard em doentes com colite ulcerosa (CU).

A microbiota intestinal Microbiota intestinal: ainda não é "adulto" aos 5 anos? O papel dos antibióticos e da microbiota na doença de parkinson
Photo : Ulcerative colitis: an innovative fecal transplant protocol

Embora o envolvimento da microbiota intestinal em doenças inflamatórias intestinais crónicas (Crohn e colite ulcerosa) tenha sido comprovado, o Transplante de Microbiota Fecal (do termo em inglês FMT) ainda está sob investigação. Parece haver um donor effect significativo: quanto mais diversa for a microbiota transplantada, melhores serão os resultados. Neste contexto, um grupo de investigadores australianos desenvolveu uma técnica inovadora.

Microrganismos anaeróbios preservados, protocolo simplificado

Os cientistas levantaram a hipótese de que os microrganismos anaeróbios poderiam estar envolvidos no efeito terapêutico dos transplantes fecais para o tratamento da CU. Assim, desenvolveram uma técnica de preparação que preserva estas espécies, que são destruídas em grande escala por métodos standard levados a cabo na presença de oxigénio. O protocolo de administração foi menos intensivo do que o utilizado anteriormente: uma dose (de uma mistura de vários dadores) recebida por colonoscopia, seguida de duas doses administradas por enema num período de 7 dias, em comparação com uma colonoscopia e cinco enemas por semana durante 8 semanas num estudo de referência*.

Protocolo eficaz relativo à dependência de corticosteroides

Setenta e três doentes com CU leve a moderada foram incluídos neste estudo. Para além do seu tratamento de base, os participantes receberam prednisolona (dose < 25 mg/dia). O desmame completo de corticosteroides foi o primeiro endpoint na semana 8, aquando da realização de uma nova colonoscopia, bem como de um exame clínico. No grupo que recebeu TMF de dadores (TMFd), a taxa de remissão foi de 32%, em comparação com 9% do grupo controlo que recebeu TMF autóloga (TMFa). A redução média na pontuação geral de Mayo** foi de 3,5 pontos no grupo TMFd (4 doentes tiveram uma pontuação de Mayo de 0), versus 1,2 pontos no grupo TMFa. É de referir que a maior abundância de espécies anaeróbias (Anaerofilum pentosovorans e Bacteroides coprophilus) esteve fortemente associada a uma melhoria da doença no grupo TMFd. Este estudo confirma os benefícios da TMF no tratamento da CU e conclui que o método de preparação anaeróbia poderia otimizar o protocolo terapêutico e melhorar a vida dos doentes, mantendo a eficácia.

* Paramsothy et al., Multidonor intensive faecal microbiota transplantation for active ulcerative colitis: a randomised placebo-controlled trial.Lancet 2017

**https://www.igibdscores.it/en/info-mayo-full.html

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Lesões na espinal medula e distúrbios colorretais: impacto da microbiota intestinal

De acordo com um estudo chinês, distúrbios gastrointestinais funcionais que afetam doentes com uma lesão medular crónica induzida por trauma pode estar relacionada com perturbações da microbiota intestinal e correlacionados com biomarcadores séricos.

A microbiota intestinal Insuficiência renal: impacto da microbiota intestinal Microbiota intestinal característica na doença renal crônica Transplante renal: a disbiose pré-operatória é um fator de risco para diabetes?
Photo : Spinal cord injuries and colorectal disorders: impact of the gut microbiota

Os distúrbios colorretais causados por lesões crónicas da espinal medula podem ter um impacto significativo na qualidade de vida de muitos doentes paraplégicos e tetraplégicos. As perturbações do sistema nervoso autónomo podem levar a distúrbios gastrointestinais (desconforto, inchaço, flatulência), a uma combinação de obstipação crónica e incontinência fecal, e requerem laxantes ou técnicas que incentivem os movimentos intestinais com ou sem assistência. Em alguns doentes, as perturbações são tão graves que a vontade de melhorar desse distúrbio gastrointestinal neurológico excede a do tratamento da incontinência urinária ou das disfunções sexuais, ou mesmo a perda da capacidade de andar.

Perfis bacterianos associados à incapacidade

Uma equipa chinesa analisou as fezes de 43 homens com lesões traumáticas crónicas na espinal medula (23 paraplégicos e 20 tetraplégicos) e 23 homens saudáveis. A microbiota intestinal dos indivíduos com deficiência foi diferente da dos indivíduos do grupo controlo. Foi menos diversificada e continha níveis mais altos de Bacteroides, Blautia, Lachnoclostridium e Escherichia-Shigella, entre outros. Além disso, foram observadas alterações nos perfis bacterianos de doentes paraplégicos (superabundância de Acidaminococcaceae, Blautia, Porphyromonadaceae e Lachnoclostridium) e tetraplégicos (superabundância de Bacteroidaceae e Bacteroide) em comparação com os indivíduos do grupo controlo. Níveis reduzidos de Alistipes também parecem estar associados a tempos prolongados de defecação em doentes tetraplégicos.

Os níveis de lipídios e glicose no sangue são afetados

Para concluir as observações, os investigadores estudaram correlações entre estas alterações nas populações bacterianas e alguns fatores ambientais como a idade, o IMC e vários marcadores séricos (PCR, glicose, enzimas hepáticas, lipídios no sangue, uremia e ácido úrico, creatinina, etc.). Bactérias do género Bacteroides, mais abundantes em doentes tetraplégicos, foram associadas a baixos níveis de HDL, provavelmente por falta de atividade física. Pelo contrário, bactérias do género Dialister, que são mais abundantes em indivíduos saudáveis, foram negativamente associadas a lipídios no sangue (LDL, triglicerídeos e colesterol total). Altas concentrações sanguíneas destes fatores podem, portanto, ser um sinal de agravamento dos distúrbios colorretais. Megamonas foram associadas a glicemia reduzida, mas também a um maior tempo de defecação e aumento do enfartamento, provavelmente devido à fermentação de carboidratos não digeridos pelas mesmas bactérias no cólon. Um baixo nível de Prevotella também foi relacionado com a redução da glicemia (portanto, um papel benéfico), mesmo que outros estudos tenham demonstrado efeitos pró-inflamatórios. Os resultados necessitam de ser completados por outras ferramentas analíticas (análise mais detalhada das comunidades bacterianas, ensaio de serotonina), através da inclusão de mulheres em coortes, e estudando o impacto da própria imobilidade, que também pode gerar disbioses.

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Estará o viroma e o micobioma envolvidos no cancro colorretal?

Estudos recentes exploraram pela primeira vez os componentes fúngicos e virais da disbiose intestinal em doentes com cancro colorretal. Poderão surgir novas vias de diagnóstico e terapêutica a partir dos resultados.

A microbiota intestinal Assinatura mutacional da e. Coli no cancro colorretal Cancro colorretal: da disbiose à alteração no ADN Antibióticos e microbiota intestinal: quais são os impactos a longo prazo?
Actu PRO : Cancer colorectal : un rôle pour le virome et le mycobiome ?

A investigação no cancro colorretal (CCR) foca-se principalmente em populações bacterianas, mas tem sido gradualmente ampliada de forma a incluir outros microrganismos (fungos e vírus). Um estudo realizado por uma equipa de Hong Kong focou-se nas especificidades do micobioma em doentes com cancro colorretal. A análise das fezes de 73 doentes e 92 voluntários saudáveis revelou uma assinatura fúngica em doentes com CCR: a proporção Basidiomycota: Ascomycota estava aumentada (os dois filos mais abundantes no micobioma humano), embora a abundância e a diversidade fúngicas se mantenham inalteradas.

Leveduras oportunistas e protetoras

Mais especificamente, 6 géneros de fungos foram mais abundantes nas fezes de doentes com CCR e, entre eles, alguns patógenos oportunistas como Acremonium (Ascomycota) e Rhodotorula (Basidiomycota). O mesmo foi observado para a levedura Malassezia (Basidiomycota), que geralmente é encontrada na pele e está envolvida na dermatite atópica, entre outras doenças. Poderia, portanto, ser capaz de colonizar os intestinos através de um mecanismo semelhante ao usado por Candida albicans (Ascomycota). Algumas espécies de Aspergillus foram também mais abundantes em doentes com CCR, em particular A. flavus, que produz aflatoxina e é potencialmente carcinogénica. Pelo contrário, os níveis da levedura Saccharomyces cerevisiae, conhecida por colonizar a microbiota intestinal e possuir outras propriedades anti-inflamatórias e reguladoras do sistema imunológico, eram reduzidos em doentes com CCR. Segundo os autores, isto poderia constituir uma potencial abordagem terapêutica. Estas disbioses fúngicas foram validadas pela mesma equipa em duas outras coortes e poderiam ser usadas como biomarcadores de diagnóstico.

Um papel indireto para os bacteriófagos?

Um outro estudo refere que investigadores norte-americanos analisaram as fezes de 30 doentes com carcinoma, 30 doentes com adenoma e 30 indivíduos saudáveis. Observaram que a diversidade e abundância viral não estavam alteradas em doentes com carcinoma/adenoma e esclareceram o papel de certos bacteriófagos (das famílias Siphoviridae e Myoviridae, entre outros) na carcinogénese colorretal. Segundo os cientistas, alguns bacteriófagos podem perturbar as populações bacterianas do cólon e estar associados à progressão do tumor. Ao promover a lise bacteriana, poderiam permitir que espécies oportunistas associadas ao epitélio produzissem um biofilme que favorecesse a entrada, no lúmen intestinal, de bactérias oncogénicas que desencadeassem a resposta imunitária inflamatória. A menos que sejam as bactérias a impactar o viroma, e não o contrário? Muitas hipóteses foram propostas e vários elementos ainda têm de ser esclarecidos de forma a aumentar o arsenal diagnóstico e terapêutico e combater o terceiro cancro mais diagnosticado no mundo em 2018.

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Sistema imunitário infantil: os benefícios do parto vaginal

O parto vaginal promove a transmissão da microbiota materna, cuja composição está envolvida no desenvolvimento do sistema imunitário do recém-nascido, principalmente através da cascata de biossíntese de lipopolissacarídeos.

A microbiota vaginal Microbiota intestinal: ainda não é "adulto" aos 5 anos? Possibilidade de a microbiota orofaríngea ter um papel no atrofio do crescimento de crianças Transplantes fecais para restaurar a microbiota dos bebés nascidos por cesariana?
Childhood immune system: the benefits of vaginal delivery

19,1% dos partos em todo o mundo são realizadas por cesariana. Este número sobe para 25% na Europa e levanta questões éticas, já que este tipo de parto é frequentemente realizado por conforto e não por razões médicas. Já sabemos que o tipo de parto afeta a composição da microbiota intestinal em recém-nascidos, principalmente pelo potencial contato com a flora vaginal, cutânea (e por vezes fecal) da mãe, e pelo uso de antibióticos em caso de cesariana. Como os primeiros dias pós-parto são um período crítico para o desenvolvimento do sistema imunitário neonatal, uma equipa internacional focou-se no tipo de bactérias intestinais transmitidas de mãe para filho de acordo com o tipo de parto. A equipa concluiu a sua análise através do estudo de genes bacterianos e avaliação das suas funções.

Parto vaginal: estimulação da cascata de biossíntese de LPS

Neste estudo, realizado em 33 recém-nascidos, o principal achado foi que as crianças nascidas por parto vaginal tinham uma superabundância de bactérias Gram-negativas (Bacteroides e Parabacteroides), que pareciam fortalecer as suas funções fisiológicas. Por outro lado, o parto por cesariana promove o contacto dos recém-nascidos com os microrganismos cutâneos da mãe e a transmissão de Staphylococcus, que é encontrado em níveis mais elevados nas fezes dos recém-nascidos nascidos dessa forma. Os investigadores explicaram que a abundância deste tipo de bactéria em recém-nascidos que nascem por parto vaginal pode estar relacionada com um aumento da estimulação da cascata de biossíntese de lipopolissacarídeos (LPS) (LPS são componentes da membrana externa de bactérias Gram-negativas), em comparação com os recém-nascidos nascidos por cesariana. Esses LPS são endotoxinas e promovem a produção de citoquinas pró-inflamatórias (TNF-a e IL-18) no plasma. Essas citoquinas são encontradas em níveis mais altos em recém-nascidos que nascem por parto vaginal.

Potencial imunoestimulante confirmado in vitro

Com o objetivo de estimular as células imunitárias humanas primárias in vitro, a extração de LPS das fezes de recém-nascidos nascidos por via vaginal ou através de cesariana, confirmou que o parto por cesariana está associado a uma menor produção de TNF-a e IL-18. Tal confirma o menor potencial imunoestimulante da microbiota intestinal de crianças nascidas por cesariana, que não foram expostas às bactérias vaginais da mãe, bem como a transmissão vertical limitada de algumas estirpes bacterianas aos recém-nascidos. Este fator pode ter impactos ao longo da vida, em termos de risco aumentado de desenvolvimento de distúrbios inflamatórios, imunológicos, metabólicos e até doenças crónicas. No entanto, estes resultados têm de ser confirmados em coortes maiores, com acompanhamento a longo prazo, a fim de compreender melhor o efeito da exposição microbiana precoce nas respostas imunitárias inata e adaptativa.

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Transplante de microbiota fecal: uma solução para a colite induzida por ICI?

Um estudo preliminar com dois doentes mostrou que um transplante alogénico de microbiota fecal poderia ajudar a reverter a colite refratária induzida por inibidores de checkpoints de imunidade. Esta via ainda tem de ser explorada, pois o campo da imuno oncologia começa agora a ganhar terreno.

A microbiota intestinal A microbiota como barreira contra o rotavírus Antibióticos e risco de DII: O que acontece nos adultos?

Os últimos avanços terapêuticos em oncologia devem muito aos inibidores de checkpoints de imunidade (ICI), anticorpos monoclonais que têm como target CTLA-4, PD-1 e PD-L1*. São muito menos tóxicos que a quimioterapia, mas os primeiros tratamentos comercializados ainda estão associados a reações adversas mediadas pelo sistema imunitário, especialmente colite refratária. O tratamento ideal para estes tipos de distúrbios ainda não foi encontrado. Uma equipa americana estudou os benefícios potenciais do transplante de microbiota fecal (TMF). Objetivo: combater a disbiose induzida por ICI e promover mecanismos bacterianos que combatam os processos inflamatórios locais.

Resultados iniciais promissores

A análise das populações bacterianas antes do transplante de microbiota fecal nos dois doentes revelou a ausência de bactérias protetoras (das classes Bacteroidia e Verrucomicrobiae). O primeiro doente era uma mulher de 50 anos de idade, tratada para um carcinoma de células transicionais metastático resistente a quimioterapia e hospitalizada por colite ulcerosa associada a ICI. Como os sintomas da colite eram resistentes aos tratamentos standard, foi feito um transplante, via colonoscopia, de uma dose única de fezes de um dador saudável. Resultado: desaparecimento progressivo e rápido (36 dias) dos sintomas de cólica, confirmado por endoscopia. O segundo doente era um homem de 78 anos tratado com ICI para cancro da próstata resistente a quimioterapia e hormonoterapia. Após o início da colite associada à imunoterapia, resistente a todos os tratamentos standard, o doente recebeu duas doses de fezes (separadas por um intervalo de 67 dias) do mesmo dador saudável. Os sintomas clínicos foram parcialmente reduzidos no primeiro transplante e eliminados no segundo, como demonstrado na endoscopia.

Evolução pós-transplante

A análise das amostras fecais recolhidas ao longo do estudo mostrou que as populações da microbiota intestinal mudaram depois do transplante. Embora a diversidade permaneça estável, a abundância bacteriana aumentou temporariamente em ambos os doentes e, nos dias após o transplante, a microbiota do recetor tornou-se mais similar à do dador. Imediatamente após a TMF, os recetores foram novamente colonizados por bactérias dos géneros Bifidobacterium e Blautia, conhecidas por anular a toxicidade dos ICI num modelo de ratinhos e associadas à diminuição da inflamação gastrointestinal. Estes resultados preliminares ainda têm de ser confirmados; poderiam ser uma possível resposta às necessidades terapêuticas em que o seu uso aumenta à medida que o uso de ICI se torna mais comum.

*Respetivamente: antigénio 4 associado a linfócitos T citotóxicos, proteína 1 de morte celular programada e ligante 1 de morte celular programada

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Disbiose intestinal em doentes em uci: um fator de risco para a resistência antibiótica

Alguns antibióticos utilizados nos cuidados intensivos podem gerar disbiose intestinal, a qual promove o crescimento de Pseudomonas aeruginosa resistente a carbapenemos, a causa mais comum de resistência a antibióticos.

A microbiota intestinal E se a manipulação da microbiota puder melhorar a resposta à imunoterapia? Exposição aos antibióticos entre os 0 e os 6 anos: microbiota intestinal alterada, desenvolvimento da criança perturbado Menos antibióticos, menos disbiose, menos asma infantil
Photo : Gut dysbiosis in ICU patients: a risk factor for antibiotic resistance

Os doentes de UCI estão particularmente expostos ao risco de disbiose intestinal, que pode promover infeções por bactérias oportunistas ou patógenos externos. Isso poderia favorecer o aparecimento de resistências a antibióticos em doentes frequentemente submetidos a antibioterapia intensa. Isto é particularmente verdade no caso da Pseudomonas aeruginosa, para a qual é fundamental o desenvolvimento de novos antibióticos, de acordo com a OMS.

Bactérias particularmente resistentes

P. aeruginosa demonstra uma resistência alarmante aos carbapenemos (estimada em 25% em França e 28% nos EUA). Uma equipa norte-americana focou-se na ligação entre a disbiose intestinal, a antibioterapia e a colonização por P. aeruginosa resistente a carbapenemos (CRPA) em 109 doentes internados em UCI e divididos em três grupos: um grupo controlo que não recebeu qualquer antibiótico e não desenvolveu CRPA e dois grupos tratados com antibióticos (um em que os doentes desenvolveram CRPA e outro em que não desenvolveram). Os antibióticos utilizados foram a vancomicina, a molécula standard para combater o (sidenote: MRSA Staphylococcus aureus resistente à Meticilina ) , e uma combinação de piperacilina e tazobactam com atividade anti-anaeróbia e anti-pseudomona.

Pedra angular do moderno arsenal terapêutico, os antibióticos salvaram milhões de vidas. Por outro lado, a sua utilização excessiva e por vezes inadequada pode levar ao aparecimento de múltiplas formas de resistência dos microrganismos. Todos os anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW) para aumentar a sensibilização para este problema de saúde pública. Leia a página dedicada.

Resistência aos antibióticos: a microbiota em primeiro plano

O uso maciço e por vezes inadequado de antibióticos torna-os cada vez mais inef…

Um caminho aberto para patógenos

A combinação de piperacilina e tazobactam provou ser prejudicial para as bactérias benéficas, como Lactobacillus e Faecalibacterium, usadas em alguns probióticos, e Blautia, que poderia ajudar a prevenir infeções por Clostridium difficile. Simultaneamente, o tratamento favoreceu o crescimento de patógenos oportunistas como Enterococcus. A vancomicina foi associada a uma diminuição em Bifidobacterium. Em geral, o risco de desenvolvimento de CRPA foi quase três vezes maior nos doentes que receberam um destes tratamentos, em comparação com aqueles que não foram tratados com antibióticos.

O que é a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM?

Todos os anos, desde 2015, a OMS organiza a Semana Mundial de Conscientização sobre a RAM (WAAW), que tem como objetivo aumentar a sensibilização para a resistência aos antimicrobianos a nível global.

Realizada entre 18 e 24 de novembro, esta campanha incentiva o público em geral, os profissionais de saúde e os decisores a utilizarem cuidadosamente os antimicrobianos, a fim de evitar o surgimento de uma maior resistência aos antimicrobianos. 

Criação de perfis de doentes em risco

Os investigadores também identificaram algumas bactérias com um papel protetor contra CRPA: Peptoniphilus, Prevotella e bactérias da ordem Clostridiales. Estas podem ser usadas como biomarcadores em doentes nos cuidados intensivos de forma a adaptar a antibioterapia quando a presença de CRPA for confirmada ou quando houver sinais de infeção. No entanto, os autores indicaram que algumas destas bactérias protetoras como Finegoldia, Anaerococcus e Peptoniphilus já haviam sido associadas a infeções e feridas crónicas. Antes de qualquer aplicação clínica, a investigação deve continuar e incluir outras microbiotas (cutânea e respiratória), bem como outros locais de colonização potenciais.

Apresentamos-lhe o Professor Sørensen, galardoado com a Bolsa Internacional 2022 da Biocodex Microbiota Foundation.

A sua equipa foi pioneira num estudo ambicioso sobre o resistoma de 700 crianças que permitirá um avanço na compreensão da evolução e disseminação da resistência antimicrobiana no intestino humano dos primeiros anos de vida.

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Cálculos renais: o papel da microbiota intestinal

Um estudo demonstrou recentemente que a microbiota intestinal pode participar na formação de cálculos renais. Os doentes com histórico de nefrolitíase recorrente parecem ter uma menor quantidade de bactérias digestivas que fazem a degradação de oxalato.

A microbiota intestinal Insuficiência renal: impacto da microbiota intestinal Microbiota intestinal característica na doença renal crônica Transplante renal: a disbiose pré-operatória é um fator de risco para diabetes?

Uma equipa italiana estudou a microbiota intestinal de 52 doentes que tiveram pelo menos dois episódios sintomáticos de cálculos renais compostos por mais de 80% de cristais de oxalato de cálcio (grupo C+), e comparou-a com 48 indivíduos do grupo de controlo saudável. Este tipo de cálculos está presente em 70% dos casos de cólica renal, geralmente sem uma causa primária identificada. A dieta (ingestão muito alta de cálcio e oxalato) é o único fator atualmente identificado na génese desta litíase idiopática, que geralmente é recorrente. O envolvimento da microbiota intestinal já tinha sido sugerido num estudo que demonstrou a capacidade de uma bactéria intestinal (Oxalobacter formigenes) de degradar o oxalato, reduzindo assim a sua absorção e excreção urinária.

Géneros bacterianos envolvidos na hiperoxalúria

Novos estudos sustentam a hipótese: as amostras do grupo C+ continham menor diversidade e, taxonomicamente, uma representação significativamente menor de três géneros: Faecalibacterium, Enterobacter, Dorea. No entanto, o conteúdo de Oxalobacter formigenes detetado em cada amostra foi muito baixo e não demonstrou diferença entre os grupos. Os cientistas investigaram, de seguida, uma potencial diferença na atividade de degradação do oxalato. Cinco amostras de cada grupo foram analisadas através de um método de sequenciação específico, focado nos genes envolvidos na degradação do oxalato. As amostras do grupo C+ continham uma proporção reduzida destes genes, que estava inversamente correlacionada com hiperoxalúria após 24 horas e com a defecação. Esta abordagem genética também identificou, pela primeira vez, bactérias e Archaea com genes envolvidos na degradação do oxalato (Escherichia coli, entre outros), cujo conteúdo foi maior no grupo saudável de controlo.

Modulação da microbiota: um caminho promissor?

Os estudos anteriores não foram capazes de demonstrar a eficácia dos pré e probióticos direcionados para o Oxalobacter formigenes em prevenir a recorrência de cálculos renais. Segundo os investigadores, esta falha pode advir do envolvimento de outras espécies no equilíbrio do oxalato de cálcio. É por essa razão que estes trabalhos fornecem novas linhas de investigação no eixo intestino-fígado e na fisiopatologia da nefrolitíase. Deverão tornar possível a avaliação de novas estratégias terapêuticas relacionadas com a modulação da microbiota intestinal.

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Possibilidade de a microbiota orofaríngea ter um papel no atrofio do crescimento de crianças

O atrofio do crescimento é uma consequência da malnutrição crónica, sendo provavelmente desencadeado ou exacerbado por infeções entéricas recorrentes e má higiene. As crianças afetadas parecem apresentar disbiose intestinal caracterizada pela presença inesperada de microrganismos orais e faríngeos. 

A microbiota ORL Microbiota intestinal: ainda não é "adulto" aos 5 anos? Sistema imunitário infantil: os benefícios do parto vaginal Transplantes fecais para restaurar a microbiota dos bebés nascidos por cesariana?


O atrofio do crescimento afeta um quarto das crianças abaixo dos 5 anos de idade, em todo o mundo. Uma causa possível é a disfunção entérica ambiental (DEA), uma síndrome responsável pela malnutrição que associa infeções bacterianas intestinais repetidas (causadas por má higiene) a inflamações crónicas atribuíveis ao SBID*. De acordo com um estudo francês em crianças com atrofio no crescimento (de Madagáscar e da República Centro Africana), esta síndrome não é fator único.

Translocação da microbiota oral

Apesar das diferenças genéticas, ambientais e nutricionais entre ambos os países, os investigadores descobriram que nas crianças afetadas de qualquer um havia colonização da microbiota intestinal por bactérias da microbiota orofaríngea. Foram observadas espécies pertencentes aos géneros Haemophilus, Neisseria, Moraxella e até Porphyromonas (que normalmente colonizam a flora oral) em 57 amostras gástricas e em 46 amostras duodenais recolhidas. No entanto, de acordo com a literatura científica, algumas destas bactérias estão associadas a doenças inflamatórias (incluindo cancro gástrico, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares).

Um marcador fecal com valor de diagnóstico

Estas bactérias orofaríngeas também foram encontradas em amostras duodenais e estavam sobre representadas nas 404 amostras peri-rectais recolhidas de crianças com atrofio no crescimento, mas não nas de crianças do grupo controlo. Bactérias enteropatógenas pertencentes aos géneros Escherichia coli/Shigella e Campylobacter também eram mais abundantes. Um decréscimo em Clostridiales também foi encontrado em crianças afetadas. Estas bactérias produzem butirato, um ácido gordo de cadeia curta (AGCC) que serve de alimento às células epiteliais e participa na defesa do hospedeiro à proliferação de bactérias oportunistas. As fezes de crianças afetadas podem então conter uma assinatura característica do atrofio do crescimento dada pela combinação de bactérias da orofaringe, enteropatógenos e um nível baixo de Clostridiales. Isto pode abrir o caminho ao desenvolvimento de marcadores não invasivos.

Nova hipótese

O estudo sugere que a presença de bactérias orofaríngeas na microbiota fecal pode ser um fator contributivo para a fisiopatologia da DEA. A proliferação destas bactérias da orofaringe no intestino delgado e no cólon pode conduzir a inflamação. Associada à presença de enteropatógenos e a níveis diminuídos de butirato, pode conduzir a malnutrição crónica em crianças e resultar assim no atrofio do crescimento. Esta hipótese pode ser confirmada por um estudo de coorte, com 1000 crianças, que se encontra atualmente em progresso.

*SBID = Supercrescimento bacteriano no intestino delgado

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Gripe: cuidar da microbiota intestinal evita complicações?

Investigadores franceses descobriram que a gripe interrompe o equilíbrio da microbiota intestinal, enfraquecendo as defesas imunológicas pulmonares e aumentando a probabilidade de superinfeções bacterianas.

A microbiota intestinal Infeções respiratórias de inverno
Actu GP: Grippe : prendre soin de son microbiote intestinal pour prévenir les complications ?

Todos os invernos, milhões de franceses contraem gripe. Apesar das campanhas de vacinação e tratamento, os mais vulneráveis podem desenvolver complicações que às vezes se revelam fatais. Essas formas graves estão de uma forma geral relacionadas com a pneumonia causada por superinfeções bacterianas. Um estudo recente publicado numa revista de prestígio sugere que a microbiota intestinal está envolvida nesse processo.

Desequilíbrio da flora intestinal

É agora reconhecido que a microbiota intestinal desempenha um papel fundamental no bom funcionamento do sistema imunológico. Neste estudo, ratinhos infetados com gripe mostraram um desequilíbrio transitório na composição e atividade de sua microbiota intestinal ( (sidenote: Disbiose A "disbiose" não é um fenómeno homogéneo – varia em função do estado de saúde de cada indivíduo. É geralmente definida como uma alteração da composição e do funcionamento da microbiota, causada por um conjunto de fatores ambientais e relacionados com o indivíduo que perturbam o ecossistema microbiano. Levy M, Kolodziejczyk AA, Thaiss CA, et al. Dysbiosis and the immune system. Nat Rev Immunol. 2017;17(4):219-232. ) ). Além disso, a produção de ácidos gordos de cadeia curta ( (sidenote: AGCC Os Ácidos Gordos de Cadeia Curta são uma fonte de energia (combustível) para as células do indivíduo. Interagem com o sistema imunitário e estão envolvidos na comunicação entre o intestino e o cérebro. Fontes:
Silva YP, Bernardi A, Frozza RL. The Role of Short-Chain Fatty Acids From Gut Microbiota in Gut-Brain Communication. Front Endocrinol (Lausanne). 2020;11:25.
)
) foi bastante reduzida. Os AGCC, especialmente o acetato, têm a capacidade de agir à distância do intestino em determinadas células imunes dos pulmões (macrófagos), estimulando a sua atividade antibacteriana. Em suma, acredita-se que uma disbiose da microbiota intestinal associada à gripe reduza a produção de acetato, comprometendo as defesas imunológicas dos pulmões contra as bactérias.

O papel da dieta

Esse desequilíbrio intestinal não é causado diretamente pelo próprio vírus, mas parece ser o resultado de uma redução na ingestão de alimentos devido à perda de apetite, um sintoma frequente da gripe. Como tal, para preservar a integridade da microbiota intestinal e fortalecer as defesas imunológicas, recomenda-se consumir alimentos ricos em fibras (por exemplo, legumes, frutas e leguminosas). Por outro lado, é fortemente desaconselhado reduzir a ingestão calórica ou jejuar durante surtos de gripe.

Novas estratégias terapêuticas

Foi demonstrado em ratinhos que essa suscetibilidade à superinfeção bacteriana pode ser corrigida com tratamento com acetato. Com base nessas descobertas, um tratamento à base de acetato, ou de compostos semelhantes, poderá ser uma abordagem terapêutica valiosa. Além disso, segundo os autores, devem ser avaliadas estratégias terapêuticas baseadas no uso de prebióticos e probióticos.

Fontes:

Sencio V, Barthelemy A, Tavares LP, et al. Gut Dysbiosis during Influenza Contributes to Pulmonary Pneumococcal Superinfection through Altered Short-Chain Fatty Acid Production. Cell Rep. 2020;30(9):2934–2947.e6. 

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